Prólogo
Para quem ainda sente demais
Este não é um livro comum.
É uma coleção de fragmentos de mim —
uma menina que não cresceu inteira,
uma mulher que escreve para não desaparecer.
Aqui, cada poema é um eco:
do consultório branco,
do quarto bagunçado,
do silêncio entre irmãs,
do choro que ninguém vê.
Escrevi com a coragem de quem sente fundo.
Com a dor de quem se cansa do mundo,
mas ainda encontra beleza
num voo de pássaro ou num sorriso torto.
Se estas páginas chegaram até você,
é porque talvez nos pareçamos.
Talvez você também esteja tentando se costurar
com palavras.
Que este livro te abrace como um amigo antigo.
E que nele,
você reencontre pedaços seus
que também andavam perdidos.
Quando o Adeus Vem em Silêncio
O distanciamento de alguém que era próximo - de alguém que dizia amar. Que crueldade sentir que foi tudo um ludíbrio. Eu me iludi, certamente.
Parecia intensa e verdadeira, mas na primeira oportunidade afasta-se. Qual a justificativa? O temor de gostar demais? Ou a verdade de gostar de menos?
Nunca o saberei, não tenho coragem e nem disposição para a dúvida.
Aceito, como quem aceita o sangue que escorre dos espinhos da mais bela rosa.
Aceito e sigo só. Na verdade, aceito e sigo com aqueles genuínos que permanecem por querer.
A tristeza de uma perda, mas a descoberta de um amor falso.
Conversa com a Angústia
A angústia chega como quem invade —
sem bater à porta, sem pedir licença.
Às vezes, numa palavra fora do lugar.
Noutras, num gesto que desaponta,
no corpo que pesa mais do que devia,
ou na ausência que silencia os dias.
Por muito tempo, tentei apagá-la —
com comprimidos que anestesiavam
o que eu ainda nem sabia nomear.
Mas hoje, algo mudou.
Li, em silêncio:
“A angústia é inerente à vida.”
E pensei — talvez não se lute contra ela,
talvez se converse.
Quem sabe, oferecer-lhe uma xícara de café,
ouvir suas razões,
falar das minhas?
Há dores que não querem cura — só escuta.
Há problemas que nos pertencem,
outros que apenas acontecem.
E não, não salvaremos o mundo.
Mas podemos aprender a não perecer com ele.
Que um sorriso alheio,
um abraço sem urgência,
uma cena que nos comova sem razão,
sejam bálsamos.
E que abafem, ao menos por instantes,
esse grito mudo que nos golpeia por dentro.
As Insignificâncias que Salvam
As insignificâncias —
assim chamadas por quem não sente —
guardam o lume secreto da existência.
“Meu quintal é maior que o mundo”,
disse o poeta,
e eu compreendo:
há um universo inteiro
num voo de borboleta,
numa joaninha que caminha sem pressa,
no vento brincando com meus cabelos.
O que é a beleza senão isso?
Um jardim —
mas não qualquer jardim,
e sim aquele regado por mãos idosas,
cheias de tempo e ternura,
que cuidam da flor como quem embala
a infância perdida de um filho.
Corrijo-me:
não é o jardim,
mas o gesto de cuidar,
o deixar florescer
mesmo sabendo que não se colherá.
Essa entrega sem retorno —
isso sim, é amor.
Enalteçamos, então,
o vento, a chuva, o mar.
Eles não pedem plateia,
mas dançam,
como quem vive apenas por viver.
E quem os observa,
com olhos de silêncio,
descobre:
a vida é feita de pequenos espantos,
que só o atento é capaz de sorrir.
O Cuidado de Ficar em Silêncio
Há sensatez em falar baixo,
como quem acaricia o ar com a voz.
Há discernimento no desvio —
não por covardia,
mas por paz.
Sabedoria é não disputar,
quando o prêmio é dor
e a perda, inevitável.
Silenciosos,
todos seguimos.
Que a harmonia habite o gesto,
e não o grito.
Se o outro exige distância,
acolho.
Não insisto em presenças partidas,
nem imploro por permanências ocas.
A ausência, quando escolhida,
já carrega seu adeus.
E ao bem — e ao mal —
entrego o silêncio
como quem oferece flores
em vez de respostas.
