"O Grande dia esperado chegou! hoje saberemos se iremos perecer ou prosperar é tudo ou nada!"
Bikus Bombicus, Legato da II Legião Centuriana
O istmo de Liermo, a passagem da península Centuriana para o grande continente Ganediano, terra cobiçada por nações desde os primeiros reinos fundados naquela região, é solicite-chave para o controle das rotas mercantes, da riqueza e de populações inteiras. Dominada por Polermos desde tempos pré-republicanos, mantida pelas rígidas mãos de um rei sábio, que manipulava a natureza com a mente e com as mãos e que jamais perdeu uma batalha em sua terra amada. Este lugar serve-se como uma barreira, um desafio avassalador que até o momento nunca foi vencido, a cidadela se mantém imutável, jamais padeceu perante as catapultas e as balistas dos povos centurianos. Ela era um impedimento ao desejo de expansão, à prosperidade, à glória guerreira e à liberdade de uma nação que se confinou por anos dentro de uma reles península. Porém, a vontade das legiões, dos senadores e do povo não havia mudado, a derrota de anos anteriores serviu somente para inflamar uma raiva, um desejo que poucos sabiam controlar. A paz durou pouco e a guerra retornava às bordas Polermianas. Em uma única noite, uma ofensiva foi feita. As dez Legiões haviam se unido em um titânico exército, pronto para marchar em direção aos muros da cidade murada. Nas costas, dezenas de embarcações se amontoavam em armadas formadas de trirremes e birremes, de marinheiros e corsários prontos para atacar. Porem, as primeiras horas foram de completo silêncio, nenhum ataque, nenhuma flecha ou pedra disparada, nenhuma vela hasteada, o campo de batalha estava silencioso, à espera de algo, uma carta? Um comando?… Poucos sabiam que aquele conflito seria regido por mãos plumadas pelo ferro e pela estratégia.
Em uma cabana de comando, nove legatos se reuniram, cada um portando um emblema, simbolizando suas próprias legiões, um faltava, sem aviso ou motivação. Todos estavam tensos, receosos de condenar seus homens a uma morte em vão. Mauricius, trajado com sua longa túnica negra, mantinha-se oculto, com seu silêncio em meio aos seus similares, vendo as discussões do primeiro passo que ninguém queria tomar de seu lado. Luridites, já velho, com um dos caninos caídos, pelagem da face grisalha e um dos olhos já incapaz de contemplar os mapas, ambos se entreolhavam no fundo, enquanto viam os grandes senhores da guerra da república se ofenderem das mais vils formas. — Como iremos tombar os muros Polermianos se sequer conseguimos fazê-los entrar em um acordo? — sussurrou o bestial ao gigante, que encarou a situação com grande neutralidade, baixou-se levemente, envergando sua postura ereta. — Mantenha-se sereno, em breve estaremos na frente de batalha, mesmo que eles não aceitem essa realidade. — O velho consentiu a fala e o alto goblinoide voltou à sua postura. Ambos observam o intenso debate formado.
Os gritantes oradores ensurdeciam-se pelas calorosas falas, enquanto de fundo passos curtos e pesados, seguidos do bater das cotas de malha no metal, vinham a se aproximar, apenas os neutros conseguiram ouvir.
— Ele chegou. — Em um brandir, as cortinas que lacravam a tenda se abriram, fazendo adentrar um pequeno ser negro, trajado com uma armadura púrpura com grandes ombreiras, capacete curvado e adornada pelos penachos azulados, seu bico era reto, sutilmente curvado, de cor tão intensa como uma Heliconia. Mesmo tendo pequeno tamanho, tinha uma gigantesca presença. Todos calaram ao ver o infante legado faltante, que adentrava sem cerimônias, apenas ostentando seu símbolo no ombro direito e outro ao esquerdo. Os discursantes encaravam o pequeno bestial como gatos brigados ao ver um cão. — Vejo que os ânimos aqui estão inflamados, meus irmãos de armas, o que fizeram em minha ausência de tão intenso para estarem a ladrar desta forma? — O riso veio do bico de Bombikus, forçando um contato hostil dos olhos. Os primeiros a se irritar com sua presença eram Carikius, da oitava Cohorte de Entron, e Tassius, da quinta de Suider, ambos desafetos um do outro. — Chegou atrasado e ainda quer se pagar de bufante? Tu não tens vergonha de aparecer com todos estes babados? Acha que vai a uma festa? — As falas do goblins Entroniano eram afiadas como punhais, mas não abalavam o bestial pinguim, que apenas mexia no peitoral segmentado de sua lorica como uma criança a puxar um macacão. — Não, só me vesti assim porque achei que seria apropriado para minha promoção. — Tassius tossiu ao escutar a fala, franzindo a testa com um ar de dúvida no olhar. — Do que está falando? Você já é um legado, não há nada acima. — Não tinha, mas agora há. — Bikus tirava o elmo, colocando na mesa, enquanto arrumava o penacho desalinhado pelo constante uso. — Quero que saibam que o senado me concedeu o direito de coordenar este ataque, em contrapartida, estou responsável pelos seus resultados, com exceção de outras ações anteriores. Mas bem, vamos para os conformes, vocês todos estão sob meu comando até o fim desta guerra, entenderam?
