Amo seu sorriso,
seus versos,
seus olhos e seus segredos.
Amo seu jeito,
sua filosofia,
sua voz e sua agonia.
Amo seu encanto,
sua doçura e seus mistérios.
Mas, acima de tudo,
amo a poesia,
a poesia
que só você me traz.
A lembrança do que não foi,
do que deixou de ser,
me acompanhará por anos,
por uma vida,
ou por um breve instante
ao despertar.
Sina de tudo o que já foi eterno
e se tornou saudade,
que já foi sem tamanho
e hoje cabe num porta-retrato.
Será sempre o passo
não dado,
o grito calado,
o enredo interrompido.
E, no derradeiro dia,
será o sorriso entre lágrimas,
um adeus silencioso
antes do último olhar.
Tenho uma saudade amiga,
que me acompanha,
como uma ferida
que nunca cicatriza.
Uma dor constante,
silenciosa,
que me rouba as forças
e dilacera a alma.
Uma saudade imensa,
devastadora:
saudade de querer partir
e de ter para onde ir;
saudade de querer voltar
e de ter onde repousar.
Saudade de quem fui,
e de quem um dia sonhei ser.
Tenho uma saudade absurda,
uma saudade absurda de mim.
Lembro do meu pai
como um barco que se afasta do cais,
sem saber se algum dia voltará.
Lembro dos meus avós
como uma criança encantada por histórias,
que se deixa embalar por uma canção de ninar.
Lembro dos meus irmãos
como quem olha o mar,
perguntando-se quantas histórias ficaram por contar.
Lembro deles
para não me esquecer de quem fui,
e para que, um dia,
alguém também se lembre de mim.
Se voltasse no tempo
e me visse criança,
falaria, sem hesitar:
amarre os sapatos, menino!
Dê um laço bem-dado,
jamais um nó.
Pois laços são mais fortes
do que nós.
Minha poesia é café
esquecido no fogão:
frio, amargo,
sorvido entre caretas,
nariz torcido.
Gole a gole,
lentamente.
Sem esses goles,
sem meus versos,
o dia se desfaz,
a vida não anda.
Dentro de mim há um vazio:
um buraco negro
que engole tudo ao redor.
Nada escapa, nem luz, nem sombra.
Um vazio de ausências:
vozes que se dissolveram,
manhãs de domingo,
noites de Natal que não voltam mais.
Esse vazio transborda
num olhar distante,
num aperto no peito,
no mar da madrugada.
É um vazio cheio de rastros:
fotos sem álbum,
canções pela metade,
e uma saudade que não cabe
em lugar nenhum.
Mas sei que desse vazio
nada escapa, nem luz, nem sombra.
E, um dia,
ele me engolirá
como um buraco negro.
É no fracasso que repousa minha paz,
uma paz doce, serena,
como um acalanto.
A paz de quem lutou e perdeu,
correu, tropeçou,
ousou… e falhou.
A paz do tolo diante do espelho,
do condenado perante a sentença,
do covarde em meio à guerra.
Como é leve não ter o que perder.
E que calma há
em não ter o que ganhar.
E, se um dia alguém me vir no chão,
não se apresse em me erguer…
estou bem, estou em paz.
De segunda a sexta,
a vida escorre… ninguém vê.
A gente se ilude,
mas não engana ninguém.
Levanta-se da cama,
faz de conta, faz as contas,
e se desaponta.
Dias enfileiram-se,
marcham lado a lado:
cansados, aborrecidos,
calados.
Que agonia!
Para que tanta vida?
Só desanimar…
ou, quem sabe, um dia,
por fim, despertar?
Nunca a minha poesia
foi tão sem sentido,
tão cortante.
Se hoje ela vem,
já não é dom…
é algema.
O que foi mergulho
virou âncora.
O que libertava
tornou-se mordaça.
Se a poesia me deu uma voz,
hoje…
ela me cala.
Faço versos para me convencer,
faço versos para me enganar.
Faço versos para fingir
que sou poeta,
que sei amar,
que sei sorrir.
Faço versos para existir,
para ser lembrado,
para esquecer,
para te esquecer.
Faço versos para contar,
faço versos para calar.
Sou poeta por incompetência,
incompetência de viver.
E, por anos,
a poesia adormeceu.
Virou tese,
virou diploma,
virou obrigação.
Virou vazio.