Santuário
Reconheço de longe
o choro das crianças —
não o birrento,
mas aquele que vem do medo,
do espanto diante do mundo.
Nos olhos pequenos,
a ameaça do desconhecido,
e, ao lado,
a presença que acalma:
a mãe.
Ali está o sagrado.
No colo,
na mão que embala,
no silêncio que protege.
É amor que não precisa se provar —
ele simplesmente é.
Como médica,
vejo nesse laço um santuário:
dois corações batendo em ritmos que se entendem,
duas almas que se encontram
antes mesmo das palavras.
E sorrio.
Por segundos,
a vida deixa de ser cinza.
Quero ser abrigo também.
Quero o choro, a risada,
a casa bagunçada de afeto.
Quero crescer junto,
errar com cuidado,
acertar com amor.
Quero ser mãe —
não por ideal,
mas por desejo de sentido.
Porque talvez,
entre fraldas, febres e abraços,
eu me reencontre.
E esta anedonia,
que me tem sido pátria,
possa enfim perder seu nome.
Inquietude
Estou sentada na cadeira, com os pés inquietos. A ansiedade me domina. Seria o próximo plantão? Seriam as escolhas futuras sobre a vida? Já não o sei, apenas sinto.
Tomar um ansiolítico poderia resolver a situação, mas não no meu caso. Milhões de pensamentos entremeiam minha cabeça: estudos, alimentação, atividade física, relacionamentos, dinheiro, etc.
Completo mais um ano de vida amanhã. Essa informação não me traz alegria, ela carrega as obrigações da idade. Infere maiores responsabilidades e juízos.
Logo eu, que queria ser criança. Creio que possuo a Síndrome do Peter Pan (se é que essa existe – se não, eu a crio). Nunca deixar a infância, a ingenuidade e a beleza dessas pequenas criaturas do bem.
Pois bem, não se pode voltar ao passado. Dessa forma, uma única solução: não perder a fé que tinha – e não sabia – no mundo.
Desgaste
Mente cansada, corpo exausto, máquina de criar pensamentos negativos.
Cefaleia, dispneia, sono.
Será que ela me ama? Será que amanhã será um bom dia? Será que atingirei meus objetivos?
Não. Não. Não. É tudo que me vem a mente. Alma desgastada, sem glicose cerebral, tudo que quero é apagar.
Sentir meu corpo desmanchar-se como um gota em um rio. A esperança de acordar bem. Corrijo-me, agora não há esperanças, apenas o pessimismo de um indivíduo deteriorado e corroído pelo cotidiano.
Não é um poema de promessas, é um escrito de angústias. O sono me vem. Até amanhã.
Quatro de Maio
Hoje completo vinte e sete outonos,
mas ninguém parece notar.
A manhã chegou sem flores,
sem risos,
sem sequer um gesto para marcar.
É só mais um dia ordinário
na vida de quem me cerca —
com ofícios, horários, tarefas,
como se o tempo não soubesse
que fui parida neste exato calendário.
Silencio meu nome.
Não haverá festa, nem vela,
nem memória acesa na janela.
Hoje sou ausência disfarçada,
sou a sombra do que se espera:
uma alma que envelhece calada,
com a única diferença —
a tristeza mansa
do esquecimento
Não Quero Amor Assim
Quanta razão,
quantos pesos travestidos de amor.
Não quero isso —
quero o leve,
o riso fácil,
a pena que cai no ombro de uma criança
e a faz sorrir sem entender por quê.
Não quero amarras doentes,
teorias sobre afeto,
retóricas frias e exigências sem alma.
Prefiro o vazio
do que o laço que sufoca.
Quero a liberdade de amar os amigos,
as pequenas belezas do dia:
um abraço espontâneo,
um livro esquecido na estante,
um café quente entre memórias.
Prender-me a quem pesa demais
é ato de autossabotagem.
Já não suporto a ausência de troca,
o abismo de dar sem receber.
Desisto.
Não quero esse tipo de amor pra mim.
Que tu encontres alguém à tua altura,
que goste de regras e estratégias.
Eu ficarei aqui —
com minha caneta,
meu silêncio,
e o voo dos pássaros.