Luridi ocultou a boca com a capa — É, você estava certo novamente. Havia planejado isso também? — O legado de Camor com um sutil sorriso e com os olhos fechados, negou com um suspiro de satisfação o ocorrido. Os dois contemplavam a discórdia aos poucos se amenizar, enquanto os ofensores se mantinham em desacordo com a notícia que acabaram de receber como uma clavada no meio dos peitos. — Isso sequer foi suposto! Nunca houve, nem nos tempos monárquicos, algo tão insano quanto isso que acabara de falar. — Eles disseram ser melhor um líder para toda a missão, pois na última guerra, perdemos por “desorganização”. — O riso do pinguino era tenaz na mente dos irritados, mas ainda não havia afetado a todos. Em meio aos oradores, saiu Azriel, da sexta Legião de Ruaside, recém-empossado após a dispensa do último legado por sua doença. — Sei bem de teus encargos, filho de Brubrius, sei o que fez nos mares do centro e tua missão contra a grande hidra, mas, me diga, o que te levou a recorrer ao senado para armar esta batalha? — O alto caprino deixou sua face íntegra, como uma estátua esculpida no granito. — Muito simples, nobre, o que adiantaria eu agir sendo que todos têm objetivos diferentes e podem, no processo, se sabotar? O que adiantaria todo esse esforço para uma nova falha e posteriormente não haver nenhum culpado? O senado quer alguém para se escorar, como uma criança pequena em sua mãe, mas eles também querem alguém para culpar quando tudo falhar. — Bikus subia na mesa, olhando para os mapas ainda com descaso de alguns de seus aliados. Azriel coçou a barbicha e sorriu, negando sutilmente com a cabeça. — O mais insano dos entropys, você colocou sua cabeça a prêmio, sabe disso? — O bestial somente sorria em um leve aceno.
O legado de Ruaside se sentou, vendo que nada podia ser feito para mudar a ação capital, mesmo os hostis à presença recuaram, deixando o espaço aberto para todos vislumbrarem o mapa de batalha, o bico do grande líder batia agitadamente enquanto seus dedos escuros moviam a tapeçaria desenhada. — Sei que não gostam da notícia de meu comando, mas vamos ser diretos, temos que dar fim a esta amalgama. Bom, vamos começar. — O bestial inclinava-se levemente, enquanto os demais ficavam próximos da mesa observando as inúmeras mudanças das peças e dos posicionamentos. Quando se percebia o mapa inteiro, estava alterado de forma bem mais intensa, o mapa agora deixava de ter linhas e fazia diversas ondulações por toda a fortaleza. — Nossa chance de vitória é pelo desgaste, temos que primeiro derrubar os muros para depois queimar suas raízes, o rei druida está preparado para ataques diretos, então ele vai tentar usar da floresta contra nós, temos que derrubar as árvores próximas e abrir valas para queimar as raízes quando elas vierem em direção das catapultas. Deixou sobre o comando da primeira Legião, já a sexta, se dividira em 4 bases para proteger os clérigos e arcanistas, precisamos manter o atrito constante contra as torres e as bestas de vinhas, a quarta ficará encarregada de interceptar as forças de sapadores e flancos. A terceira quero que mantenha a linha enquanto a quinta se encarrega nas tentativas de adentrar a muralha sul, nona ficará responsável pela muralha norte, a décima terá uma das piores missões, pois participará dos sapadores na tentativa de derrubar os muros e queima das raízes. Ele dava uma sutil pausa, respirando pesado e voltando à sua longuíssima fala — Sétima se encarregará do atrito contra a costa, evitando que a marinha deles consiga levar seus homens para nossas costas, a oitava terá como função de reforçar as Legiões II, III e V e, por fim, a segunda vai focar no fronte leste. — Ele batia na mão sutilmente com certo alívio — Senhores, nós iremos conquistar esta cidade custe o que custar…
O aceno foi feito, mesmo os opostos tiveram consentimento, já que fora dada sutil liberdade para suas obrigações. Todos se afastaram, dando início a certas discussões. Os legados começaram a se preparar, dando início ao chamado de seus comandantes, iniciando os preparativos para a guerra. As legiões começaram a se mover gradualmente, tudo conforme o desejo do grande líder. Já em cima dos muros da grande cidadela, o rei druida fitava as luzes de fundo, com grande rigidez, um de seus homens encarava as luzes republicanas a cercar todo o leste, sem ter fim.
— Majestade, como iremos enfrentar tudo isso? Há milhares ali abaixo — O guarda foi respondido com o silêncio, o monarca se mantinha inquebrável em sua fixação ao inimigo, as plantas cresciam em seu braço direito, formando uma grande carapaça curvada de troncos, ele se virava ao defensor. — Descanse e fique com sua família, eles atacarão amanhã. Avise a todos para colherem tudo e barrar as entradas… — ele, gradualmente, desceu as escadarias enquanto mantinha-se sério — Tentarei protegê-los desta escória, Quetza nos proteja do mal da república. — O guerreiro consentiu, passando pelo druida e alertando seus compatriotas, alertando a grande guerra que viria. A cidade se escureceu, as únicas luzes que acendiam eram dos vagalumes que cobriam as ruas floradas e os bosques que cobriam todas as ruas. O povo comum começava a se abrigar, muitas saindo de perto dos muros enquanto outros tombavam carros velhos e mobílias já defasadas para barricar as regiões da cidadela. Do outro lado, as árvores eram cortadas, as sementes estocadas, os animais mortos e as toras lapidadas, as primeiras catapultas se formavam junto dos virotes das grandiosas balestras. Os batedores corriam por toda a região terrena, observando a costa à procura de saídas e locais ocultos usados para sabotá-los, porém nada foi encontrado. As primeiras escavações iniciavam afundando cada vez mais para a invasão. Contudo, o conflito ainda não tinha começado, nenhuma flecha foi lançada, nenhuma pedra foi erguida, o silêncio perdurou durante toda a noite, apenas a tensão dos passos rápidos e o ressoar dos sons dos animais que percorriam os restos dos bosques e a terra ainda virgem.
