Vejo a vida
como um general derrotado
no campo de batalha.
Corações partidos,
sonhos em estilhaços,
estandartes caídos,
sujos de lama.
Minha espada,
manchada de sangue,
Os que restam,
me olham
com fé ou pena, não sei.
Todo general aprende:
não é a força,
mas o destino
que escolhe
vencedores e vencidos.
Hoje me faltam palavras.
Sobra vontade.
Tenho tanto a dizer,
e mais ainda, a calar.
Nem tudo posso gritar,
nem tudo devo esconder.
Entre silêncios e canções,
entre poemas e omissões,
sigo suspenso
entre ir e ficar.
Quantos silêncios ainda me engasgam?
Quanta dor ainda tenho que conter?
Resta tão pouco a revelar.
Resta tanto a esquecer.
Se fosse poeta, faria versos.
Mas não sou, sou pessoa.
E pessoas não fazem versos,
fazem súplicas.
Envolto em flores brancas,
vejo meus amigos conversando.
Ouço risos desajeitados…
será que lembram
alguma história nossa?
"talvez de um aniversário,
talvez de um batizado.
O que fazem aqui?
Minha mãe, sempre exagerada,
faz que vai desmaiar.
Não entendo tanto choro…
será que chora só por mim?
Minha filha me beija a testa.
Queria beijar a dela de volta,
mas não posso… estou cansado.
Preciso descansar, enfim.
É lá onde a vida acontece:
naquele breve espaço…
onde se tropeça e se levanta,
onde se chora em segredo,
onde se vai em frente.
É lá onde se fracassa
e se faz forte,
onde se sonha,
onde se erra e se acerta,
onde a gente se perde e se acha.
É lá onde não se faz poesia,
mas é lá
onde ela nasce
e a vida acontece.
No fim das contas,
sempre abrimos mão de algo:
do que é seguro, mas vazio,
do que é incerto, que nos faz transbordar,
do que fomos, do que poderíamos ser.
Se for para abrir mão de algo,
que seja de tudo,
só não do amor.
Num silêncio, numa canção,
num canto qualquer,
você era a poesia que persistia,
um verso que se recusava a morrer.
O amor que nunca foi,
e sempre será.
O sonho que se sonha acordado,
que indica o caminho,
que faz seguir em frente,
mesmo perdendo a razão.
A saudade que insiste,
se esconde num silêncio, numa canção, num canto qualquer,
onde tudo começa e retorna.
Raios de sol,
pássaros despertam,
a brisa dança.
Mas só a beleza
não basta:
é preciso um olhar
que a transforme em poesia.
Canto baixinho
para quem quiser ouvir.
Prefiro o silêncio
a quem não sabe sorrir.