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Ativo Autora

Selo L1 Selo 365
Simbionte
Ovo de Simbionte
Post fixado
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Ultimamente estou lendo muito livro de fantasia, então resolvi me arriscar este gênero, espero que você esteja comigo me apoiando nessa aventura e experiencia.

Elira é uma humana que acaba entrando no mundo dos feéricos enquanto o seu pai tenta fazer o máximo para ela não ter o mesmo destino de sua mãe, mas tudo muda quando ela salva a vida de Kaelen.

Quando o trovão beijar a terra,
e o sangue da corajosa florescer,
surgirá da tempestade errante
o amor que pode renascer.

Ela virá com o nome esquecido,
ele guardará segredos demais.
Mas entre relâmpagos e silêncios,
dois corações selarão sua paz.

Pois quando a lenda desperta em sombras,
e a guerra ameaça cair,
o juramento de uma humana
pode o mundo inteiro unir.

https://www.literunico.com.br/creations/25

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#Link365TemasLivros 187 uma obra em que o autor, por meio da linguagem, enfrenta as amarras de seu tempo, transformando dor e exclusão em transcendência lírica.

Entre a estrada e a estrela, de José Inácio Vieira de Melo. Nessa coletânea de poemas, o autor transforma a linguagem em um espaço de travessia, entre o que oprime e o que liberta, entre o que fere e o que canta.

A poesia de José Inácio não foge da dor, mas a atravessa com lirismo.
Ele escreve a partir de um lugar de deslocamento, de quem vive entre margens, geográficas, sociais, existenciais.
A linguagem é ao mesmo tempo abrigo e denúncia: formalmente bela, mas carregada de inquietação.
A busca por transcendência não é religiosa, mas profundamente humana — feita de memória, corpo e silêncio.
Como aponta o crítico Aleilton Fonseca, a obra constrói “a singularidade da busca de transcendência lírica empreendida pelo poeta” em um “entre-lugar da vida e da linguagem”, onde o sujeito poético não se acomoda, mas se reinventa em movimento.

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#Link365TemasLivros 186 um livro que encare a multiplicidade da identidade como um dilema e uma força criativa.

Se tem um livro que me pegou de surpresa — e me deixou pensando por dias — foi Tudo é Rio, da Carla Madeira. Eu já tinha ouvido falar, claro. Era difícil ignorar o burburinho: segundo lugar entre os mais vendidos, elogios por todos os lados, gente dizendo que queria reler assim que terminou. Mas só quando comecei a ler sobre ele com mais atenção é que entendi o porquê de tanto impacto.

A história gira em torno de Dalva, Venâncio e Lucy, três personagens que se entrelaçam num triângulo de amor, dor e desejo. Mas o que me chamou mesmo foi a forma como a autora escreve: com uma linguagem que flui como o próprio rio do título. Às vezes suave, quase poética; outras vezes brutal, cortante. E isso não é só estilo, é estrutura emocional.

A autora não idealiza ninguém. Ela mostra o humano em sua forma mais crua: o ciúme, a culpa, o arrependimento, o desejo que não se controla. E tudo isso sem cair no melodrama. Pelo contrário, tem uma contenção que só torna tudo mais intenso.

Depois de ler algumas resenhas, percebi que esse livro não é só sobre relações amorosas. É sobre o que nos move e nos destrói. Sobre o que a gente tenta esquecer, mas que volta como correnteza.

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#Link365TemasLivros 185 livro onde a poesia atua como denúncia social, expondo injustiças, omissões históricas ou descasos culturais. Obras que não se calam diante da fome, da miséria ou da negligência com a arte e seus criadores.

Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, de Carolina Maria de Jesus. Embora seja mais conhecido como diário, sua escrita transborda poesia, uma poesia crua, direta, que denuncia com força a fome, o racismo, a exclusão e a negligência cultural que marcaram (e ainda marcam) a vida de tantos brasileiros marginalizados.

Carolina escrevia com papel e lápis recolhidos do lixo, e mesmo assim sua voz atravessou o silêncio imposto à periferia. Seus poemas e reflexões são testemunhos vivos de uma mulher negra, pobre e escritora, que se recusou a ser apagada. Sua poesia não é ornamento: é denúncia, é sobrevivência, é arte que sangra.