A noite se foi, a deusa lunar deixou sua vigia descendo-se pela borda, a luz chegava, passando pela serra ao longe, dando o sinal desejado. A luz foi como uma ordem, invocando a primeira pedra a ser disparada, o levantar dos tendões da catapulta levantando, acertando o muro da cidadela. O primeiro golpe foi dado e a silenciosa ordem deu lugar ao intenso caos da guerra, o fogo foi aceso, as rochas e virotes subiam aos céus de ambos os lados, a batalha começava sobre a troca de fogo entre ambas as artilharias. Os primeiros legionários iniciavam os ataques, atacando as laterais, enquanto as grandes embarcações começavam a se saraivar em uma intensa batalha naval. Armadas se batiam, indo ao impacto, começando os primeiros derramamentos de sangue entre os lados da batalha.
Os magos, liderados por Azriel, iniciavam o rogar de seus feitiços contra a muralha que respondia com o mesmo fogo. Magos e feiticeiros duelavam-se em meio aos ares e aos muros, seus gritos de conjuração e seus gestos traziam à tona o fogo, os raios e o ácido contra a terra de ninguém, bolas de fogo e nuvens de tempestade começavam a ferir as legiões e as muralhas. A magia se intensificava no ar e dela vinha o primeiro contra-ataque de Polermos. Por baixo da terra, surgiam grandes criaturas de vinhas e raízes, armadas com pedras enraizadas em suas mãos, emergindo da terra e marchando contra as inúmeras armas de cerco. As tropas recuavam, dando espaço à elite que vinha com seus machados pesados e o fogo Ruasido para tombar os gigantes de madeira.
A batalha tomava suas proporções, porém, mais um fronte seria aberto. Abaixo do solo profanado pelo sangue, as pás e as mãos começavam a aprofundar o solo, criando túneis em um labirinto mortal onde os dois lados tentavam chegar às internas defesas do outro. Alguns cediam, abrindo crateras em meio à terra de ninguém, fazendo o que foi o antigo belo campo em uma deformidade irregular.
A ofensiva liderada por Bikus mostrava-se estagnada, os muros ainda não cediam à pressão das Legiões, as armadas tomavam grande pressão da marinha Polermiana enquanto o fogo das artilharias cada vez ficava menos constante. A batalha mostrava suas falhas, um dos mensageiros corria em meio às tropas do avanço, trazendo consigo uma notícia. — Meu senhor! A primeira precisa de reforço, precisam de mais homens para manter o carregamento das armas de cerco. — O Legado encarou com severidade, vendo os muros e as sutis rachaduras, pegou na gola do emissário enquanto levantava seu escudo das flechas que desciam sobre ele e seus homens. — Notifique a Azriel e a Luridites que eles têm que focar todo o fogo pesado contra a rachadura central do muro! Atacar da forma que estamos atacando nos resultará em uma nova derrota! Vá, homem! Vá! — Com um empurrão, o mesmo partiu em sua ardil corrida para alertar as ordens, os guardas do Legado que cobriam sua retaguarda, protegendo os fundeiros em sua interceptação contra as forças superiores. — Mestre! Precisamos recuar, nossos homens estão caindo e nossos inimigos estão revezando nos muros, precisamos de mais poderio! — As flechas cravavam-se nos largos escudos junto das lanças que fincavam no chão e em alguns dos homens que caíam perante o intenso fogo. — Não! Mandem trazer as armas de cerco! Vamos invadir os muros, se recuarmos eles vão atacar as catapultas e os Onagros, levem os homens para as torres e para os testudos, vamos atacar os portões. O comando forte do Bombikus ressoava, seus guardas tocavam as cornetas anunciando o comando, alguns dos legionários recuavam para a retaguarda indo em direção às armas de invasão, lá a situação era mais caótica que a frente de batalha.
Os guerreiros penetravam nas áreas das catapultas com intensa agitação, enquanto animais, civis e feridos transportavam carrinhos repletos de grandes pedras para armamentos, em uma logística incessante destinada ao contínuo bombardeio da cidadela. Os Scorpions chegavam tardiamente à batalha, em grande parte devido à confusão derretida nas cidades adjacentes, que se debatiam em superlotação de carroças em uma operação caótica, à qual nenhum administrador se mostrava apto a gerenciar. O clamor dos homens convocando para a entrada no cerco foi percebido como um sinal de alerta. As corridas desordenadas de dezenas de entropias pela retaguarda movimentavam polias e cordas rudimentarmente amarradas, a fim de posicionar os armamentos defensivos no cimo da imponente torre de cerco, que fora apressadamente preparada. Os homens se juntavam ao lado de suas enormes rodas de madeira armada, empurrando em grandes fileiras a massiva estrutura.
Na frente de batalha era como ver uma torre de uma fortaleza a se elevar, percorrendo o caminho lentamente como se a mesma andasse por própria vontade. À frente do caminho, o fogo, a foice e o machado cortavam e matavam qualquer grama e raiz que ousava se mostrar, o chão era salgado às pressas pelos guerreiros da nona Legião. As saraivadas de flechas vindas do topo impediam o trabalho da ofensiva, enfincando os guerreiros no chão com as grandes usadas. As primeiras escadas começavam a subir nas linhas norte e sua resposta foram as raízes que se escondiam no interior da muralha se agitarem, saindo como tentáculos de um polvo que pegava suas presas e as batia contra as paredes, derrubando as estruturas de subida. Na batalha anterior, jamais se via tamanho ato, era um sinal de que a intensa força do ataque e o desespero do rei druida contra o certo tramado.