(Livre, enfim.)
No Dia da Celebração
Deitada no escuro,
o mundo lá fora em festa —
mas em mim,
apenas a solenidade da tristeza.
A angústia corta o peito
como lâmina afiada,
e o silêncio,
esse cúmplice antigo,
acolhe minhas lágrimas invisíveis.
Trancada no quarto,
interrogo o sentido da existência:
vale viver sem amor?
Da família,
dos amigos,
dos antigos afetos —
nada resta além da sombra do esquecimento.
E assim concluo,
sem júbilo, sem cor:
uma vida sem amor
é apenas o ensaio trágico
de uma existência que já se despede.
Poema – Jaleco, Caneta e Silêncio
Não há mais muda
que me faça morrer de amor.
Esse sentimento —
já não me convence,
nem me habita.
Não buscarei abrigo
em outro ser.
Serei só —
eu, meu jaleco,
e minha caneta torta.
Carrego no bolso
arrependimentos antigos,
dores que não cabem no prontuário,
paixões mal escritas,
equívocos que arderam feito febre.
Projetei no outro
uma felicidade incansável,
e recebi de volta
o vazio das promessas quebradas.
Morrerei sozinha,
mas em paz.
Sem amor,
mas também
sem a humilhação
de implorar por migalhas
que jamais me saciaram.
Máscara Noturna
Silêncio —
não ouço nada,
além do sussurro do ventilador
e dos gritos abafados
do meu coração cansado.
Pobre órgão,
bombeando existência
sem querer.
Miserável marcapasso da dor.
Por que sentir?
Quisera ser mármore,
frio, eterno,
com um sorriso moldado
e nenhuma lágrima por dentro.
Mas meus lábios tremem —
não de riso,
mas de ausência.
A Melancolia é inquilina
desse corpo cansado.
E então visto a máscara,
a de sempre,
aquela social,
polida, funcional —
que oculta as ruínas,
disfarça o cansaço,
camufla minhas falhas.
Mas à noite…
à noite,
sem olhos,
sem luz,
sou apenas eu
e as lágrimas
que descem silenciosas,
denunciando a verdade
de uma tristeza sem plateia.
Maria e o Café
Hoje encontrei uma amiga —
e, sem ensaio, tirei a máscara.
Sorri.
De verdade.
Falamos da vida,
dessas coisas miúdas e imensas:
sonhos, memórias,
futuros improváveis.
Compartilhamos tudo
na mais doce
e genuína saudade.
Amigas verdadeiras são raras.
Maria é.
Carrega nas costas
as dores de tantas
e a força de todas.
Baralhou cartas,
reinventou caminhos,
chegou onde poucos ousam.
Eu a admiro.
Eu a amo.
Bastou um café coado,
uma água com gás,
e a presença dela.
Fez meu dia.
Fez morada na minha alegria.
Desmoronou a angústia
que há tanto
teima em morar no meu peito.
O coração em branco
Consultório branco,
paredes limpas de afeto,
gritos de criança ao fundo —
ecos de mundos que não entendo.
Tomei meu café amargo,
vesti o jaleco,
e fui, como quem vai ao mesmo destino
sem saber por quê.
Chamei o próximo nome.
Veio um menino com um colar colorido
e olhos que sabiam mais do que falavam.
Insistia em detalhes —
os objetos da sala, o som da luz,
o silêncio entre um gesto e outro.
Não me deixava examiná-lo,
mas com ternura,
ganhei seu corpo desconfiado.
Diagnóstico: faringoamigdalite.
Tratamento: Benzetacil.
Soluço de dor, grito agudo.
Silêncio.
Rodou no chão como quem dança
com fantasmas invisíveis
e partiu.
Mas voltou.
Um papel em branco,
um coração no centro.
Nenhuma palavra.
Nenhuma despedida.
Apenas um gesto
que rasgou a rotina
e me costurou de volta à vida.
Ali, naquele traço infantil,
havia mais verdade
do que em todos os manuais de medicina.
Onde pulsa a infância
Atendo crianças
como quem acende velas num templo.
Seus olhos —
claros, curiosos, inteiros —
são poços onde mergulho
para reencontrar
o que perdi de mim.
Há mais lágrimas que risos,
é verdade.