Exemplo de sua força poética:
“Amo-a, mas sou tão pobre
E dos pobres ninguém gosta.”
esse verso, do poema Poeta, sintetiza o preconceito de classe e a desumanização dos marginalizados com uma simplicidade devastadora.

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#Link365TemasLivros 184 um livro de poesia em que a forma clássica não diminui o pensamento crítico, obras que exploram métrica, rima e equilíbrio formal, mas sem abrir mão da ironia, da filosofia e da leitura profunda do mundo.

A Rosa do Povo, de Carlos Drummond de Andrade.

Publicado em 1945, em plena Segunda Guerra Mundial, o livro é um marco da poesia brasileira moderna, mas sem abandonar a métrica, a rima e a estrutura clássica. Drummond usa essas ferramentas não para conter a emoção ou o pensamento, mas para lapidar a crítica social, a ironia e a angústia existencial com precisão quase cirúrgica.

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#Link365TemasLivros 183 um livro onde o mundo rural é tratado com profundidade poética e social, não como ideal bucólico, mas como espaço de afetos complexos, de luta por permanência e de beleza que resiste ao tempo.

Água Funda, de Ruth Guimarães.

Ambientado entre o sul de Minas Gerais e o Vale do Paraíba, o romance mergulha nas camadas mais profundas da vida rural brasileira, não como um cenário idealizado, mas como um espaço de tradições, conflitos, afetos e resistência. A autora entrelaça o cotidiano com o fantástico, o realismo com o simbólico, criando uma narrativa que pulsa com a oralidade e a memória coletiva.

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#Link365TemasLivros 182 um livro onde a narrativa se constrói como uma jornada espiritual, obras em que o personagem principal busca mais que respostas, busca escuta, silêncio, desapego e a sabedoria que só vem depois da queda.

Em Busca da Sabedoria, de Sri Ram.

A obra acompanha um protagonista que, após enfrentar perdas e desilusões, parte em uma jornada de autoconhecimento. Mas o que torna essa história especial é que ela não busca respostas fáceis. Ao contrário: ela mergulha no silêncio, na escuta interior, na meditação e no desapego como caminhos para a sabedoria. A narrativa é construída com leveza e profundidade, e cada encontro do personagem é menos sobre o mundo externo e mais sobre o que ele precisa abandonar ou compreender dentro de si.

🌿 Temas centrais:
A travessia como metáfora da transformação
O silêncio como linguagem da alma
A queda como ponto de partida, não de fim
A sabedoria como algo que não se conquista, mas se revela

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#Link365TemasLivros 181 um livro em que a narrativa seja construída como um confronto de versões, onde o enredo se forma por múltiplas perspectivas, revelando que o centro da verdade nunca está onde se imagina.

Meia-noite e Vinte, de Daniel Galera. A história acompanha quatro amigos que se reencontram após a morte de um colega em comum, e cada capítulo é narrado por um deles. O mais fascinante é como cada perspectiva revela não apenas versões diferentes dos mesmos eventos, mas também contradições, silêncios e ressentimentos que estavam enterrados sob a superfície da amizade. A verdade, se é que existe uma, se dissolve entre as vozes.

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#Link365TemasLivros 180 um livro que narre o fim do mundo como espelho da alma humana.

Estação Onze (Station Eleven), de Emily St. John Mandel. Embora publicado originalmente em 2014, ele ganhou nova relevância nos últimos anos — e continua sendo uma leitura profundamente atual.

A história acompanha os sobreviventes de uma pandemia devastadora, mas o foco não está na catástrofe em si, e sim naquilo que permanece: a arte, a memória, os vínculos humanos. A narrativa salta entre o passado e o presente, revelando como cada personagem lida com a perda, o silêncio e a reconstrução de sentido em um mundo despido de excessos.

O mais fascinante é que o fim do mundo aqui não é tratado com explosões ou heroísmo, mas com delicadeza e introspecção. A autora transforma o colapso da civilização em um espelho íntimo, revelando o que somos quando tudo o que nos distrai desaparece. A “Sinfonia Itinerante”, um grupo de artistas que viaja apresentando Shakespeare e música clássica, é um símbolo poderoso dessa busca por beleza mesmo no deserto.

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#Link365TemasLivros 179 um livro onde a narrativa aborda a morte como parte da juventude, obras em que a finitude se apresenta cedo demais.

