Os campos que outrora foram verdes, agora estão secos, os ramos ressecados da plantação ainda cobre o terreno, podemos ver ainda alguns ramos com folhas amareladas que teimam em permanecer de pé, é o início do verão. As máquinas voltam a marcar presença, tratores com equipamentos de última geração começam a invadir os campos para cumprir suas metas.
Nossa amiga, Áster, sente o tremor do terreno, como se um terremoto estivesse ocorrendo, a medida que o tremor vai se intensificando, ela sabe que algo está para mudar, já consegue “sentir” os gritos de terror e pavor dos seus vizinhos, ela aguarda a sua vez chegar, está suando de medo.
Não tarda muito, quando os ruídos das máquinas e o tremor do terreno quebram o silêncio, Áster é inesperadamente arrancada do seu habitat, violentamente, ela é jogada para cima, cortando em definitivamente os últimos laços físicos que ainda a unia com suas irmãs, ela grita desesperadamente, mas em silêncio, no mesmo instante em que é arremessada para fora de sua casa, ela pode sentir pela primeira vez a claridade da luz solar, se tivesse olhos, certamente ficaria cega com a intensidade do brilho inesperado que a atingira, seu corpo cai no chão e rola por alguns instante sobre o solo, sente o calor o sol sobre sua pela, não há mais dor, só a sensação gostosa de aquecimento e a brisa do ar que passa sobre sua pele pela primeira vez, consegue perceber a presença de suas irmãs, também na mesma situação que ela, mas não consegue mais estabelecer qualquer forma de contato, parece que quando foram arremessadas para fora, cortou-se o último elo de ligação entre elas, mas de alguma forma ainda podem sentir a presença umas das outras.
Permanece por algum tempo imóvel, mas logo, junto com as outras, é recolhida e jogada em uma espécie de saco, são amontoadas umas sobre as outras e embarcadas na caçamba de um caminhão. Sem saber para onde ela está sendo transportada, só lhe resta aguardar pelos próximos acontecimentos que sua vida lhe reserva.

A viagem não dura muito, logo o veículo cessa a locomoção, mas o recipiente onde ela se encontra, saco, tem a textura de tecido plástico entrelaçados, ela pode sentir a claridade que transparece pelo tecido branco, elas tentam forçar por todos os lados, mas o material e resistente e ao mesmo tempo maleável e resiliente, todo esforço é em vão. Não demora muito o saco é içado e antes que aterrize completamente no solo, ele é virado fazendo com que todas caiam para fora sobre uma espécie de caixa enorme, vários outros sacos são despejados, Áster percebe que é só mais uma entre outras centenas ou até milhares de suas espécies.
O “despejo”, por assim dizer, termina, subitamente a caixa começa a se mexer, em movimentos de vai e vem, ao mesmo tempo em que jatos de água são acionados, a água incessante, junto com o movimento da caixa banham todas que estão lá dentro, e a medida que seus corpos são lavados, tais quais as prisioneiras eram retratadas em campos de concentração nazistas, após o banho forçado, são encaminhadas para uma fila, no caso da nossa história, para uma enorme esteira se encarrega de transportar as “prisioneiras” para a próxima ala.

O otimismo de Áster consegue ver o lado bom, pelo menos sua pele rosada esta limpa, uma sensação diferente de tudo que viveu até agora. Durante o percurso, ela percebe que está passando por um processo de seleção, onde são separadas por tamanho, as menores vão ficando pelo caminho e as que estão com alguma espécie de deficiência, são retiradas manualmente, jogadas novamente em sacos para um fim desconhecido, por um momento ela fica feliz em ser perfeita, em um mundo onde os imperfeitos são excluídos.
Chegando ao final do percurso, todas que passaram pela “seleção”, são novamente jogadas dentro de um novo saco, a diferença agora, é que estão todas de banho tomado e desta vez, a boca do saco é amarrado de forma que nenhuma possa sair. Novamente são colocadas no caminhão para uma nova viagem, seu destino? Um novo campo de concentração.
O deslocamento se encerra e chegam ao destino e, novamente são içadas e descarregadas, mas desta vez, Áster permanece por mais uns dias naquela situação, a ansiedade toma conta por horas de espera, o que será que virá agora?