Os magos mantinham sua energia puxando a magia intensamente do plano, ao ponto de pequenas fendas surgirem no meio do campo de batalha. Olhos observavam de dentro, contemplando a batalha, enquanto outros curiosos passavam seus membros para fora das rachaduras, pegando para si o que achavam interessante dos corpos caídos pelo campo de batalha. Os monstros de vinhas vinham caindo um atrás do outro, forçando a fortaleza a trazer cada vez mais criaturas, maiores e mais reforçadas, para combater o avanço. O tempo deixava de ser contado, as tropas se dividiam fazendo turnos em um combate incessante, enquanto os exércitos moldavam o campo de batalha, o mesmo moldava os exércitos, as imensas tropas agora se dispersavam em inúmeros grupos, tombando alvos, recuando, voltando ao fronte e repetindo o processo. Ambos os lados eram como homens grandes usando pequeninas agulhas, se furando em um combate exaustivo, vendo somente pequeninas gotas de sangue caírem ao chão. Já o campo de batalha parecia cada vez mais inóspito, as pedras das catapultas criaram uma leve proteção, as árvores tombadas e os corpos faziam uma leve guarda, os ataques arcanos criavam valas nas quais os desesperados se escondiam do fogo inimigo. As chamas tomavam todo o campo de batalha, o fogo que antes libertou Ruaside, agora servia como farol para as armas que vinham de cima, o fogo consumia a carne e as vinhas lentamente, fazendo o cheiro exalar por toda a terra de ninguém.
A primeira torre de cerco se aproximava, junto de grande parte da segunda legião, junto dela o amontoar dos homens em cima dos muros, trazendo consigo um intenso fogo contra os legionários. Areia escaldante caía do céu junto de raios e setas que massacravam tudo que havia abaixo. A força resistente mantinha-se a se aproximar do muro, escadas elevavam-se junto do aproximar da muralha, mas no momento, um único ataque era feito, do solo uma titânica planta se levantava. Tão alta quanto os muros da enorme cidadela, ela estocou contra a gigantesca estrutura, fincando suas raízes e galhos na mesma, travando o gigante instrumento de invasão. Bikus, que observava tudo de perto, riu insanamente, a maior das defesas da cidadela estava exposta, tocou seu chifre e os homens foram ao ataque da planta.
— Queimem tudo! O fogo alquímico do norte veio à tona, arremessado contra as rachaduras da planta, como uma manta ardente, enquanto sua resina expelia como um jato de labaredas. A fumaça cobriu a parte baixa daquele ser arbóreo que se contorcia de agonia e dor. Se batendo contra a estrutura enfincada, tentando voltar ao interior do logo, porém era tarde, tremores eram sentidos por todo campo de batalha. Junto vinha um horripilante som que jamais fora ouvido pelos republicanos, a grande fortaleza gritava pela solução que queimava as raízes abaixo, os sapadores, mesmo abaixo da terra, cumpriram seu trabalho.
Pela primeira vez, uma camada rígida do muro invencível cedeu pelo intenso bombardeio, os gritos das legiões ecoavam por todo o campo de batalha, homens invadindo insanamente sem prestar atenção em ordens na tentativa de avançar sobre a cidade. Pequenas vinhas tentavam impedir o avanço desenfreado junto dos guerreiros que pela primeira vez entravam em ataques frente a frente contra as forças centurianas. A segunda legião chegava em estases aos muros tentando adentrar. Mauricius, que corria com sua montaria por meio dos homens, se aproximava de Bikus, que observava a entrada. — Por que está aqui? Você não estava cobrindo a retaguarda? — O pequeno olhou com seriedade quando viu a chegada do gigante bugbear — A armada do norte caiu, a maioria dos corsários recuou quando destruíram os trirremes, precisa ordenar mais reforço para a costa, eles vão atacar as catapultas e balistas. — O grande líder franzia o rosto em meio à correria, apontando para o senhor da quarta legião. — Reúnam-se com os membros da sétima, segurem o avanço deles. E como está a frente norte? — pergunta enquanto via os homens lutando contra os monstros de vinhas de dentro da muralha. — Ela está tentando subir os muros, mas sem sucesso. — comentava enquanto controlava a grande montaria que se estressava com os gritos e os homens sendo arremessados. — Certo, solicite para o fogo de artilharia dar suporte. Vamos tombar esta cidadela hoje. — Somente um sinal era feito, ambos os comandantes se despediam voltando ao calor da batalha.
Enquanto a frente leste mantinha o ataque contra as defesas centrais, o sul se encontrava em uma situação cada vez mais desesperadora. A marinha vinha cobrindo o fogo contra os baixos e ágeis navios polermianos, a costa auxiliava com os disparos dos Onagros e das balistas, contudo, o fogo cruzado fez com que a encosta tornasse cada vez mais íngreme. As grandes paredes de rochas caíam no mar enquanto os guerreiros da muralha, na tentativa de impedir o avanço, saíam das defesas da muralha abrindo os portões menores para iniciar excursões contra as forças da quinta legião. O desespero tomava conta, a batalha cada vez mais tendia em favor dos defensores.
