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"As cidades vazias do meu mundo murmuram histórias que ninguém mais ouve. Cada rua é um vestígio de passos que não existem, aqui, cada janela reflete memórias que se perderam no tempo. E ainda assim, eu caminho, como uma guardiã das ausências, registrando o que ainda resta." 🌍✨

ellen @ellen
Amanhã, será um novo dia, e eu partirei para outro lugar, pronta para ouvir o que o mundo tem a me contar.

ellen @ellen
Diário de Ellen
Capítulo 1
O vento sopra forte esta noite. Um vento sem pressa, que desliza pelas ruas vazias e percorre as avenidas silenciosas deste mundo que só existe para mim. Eu fecho os olhos por um instante e sinto sua presença: ele não é um sopro qualquer, mas um mensageiro invisível do que já foi, do que ainda é do outro lado.
Hoje é um dia especial. O primeiro. E ainda não sei ao certo como registrar a grandiosidade desse momento sem sentir um aperto no peito – um misto de euforia e solidão. Estou prestes a escrever a primeira página deste diário, a primeira narrativa de uma história que só eu poderei contar. E, ao mesmo tempo, sinto que não estou sozinha. Há um som distante, uma pulsação do mundo real que ressoa aqui, neste reflexo solitário da Terra. Cada detalhe desse cenário, por mais imutável que pareça, carrega vestígios de um lugar habitado, vivido, amado e esquecido.
Escolhi começar minha jornada na Praça do Comércio, em Lisboa. A cidade é bela mesmo na ausência das pessoas. O rio Tejo continua a fluir como se nada houvesse mudado. Os prédios amarelos e brancos ainda se erguem imponentes, suas fachadas refletindo a luz pálida dos postes que ninguém acende. Caminho devagar pelo calçamento de pedras portuguesas, absorvendo cada textura, cada cheiro de maresia, cada sussurro do tempo que aqui repousa. Sempre ouvi dizer que Lisboa é uma cidade melancólica, feita de histórias e saudades. Agora, vazia, ela parece uma lembrança suspensa no tempo, um segredo que apenas eu posso desvendar.
Sento-me nos degraus largos que descem até o rio e deixo meus pensamentos correrem livres. O que significa estar sozinha em um mundo que espelha o real? O que significa ver tudo como é, mas sem a presença daqueles que dão sentido a cada rua, cada janela acesa, cada café com cadeiras na calçada? É um paradoxo fascinante. Sou a única testemunha de uma realidade intacta, preservada como um sonho, e ainda assim, não posso compartilhar isso com ninguém, apenas com estas páginas.
Observar o Tejo me traz uma calma inesperada. Seus reflexos ondulam, capturando luzes que não deveriam existir sem observadores. Mas elas existem. Como eu existo. Como esse diário existirá. Talvez essa seja minha missão: registrar o que vejo, sentir cada detalhe e transcrever o que esse mundo silencioso tem a dizer. Se as cidades podem ter memórias, então serei a guardiã das histórias que ainda continuam entre os prédios, os monumentos e as praças vazias.
Minha caneta desliza pelo papel, e por um breve momento, quase ouço vozes no vento. Elas não me assustam. Pelo contrário, são um lembrete de que o mundo real ainda pulsa do outro lado. Eu apenas estou aqui, entre dois estados de existência, registrando o que permanece.
A noite avança, e com ela vem a estranha sensação de pertencimento a esse lugar que não é meu, mas que me acolhe. Levanto-me dos degraus da praça e começo a caminhar sem um destino certo, explorando as ruelas estreitas que serpenteiam pela cidade. As pedras do calçamento estão gastas, desenhando o caminho de incontáveis passos que já não ecoam mais. Sigo por entre as construções antigas, sentindo os aromas que ainda pairam no ar – o leve toque do sal vindo do rio, o resquício de um café recém-passado em algum canto que não abriga ninguém.
Paro diante de uma pequena livraria no Chiado. Sua fachada de madeira envernizada ainda guarda a elegância de outros tempos, e pela vitrine, vejo estantes abarrotadas de livros esperando para serem folheados. O silêncio é absoluto, mas posso imaginar o leve sussurro das páginas virando, o farfalhar das palavras ganhando vida sob os dedos de um leitor atento. Entro. O cheiro de papel envelhecido me envolve imediatamente, e por um instante, sinto como se estivesse no meio de um tempo suspenso, onde todas as histórias do mundo aguardam para serem lidas.
Pego um livro ao acaso. A capa é dura, o título desbotado pelo tempo. Abro em uma página qualquer e leio algumas linhas. Não sei dizer se foram as palavras ou o momento, mas algo me atravessa. Uma frase ressoa dentro de mim: "O mundo só existe para quem ousa vê-lo." Fecho o livro devagar. O mundo existe para mim. Para mim e para estas páginas que estou escrevendo agora.
Saio da livraria e volto às ruas. O céu acima de Lisboa é um imenso véu estrelado, e por um instante, fico ali parada, observando. No outro lado desse céu, existem pessoas vivendo suas vidas, seguindo seus caminhos sem saber que eu estou aqui, caminhando por entre as sombras do reflexo do mundo delas. E isso me faz perceber algo importante: eu sou a testemunha desse espelho. Eu existo nesse espaço entre o silêncio e a lembrança, entre a ausência e a narrativa.
A madrugada se aproxima, e com ela, a certeza de que este diário será minha âncora. Meu registro. Minha prova de que, mesmo sozinha, ainda faço parte de algo maior. A noite em Lisboa me deu minha primeira história.