Em algum lugar de São Paulo. 12 anos depois.
Quando Isabelle recebeu a mensagem de Vitor, o coração disparou. “Estarei na cidade na próxima semana. Que tal um almoço?”
Ela hesitou. Foram dias pensando na resposta, reescrevendo o texto várias vezes antes de finalmente digitar: “Claro, me avise o dia e o horário.”
…
O restaurante era elegante, com uma iluminação quente que tornava o ambiente acolhedor. Isabelle chegou primeiro, as mãos inquietas enquanto deslizava os dedos pelo cardápio sem realmente lê-lo. Quando Vítor entrou, seus olhos se encontraram, e o tempo pareceu parar por um instante.
Havia doze anos entre aquele olhar e o último que haviam trocado. Doze anos que, naquele momento, pareciam desaparecer como fumaça ao vento.
Ele sorriu, um sorriso hesitante, mas genuíno, enquanto se aproximava. Isabelle levantou-se para cumprimentá-lo, e o abraço que trocaram foi breve, mas carregado de algo não dito.
O diálogo começou com a típica troca de novidades. Isabelle contou sobre Breno e o filho deles, enquanto Vitor falou de sua esposa e da mudança para a nova cidade. Mas havia uma tensão no ar, um subtexto em cada pausa, em cada olhar que durava um segundo a mais do que o necessário.
— Você está diferente — disse ele, finalmente, pousando a taça de vinho na mesa.
— É o tempo. Ele faz isso com a gente. — Isabelle sorriu, mas o sorriso não alcançou os olhos.
— Não, não é isso. É como você fala, Isa... como se estivesse tentando esconder algo.
Ela riu nervosa, mexendo no guardanapo. — Olha quem fala. Você também parece... contido.
O silêncio que se seguiu não era desconfortável, mas pesado, cheio de possibilidades.
Quando o almoço terminou, ambos hesitaram ao sair do restaurante. Na calçada, Isabelle olhou para ele com um misto de ansiedade e expectativa.
— Isabelle, eu... — Vitor começou, mas parou. O que ele poderia dizer? Que sentiu saudades? Que havia dias em que se pegava pensando nela?
Ela balançou a cabeça, interrompendo-o. — Não, Vitor. Não agora. Não aqui.
Mas o "não" dela soou como um "talvez", e o brilho em seus lindos olhos azuis indicava que o desejo adormecido havia despertado.
Isabelle cruzou os braços, tentando organizar os pensamentos enquanto o vento balançava levemente seus cabelos. Vitor a observava, como se buscasse algo no rosto dela, uma permissão, uma pista para saber o que deveria fazer.
— Isabelle... — Ele tentou novamente, mas o tom hesitante o fez parar de novo.
Ela suspirou, os olhos fixos em um ponto qualquer da rua à frente, evitando o olhar dele. — Não adianta começar uma conversa que não sabemos como terminar, Vitor.
— Talvez seja isso que precisamos descobrir. — A resposta saiu mais firme do que ele pretendia, mas a intensidade na voz não deixou dúvidas sobre a seriedade de suas palavras.
Isabelle finalmente o encarou, o olhar carregado de uma mistura de curiosidade, desejo e medo. Por um instante, eles ficaram em silêncio, como se o mundo ao redor tivesse parado. As pessoas passavam apressadas, mas nada disso parecia importar.
— O que você quer de mim? — Ela perguntou, a voz baixa, quase um sussurro.
— Quero entender o que estamos fazendo aqui. — Ele deu um passo mais perto, reduzindo a distância entre eles. — Quero saber por que você aceitou esse almoço, por que me olha assim, por que...
— Para, Vitor. — Isabelle o interrompeu, mas não recuou. — Não me faça dizer coisas que não devo.
Ele passou a mão pelos cabelos, frustrado. — Talvez seja isso. Talvez a gente devesse parar de evitar.
Isabelle sentiu o coração acelerar. Havia algo no jeito que ele falava, algo que despertava nela uma mistura de esperança, medo e desejo. Ela desviou o olhar novamente, mordendo o lábio inferior, enquanto o silêncio entre eles se estendia como um abismo.