Tassius, se vendo cercado, encarava a situação com irritação. A situação do centro era favorável e ele ainda não havia perdido o desejo de provar o contrário à Bikus. Mesmo fragilizado pela situação, o legado manteve-se em uma hostilidade. Bufando em gritos, puxou seu estandarte, abandonando o escudo e partindo para a frente de batalha. — Nós cairemos, nos levantaremos, nos cairemos novamente, mas levantaremos até os muros desta cidade virarem pó, meus soldados enfrentarão a crueldade deste mundo! Meus soldados não recuaram! Meus soldados viveram e morreram pela república que se encontra em nossa retaguarda! E só pararemos de marchar quando A VITÓRIA ESTIVER EM NOSSAS MÃOS! VAMOS, HOMENS! A VITÓRIA HASTEARÁ SEUS NOMES COMO AS ÁGUIAS QUE PAIRARAM PELA QUEDA DA MONARQUIA! HONRAREMOS O CRIADOR DE CENTURION, NÓS HONRAREMOS NOSSOS FILHOS E SEUS FILHOS! E JAMAIS SEREMOS APAGADOS DA HISTÓRIA! — Ao terminar de pronunciar, seus inimigos o atacaram, amputando-lhe um dos braços, porém, mesmo desmembrado, pegou a lança do estandarte e empalou seu algoz. Seus homens, vendo o carneiro dourado de Suider dourado banhado pelo sangue do inimigo, rufaram os tambores e bateram as espadas em seus escudos, tomando um frenesi junto de seu líder que se preparava para empurrar os soldados de Polermos de volta a suas muralhas.
O sangue se derramava no sul, no centro ele coagulava e no norte ele afundava. A guerra tomava proporções homéricas, a pequena faixa do istmo se tornou vermelha e salobra, os monstros e piratas, antes omissos ao conflito, contemplavam com horror e surpresa ao ver a verdadeira manifestação da essência do Deus Aramam e seu verdadeiro culto, os humanoides, caídos, eram seu sacrifício e mártires. Seus mais devotos, o céu foi tomado pelas nuvens vermelhas da guerra, a luz de Solaris trespassava as nuvens trazendo a cor do ouro e da terra laranjada, trazendo a beleza da luz pela última vez antes do despertar da lua azul. O fogo, antes somente um sinal, era agora janela para os mortos, que viam o combate por seus espíritos ocultados pelas chamas que os consumiram. As criaturas antes ocultas em seus portais saíam tomando os céus como abutres à espera da carniça. A magia cessava não pelo gasto, mas pelo receio, as defesas do véu de Una' haviam se rasgado, os monstros de outros mundos já podiam ver a grande cena, a grande obra de arte do senhor de todas as guerras.
O rei druida observava da frente de batalha com receio, seu muro rachava e queimava lentamente junto das raízes de seu interior, aquilo era sua decadência, outrora os mesmos muros protegeram sua floresta e depois seu povo e reino. Antes, apenas era necessário dele para tombar os principais exércitos, mas o tempo havia ceifado as forças, seu vigor natural se mantinha, mas a grande custo. Seus olhos trocaram o brilho da juventude pela sabedoria e agora esta mesma sabedoria via o inevitável fim à sua porta, ele sabia que uma hora o fogo tomaria os pilares vivos e mais entradas seriam abertas. Em um suspiro de sobriedade, olhou para os céus rubros e levantou sua lança de cedro — Aramam, senhor de todas as guerras, tu trazes o conflito às terras de Quetza, a patrona de todo o ciclo. Teus devotos invadirão a minha cidade, mas eu, eu não cederei à tua ambição nefasta, se desejas dar a graça da vitória a teus filhos, terás que vir tu mesmo! Pois irei mostrar-lhes a verdadeira face da grande deusa das feras! — Seu decreto contra as nuvens rubras foi ouvido pelo deus guerreiro, a grande tempestade veio junto da lua Azul que admirava o embate, rompendo o céu nublado e iluminando todo o campo de batalha. O grande druida conjurou os ritos ancestrais, trouxe à batalha as feras, dando os saberes, as plantas começaram a crescer e a tomar a cidade, os guerreiros feridos eram curados pela seiva dos monstros arbóreos enquanto os mortos se levantavam tomados pelos parasitas e fungos da cidadela.
Os gigantes cervídeos até os diminutos ratos se juntaram à batalha em favor de Polermos. Os legionários e centuriões viam o caos prosperar em batalha, seus calcanhares eram roídos, grandes touros partiram em carga em direção às formações de escudos, arqueiros e fundeiros lutavam não só contra outros, mas agora também contra aves que soltavam pedras, seixos e escombros sobre suas cabeças. No mar, até mesmo os grandes mamíferos entravam no embate, grandes baleias se jogavam contra os navios, os afundando em gigantescos impactos.
O legado da segunda legião fintou aquilo com seriedade, tomando sua gládio em mãos enquanto golpeavam um cão controlado pelo monarca. A noite dificultava o avanço, mas recuar agora era dar a chance das raízes subirem novamente e reestruturarem as muralhas. Bikus sabia que, aonde chegou, nenhum entropiy havia chegado, recuar era trair seu povo e sua missão, o ressentimento de falhar e o orgulho que tomava seu corpo o forçavam a entrar, o pequeno estava descontrolado, golpeando um atrás do outro, criatura a criatura em gritos de fúria. Seus homens tomaram para si o frenesi de seu líder e marcharam para a grande praça da cidade enquanto eram cercados pelas mais hostis e diversas criaturas que habitavam aquelas terras. — O Grande dia esperado chegou! Hoje saberemos se iremos perecer ou prosperar, é tudo ou nada! — bufou o bestial em sua ofensiva, os cidadãos fugiam para as partes seguras enquanto outros evacuavam as partes atacadas. Porém, mais um estrondo veio, o muro sul havia rompido e mais uma legião invadia o interior da muralha, sua recepção foi intensa, homens de plantas, animais e reanimados atacavam as tropas desgastadas pelo romper dos portões.