A Culpa é das Estrelas, de John Green.

🌌 Por que ele? Porque a juventude aqui não é promessa de futuro, mas um presente intensamente vivido sob a sombra da morte. A protagonista, Hazel Grace, tem 16 anos e um câncer terminal. Ela conhece Augustus Waters, também sobrevivente da doença, e juntos vivem um amor que sabe que vai acabar — mas que, por isso mesmo, se torna ainda mais urgente, mais bonito, mais verdadeiro.

🕯️ Finitude como revelação
A narrativa é leve, irônica, cheia de referências literárias — mas por trás do humor, há uma dor que pulsa.
A morte não é tabu: é personagem. Está sempre ali, mas nunca rouba a cena — ela apenas lembra que o tempo é curto.
O livro fala sobre o direito de amar mesmo quando o fim é certo. E sobre como a juventude pode ser profunda, mesmo que breve.

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#Link365TemasLivros 178 um livro onde a infância revela o que a maturidade esqueceu, obras em que a linguagem simples esconde uma complexidade emocional e filosófica que só o coração atento consegue ouvir.

Se Deus Me Chamar Não Vou, de Mariana Salomão Carrara, é daqueles romances que parecem pequenos, mas carregam o mundo inteiro dentro.

👧 Quem narra? A história é contada por Maria Carmem, uma menina de 11 anos que decide escrever um livro sobre o seu ano, um ano estranho, cheio de silêncios, perguntas e solidão. Ela vive com os pais, que têm uma “loja de velhos” (uma loja de artigos geriátricos), e passa os dias entre fraldas geriátricas, bengalas e pensamentos que ninguém parece escutar.

🧠 Infância como filosofia Maria Carmem é precoce, mas não no sentido clichê. Ela pensa sobre a morte, sobre Deus, sobre o amor dos pais, sobre o corpo que cresce e não cabe mais. Ela escreve porque ninguém conversa com ela de verdade , e o livro se torna o único lugar onde ela pode existir inteira. A linguagem é simples, mas cheia de camadas: cada frase parece uma pergunta disfarçada de piada.

💔 Por que dói (e encanta)? Porque a infância aqui não é idealizada. É um lugar de exclusão, de bullying, de não-pertencimento. Mas também é um lugar de invenção, onde a escrita vira abrigo. Como ela mesma diz: “É possível que um lápis pareça estar novo, mas todo quebrado por dentro.”

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#Link365TemasLivros 177 um livro que articule movimentos de ruptura estética, obras que pensam ou narram as transformações da linguagem literária diante das revoluções culturais, artísticas ou sociais.

O que é ruptura estética?
É quando a arte —e aqui, especialmente a literatura — rompe com as formas, estilos e convenções estabelecidas, criando novas maneiras de dizer, de ver, de sentir. Não é só mudar o conteúdo: é mudar a forma como o conteúdo é apresentado. É quando o autor diz: “não basta contar outra história — é preciso contar de outro jeito.”

📚 Na literatura, isso pode significar:
Abandonar a narrativa linear e apostar em fragmentos, fluxos de consciência, vozes múltiplas.
Misturar gêneros: poesia com prosa, ensaio com ficção, diário com manifesto.
Criar personagens que não são pessoas, mas ideias, vozes, atmosferas.
Usar a linguagem como matéria viva — que tropeça, que falha, que inventa.

🌍 Por que isso importa? Porque a ruptura estética acompanha ou antecipa revoluções culturais, sociais e políticas. Quando o mundo muda, a linguagem precisa mudar também. Foi assim com o modernismo, com o concretismo, com a literatura pós-ditadura, com as vozes periféricas que hoje reinventam o português nas margens.

📖 Exemplos?

Macunaíma, de Mário de Andrade, que mistura mito, oralidade e crítica social.
A paixão segundo G.H., de Clarice Lispector, onde a linguagem implode para dar lugar ao indizível.
Os Detetives Selvagens, de Bolaño, que desmonta o romance tradicional e o reconstrói como polifonia errante.
A Estética do Fracasso, de Luiza Romão, que transforma a falha em forma.