Chega um novo dia, o portão do galpão se abre, inicia-se a movimentação do envólucro onde se encontra, o saco é carregado e após é aberto e novamente são jogadas, literalmente, despejadas sobre uma esteira mecânica, que a conduzem em direção a um túnel escuro e sombrio, ela, assim como as outras, entram em pânico, tentam fugir, tentando se locomover desesperadamente, rolando para trás, mas todos os esforços são em vão, a esteira é impetuosa e impiedosa e as forçam seguir para o destino final, algumas menores e mais ágeis conseguem pular para fora da esteira, destas, umas são recapturadas e voltam para a esteira, outras se racham com a queda e são “literalmente chutadas” para alguma direção, outras servem de bola para embaixadas, e as que conseguem se esconder por debaixo das máquinas, acabam por ali ficando até que a morte a consomem, seja por ação de outro ser ou mesmo por putrefação.
Áster consegue sentir os gritos de pavor e de dor das primeiras companheiras que entram no túnel, seu sangue gela, seu corpo treme, sua vez está próxima, a entrada do túnel cada vez mais se aproxima.🫨
Ao entrar no túnel escuro, um misto de decepção e alívio toma conta dela, pois percebe que ali, ainda não é o fim, é somente o começo de um tormento inimaginário.

Daquela esteira, elas são jogadas para outra em elevação, como uma montanha-russa, são transportadas de um lado para outro, para cima e para baixo, ao entrar em uma das câmaras do processo, ela sente lâminas finas e afiadas que a ferem, ela sente a dor e sua seiva sanguínea umedece sua pela, em rápidos cortes sua pele rosada é bruscamente retirada, ela se sente nua e desprotegida, seu corpo arde, mas ela não consegue gritar, totalmente despida de rua linda pele rosada, ela sai da câmara e cai novamente na esteira e assim se sucede com todas as outras, são conduzidas pela esteira, neste momento a esteira é uma espécie de guia, que a obrigam a seguir seus destinos.
Nos lances seguintes, ela pode sentir os gritos mais forte de suas acompanhantes, e isso a assusta. Com medo ela se aproxima da próxima câmara de tortura, pois assim que ela se vê, está passando por vária câmara de tortura, como em época de ditadura, mas para quê??? Qual o objetivo de toda essa crueldade?
A próxima câmara, é mais terrível do que ela podia imaginar, subitamente ela sente uma lâmina atravessar o seu corpo, mas não se trata de uma lâmina comum, aliás, trata-se de um conjunto de lâminas que descem sobre seu corpo de forma rápida e sem piedade, com um objetivo único: esquartejar o seu corpo em 16 partes iguais, Áster mal tem tempo de gritar de dor, logo suas partes esquartejadas caem espalhadas sobre uma nova esteira, se misturando com partes de outras de sua espécie, embora tenha sido cortada, picotada, esquartejada, ainda consegue ter consciência da situação.🤷♀️
Suas partes sangram uma seiva fina transparente por todos os lados de seu corpo, ou melhor corpos, pois fora dividida em 16 partes, embora divididas fisicamente, todas as partes permanecem unidas nas percepções e sentimentos, continuam sendo uma só, que agora, cada parte de seu corpo tem a forma mais alongada e retangular, sua cor ficou amarelada depois que lhe arrancaram a tez rosada, sua pele exposta arde enquanto segue ainda pelo corredor de morte, sim, agora ela anseia pela morte, pois isso aliviaria todo seu sofrimento. Mal sabe ela, que está longe de terminar.
Na próxima etapa, suas partes são jogadas dentro um recipiente enorme, que contém uma substância química líquida, que ao contato com a pele a faz arder mais ainda, esse novo banho, demora por alguns minutos, quando está se acostumando com a dor, é coada e jogada novamente na esteira, após o processo do banho ela percebe sua pele ficou mais esbranquiçada que antes e que no balanço do movimento da esteira, o excesso da substância vai sendo retirado do seu corpo até que fique totalmente seca.
Seu calvário prossegue, agora, seu condutor a leva para uma coifa gigante, a medida que se aproxima a temperatura aumenta, a esteira se eleva e chegando no topo, elas são despejadas dentro de uma substância densa, líquida, mas densa, oleosa e, o pior, a substância está fervendo a aproximadamente 100º C, Áster tenta gritar, mas o líquido a queima, quase que de imediato, seu corpo se contorce e dor. O processo dura apenas poucos minutos, logo é pescada e colocada novamente na esteira, ela sente um leve alívio na pele por deixar aquele caldeirão, segue percorrendo por etapas para que o excesso do produto fervente e gorduroso escorre de seu corpo, e tão logo isso termina, ela é inserida em uma câmara gelada, fria, escura, passa por um processo de esfriamento rápido, quase congelante, está tão frio que ela não sente mais nada, está praticamente congelada, e… de novo na esteira.
Agora o percurso é rápido, e ao chegar no final da esteira, suas partes são colocadas dentro de um saco plástico e hermeticamente selado, tanto que ela mal consegue sentir o ar, a essas alturas já não respira mais, e congelada e com falta de ar, acaba por desmaiar. 😵💫