I - Inspiração
"O que fazes?"
"O que dizes?"
"O que olhas?"
"O que pensas?"
"O que queres?"
"O que sonhas?"
"Nada."
O nada é palpável:
Preenche cada recanto
Com migalhas atemporais.
Não há nada:
Um nada-argamassa estável
Camadas sedimentadas
soldadas e entrecortadas
Por inações naturais.
Nada entra,
Nada cresce,
Nada toma forma.
Nada cabe,
Nada tece,
Nada nos deforma:
Quedamo-nos tão cheios
De um nada tão completo
Que em nossa turgidez, decerto,
Tornamo-nos de tudo alheios.
Não há vazio em nosso seio:
O vácuo daria espaço
Para tentativa e erro, mesmo crasso,
na construção de um novo meio.
E o que nos resta, então?
Resignar-nos a nada?...
... Não.
De tudo o que se vê,
Se ouve ou que se sente;
Por tudo o que há além,
Aquém ou que há na gente;
Todos os nadas são cheios
De caminhos no início...
Indícios
De que, na verdade,
O que cria a dureza
De todo o caminhar
É o mundo de tudos
Inseridos por lá...
Com tantas portas
E frestas entreabertas,
Duas mãos são tão pouco!
O alcance, estreito!
A visão é tão rouca
Por não olharmos direito!
Balbucia-se a cegueira
Em silêncio e prostração.
O ar foge pelos tantos caminhos...
Inação.
No ia-mas-não-ia:
Asfixia...
(...)
Alberto Busquets.
@todasasformasdepoesia
"Pra onde vais?"
"Estás desistindo?"
"Ficarás sozinho?"
"Sem seus ‘o quês’ ?"
"Sem nem ‘porquês’?"
"Com tantos destinos?"
“Eternizarás dormindo?”
"Nunca!"
O inalcançável:
Um verdadeiro encanto
Em desejos carnais.
Incorporada:
Em corpo o nada. Instável?
Líquidas experiências
De confusas e doces essências
Criação ou contemplação
Tudo surge,
Tudo nasce,
Tudo explode.
Consome,
Vicia
Transborda:
De repente, surge o medo
De perder-se no entremeio
Faz-se da lucidez, deserto,
Torna-se dúvida, o anseio
Em pouco tempo, pronto, transformado
Agora, já foi dado novo passo
Surgindo, a sua frente, cada traço
O complemento do estava inacabado
Era uma visão?
Assim que se sonhava?...
... O que era?
Era a fonte de poder,
O todo e a semente;
Sem nenhum porém,
A força que estava ausente;
A melhor parte do inteiro
O real princípio...
Inícios!
A capacidade
Da pura beleza
Em demonstrar
Que precisava tão pouco
Apenas o “já”...
Pra serem fontes
Jorrando, molhando
Tantas mãos, se entrelaçando
O profundo, perfeito
A visão é tão louca
Imprevisível o efeito
A boca enxerga
No corpo, a degustação.
O ar invade, entra e sai...
Interação.
No vai-vamos-enfim-estamos:
Suspirando.
@literunico
Eder B. Jr.
...Então,
de súbito,
o sabor do vento.
De súbito,
o derretimento
das paredes
e alçapões
muros, redes
ou dragões
que impediam
o livre voar.
Mas não era nada?
Então havia algo?
Quão cegos
deveríamos estar!
Justapondo-nos como
etapas de montagem
Atrelando-nos a um molde
de serragem;
Construindo um castelo
de areia
Bem à margem do oceano
em maré cheia!
Erguendo barreiras
sem porta ou janela
em prisão derradeira
à nossa própria cela!
Deixamos os olhos
turvos
Vertemos em vasos
curvos
solidão gotejante
de um mísero instante
de loucura doída
por temermos amar.
E o pulso, marcante
rege a caneta bailante
Entre compassos de vida
por fragmentos do sonhar...
Uma lágrima, muitos reinos:
Tufões de cores, esperança
tomando cada furo e fresta.
Um reino, muitas lágrimas:
Prismas de sombra, luz,
e lampejos do que nos resta...
ALberto Busquets
@todasasformasdepoesia
Criação,
de um súdito,
De simples momentos.
Seu súdito!
Muito envolvimento?
Por vezes:
Modificações
Sussurros de deuses?
Ou inspirações
que permitiam,
agora flutuar
Transformada
Enfim, no desejar
E tais versos
Podiam declamar!
Acrescentando ao todo
Novas roupagens
Ensaiando o recorte
Dessa nova imagem
Instigando um mistério
Da fonte que semeia
Elementos no ar
Líquido que permeia
Impossíveis fronteiras
Feitas de aquarela
Intitulada primeira
Apontada como "aquela"
E os sentidos, rasos
Mudos
Dilatando os vasos
Absurdos
O calor tão pulsante
Impulso inebriante
de razão colorida
por se descontrolar
E o impulso, errante
Esquece por um instante
Que se entendeu a saída
Que poderia encontrar...
Uma dádiva, os meus anseios:
Agora, já havia mais pressa
E tanta coisa interessa...
Anseios por outras dádivas
Que eu mesmo recriava
Isso é conto de fadas?
@literunico
Eder B. Jr.