📚 Indicação de livro:
Os Detetives Selvagens - Roberto Bolaño (apesar de não ter lido, fiquei interessada ao pesquisar sobre "ruptura estética")

Os personagens principais deste livro são os amigos Ulises Lima e Arturo Belano, dois poetas que decidem investigar o que teria acontecido com Cesárea Tinajero, uma misteriosa e desaparecida poeta da vanguarda mexicana. Mas embora a história gire em torno destes dois "detetives selvagens", o verdadeiro detetive do romance é o leitor.

Os protagonistas de Os detetives selvagens são Arturo Belano e Ulises Lima, dois poetas "marginais", mas em poucos trechos do livro são eles que conduzem a ação. O leitor sabe deles quase sempre através do olhar de outros personagens, numa investigação típica de romance policial. Por sua vez, Belano e Lima também estão numa busca detetivesca, atrás dos rastros de uma misteriosa poeta vanguardista que desapareceu no deserto de Sonora, no norte do México.
Na primeira parte, escrita em forma de diário, acompanhamos as andanças dos dois e seu grupo de poetas adeptos do "realismo visceral" em muitas conversas de bar, discussões intelectuais, encontros e desencontros sexuais, puxadas de fumo, num clima típico dos jovens daquela década. A segunda parte é composta por dezenas de "depoimentos" que reconstituem a trajetória de Arturo Belano e Ulises Lima durante os vinte anos que sucedem o diário. Cabe ao leitor-detetive fazer esta reconstituição, a partir dos fiapos que vai colhendo dos "depoentes", alguns dos quais contam longas histórias (sempre muito interessantes) que pouco ou nada têm a ver diretamente com os dois enigmáticos protagonistas. Bolaño exercita aqui sua capacidade de dar a palavra a múltiplas e diferentes vozes e de fazer paródias hilariantes. A terceira parte retoma o diário, relata a busca pela poeta Cesárea Tinajero e explica, de certa forma, as duas décadas de errância dos protagonistas.

Bolaño exercita aqui sua capacidade de dar a palavra a múltiplas e diferentes vozes e de fazer paródias hilariantes. A terceira parte retoma o diário, relata a busca pela poeta Cesárea Tinajero e explica, de certa forma, as duas décadas de errância dos protagonistas.

Na verdade, com muito humor, ironia corrosiva e algum desespero, Bolaño faz o balanço de uma geração intelectual que era demasiado jovem quando havia projetos de transformação radical da América Latina e do mundo e que, ao chegar à idade de participar, descobriu que só restavam escombros e cadáveres.

"A linguagem vigilante e cheia de graça de Bolaño, sua maneira de construir textos ao mesmo tempo desconcertantes, brilhantes e infinitamente próximos, é uma forma de resistir ao mal, à adversidade, à mediocridade." - Le Monde

"O tipo de romance que Borges teria escrito [...]. Um livro original e belíssimo, divertido, comovente, importante." - Ignacio Echevarría, El País.

"Um fecho histórico e genial para O jogo da amarelinha de Cortázar [...] uma fenda que abre brechas pela quais haverão de circular novas correntes literárias do próximo milênio." - Enrique Vila-Matas, Letras Libres.

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#Link365TemasLivros 176 um livro onde o território é linguagem e o personagem principal não é apenas um ser, mas uma voz, um fluxo de pensamento que cenários com analogias sociais.

Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa.

Neste livro, o território é a própria linguagem. O sertão não é apenas cenário é pensamento, é ritmo, é sintaxe. A narrativa é conduzida por Riobaldo, ex-jagunço que conta sua história em um longo monólogo, onde o tempo se dobra, a memória se embaralha e a fala se torna um rio que arrasta tudo. O personagem não é apenas um ser: é uma voz que pensa o mundo enquanto o narra.

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#Link365TemasLivros 175 um livro onde a política é pensada a partir da dúvida, e não da doutrina, obras em que o autor questiona as estruturas.

Passeio com o gigante, de Michel Laub.

Laub escreve como quem interroga o mundo com um gravador ligado e o coração em suspenso. O livro, lançado em 2024, acompanha um protagonista que caminha por uma cidade em ruínas — física e moralmente — enquanto grava áudios para um interlocutor ausente. A política aqui não é bandeira, é ruído de fundo, é dúvida que atravessa o corpo. O narrador não tem respostas, mas carrega perguntas que incomodam: o que é ser justo num país injusto? o que resta quando a linguagem falha?

