A prática de Educação Física era obrigatória e uma alegria para os alunos. Os mestres passavam noções teóricas de variados esportes, como futebol, voleibol, handebol, basquete, bem como corridas com ou sem obstáculos. Também pau-de-sebo, cabo-de-guerra, subida em corda, etc. Após tudo isso, vinha a parte prática, a mais esperada por todos. Ldanzim estudava no Miguelinho, que não tinha campo de futebol, só quadra, e para realizar as aulas práticas, utilizava o campo do Quartel Militar que ficava cerca de 2 km da escola e da sua casa.
O convênio só foi possível porque o professor era deste quartel militar. As aulas eram duas vezes por semana e sempre começavam pontualmente às 7h. Antes das aulas, faziam “ordem unida”, dois a dois, marchavam até o pavilhão para cantar o “Hino Nacional”.
A sua turma era adepta a uma peladinha, e antes do astro-rei nascer já estava no Quartel, para bater aquela bolinha antes da aula. Ldanzim acordava ainda no escuro, tomava um copo de leite e, como sempre, com sua velocidade, logo chegava no quartel. O acesso se dava pelo portão da parte de trás, que estava sempre aberto. Alguns peladeiros já se encontravam para começar o corre-corre. Como trazia a pelota, tinha o privilégio de escolher seu time. Para aquela garotada, era a melhor aula prática ao ar livre. Assim que os primeiros raios de sol surgiam, começava a pelada. Era gritaria, xingamento, gritos de gol, principalmente do nosso artilheiro, que sempre deixava sua marca. Até pela arte de correr, facilitava suas jogadas. Mas, poucos minutos antes das 7h, chegava o professor para dar início às atividades físicas. Ele ficava um pouco bronqueado por conta da suadeira, e pediam pelo menos que eles tirassem a camiseta para jogar.
Certo dia, o Comandante, percebendo que a turma chegava bem antes do toque da alvorada, acordando todos antes do previsto, resolveu colocar ordem na caserna. Primeiro chamou a atenção do obediente professor, em seguida, ordenou ao seu batalhão que fechasse o portão de trás e que a partir de então o acesso dos alunos só poderia ser feito pelo portão principal. E só abrir dez minutos antes de começar as atividades físicas.
Ldanzim, como de costume, chegou bem cedo, já que era o dono da pelota, do tipo “capotão”. E, ao encontrar o portão fechado, não teve dúvida:
“Eita píula”, tá fechado, o pessoal já deve estar lá jogando e me deixaram de fora, vou pular!
Assim que pulou com a capotona debaixo dos braços, foi pego pelo guarda que estava de guarda.
— Te peguei, moleque! Vou levá-lo direto para o comandante e ele vai resolver qual o castigo que você merece.
Pobre do goleador, ficou sem ação. Só tremia.
— Comandante, peguei este traquino pulando o muro!
Não são nem 5h ainda, ele deve merecer um bom castigo. –
Disse o fiel guarda, na certeza de que iria ganhar uma promoção pela sua eficaz vigilância.
O Comandante, andando de um lado a outro com a mão no queixo, pensando no castigo, disse:
— Pelo que vejo, você é um dos donos da pelada, que há dias vem perturbando nossa alvorada. A quadra está muito suja, por conta de uma festinha que fizemos ontem. Quero-a bem limpinha, para receber seus amigos “Miguelinos”. Pegue esta vassoura e varra até o portão ser aberto.
Logo que o portão da frente abriu, a turma logo percebeu que um dos guardas estava com o pula muro segurando a vassoura para que todos o vissem. Quando os “Miguelinos” viram o colega segurando a vassoura e a quadra bem limpinha, não deu outra e começaram a cantar: “Varra, soldado cabeça de papel, se não varrer direito, fica preso no quartel”.Por conta deste episódio, do gari aquartelado no quartel, o convênio foi cancelado e os miguelinhos voltaram às atividades na quadra.