O lado norte permanecia estagnado, a marinha caiu, e os exércitos eram alvejados de todos os lados. O legado, vendo que mesmo fragilizados os muros se mantinham e os corsários se acovardaram perante o atrito, foi tomado pelo medo da morte e recuou junto de seus homens já desmoralizados. Azriel, que se mantinha junto dos conjuradores, auxiliando os clérigos em suas curas dos feridos, viu o recuo desencadear o desembarque e a saída dos defensores para um contra-ataque. O legado levou seus arcanistas a mais uma batalha enquanto ia ao confronto das forças defensoras. — Alerte os que estão na muralha que o avanço norte fracassou! Os homens estão desgastados demais, e os auxiliares só irão chegar no amanhecer! Precisamos parar o avanço antes que sejamos cercados! — O mensageiro consentiu em meio ao deslocamento e correu para alertar ambas as legiões. No meio do caminho, a logística se tornava um fardo, buracos, armadilhas e emboscadas deixados para trás em meio ao campo de batalha deixavam o trabalho de trazer feridos e substituir tropas uma verdadeira tortura, mensagens eram silenciadas, suprimentos eram destruídos, curandeiros e oficiais mortos.
O legado da terceira legião via tudo por trás do campo de batalha, tentando manter as forças operantes. Para ele foi dada a pior das missões, notícias chegavam a todo momento, a ponto do estresse o fazer embranquecer seus cabelos. — Se mantivermos nesse estado, daqui a uma semana teremos perdido uma legião inteira, as baixas já deixaram de ser contadas, há mais de três mil feridos. Precisamos de mais poder de fogo, mais homens, mais armas, mais médicos e curandeiros… — Ele parava com o discurso, vendo um dos lados da batalha naval cedido sob domínio da república, vendo que o porto estava desprotegido graças à invasão da cidade. Ele se levantou e correu para um de seus homens com uma voz trovejante — pegue a charrete, vá para a cidade e traga todos os navios capazes de guerrear, diga aos criminosos que daremos liberdade, aos miseráveis dignidade e aos cidadãos riqueza! Vá!
A correria continuava, um homem a outro caminho em direção a Ruasider, enquanto o confronto continuava intenso pelas vielas e ruas da cidade murada. O fogo, antes direcionado apenas contra muros e animais, agora se espalha por toda parte. Casas pegavam fogo, iniciando incêndios de grandes proporções que poucos tinham a bravura de extinguir. A batalha interrompeu os esforços para salvar casas e impediu o uso de becos para interceptar. Sangue escorria pelas ruas pavimentadas de pedra, enquanto homens caminhavam sobre os corpos de seus adversários e companheiros. Porém, naquele momento de avanço constante, mais um golpe era dado, uma pequena azagaia acertava Tassius com grande força, fazendo-o cair ao chão agonizando com a dor e a fraqueza de ter perdido um braço.
Seus homens, assustados, pegaram seu corpo já fraco e levaram-no para fora do ardor do combate. A tropa estava desmoralizada, mas ainda não havia se rendido ao destino. Partindo em fúria, seguraram a linha enquanto os ventos e a fumaça preta começaram a se intensificar no interior da cidade. Um goblin, mensageiro de Tassius, correu por meio da cidade sem chamas, passando oculto por meio do intenso ataque dos polermianos. Avançou em meio ao fogo, queimando um pouco de seus pés e braços para chegar à posição da segunda legião. — Meu senhor! Tassius caiu! Estamos presos naquela direção, precisamos de ajuda! Bikus arregalava os olhos ao ouvir tal fato, pegou sua espada banhada em sangue enquanto seus homens seguravam parte dos homens de vinhas que atacavam com grande determinação — Parte fica e mantém a linha! A outra venha comigo! Centurião! Mantenha seus homens aqui, eu vou lá. — Sim, Senhor!
O combate se tinha como generalizado, porém o avanço de Centurion não parava por qualquer instante. Internamente, a cidade tinha sua parte leste tomada, externamente apenas o norte prosperava contra as ofensivas, mas a cavalaria, os arcanistas e o forte fogo de cerco resultavam em uma contraofensiva tardia e custosa. Os guerreiros de Polermos viam rochas caírem do céu contra suas cabeças, os muros arrebentados, exalando um cheiro forte e expelindo uma fumaça tóxica. Aos poucos, aqueles que protegiam a cidadela viam a lua se despedir com seu último brilho e Solaris emergir do horizonte de seu pôr, a luz carregava o mal presságio, os navios tomavam o horizonte, junto do porto da cidade. Pelo leste, castigado pela guerra, novas hastes se levantavam, nossos estandartes inclinavam, as tropas da costa centuriana se juntavam à batalha, muitos mercenários, prisioneiros e jovens marchavam pela terra queimada em direção aos muros destruídos, junto deles, carroças armadas prontas para açoitar mais a infeliz cidade.