Política como inquietação, não doutrina Laub tensiona temas como fascismo, memória, masculinidade e crise ética sem cair em panfletos. A estrutura do romance é fragmentada, ensaística, e mistura ficção com reflexão, como se o próprio ato de narrar fosse um gesto político. A dúvida é o motor da narrativa, e o leitor é convidado a caminhar junto, sem mapa.

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#Link365TemasLivros 174 um livro em que a terra não é cenário, mas destino, obras onde o vínculo com o solo é sagrado, político, inevitável. Quando a terra dá e tira, e quem a habita precisa aprender a colher sem esquecer que também é colhido.

Torto Arado, de Itamar Vieira Junior.

Neste romance, a terra não é cenário, é destino, maldição e promessa. A história acompanha as irmãs Bibiana e Belonísia, filhas de trabalhadores rurais em uma fazenda no sertão da Bahia. Desde a infância marcada por um acidente brutal, elas crescem em meio a tradições, silêncios e lutas por sobrevivência. A terra que cultivam é também a terra que as prende e que, aos poucos, se revela como espaço de resistência, espiritualidade e pertencimento.

O romance entrelaça religiosidade afro-brasileira, ancestralidade e crítica social. A terra dá, mas também exige. E quem a habita precisa aprender a escutar seus ciclos, suas dores, seus segredos. A linguagem de Itamar é lírica, mas firme, como quem escreve com os pés descalços no chão batido.

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#Link365TemasLivros 173 um livro em que a narrativa se dá de dentro para fora, onde o mundo é percebido por um sujeito obsessivo, atormentado, e a linguagem revela não os fatos, mas os labirintos da mente.

O Túnel, de Ernesto Sabato.

Tudo nele é visto por dentro: e esse “dentro” é um abismo. O narrador, Juan Pablo Castel, é um pintor obsessivo que confessa, logo na primeira linha, ter assassinado a mulher que amava. A partir daí, o livro se transforma em um mergulho claustrofóbico na mente de um homem atormentado, paranoico, que tenta justificar o injustificável. A realidade externa importa menos do que os desvios da percepção, os silêncios interpretados como sinais, os gestos mínimos que se tornam labirintos.

A escrita de Sabato é seca, precisa, mas carregada de tensão. Não há floreios, há cortes. A linguagem revela não os fatos, mas os delírios, as repetições, os pensamentos circulares de um sujeito que tenta desesperadamente dar sentido ao caos interno. É uma narrativa de dentro para fora, onde o mundo é deformado pelo olhar de quem o observa.

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#Link365TemasLivros 172 um livro onde o desejo é o foco e a ruptura, obras em que amar, querer não é leveza, mas uma dificuldade, é conflito ou quebra do tradicional.

Os Detetives Selvagens, de Roberto Bolaño.

Porque o amor aqui não é consolo, é abismo. O desejo, em todas as suas formas (erótico, literário, existencial), move os personagens como uma febre. A trama acompanha dois jovens poetas — Ulises Lima e Arturo Belano — em busca de uma poeta desaparecida no México dos anos 1970. Mas essa busca é só o pretexto: o que se desenrola é uma odisseia de rupturas, exílios, paixões fracassadas e identidades em trânsito.

Amar, neste livro, é sempre um gesto de risco. Os personagens desejam com intensidade, mas nunca com leveza. O amor é atravessado por política, por distância, por silêncio. O querer é sempre também um perder-se. E a linguagem de Bolaño — fragmentada, polifônica, pulsante — reflete esse desejo que não se encaixa no mundo.

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#Link365TemasLivros 171 um livro em que a trama se desdobra como um código a ser decifrado, obras em que símbolos, pistas e referências ocultas guiam o enredo, e o conhecimento se transforma em ferramenta de sobrevivência.

O Código Da Vinci, de Dan Brown.

A trama acompanha Robert Langdon, professor de simbologia religiosa, que se vê envolvido em uma investigação após o assassinato de um curador do Louvre. O corpo é encontrado com símbolos gravados e pistas escondidas que levam a uma corrida contra o tempo por Paris e Londres. Cada pista é um fragmento de um quebra-cabeça maior, envolvendo sociedades secretas, obras de arte, criptografia e interpretações alternativas da história cristã.