Finalmente, ela soltou o ar preso nos pulmões e olhou para ele com uma expressão decidida. — Vitor, tenho medo dessa conversa. Não sei se depois dela haverá volta.
Ele deu de ombros, um sorriso amargo brincando em seus lábios. — Talvez a gente já tenha ido longe demais.
As palavras pairaram no ar, pesadas e inevitáveis. Isabelle sentiu o chão se mover sob seus pés, como se estivesse prestes a dar um passo no vazio.
Ela balançou a cabeça lentamente, mais para si mesma do que para ele. — Tudo bem. Mas não aqui.
Vitor assentiu, e eles começaram a caminhar, lado a lado, em direção ao que quer que viesse a seguir. A cada passo, Isabelle sentia a tensão crescer, o calor em seu rosto aumentando, a pulsação acelerada em seus ouvidos.
Quando chegaram à esquina, Vitor apontou para o café, a voz carregada de uma calma aparente que escondia a tempestade em seu interior.
— Tem um café ali. Podemos continuar a conversa?
Isabelle parou por um momento, olhando para o lugar indicado. Então, respirou fundo, tentando se preparar para o que estava por vir.
— Podemos. — E com isso, ela deu o primeiro passo para dentro do café, para dentro de algo que sabia que mudaria tudo.
Eles se sentaram em uma mesa afastada, um canto mais reservado, onde as vozes da cidade se tornavam um sussurro ao fundo. A garçonete trouxe os cardápios, mas nenhum dos dois realmente os abriu.
— É estranho, não é? — Isabelle finalmente quebrou o silêncio, brincando com a borda da xícara de café que mal havia tocado. — Depois de tanto tempo, parece que...
— Parece que nada mudou. — Vitor completou, encarando-a com intensidade.
Ela ergueu os olhos para ele, e por um momento, a máscara de casualidade caiu. Lá estava o homem que conhecia, mas também alguém novo, moldado pelos anos, pelas escolhas, pelos caminhos que os afastaram.
— Você já pensou em como teria sido? — Vitor perguntou, a voz baixa, quase um sussurro.
— Como teria sido o quê? — Isabelle sabia a resposta, mas queria ouvi-lo dizer.
Ele respirou fundo, como se precisasse reunir coragem. — Se tivéssemos feito escolhas diferentes depois daquela noite?
As palavras pairaram no ar, pesadas e cheias de significados. Isabelle sentiu o coração apertar no peito, um misto de nostalgia, culpa e desejo.
— Não sei, Vitor. — Ela desviou o olhar, mas ele segurou sua mão sobre a mesa, um toque suave, mas firme o suficiente para fazê-la encará-lo novamente. — A vida aconteceu. Fizemos o que achamos que era certo.
— E agora? — Ele perguntou, o olhar queimando com uma intensidade que fez Isabelle perder o fôlego.
Ela puxou a mão de volta, o gesto automático, como se tentasse criar uma barreira. Mas era inútil. Havia algo ali, algo que não podia ser ignorado.
O café já estava vazio quando eles finalmente decidiram ir embora. Vitor insistiu em acompanhá-la até o carro, e o caminho foi marcado por um silêncio denso. Quando chegaram, Isabelle virou-se para ele, tentando encontrar as palavras certas para encerrar aquilo antes que fosse longe demais.
— Vitor, eu não...
Mas ele a interrompeu. Com um movimento rápido, segurou seu rosto entre as mãos e a beijou. Foi um beijo cheio de urgência, como se os doze anos de distância estivessem se dissolvendo naquele instante.
Isabelle não resistiu. No fundo ela ansiava por aquilo. O sabor familiar de seus lábios, era como um redemoinho, arrastando-a para um lugar que ela jurou nunca mais visitar.
— Isso é errado — ela murmurou contra os lábios dele, mas não se afastou.
— Talvez seja. Mas nenhum de nós quer abrir mão disso. — Vitor sussurrou, encostando a testa na dela, os olhos fechados como se estivesse lutando contra os próprios demônios.