Mas, quando um sorriso se abre,
parece que Deus se lembra
de continuar o mundo.
Minha alma,
amarelada pelo tempo
e pelas urgências,
tinge-se de azul —
um azul de céu depois da febre,
um azul de lápis de cor esquecido
no fundo da mochila.
Reconheço-me em cada gesto pequeno,
em cada medo escondido na respiração.
Fui criança um dia.
Fui feliz, mesmo doente.
Hoje sou corpo curvado
a curar outros corpos,
mas por dentro ainda habita
a menina que sonhava.
O trabalho me rasga.
É ofício e cruz.
Quando a doença aperta dedos tão pequenos,
meu coração desaba sem licença.
A medicina me cobra firmeza,
mas sou feita de afeto.
Cada batimento que escuto
ressoa em mim
como um tambor ancestral.
Sinto a pulsação de outra vida
e, junto dela,
a da criança que ainda vive aqui.
Sou médica,
sou espelho,
sou infância reencarnada em cuidado.
E, ao cuidar,
cuido de mim.
O Gato e Eu
Um gato para ao meu lado,
com olhos de quem tudo sabe,
como se pressentisse
a névoa que me habita.
Aproxima-se —
ronronando segredos antigos,
e mesmo envolta em tristeza,
meu instinto o acolhe,
como se a dor pudesse ser afago.
Os pelos finos entre meus dedos
trazem um silêncio brando,
quase divino —
como se o mundo pausasse
para nos ver respirar.
Não fala,
mas me entende.
Não julga,
mas me sente.
A angústia, antes morada,
desfaz-se no calor de um corpo pequeno.
Agora, somos dois —
ou talvez um só,
unidos pela delicadeza
de quem sabe curar
sem precisar dizer.
Ainda Assim, o Amor
Não vou mais pedir amor.
Não vou mais me diminuir por isso.
Mesmo que doa,
vou ficar quieta,
com esse aperto no peito
que não dá trégua.
Seguro as lágrimas…
mas elas sabem cair sozinhas.
Escorrem como se dissessem:
“você ainda sente, mesmo fingindo que não.”
Sigo com a dor, com a tristeza,
com a angústia que não me deixa.
Mas sigo.
Com o rosto firme e o coração partido.
Li uma vez numa entrevista:
“Já sofreu muito por amor?”
“Sim. E estou disposto a sofrer mais.”
Na hora, achei loucura.
Hoje, entendo.
Porque mesmo ferida,
mesmo cansada,
eu também estou disposta.
A Escrita Me Salvou
Escrevo pra me livrar,
pra tirar da cabeça
os pensamentos bagunçados
e tentar pôr tudo no lugar.
Vieram psiquiatras, psicólogos,
professores com suas teorias.
Tentaram me endireitar.
Mas foi a escrita que me salvou.
Uma caneta, um papel —
e eu começo.
Rápido, sem pensar muito.
Despejo o que sinto,
o que fiz,
o que temo.
É no papel que me encontro,
é na palavra que respiro.
Sem isso,
eu já teria morrido.
Café, Chapéu e o Tempo Suspenso
Cheiro de café coado na hora —
lembrança quente que perfuma a alma.
À minha frente, uma amiga:
presença que acalma sem prometer.
Falamos do dia-a-dia,
da luta silenciosa,
dos amores findos
que ainda deixam vestígios no peito.
Mas não há peso no ar.
Há leveza no compartilhar.
O relógio repousa no meu pulso,
mas ignoro as horas.
Para a amizade que é de verdade,
o tempo não corre,
ele repousa.
Distraída, meus olhos dançam.
Vejo um homem de chapéu,
deslocado no centro comercial —
e esse pequeno absurdo nos arranca riso.
Riso sincero,
de quem já se feriu,
mas ainda escolhe a ternura.
E o dia se transforma,
sem pressa, sem anúncio:
num café,
numa lembrança amorosa,
num chapéu destoante,
num riso sem maldade,
na eternidade simples
de uma amizade verdadeira.
O Reino Silencioso
Deito-me na cama
como quem assume um trono.
No meu quarto, sou rainha —
e tenho tudo que me basta.
É refúgio e é templo,
meu espaço secreto.