Langdon e sua parceira, Sophie Neveu, precisam decifrar códigos, anagramas e símbolos ocultos para escapar de perigos reais. O conhecimento histórico, artístico e religioso não é apenas pano de fundo é a chave para sobreviver.

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#Link365TemasLivros 170 um livro onde a palavra foi usada como instrumento direto de libertação, não como alegoria, obras em que a escrita salvou vidas, derrubou muros, rasgou leis injustas. Livros que provam que ler também é resistir.

A Casa na Rua Mango, de Sandra Cisneros.

Embora seja uma obra de ficção breve e delicada, o livro é um verdadeiro manifesto de libertação. A protagonista, Esperanza Cordero, é uma menina latina que cresce em um bairro pobre de Chicago. Mas ela não aceita o destino que lhe foi imposto — e encontra na escrita o caminho para sair, para resistir, para existir. Como ela mesma diz: “Um dia vou sair daqui com meus próprios livros, com minhas próprias palavras.”

Escrita como salvação A escrita não é metáfora: é ferramenta. Esperanza escreve para não ser silenciada, para não ser engolida pelo machismo, pela pobreza, pelo racismo. Cada vinheta do livro é um gesto de afirmação, uma recusa ao apagamento. A linguagem é simples, mas carregada de potência — como se cada frase fosse uma chave abrindo uma porta trancada.

O livro se tornou leitura obrigatória em escolas dos EUA e símbolo da literatura chicana. Inspirou gerações de mulheres a escreverem suas próprias histórias e é estudado como exemplo de como a ficção pode ser um ato de resistência civil.

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#Link365TemasLivros 169 um livro onde o autor tenha usado a escrita para recusar o apagamento, obras que enfrentam regimes, comissões, censuras, perseguições ou cancelamentos, onde a literatura se torna documento de resistência civil.

K., de Bernardo Kucinski.

O romance é inspirado na história real da irmã do autor, desaparecida durante a ditadura militar brasileira. A narrativa acompanha um pai — judeu, imigrante, professor universitário — em busca da filha que some sem deixar vestígios. Mas o que poderia ser apenas um drama familiar se transforma em um documento de resistência civil, onde a ficção denuncia o silêncio, a censura e a brutalidade do regime.

Literatura como recusa ao apagamento Kucinski usa a escrita como forma de preservar a memória dos que foram calados. O livro não oferece respostas fáceis, mas constrói um mosaico de vozes, documentos e fragmentos que revelam o horror da repressão e a impotência diante do Estado. É uma obra que não deixa esquecer e por isso mesmo, transforma a dor em gesto político.

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#Link365TemasLivros 168 um livro onde a literatura ousa tocar o sagrado, não para negá-lo, mas para interrogá-lo, obras em que o mito, a religião, a fé ou os dogmas são desconstruídos, tensionados e reinventados pela narrativa.

A Casa dos Budas Ditosos, de João Ubaldo Ribeiro.

Apesar de não ser uma obra religiosa, o romance tensiona dogmas com humor, erotismo e filosofia. A narradora — uma senhora de 68 anos — faz uma confissão sem censura sobre sua vida sexual, mas o que parece escandaloso à primeira vista se revela uma meditação sobre liberdade, culpa e moralidade. A fé, o pecado e o corpo são revisitados com ironia e profundidade, como se a literatura fosse um altar profano onde o sagrado é interrogado sem medo.

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#Link365TemasLivros 167 um livro onde a literatura serve como rito de despedida, obras que se aproximam da morte não com frieza ou grandiloquência, mas com intimidade, quando a narrativa toca o corpo frágil, o tempo curto e o silêncio necessário.

O ano do pensamento mágico, de Joan Didion.

Nessa obra profundamente íntima, Didion narra o ano que se seguiu à morte súbita de seu marido, o escritor John Gregory Dunne, enquanto sua filha estava gravemente doente. Mas o que poderia ser apenas um relato de luto se transforma em um ritual literário de despedida, onde cada frase é um gesto de cuidado com a memória, com o tempo e com o corpo que ficou. A autora não busca consolo nem respostas, ela escreve para não desaparecer junto com a dor.