Eles não foram longe. A tensão que os envolvia tornou impossível esperar. Dentro do carro, estacionado em uma rua deserta, o mundo exterior desapareceu.
Vitor a puxou para si, os lábios explorando cada centímetro de sua pele exposta. Isabelle arfava, os dedos deslizando pelos cabelos dele, puxando-o para mais perto. Era como se o tempo tivesse retrocedido, como se todas as emoções que haviam enterrado ao longo dos anos estivessem irrompendo de uma só vez.
— Eu pensei que tinha esquecido — ela sussurrou, os olhos semicerrados enquanto ele traçava um caminho de beijos pelo pescoço dela.
— Eu nunca esqueci. — A voz dele era rouca, carregada de desejo.
As roupas se tornaram um obstáculo. Os botões da camisa dele foram arrancados com pressa, e Isabelle sentiu o calor das mãos de Vitor deslizando pela sua cintura, explorando com uma intensidade que a fez estremecer.
Ali, no espaço confinado do carro, os dois se perderam um no outro. Cada toque, cada suspiro era uma mistura de paixão e arrependimento, de desejo e culpa. O mundo parecia pequeno demais para conter o que eles sentiam, e ao mesmo tempo, naquele momento, nada mais existia além deles.
Quando tudo terminou, o silêncio voltou a reinar. Isabelle olhou pela janela, tentando processar o que havia acabado de acontecer.
O silêncio entre eles não era desconfortável. Era carregado, pesado de tudo o que havia acontecido e do que nenhum dos dois tinha coragem de dizer em voz alta. Isabelle ainda olhava pela janela, mas o reflexo no vidro mostrava o rosto de Vitor, a expressão serena, mas os olhos cheios de algo que ela reconhecia — um desejo que não havia acabado, mesmo depois de saciado.
Ela suspirou, virando-se para ele, os cabelos bagunçados caindo sobre os ombros. Seus olhos estavam calmos, mas havia uma intensidade neles que fazia Vitor prender a respiração.
— Isso muda tudo. — Ela murmurou, mas dessa vez sem medo ou arrependimento. Havia uma aceitação ali, uma entrega ao que já era inevitável.
Ele passou os dedos pelo cabelo dela, um gesto que misturava carinho e provocação. — Ou talvez não mude nada. Talvez fosse isso que a gente queria o tempo todo.
Isabelle riu baixo, o som suave preenchendo o espaço apertado do carro. — Você não vai facilitar as coisas, vai?
— Nunca fui bom nisso. — Ele deu de ombros, mas o sorriso no rosto entregava o quanto estava confortável naquele momento, mesmo que fosse perigoso.
Ela inclinou-se para ele, seus rostos separados apenas por um espaço minúsculo. — Não adianta fingir que foi só um momento, Vitor. Nós dois sabemos que isso sempre esteve aqui, esperando o momento certo para acontecer.
Ele assentiu, os olhos fixos nos dela. — Sempre esteve. E agora?
Isabelle tocou o rosto dele, o polegar deslizando pela barba que começava a aparecer. O toque era íntimo, quase casual, como se não houvesse mais barreiras entre eles.
— Agora a gente lida com isso. Não como um erro, mas como uma verdade que não dá pra ignorar.
— Você não tem medo? — Vitor perguntou, a voz baixa, mas carregada de curiosidade genuína.
— Claro que tenho. — Ela sorriu, inclinando a cabeça. — Mas é um medo que vale a pena sentir.
Vitor a puxou para perto, selando a conversa com um beijo breve, mas cheio de promessas. Quando se afastaram, ambos estavam mais serenos, como se finalmente tivessem se libertado de algo que os prendia há anos.
Vitor abriu a porta do carro, mas antes de sair, virou-se para ela. — Boa noite, Isabelle.
Ela sorriu, aquele sorriso que ele sempre reconheceria. — Boa noite, Vitor.
Ele caminhou pela calçada, sentindo o ar frio da noite e o calor que ainda vibrava em sua pele. Não havia arrependimento. Não havia dúvida. Apenas a certeza de que, mesmo que não soubessem o que viria a seguir, aquilo era exatamente o que ambos desejavam — e, finalmente, haviam admitido.