Se te deixo entrar,
é porque te confio o que sou.
Livros antigos descansam,
a cama desorganizada sussurra histórias,
o armário repete
as mesmas versões de mim.
Não sou um enigma.
Sou só aconchego,
silêncio
e bagunça.
Meu quarto sou eu.
Eu sou meu quarto.
Espelho
Olho-me no espelho.
E não gosto do reflexo.
Cadê aquela menina magrinha,
com o sorriso solto,
leve,
de quem ainda não sabia do peso do mundo?
Vejo apenas olhos fundos
e uma seriedade que não me pertenceu na infância.
Talvez por isso evite espelhos.
Talvez por isso evite crescer.
A infância —
tão breve e tão eterna na memória —
é onde mora a felicidade.
(Se penso nela, é porque a perdi —
já dizia um escritor.)
Mas sigo.
Mesmo sem espelho que me agrade,
sigo.
Na travessia adulta,
na esperança secreta
de um reflexo futuro:
com rugas e olhos cansados —
mas um sorriso verdadeiro.
Entre Xícaras e Silêncios
No passado,
sentava à mesa com minha irmã.
Café amargo,
e reflexões doces —
falávamos da vida como quem saboreia
o tempo.
Hoje, os ofícios devoram
os minutos sagrados.
E o que era diálogo,
virou ausência.
Sinto falta daquelas
cogitações partilhadas,
da escuta que acolhia.
Agora, falo com o papel.
Ele me ouve
sem pressa,
sem julgamento.
Virou amigo,
confidente,
presença em silêncio.
E se me lês,
não estás distante.
Estás à mesa comigo —
com uma xícara morna
e o coração aberto.
Duas Irmãs
Duas irmãs,
nascidas no mesmo dia,
com o mesmo sorriso
escorregando de canto da boca.
Uma —
reflexiva, retórica, em constante movimento.
A outra —
silenciosa, pensativa,
com o mundo guardado nos olhos.
Laço antigo,
feito no instante do nascer,
que o tempo não rompe,
que a vida só fortalece.
Moram juntas,
mesmo quando se calam.
Carregam dores diferentes,
mas sabem —
são abrigo uma para a outra.
Eu sou uma dessas meninas.
E fui salva.
Salva da morte,
com as mãos da minha irmã.
Como agradecer o inominável?
Como medir o que é infinito?
Que minhas palavras
sejam mais que som:
que toquem sua alma,
que digam o que a linguagem não alcança.
Eu te amo.
E viver é também
por tua causa.
Admiração
Ela tem versos na pele,
e no olhar, um poema em silêncio.
No corpo que dança com o vento,
no rosto que guarda o mistério do tempo,
na escrita que arde e acaricia —
ela brilha.
Por fora, por dentro, em cada linha.
Foi menina de batalhas mudas,
de guerras travadas com olhos firmes.
É mulher de princípios profundos,
de mãos que protegem,
de voz que ergue pontes.
Seus sonhos…
ah, seus sonhos me tocam como música,
suas vontades têm o peso das estrelas.
Seus olhos, castanhos de mel ao sol,
são mapas de ternura,
são brasas de resistência.
Ela não apenas alcança o sucesso —
ela o reinventa, o redefine.
Ela é o próprio brilho no caos.
E eu, aqui,
tão perto desse universo que ela carrega,
admiro, contemplo, me calo.
Porque beleza assim —
de corpo e alma —
só se sente,
não se explica.
Epílogo
Para quem chegou até o fim — e continua
A você que atravessou estas páginas,
obrigada por ter me lido com o peito.
Aqui não houve ficção:
houve verdade.
E, mesmo sem promessas,
houve amor em cada linha.
Talvez você também conheça
a angústia noturna,
o cansaço de cuidar,
a doçura da infância que não volta,
a ausência que grita.
Talvez você também tenha escrito cartas que nunca enviou.
Talvez, como eu, você tenha sobrevivido
por pouco —
mas sobreviveu.
Leve daqui o que couber no seu silêncio.
O que não couber, devolva ao mundo com ternura.
E lembre-se:
crescer não é perder-se —
é se reinventar com coragem.
Com afeto infinito,
Luiza Passini Vaz-Tostes