A narrativa é marcada por repetições, pausas e silêncios que ecoam o vazio deixado pela perda. É como se a literatura fosse o único lugar possível para continuar existindo quando tudo o mais se desfaz. A crítica considera esse livro um dos mais comoventes já escritos sobre o luto, justamente por sua honestidade radical e sua recusa em transformar a morte em espetáculo.

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#Link365TemasLivros 166 um livro onde a imensidão se esconde no cotidiano, onde o enredo não depende do extraordinário, mas de uma chaleira no fogo, uma palavra não dita ou um gesto que carrega o peso de uma vida inteira.

A Imensidão dos Gestos, de Flávio Hastenreiter.

Essa obra, publicada em 2024, é uma coletânea de poemas que transforma o cotidiano em território sagrado. Não há grandes reviravoltas, mas há uma chaleira no fogo que ferve como um coração ansioso. Há silêncios que dizem mais do que diálogos. Cada poema é um gesto — às vezes um olhar, às vezes uma ausência — que carrega o peso de uma vida inteira. A linguagem é lírica, mas contida; intensa, mas serena. É como se o autor dissesse: “olhe de novo, o extraordinário está aí, no que você quase não viu”.

Leitores têm descrito a experiência de leitura como uma espécie de reencontro com o que é essencial. Um livro para ler devagar, como quem escuta o tempo passar.

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#Link365TemasLivros 165 um livro que propõe uma virada de rota íntima, obras que não entregam respostas, mas sugerem outros caminhos para quem se perdeu dentro de si, livros que tocam fundo e silenciosamente deslocam.

Tudo é Rio, de Carla Madeira.

Publicado em 2021, o romance não oferece respostas fáceis, mas abre fendas por onde a luz entra. A história gira em torno de três personagens: Dalva, Venâncio e Lucy. O que começa como um drama sobre traição e perda se transforma, aos poucos, em uma meditação sobre o perdão, o tempo e a reconstrução do que parecia irremediavelmente quebrado. Cada um deles, à sua maneira, se perde dentro de si e precisa encontrar um novo caminho, não por imposição, mas por sobrevivência emocional.

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#Link365TemasLivros 164 um livro que tenha sido escrito como instrumento de transformação social, em que a história não busca apenas comover, mas mover, livros que enfrentam sistemas injustos e, com suas páginas, tentam reescrever o mundo.

O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório.
A história é narrada por Pedro, um jovem negro que, após a morte do pai — um professor vítima da violência policial , tenta reconstruir sua história familiar e entender o que significa ser negro em um país estruturalmente racista. A narrativa é íntima, mas profundamente política: cada lembrança, cada silêncio, cada gesto é atravessado por um sistema que marginaliza, apaga e violenta.

O livro não busca apenas comover, ele mexe com estruturas, questiona o papel da escola, da polícia, da família, da linguagem. E faz isso com uma prosa lírica, contida, mas carregada de força. Foi vencedor do Prêmio Jabuti e é considerado um dos romances mais importantes da literatura brasileira contemporânea.

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#Link365TemasLivros 163 um livro onde a identidade poética se multiplica, e cada poema revela uma face distinta do autor, não como incoerência, mas como vastidão. Obras onde o eu lírico se fragmenta para se tornar mais inteiro.

Mais eus do que eu, de Diego Grando.

Publicado em 2008, mas ainda reverberando com força, o livro é resultado de uma dissertação de mestrado em Escrita Criativa que se desdobra em poemas onde o sujeito lírico assume múltiplas vozes, máscaras e tons. Não há uma identidade fixa: há um coro. O poeta pode ser jogral, guerreiro, místico, Orfeu, tudo ao mesmo tempo, ou em momentos distintos. Essa multiplicidade não é ruído, mas harmonia dissonante, como se cada poema fosse uma janela para um aspecto do mesmo ser em expansão.

A obra dialoga com a tradição de Fernando Pessoa e Mário Faustino, mas com uma linguagem contemporânea, marcada por ironia, lirismo e experimentação formal. A crítica destaca como Grando transforma a fragmentação em potência poética — o “eu” não se perde, ele se amplia.

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#Link365TemasLivros 162 um livro onde o registro íntimo se torna documento universal, obras escritas como diários, cartas ou confissões, que mesmo sem a intenção de ser lidas por muitos, acabaram marcando a todos.

Diário Íntimo, de Lima Barreto.

