Reações adversas
POV: Gael Montenegro
A pior parte de perder o controle… é perceber que você ainda consegue fingir que tem algum. Quase como viciado nega seu vício.
Marquei a segunda sessão.
Sem motivo clínico real.
Apenas com uma desculpa burocrática: “ajuste de medicação e acompanhamento da resposta inicial”.
Era mentira. Eu sabia.
Ela saberia.
Mas mesmo assim, marquei.
Porque depois que ela saiu da minha sala, há dois dias, não consegui parar de pensar nela.
O jeito como me desafiou.
A firmeza nos olhos.
E que olhos.
A porra da curva dos quadris quando ela se levantou. E a forma como me disse, com toda a certeza do mundo, que eu cairia.
Lara Santiago.
Eu deveria odiá-la.
Eu queria odiá-la
Mas eu... queria mais.
A recebi no mesmo horário, no mesmo local. Em segredo. O escritório estava impecável. Luz natural filtrada pelas persianas. Café pronto na mesa lateral. Ela chegou pontual. Jaleco branco. Rabo de cavalo solto. Óculos de grau que eu sabia que ela só usava para leitura, mas hoje estavam no rosto.
Deixando-a ainda mais intelectual.
E mexendo ainda mais com a minha libido.
E quase doentio.
Meu corpo respondeu antes do meu cérebro.
— Doutora Santiago. — Me levantei, formal.
— Dr. Montenegro. — Ela respondeu, sem qualquer sorriso. — Achei que não viria. — Achei o mesmo de você. — Respondi, com um sorriso sarcástico nos lábios.
Toque.
A voz dela estava mais
firme do que antes. Mas os olhos... denunciavam o cansaço.
E algo mais.
Desejo contido.
Sentei.
Ela também.
Cronometrado.
Ela tirou a prancheta da bolsa, mas dessa vez usava tablet. Moderninha.
— Alguma mudança nos sintomas desde a última sessão? — Ela perguntou com a voz baixa, sem tirar os olhos do tablet.
— Não. — E eu respondi, da mesma forma que era acostumado a dar ordens nas minhas cirurgias.
Preciso e cortante.
E continuamos nesse embate de perguntas e respostas curtas. Monossílabas. Sim e Não.
— Dormiu melhor?
— Não.
— Continuou com o mesmo nível de estresse?
— Sim.
— Considerou tirar uma folga?
— Não.
Ela suspirou.
— Está colaborando bastante.
— Achei que você gostasse de desafio.
Ela travou a mandíbula por um segundo.
— Desafio e sabotagem são coisas diferentes, doutor.
— Então me diagnostique. Já que gosta tanto disso.
Ela abaixou o tablet.
Me encarou.
— Você quer meu diagnóstico clínico ou... pessoal?
— Me surpreenda.
Ela sorriu. Pouco. Mas sorriu.
— Você é um homem que construiu uma fortaleza em torno de si... porque alguém, um dia, disse que fraqueza era inaceitável. Você vive na superfície do mundo, controlando tudo, apagando incêndios antes que eles comecem... Mas está pegando fogo por dentro e finge que não sente.
Pausa.
— E o mais perigoso,
Gael, é que você gosta disso.
Gosta de estar no limite. Gosta de se sentir vivo pelo excesso.
Meu pau endureceu naquela cadeira. De forma absurda, irritante, incontrolável.
Porque nunca na minha vida alguém me viu com tanta clareza.
Nunca.
E principalmente... não
naquele tom.
O jeito como ela disse meu nome.
Gael.
Não doutor Montenegro.
Não senhor CEO.
Só... Gael.
O homem dentro do jaleco e do terno.
— Acabou? — murmurei.
— Ainda não.
— Continue, então.
— Você quer me testar porque acha que vai me fazer desistir. Mas o que te assusta, Gael... é que eu não vou.
Não lembro como terminei a sessão. Só sei que, quando ela saiu, fiquei ali sentado por minutos, com a ereção dolorida presa entre a calça e o cinto.
Raiva.
Tensão.
Desejo.
E fiz algo que eu julgava.
Masturbei-me no banheiro ao lado.
Rápido, silencioso, quase com vergonha.
Mas mesmo assim... não foi o suficiente.
Porque não era sobre sexo.
Era sobre ela.
A mulher com cabelos vermelhos.
À noite, fui ao sistema interno do hospital. Digitei o nome dela.
Lara Santiago.
Médica formada no Rio, especialização em Psiquiatria, certificação em clínica geral, passagem polêmica por outro hospital da capital... e um histórico interno quase limpo.
Quase.
Havia um arquivo confidencial0
Restrito.
Mas eu era o CEO. Nada era
realmente restrito.
Abri.
Relatório ético,
arquivado, mas ainda ativo. Uma relação pessoal com um paciente.
Comprovada. Sem danos
clínicos. Mas ainda assim, uma mancha.
Fechei o arquivo.
Olhei para o teto.
Minha respiração acelerava.
Ela também sabia o que era se envolver com quem não devia. Ela também já tinha cruzado a linha.
E, por algum motivo...
Isso só me fazia querê-la mais.