— Meus irmãos, vamos voltar à cidade, aqui fora será igual à espera em Jultária, RECUAR! — Os soldados retornaram às pressas, fazendo a euforia tomar os legionários antes repelidos. A cidadela estava quase evacuada, porém, em meio à zona oeste e nos portos do norte, algo estralou, um dos navios da marinha pegou fogo, e uma das torres de vigia também. O povo se desesperou, os poucos soldados, sem entender, procuraram os infratores até que, em meio ao tumulto, flechas começaram a voar. Das casas altas, Xarlexius tocava a temida corneta de guerra, dando início ao ataque das guerrilhas. Em questão de instantes insanos, guerrilheiros saíram de seus disfarces, trazendo terror aos cidadãos e soldados menores. Os mensageiros, que corriam de um lado ao outro da cidade, agora eram interceptados pela força infiltrada; os poucos que passavam vinham levando cada vez mais homens para armadilhas. A cidade inteira virou um campo de guerra, sem tempo para ter fim. O Rei druida recebeu a notícia dos ataques e da chegada de reforços, a cidade estava perdida, todos os lados haviam gládios e grandes escudos, todos os lados eram atacados pelas forças invasoras da república centuriana.
— Este é o fim desta cidadela, este é o fim de meu reinado… mas não de meu povo, recue todos, tirem soldados e civis, eu irei segurar o avanço centuriano. — Meu senhor! Você vai morrer! — O guarda olhava assustado para seu monarca que mantinha o olhar sereno, cheio de sabedoria, enquanto via o norte ser tomado pela fumaça negra que dançava pelo ar. — Todos iremos um dia, este é o meu, mas não será o de vocês. Fujam e reconstruam suas vidas, longe do julgamento de hipócritas, longe das regras de covardes. Quetza, a mãe de todo o verde, os proverá assim como me proveu. Agora vão, não deixem ninguém além de mim para trás. — O general olhou para seu líder, que não mostrava um pingo de arrependimento, nem mesmo de receio em suas palavras, vendo a firmeza em seus últimos momentos, somente consentindo enquanto prestava sua última saudação ao glorioso druida, o silêncio se manifestou na sala. — Minha deusa, se me ouve, peço que meu corpo não seja usado como troféu de meus inimigos, quero apodrecer em meio a teus campos, sendo devorado pelas raízes e pelos vermes de tua criação, me integre a teu ciclo divino, para que eu possa saber que fui teu servo fiel e que eu possa pagar pelas minhas infiéis atitudes contra tua graça. — Fechou a cortina de teu castelo e começou a descer, já não havia mais guerreiros ou servos no mesmo, apenas os móveis e as obras de seu glorioso passado, das pinturas que teu povo havia feito de sua graça até os primeiros vasos pintados por seus mais íntimos artesãos. Em seu caminhar pelos degraus de sua morada, seu corpo se forrava com a mais resistente armadura. Tua lança formava a maior das alabardas, afiada com espinhos e o mais mortal veneno. Em meio ao centro da cidade, ele se sentou à frente da fonte com a estátua de sua deusa e esperou seus algozes se aproximarem. Viu seus fiéis homens e cidadãos fugirem por ele, enquanto as bestas se despediam de seu monarca em meio à luta libertadora.
A frente norte gradualmente recuava, apenas os monstros arbóreos se mantinham na batalha, sendo um por um tombados pelos legionários. A fuga da cidade aos poucos foi concluída, junto da invasão das outras legiões. Mesma, Bikus, que liderava à frente, chegava com a segunda e a quinta à frente do rei.
— Mandar teus homens fugirem foi um ato tolo, monarca, como acha que vai parar as dez legiões sozinho? — Eu nunca precisei da carne e tampouco do aço para impedir teus corruptos líderes de invadirem minha cidade, mas como você chegou aqui, servo de Aramam, vou te mostrar o verdadeiro poder do ciclo divino — com um leve bater, os muros da cidade romperam-se, as raízes queimadas se amputavam do resto, se tornando como monstros gigantes tacando suas rochas contra todos os lados, enquanto o monarca levitava aos céus. Sendo tomado pela luz de Solaris, abrindo asas feitas de folhas e flores, atraindo com este os maiores dos enxames já vistos na história. Ele apontou a ponta de sua haste contra o legato, anunciando seu ataque. Os homens, apavorados com o grande poder que se manifestava à sua frente, levantaram seus escudos na falha esperança de se defender do ataque. Porém, este não veio dos insetos, mas de seus pés, o chão asfaltado saltava as raízes como estacas rompendo a formação e trazendo o terror aos guerreiros que viam o rei como a pior das maldições. Bikus manteve-se focado em seu combate, avançou contra o monarca usando sua pilum para perfurá-lo, mas sem sucesso. — Desça e me enfrente! O monarca, com um leve sorriso de satisfação, levantou sua alabarda sobre a cabeça em meio ao voo e respondeu ao líder — Com todo o prazer. — Desceu dos céus com um imponente golpe, dilacerando o escudo do legato e perfurando sua mão e parte de seu rosto com um simples ataque. Sem o escudo, com o olho afetado em uma cegueira parcial derivada do veneno, ele bateu o pomo, tirando as pontas de sua armadura.
— Isso é tudo? Vamos ver quantos truques você tem, monarca. — A batalha se iniciava, três coortes contra um único homem, Mauricius, que adentrava agilmente a cidade sitiada, percebia a mudança dos ares, seguindo em direção à parte oeste enquanto via as raízes lutando contra todos ao seu redor, ele chegava até a guerrilha de Xarlexius.