Escrito entre 1905 e 1922, mas publicado postumamente, esse diário não foi feito para o público — e talvez por isso mesmo seja tão poderoso. Nele, Lima Barreto expõe suas angústias, frustrações, crises de identidade, racismo sofrido, solidão e a luta contra o alcoolismo. É um texto cru, sem retoques, onde o autor se despe diante de si mesmo — e, sem saber, diante de todos nós.

O que era confissão virou documento: um retrato do Brasil da Primeira República, das dores de um homem negro e intelectual num país que o rejeitava, e da alma humana em sua forma mais vulnerável. Como escreveu um crítico, “ler o Diário Íntimo é como ouvir um sussurro que atravessa o tempo e nos alcança no escuro”.

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#Link365TemasLivros 161 um livro que tenha como protagonista alguém de identidade híbrida, personagem que pertence a dois mundos e não é aceito por nenhum, e que precise forjar seu próprio lugar entre a origem e a escolha.

A graphic novel Hoka Hey!, do artista francês Neyef Esteban, publicada no Brasil pela editora Taverna do Rei

A história acompanha Georges, um jovem mestiço indígena que vive entre dois mundos: o dos colonizadores brancos e o dos povos originários. Mas ele não pertence completamente a nenhum deles. Essa condição de “entre-lugar” é o que move toda a narrativa, uma busca por pertencimento em um mundo que insiste em apagá-lo. Neyef constrói um protagonista que não quer glória nem redenção, apenas um sentido para existir.

A ambientação é o Velho Oeste, mas longe dos clichês: aqui, o western é desconstruído com uma estética que mistura mangá, animação japonesa e crítica social. A arte é vibrante, cinematográfica, e acompanha o clima emocional da história com uma paleta de cores que alterna entre tons quentes e frios. A crítica tem elogiado a profundidade com que o autor trata temas como racismo, exclusão e trauma — tudo isso sem abrir mão da ação e da beleza visual.

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#Link365TemasLivros 160 um livro onde o fantástico nasce da infância, e a imaginação não serve para entreter, mas para processar afetos confusos, raiva, medo, abandono, amor, que ainda não sabem dizer o próprio nome.

Espinho de Arraia, de Roger Mello.

A história começa com um dos oito irmãos narrando como chegou ao fundo de um rio de águas escuras. Mas o mergulho não é só literal, é também emocional. O fantástico surge da infância, sim, mas não como fuga: é uma forma de dar corpo ao que não se entende, de nomear o que ainda não tem nome. O peixe aruanã, que engole os próprios filhotes para protegê-los, vira metáfora de cuidado e medo. As borboletas amarelas, as plantas amazônicas, os silêncios entre os irmãos — tudo se transforma em símbolo de afetos confusos, de perdas que ainda doem, de amor que ainda não sabe como se dizer.

As ilustrações do próprio autor intensificam essa experiência sensorial: são vivas, oníricas, e ao mesmo tempo carregadas de melancolia. A crítica tem elogiado justamente essa fusão entre texto e imagem, onde a infância é retratada como um território de beleza e dor, de invenção e sobrevivência.

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#Link365TemasLivros 159 um livro onde a poesia ou a prosa se façam instrumento de denúncia, mas sem abrir mão da beleza formal, obras que transformam a revolta em linguagem

Aleijão, de Eduardo Sterzi. Publicado em 2009, mas ainda absolutamente atual, o livro é um grito lírico e político, onde a poesia se torna trincheira e cicatriz.

Sterzi constrói uma linguagem que não suaviza a dor, mas a molda com precisão estética. Os poemas denunciam violências familiares, urbanas e sociais, entrelaçando temas como desigualdade, repressão e herança traumática. A cidade, a família e o corpo são apresentados como territórios de conflito — e a poesia, como o único espaço possível para que essa revolta não se transforme em silêncio.

Críticos e estudiosos destacam como a obra transforma a denúncia em forma, sem abrir mão da beleza formal. A violência não é apenas tema, mas estrutura: ela está no ritmo, nas quebras, nas imagens que ferem e iluminam. Como aponta uma análise da Universidade de Brasília, a poesia de Aleijão “é uma herança sanguínea e social, nascida na família, expandida na cidade e infiltrada no corpo até o colapso"