Nos anos 1960, os comÃcios eram superlotados, principalmente no interior. Vinha gente de todos os lugares para ver polÃticos prometerem o que não cumpriam em cima dos caminhões, onde funcionavam os palanques. As promessas eram as mesmas das atuais: só mentiras. No entanto, não havia essa numerosidade de siglas partidárias, que só servem para dividir entre eles as suas “riquezas†e aumentar nossas dÃvidas.
Havia um partido da situação, que era do governo, denominado “Aliançaâ€, e outro partido da oposição ou esquerda, denominado “Movimentoâ€. Ldanzim, que ainda trocava a letra “R†pelo “Lâ€, com apenas seis anos de idade, acompanhava o pai que apoiava o prefeito Promessa, que era da posição a ganhar mais um reinado. O Senhor Promessa era proprietário de uma grande loja da região, chamada de “Maturezaâ€.
O palanque lotado, o “Plefeito Plomessaâ€, lá com seu discurso clamoroso, ladeado de babões, esperando a vez para pegar no microfone. Claques no meio da multidão, para aplaudir a cada palavra no microfone. Também havia “vaias†para o Promessa:
“Meu povo querido, eu prometo cumprir minhas promessas, fazer o melhor para esta cidade.†A plateia ficava só nos aplausos.
- Uuhhh, saia daÃ, mentiroso, pilantra. Mas os cliques eram em maior número e logo abafavam as vozes.
De repente, subiu no palanque um “guriâ€, aparentando de 12 a 13 anos, estava fantasiado de caubói com uma sanfona. E cantou algumas músicas matutinas e foi enaltecido pelo candidato.
— Oh, pequeno vaqueiro, você é um “astistaâ€. Assim mesmo, “astistaâ€, desde a antiguidade, polÃtica não precisa de cultura para se eleger. Vá na "Matureza" amanhã, que vou te dar uma “bicicretaâ€
O cauboyzinho saiu do palanque feliz por ganhar seu prêmio.
Ldanzim, enciumou-se, e queria, por queria, ganhar sua bike também. E começou a querer soltar a mão do pai.
— “Quelo†ir, pai, lá em cima, “pla†ganhar a bicicleta também. Bom, pelo menos ele sabia dizer o nome da bike corretamente.
— Filho, o que você vai fazer lá em cima? Nem andar, sabes, imagine cantar!
— Eu “quelo†ir, “queloâ€, eu falo qualquer coisa “pla†ganhar minha bicicleta. E eu “julo†que vou andar! – Insistia o agitado garoto.
— Quieto, menino, senão você apanha! Quer me fazer vergonha!
O pai deu um vacilo e seu pequeno atleta fez o que mais sabia fazer: zasp! Saiu em disparada em direção ao palco e seu pai correndo atrás. Pense numa cena, todo mundo querendo saber que correria era aquela. Um “loirão†correndo atrás de um “moleque magrinhoâ€. Chegando ao palco, o menino disse:
— “Quelo†subir, “quelo†subir.
— Não pode, só quem vai fazer alguma coisa. – disse o segurança.
— Eu vou, eu vou! “Quelo†ganhar minha bicicleta.
E o pai, todo envergonhado com aquela cena do seu moleque, fazendo de tudo para impedi-lo de subir. Até surra prometeu.
Ele, nessa altura, levava a surra, mas queria a sua “bike†de qualquer jeito. O prefeito, vendo a cena, deu sinal de ok para o segurança puxá-lo para cima, já pensando em tirar proveito de algum dom “astistico†do garotinho. Como era bem magrinho, o fortão pegou-o pela gola e levou-o ao palco.
- Bom garoto, de quem você é filho e o que veio fazer aqui? - Perguntou o Prefeito.
Ldan pegou o microfone e, bem rápido, por conta da correria, disse, meio trêmulo, mas encorajado por ganhar sua bike, disse:
— “Sou fi†de meu pai que tá lá embaixo, aquele “loilão†ali. Ele se chama “amigo veiâ€. E vim ganhar minha bicicleta.
— Vejo que és um garoto esperto. Mas para ganhar sua “bicicreta†precisa fazer alguma coisa para me agradar, aquele ganhou porque cantou e tocou sanfona e você, vai fazer o quê? – Disse o prefeito Promessa, todo “posudoâ€.
