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--| Dia dos Muertos

— Ai, Mami, não esqueceu o que eu pedi? — A voz vinha de dentro do caixão aberto.

— Ay, mijo, claro que não! Trouxe seu taco de língua e o pulque de cactos fermentado — disse Doña Elena, ajeitando a caveira de açúcar na lápide.

— De língua? Mãe! Ano passado foi de miolos, esse ano... Não, Mami, o que eu realmente pedi foi o taco de camarão! O que a vizinha fez!

— O de camarão era para o seu pai. E ele está quieto, apreciando. Você está sendo ingrato, huesudo!

— Ingrato? Eu morri há dez anos, e ainda a senhora tenta me envenenar com miolos e língua!

— Querido, não reclame. É o que tem. E, por favor, pare de usar a mortalha como guardanapo. Tem gente olhando!

Um suspiro fantasmagórico. O silêncio voltou, quebrado apenas pelo vento e o tilintar das cempasúchil (flores dos mortos).

Doña Elena sorriu, pegando o pulque para si.

#Assombrações