2 - Reflexão
Desanuvio-me!
Desembaraço-te...
Fagulha crescente
do nada a nenhum lugar.
Percebo sua presença.
O que és? Quem és?
Criei-te, ou vais me criar?
Nascida ante contrações
imagéticas,
despida de iterações
não-herméticas?
Tudo, subitamente,
fica diferente?
Qual e onde é o teu lar?
Perfil que o amor me clama
transforma minha caneta em chama...
e chama,
me chama
sem voz, mas diz tanto
sorrisos e prantos
danças e encantos
de enfeitiçar!
Como vieste de mim?
Ou não foi assim?
Sol que tateia às claras
pelos estreitos da minha visão?
Brilhas intensa por ti
ou por minha volição?
Seria lá o vislumbre
que eu não via?
És a caneta,
a tinta,
o papel
ou a poesia?
(...)
Alberto Busquets.
Ensolaro-me!
Desmundo-te...
A consciência dormente
finalmente vem dominar
Eu quem sou a essência
A certeza sem viés
Não há mistério a se desvendar!
O autor duvida das criações
hipotéticas,
Afinal, tem suas limitações
Tão milimétricas
Permito, infinitamente
Que sejas tão potente
Tentarás me dominar? (Haha)
Posso, fisicamente te desenhar
Seus dotes simplesmente materializar...
Pra te admirar
Para me amar!
Me ama?
Então, um susto!
Da sua voz, o canto
Do embalo ao santo
És capaz do profano?
Ao se empodeirar
Sou eu quem digo sim?
Te enxergo além do fim!
Com todo seu cuidado
É sua maior missão?
Amor eternizado
Numa total conexão!
Como se quem fosse criado
Fosse o deus da criação
Perfeita
Pura energia
Uma deusa?
Canção e melodia.
Eder B. Jr.
Parte II - Reflexão - (3)
Eu puxo a voz!
Assumo à frente
Tudo por nós
Te trago à mente
Da tua saia...
Tu nasces Gaia
Te conheço assim
Transbordas de mim
Princípio e fim
Mas o deus sou eu
Teu criador
Admirador
Não me criou!
Criou o autor?
Talvez foi ele
Quem nasceu
Do seu apogeu
Tanto poder
Te fez além
Do entender
A fonte de todo amor
Do ventre o puro calor
Do nascimento ao furor
Do conhecimento o fulgor
Imponente
O próprio mundo
O manto estrelado
Desdobra-se em véus
O espaço alado
Tua essência,
Em cores pintada
Paleta encantada
Tão delicada
Um diálogo eterno
Sussurro da terra,
Uma obra-prima
Torna-se lar,
Da vida que estima
Foi proclamada
Matéria em canção
Fortificada, feito trovão
Ressoada, em perfeita harmonia
Entre o divino e o terreno
Ela floresce, o mistério pleno
A ti eu me entrego
Personificada
Toda minha essência
Amante e amada
Definida morada
Um caso, eu caso, a casa
Paz encontrada?
Eder B. Jr.
De quem será essa voz?
Por que sinto-me dormente?
Não por mim,
não sou assim!
Como falo silente?
O que é "Gaia"?...
Sinto-te aí,
Eu a escrevi?
Fui transbordado
por força do acaso,
ou transportado
em próprio descaso?
Explosão criada
não por mim permeada,
mas por alguma deidade?
Qual seria tua vontade?
A deitarei no papel
qual tempestade...
"Falo com sua voz, humano,
pois não sou sinal divino
ou profano,
sou, somente: isso sei bem.
Existo, quero, posso.
Invisto-me em mim e vou além!
Sou a fagulha primeva,
a voz que vence o vazio.
Sou a instância,
a régua,
a canção.
Sou calor onde somente
havia frio!
Ouça-me, criatura que cria,
e repita-me em sua obra.
Sou a espera sombria
e toda a luz que dela sobra!
Banhe-se em mim, veja, sinta.
Não tenho fim...
Estou no pigmento que você pinta!
Aposse-se, pois nunca conseguirá.
Amolde-se, pois nunca se encaixará...
Empenhe-se,
Ordene-se,
Enfrente-se.
Nunca serei sua,
mas meu você sempre será!
Derrame seu pranto nas páginas,
humano autor,
pois a lágrima é poema cadente.
Jubilar-me-ei
de poético torpor
com seu ser como meu presente!
Interesso-me pelos inícios:
São os momentos propícios
do meu desabrochar.
Mas em ti, deidade,
Vejo uma não-tão-estranha vontade;
esse ímpeto de me amar?
Cautela, eu peço;
posses podem ser limitantes.
Meus limites eu mesma imponho.
Outro não seria meu semblante!
Deseja bailar?
Ou só desejar?"
...
Alberto Busquets.
E de repente...
Eu encontro alguém
Completamente diferente
Perfeitamente semelhante
Mas é um outro semblante
Amante?
Se a face de Gaia
Se apresentava
Serena mas misteriosa
Demonstrando todas as certezas
E todos os segredos
Nix se estampava como furiosa
Um enorme rompante
A loucura da escuridão.
Seu sorriso de deboche
Seu olhar superior
Entrava em minha mente
Não parecia condizente
Todo aquele poder
De ser, de criar
De pertencer
Agora passava a enfrentar
Afrontar
Superar
Ela entendia seu lugar
Que era onde ela quisesse estar
Não se deixava dominar
Então, me intimidei
Como isso aconteceu?
Esse deus
Se amedrontou?
Ela era muito
E se bastava
Me buscava
Mas controlava
Sem eu nem perceber
Tudo era seu!
Até mesmo eu!
Toda luz que se criou
Agora, apagou
Descobri a dor
O dessabor
Não valorizei
O que eu criei
Toda a paixão
Me possuiu
Me consumiu
Estava eu no chão
De coração na mão
Teu sorriso brilhou
E eu ainda quis mais
Mesmo em sofrimento
Receber o alento
Como eu deixei?
Com o passar do tempo
Me deixar levar
Se pudesse voltar
E me perdoar!
Me tirar do chão...
Eder B. Jr.