CAPÍTULO TRÊS
Isidoro
chegou a esse sítio fugindo da seca que estava devorando as plantações, as
criações e sugando as últimas poças d’água que estavam morrendo naquele deserto
de chão rachado, e veio parar em Itaíba, alojando-se com a família na calçada
da igreja. Chegaram montados numa carroceria de caminhão e ficaram poucos dias
naquela calçada, pois logo saíram pelas fazendas à procura de trabalho.
Foi
quando Isidoro chegou à porteira da fazenda do coronel Apolônio.
Nessa
época dona Filomena, a mulher do coronel, amamentava o seu filho, que seria
criado com toda a pompa e mimo para herdar aquelas terras e tudo o mais que
dela fizesse parte. Este era o pequeno Marcelo, o primogênito do coronel, seu
único herdeiro.
Naquela
fazenda Isidoro trabalhou pouco tempo, pois foi logo indicado para o sítio de
um vizinho do coronel que estava precisando de um morador. Isidoro foi aceito
de imediato no seu novo trabalho, graças à influência do coronel.
Como
ele era um homem experiente no trato com a terra, não teve nenhuma dificuldade
para tocar esse desafio. Quando no verdor de sua idade já foi até vaqueiro em várias
fazendas no interior de Pernambuco e também em Alagoas. Ainda estava cheio de energia,
mesmo com algumas rugas aflorando no seu rosto, avisando-lhe da passagem do
tempo.
Logo que Isidoro chegou ao seu
novo trabalho, o patrão ofereceu-lhe duas opções de moradia: o casarão, que há
algum tempo estava abandonado, e uma casinha a pequena distância da entrada do
sítio. Isidoro, com a anuência de Idalina, resolveu ficar com a casinha, pois
esta ficava mais próxima da estrada que os levava para o mundo e era bem mais
aconchegante que o velho casarão, cheio de quartos, salas, uma larga cozinha e
um comprido alpendre. Além da moradia, ele ganhou do patrão um jumentinho com
cangalha e caçuá.
A
casinha que Isidoro escolhera para morar era de taipa, com barro socado entre
as ripas de madeira trançadas, com uma sala, dois quartos — um do casal e o outro do pequeno Bil — e uma pequena cozinha com um fogão de barro construído
grosseiramente perto da porta dos fundos. Depois de receber um adiantamento de
seu patrão, imediatamente ele foi a Águas Belas e comprou uma mesa com seis
tamboretes, forrada com compensado; e comprou também uma cristaleira para
guardar pratos, canecos e panelas, além de uma cama de casal e três redes. Num
dos quartos havia armadores de rede incrustados na parede. Eram três de cada
lado, mas só o pequeno Bil iria dormir numa rede e os armadores restantes eram
para as visitas; gente conhecida de Isidoro que com certeza iria passar por ali
já cansadas de viagem, depois de léguas percorridas, e pernoitariam para seguir
caminho no dia seguinte.
O
chão da casa era de barro pisado e as telhas foram tiradas do velho casarão
abandonado, ocupado agora por morcegos, cobras, calangos e corujas. No quintal
por onde passava o riacho, Idalina lavava todas as roupas, lençóis, redes, os
pratos, os canecos, as panelas, e ainda tirava água para cozinhar e beber. Também
era naquele regato que eles tomavam banho.
Esta
é a história de sua chegada a esse sítio.