Sigo de volta ao centro da cidade, flutuando sobre os prédios, apesar da pressa, não controlo minha velocidade, apenas flutuo na direção, não tenho noção de quanto tempo eu fiquei fora, mas percebo que já não há muito movimento na cidade, talvez já tenha passado do meio dia e as pessoas estão em suas casas almoçando ou preparando o almoço de domingo.
Avisto o hospital e desço em direção à janela do quarto onde estou internado, entrando, percebo que já houve a troca de acompanhante, no lugar da Janna está minha filha, Liza, sentada na poltrona, estudando em seu tablet nas mãos, meu corpo permanece no leito cheio de tubos pelo meu corpo e o bip sonoro contínuo dá som ao ambiente.
Lembro-me que Liza, já teve experiências mediúnicas no passado, resolvo tentar ver se ela me percebe, fico na frente dela, me concentro para chamá-la e roubar sua atenção, tento mexer no seu equipamento, arrisco fazer algum risco na tela touch com o dedo, mas minhas mãos atravessam o aparelho, assim como, quando tento tocar nela, penso que ela deve está muito concentrada, ou que eu não posso ser notado mesmo.
Desisto e me viro para meu corpo, deitado, imóvel, com soro no braço direito e sonda nas narinas, é uma imagem deprimente para mim, nunca me imaginei numa situação daquelas, desejo sair logo dali.
Procuro me lembrar exatamente das orientações de Dona Inês para seguir o passo a passo e não cometer erros.
Elevo meu espectro acima do leito, viro de frente para o teto e começo a descer de costa lentamente até o meu corpo carnal, no primeiro momento não sito nada diferente, então fecho os olhos e me concentro para ajustar o envoltório do perispírito ao invólucro físico.
Concentro-me para sincronizar a duas partes, iniciando pelos dedos dos pés. Depois de alguns minutos, começo a sentir um formigamento nos dedos, fico animado e começo a seguir em direção às solas dos do pés, quando sinto o formigamento, passo para os tornozelos e depois para as pernas, direita e esquerda, e assim sucessivamente por todas as partes do corpo.
Quando sinto o formigamento de todos os dedos das duas mãos, parto para a cabeça, primeiro pelas partes exteriores, boca, orelha, nariz, testa, couro cabeludo… por último as partes interiores.
Feito isso, mentalizo e tomo conhecimento e consciência de todo meu corpo, como se fosse um só, corpo e espírito, faço uma recapitulação de todo procedimento realizado, conforme as orientações de Dona Inês.
Relaxo por mais alguns segundos, e inicio uma contagem regressiva:
– 3…2…1…
Abro os olhos lentamente, a claridade da luz me ofusca a vista e me faz piscar várias vezes, a visão é embasada e aos poucos vou me acostumando, subitamente, sinto um engasgo na garganta e começo a tossir freneticamente.
– PAPAI!!!
Grita minha filha de susto, pulando, se levanta da poltrona, quase deixa cair o tablet no chão.