— Como foi a estadia? — Piratas nos deram comida por uma semana, o resto a gente teve que roubar espelta e comer frutas maduras, eles têm campos de plantação pequenos, mas muito produtivos. — Certo, temos que atacar o rei, ele está lutando contra Bikus nesse momento — o hobgoblin franzia o rosto, estranhando o dito por seu superior — Bikus? Aquele bestial rebaixado? — O final da frase vinha acompanhado de um belo tapa na nuca do legado. — Tenha mais respeito com o líder das legiões, vamos, precisamos de ti contra o monarca. — Estendendo a mão, puxou seu homem, levando-o ao centro da cidade. Do outro lado, Azriel combatia frente a frente os últimos feiticeiros que mantinham as defesas da linha norte, enquanto suas tropas e auxiliares empurravam eles para o leste. Um mensageiro chegava no trotar de seu grande cão de guerra. — Meu senhor! Precisamos de apoio no centro agora! — Estamos lutando contra feiticeiros aqui! Como pode ser pior que isso? — O Rei Druida está lutando contra o legado da segunda. — Virando assustado, até mesmo suas orelhas caídas se levantaram em susto, olhou para o ataque mágico de seus arcanistas e clérigos dando a proteção divina.
—Tribuno! Tu reges minha legião, Mestre Arcano, venha aqui, temos um rei para destronar. — A correria se fazia ao centro, em instante que a batalha continuava, mais homens caíam pelas artimanhas do druida enquanto outros chegavam às dezenas. Humanoides das mais diversas legiões se reuniram contra o rei, 50 caíram, 200 chegaram, dos 100 que pereceram depois 400 tomaram seu lugar. Bikus se mantinha em uma ofensiva de ataques sem parar, suando como um porco a correr por sua vida, ele brandia sua espada enquanto o veneno tomava seu corpo. Mauricius atacava ao longe enquanto Xarles tomava a proteção lidando com os monstros invocados. Azriel chegava puxando-o ao chão com sua magia incandescente. O líder da quarta legião chegava usando as charretes armadas com as scorpions rogando disparos contra o líder que manipulava o chão, o céu e as águas. Enxames atacavam os legionários, bestas arbóreas os centuriões, os campeões das legiões seguravam os maiores enquanto os artífices e alquimistas destruíam os tentáculos titânicos das muralhas.
Em um golpe, Bikus foi perfurado, seu peito foi rasgado pelas pontas serradas da alabarda, a estocada levava o veneno a seu coração, seu corpo, já frágil, dava últimos sinais de vida. Ele, usando de suas últimas forças, puxou a haste para perto, trazendo mais a ponta a seu interior, com um golpe forte de sua lâmina aperfeiçoada, desmembrou a asa do monarca, fazendo-o cair ao chão junto dele. O líder das legiões, prestes a morrer, tossiu e riu. — Meus guerreiros… meus irmãos de armas, terminem o que comecei… — O urro dos guerreiros ao ver o arauto de seu exército padecer à sua frente foi, rufaram os tambores e investiram com suas lanças e espadas contra o rei. Um golpe atrás do outro até sua invencível armadura ruir, seu poder gradualmente se esvair pelo constante uso para mantê-lo vivo.
O rei, em seus últimos momentos, olhou para seu redor e sentiu o ódio, a ira e a determinação daqueles que morriam e o atacavam, via a destruição e o fogo a tudo tomar, “Eu não desejo morrer neste lugar. Minha morte será onde o verde prospera.” Em um golpe, ele se bateu com suas enormes vinhas, tirando-o do meio infestado de legionários. Os homens em fúria carregaram os feridos que não quiseram ser curados e correram atrás dele. Um dos legionários, já sem proteção dos inúmeros golpes, tomou uma lança em sua mão e pegou um cavalo abandonado. Seguiu à frente de seus irmãos de batalha, seguindo o líder mais à frente do que os outros. Poucos sabiam seu nome, poucos ligavam para sua presença. Mas ele avançou, o rei saía da cidade, indo para a encosta verdejante próxima, lá não havia sinais da guerra, o verde tomava, o rei vendo apenas um único guerreiro se aproximar, vendo seu corpo desgastado pela batalha igual ao seu, pegou sua alabarda e a fez como uma lança. — Você veio se vingar de seu líder? Quem é você — Meu nome não é importante, meu existir é passageiro, mas farei algo útil de minha vida, morrer pela minha pátria e dar fim a seu reinado, rei de Polermos, use teu poder e lute comigo. — O rei fraco, vendo a pequenez daquele humanoide, sorriu, vendo que ele não era grande como seus inimigos. Ele levantou as últimas vinhas de sua armadura e criou a ti uma besta de plantas em formato de um caribu, ele apontou para seu último oponente. — Se me matar, jogue-me no mar. — Farei sua vontade, último monarca…
As montarias levantaram em meio ao entardecer, a lança projetada à frente enquanto as montarias corriam uma contra a outra, ambas em carga frenética, a velocidade cortava como os ventos fortes do verão nos mares agitados, o trotar dos seres em sua última corrida anunciando o fim de tudo. Um golpe foi feito, o bater da lança no peito a fazia se partir em sua haste. O guerreiro ferido, gasto pela batalha, viu o rei druida, aquele que tombou inúmeros irmãos, cair ao chão. A ponta havia trespassado seu coração, o rei apenas teve tempo para ver o céu, naquele momento os gêmeos celestes contemplaram seu respirar final. O monarca fechou os olhos, sorrindo para os céus. — Obrigado, minha deusa, por tudo que deste… agora volto… a ti. O guerreiro tomou sua lança, tomou sua coroa e seus cornos, e com o resto de seu corpo, fez o que prometeu, jogou os restos no mar onde ele pôde descansar. Os soldados que viam de longe a batalha corriam em direção ao herói, que levantava por cima da haste o fim de uma era…
A república venceu, e Centurion estava finalmente livre.