— Senhor “plefeito Plomessaâ€, o nome não é “bicicretaâ€, é bici, bici... cleta. – Disse ele bem baixinho no microfone.
Ah, não deu! Todos escutaram e começaram a aplaudir o garoto e algumas piadas com o prefeito, que já foi fechando a cara.
Votos para o professor mirim já soavam na plateia. O Promessa, meio encabulado, retrucou:
— Guri, é o seguinte: eu não sou o “Plefeito Plomessa e sim PREFEITO PROMESSA. Assim, não vai ganhar sua “bici, bici... cletaâ€. – Repreendeu o prefeito e, mesmo gaguejando, acertou a dizer o nome.
E a plateia ficou só no: Viva! Urra! Já ganhou! E os aplausos e afãs para o pequeno polÃtico continuavam. O pai até se empolgou. Alguns batiam nas suas costas e diziam:
- Ei, esse seu garoto tem futuro, lance-o na polÃtica.
— Então, vamos lá, faça alguma coisa, mostre que você é um “astista†ou não?
Mais uma vez, o pequeno polÃtico teve que ensinar o prefeito a falar corretamente.
— Plefeito, eu não sou “astista†e sim “arr-tis-taâ€.
A plateia, entusiasmada, batia palmas para o show do traquino.
O prefeito, até então todo posudo, levou um banho de água fria daquele garotinho. Já temendo que seu showmÃcio tomasse outras proporções, pediu para ele se apressar e fazer o que tinha que fazer ali. Era aplausos para o garoto e vaias para o Sr. “Promessa.â€
O Promessa, mas uma vez alertou.
- Olhe bem, tem que me agradar para ganhar sua bicicleta, vai, pegue o microfone.
E sem cerimônia, sabendo que levaria uma chinelada do pai, mas pela sua possÃvel “monaletaâ€, valia a pena. Olhou para a multidão. Deu um breve sorriso infantil e lembrou das falas dos babões e no improviso disse:
— Meu povo “quelido†de minha gente, estou aqui para fazer minhas homenagens e “palavlas†ao dono da loja “Matulezaâ€, Senhor Doutor plefeito Plomessa desta cidade que ele vai ganhar mais uma vez ganhar a eleição da prefeitura desta cidade, muito obligado.
Foi aplaudido por todos e a multidão gritou: “Viva! Já ganhou, é o meu favorito.
Já ganhou! Urra! Bravo!†E, no meio daquela gritaria, ele só queria saber de sua bicicleta.
— Minha bicicleta, minha bicicleta, eu quelo meu plêmio.
O prefeito Promessa nem aÃ, nem se manifestava, nenhuma palavra sobre a bike. Só queria saber das palmas e do já ganhou da multidão, que na verdade, não era para ele e sim, para o jovem polÃtico. Simplesmente, o segurança mandou-lhe descer do palanque. Coitado, triste, chorando nos braços do pai, que o levou para casa aos prantos. E, ainda, levou bronca do pai por ter lhe feito vergonha. A partir de então, nunca mais subiu em qualquer palanque para fazer discurso, como passou a não acreditar em nenhuma promessa de polÃtico.
Ele só não dizia o nome do “Prefeito Promessaâ€, porque sua lÃngua era enrolada e tinha dificuldades em pronunciar a letra “Râ€, quando estava na mesma sÃlaba das consoantes, e trocava pela letra “Lâ€. Realmente, ele era bastante "atlapalhado" e, depois de muito tempo, é que corrigiu esse erro.
Com certeza, o prefeito ficou com raiva e não premiou o garotinho com sua bike por duas contrariedades: uma por ele ter ensinado a falar corretamente as palavras “bicicleta e artista†e a outra por ele ter chamado de “plefeito plomessaâ€.
Agora, pelo show, pela sua astúcia, não custava nada o Seu Promessa ter dado seu prêmio. Afinal, ele foi o “astista da bicicretaâ€Se fosse aos tempos de hoje, no mÃnimo seria convidado para ser assessor. Ainda bem que ele nunca foi convidado para tal cargo, porque hoje em dia a maioria dos assessores está encrencada. Mas que ele ajudou o "plefeito" ganhar mais uma "plefeitula", ah, isso, ajudou!