Beto limpa o balcão com um pano na padaria no qual trabalha como atendente quando chega duas moças:
— O de sempre minhas as amigas? — Pergunta Beto sorrindo.
— Sim, o de sempre amor, para levar. — Reponde a loirinha de cabelo crespo risonha entregando um comprovante de pagamento para o nosso atendente.
Beto embala quatro pães de queijo e dois copos com tampa de café com leite e o entrega para a loirinha. Elas despendem-se e o nosso protagonista responde de forma abobalhada.
Uma jovem senhora chega e pede cinco pães franceses. O atende os entrega sorrindo e com gosto tal pedido.
Chega um senhor calvo e pede um café pingado e uma fatia de torta fria. Ele pega seu pedido e se senta em uma das meias dúzias de mesas pequenas que existe no estabelecimento. Abre um jornal sensacionalista e começa a ler acompanhado de seu pedido.
Beto suspira sentindo que aquele cliente vai ocupar aquela mesa por um grande perÃodo e com um pedido pequeno.
Chega dois jovens de cabelos coloridos cheios de piercing e tatuagens, ambos com uma bolsa meia espalda. Um deles pede um suco e um sanduiche natural, o outro pede um chocolate quente e uma torrada com ovo.
Eles pegam seus pedidos e se sentam em outra mesa. Tiram cada um notebook de suas bolsas. Um deles pergunta a Beto qual a senha do WI-FI, no qual nosso atendente responde prontamente.
Beto suspira de novo incrédulo.
Um rapaz que acabou de consumir um cafezinho pergunta a Beto onde é o banheiro. Ele o orienta tal moço no qual se dirige ao seu destino acompanhado pelos olhos do atendente.
Uma moça loira, alta de olhos azuis, boca carnuda, quadris largos, cintura fina, busto avantajado e vestindo uma roupa justa. Ela entra no estabelecimento desfilando e chamando atenção de todos ali presentes:
— Uma torta de chocolate. — Fala a musa com a voz suave.
Beto fica hipnotizado e sem reação:
— Minha torta de chocolate, por favor! — Fala a loira em tom mais rÃspido.
Beto vira-se e pega uma torta de chocolate no balcão térmico ao fundo:
— Está aqui moça, volte sempre! — Fala o atendente entregando a torta empacotada a loira.
— Obrigada! Tchau! — Despede-se a musa sorrindo.
Nosso protagonista responde novamente de forma abobalhada. Beto fica hipnotizado por alguns segundos desligando-se do mundo, sem perceber que uma mulher com uma criança no colo pedia quatro pãezinhos e cem gramas de mortadela fatiada. Ele a atende sorrindo e entrega seu pedido em mãos.
Outra senhora de seus cinquenta anos pediu os seis pães de queijo de costume para levar. Beto entrega o seu pedido e fica curioso o porquê daquele pedido, pois aquela mulher não era cliente assÃdua do estabelecimento. Era o quarto dia seguido que aquela senhora aparecia ali.
Um cliente corriqueiro chega no balcão da padaria, um senhor negro grisalho vestindo uma calça reta de sarja marrom e uma camiseta polo vermelha e sapatos pretos:
— O pedido de sempre doutor? — Pergunto Beto se dirigindo ao cliente sorrindo.
— Sim, um expresso e um farroupilha. — Responde o senhor colocando uma pasta preta de couro ao seu lado em cima do balcão.
— O senhor venho tomar seu café mais tarde do que vem sempre? — Indaga o atendente preparando o pão com presunto e queijo na frente do cliente.
— Fui demitido ontem. — Responde o homem triste.
— Tudo vai ficar bem, isso é somente uma fase.
— Passei trinta e cinco anos me dedicando aquela firma, para me mandarem embora sem ao menos dizerem muito obrigado.
Beto entrega o café expresso e o sanduiche farroupilha para aquele homem e tenta animá-lo:
— O senhor a pouco dias estava contando que já estava aposentado. Que sua filha vai ser mãe do seu primeiro neto.
— Sim é verdade, mas desde que fiquei viúvo o trabalho tem sido minha vida. — Exclama o cliente gesticulando.
— Mas quem sabe agora é o momento de o senhor ir curtir mais o seu neto, viver mais para o senhor e aproveitar mais a vida.
— Acho que tu tens razão.
O homem muda para um semblante mais alegre, expressa um pequeno sorriso e consome seu farroupilha e seu expresso com muito gosto:
— Tchau e obrigado pelo conselho. — Despede-se o cliente levantando-se do banco.
— Tchau doutor e volte sempre. — Beto responde acenando e sorrindo para o cliente.
Nosso atendente volta a limpar o balcão, pois o dia de trabalho somente começou. Ele escutará e participará de muitas histórias que acontecem naquela padaria no centro da cidade, como é sempre todos os seus dias de trabalho.