ALADOS PARA AMAR
“As aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como láâ€,
E se pudéssemos entender as aves?
Este soneto destrinça os entraves
E é uma jura de amor de um sabiá:
“Com o abraço das tuas asas aprendi a voar,
As léguas do céu são medidas suaves
Que nem o mais grave dos graves
Dos impasses me pode aporrinhar.
Enquanto aos homens faltam estrÃdulos,
A nós não e nem os estÃmulos
Para a poesia com nosso trinar.
Drapejou o Criador em nossa envergadura
Uma surpresa plumada, uma investidura...
Fez-nos aptos e dÃpteros para amarâ€.
SONETO DO ARREPENDIDO
Vieste com os braços estendidos
Como do novo dia da luz o raio
E eu frente aos teus risos emitidos
Saà pelas bandas de soslaio.
Encontraste-me de frontispÃcio enrubescido;
Mais fugidio que um lacaio,
Que te viu e quedou embevecido
E saÃ, porém hoje não mais saio.
Esquivei-me de ti e não do arrependimento
De te ver e não cair no teu abraço
Quando o tempo criou nosso espaço.
E já que o tempo é fruto dum giro lento,
Estava a saudade do meu peito
Com teu abraço que hoje não rejeito.
A NOTA FLÃ
Não me deram o poder de um maestro
De dizer o que é possÃvel ou não,
De impor por capricho ou sestro
O que muda a teoria da canção.
Por exemplo, aquele Tom, pianista destro,
Fez um samba com o Ré na solidão;
Frustradas as outras notas então sequestro
O Fá pra lhe dar nova denominação.
Não e por arranjo nem mera substituição
Que tomei uma nota para minha custódia
E inseri ditoso em minha prosódia.
Que saibam os músicos de plantão
Que Flá é a quarta nota do violão, do trombone...
E esse Flá é um brinde a Flávia Morôni.
PORTAIS DA ALMA
Ouço dizer, minha amada,
Que os olhos são da alma os portais
E se nos vemos com a vista igualada
É que portamos almas iguais.
É a mesma batida enamorada
De corações frementes e divinais.
Vida a vida equiparada,
Não dá outra, somos iguais.
Não são só os olhos que são idênticos,
Não, não, meu amor; é muito mais.
São olhos mostrando que temos almas iguais.
Tenho certeza de minha escolha num mundo cético,
Sou o que toma a decisão e não teme-a,
Porque vi-te com iguais olhos nossa’lma gêmea.
SONETO POLÃTICO?
Já que anda mal o parlamento
E não se vê respeito no congresso,
Vejo ainda uma chance de sucesso
Que visa à mudança de comportamento.
Essa luz enternece e dá alento
Sem contar o concreto e real progresso;
Não faz promessa em excesso
E não fornece espaço ao sofrimento.
Vejo o mandato que não é fatÃdico
E que revolucionará o meio polÃtico,
Esmerilhando esse cenário.
Pois em meio a tantos partidos,
Seremos diferentes, seremos unidos,
Unidos no mesmo grupo partidário.
AMO-TE EPELO AMOR
Amo-te pela razão imperscrutável
Do amor, razão a qual sem resposta,
Só sei que meu gênio do teu gosta
E se sente pacato e confortável.
Amo-te pela pessoa que és, incomparável,
A mim bem mais semelhante que oposta,
Alguém em quem meu coração recosta,
Guarida pacÃfica e agradável.
Amo-te pelo fim único do amor,
Mas, meu amor, amo-te por quem és:
GenuÃna, insofismável, e sem revés.
Tenha ciência que este é maior amor
Visto cá entre os seres humanos.
Por ti e pelo amor é que te amo.
UM SONHO E DOIS SONHADORES
Metade foi sonho, metade enigma,
O roteiro faltoso em totalidade
Faz o sonho parecer veleidade
E se prende ao sujeito feito estigma.
A ação de sonhar que é tão digna
Deixou-me o ar interrogativo e de saudade,
Pois eu queria o rosto do sonho e a realidade,
Enfim, a ação do sonho tão benigna.
No meu imo, busquei por uma resposta
Para a narrativa decomposta
Das aventuras sonÃferas anteriores.
A outra metade também alvejada
Ficou para alguém descobrir, intrigada,
Como que um sonho liga dois sonhadores.
NA BEIRA DO CONTINENTE
Vês, amor, a linha que contorna o mapa
É transposta agora pela gente;
O mar que a Terra encaçapa
Tem-nos como amigo recente.
Acontece que o sol não tapa
Todo o seu aparato de raios candentes,
É o prêmio por sairmos do mapa
E dividirmos o mar com o continente.
É muito mais que banho de praia
Tradicional com um monte de alfaia,
É estender nosso domÃnio pelo Atlântico.
É passear pela aquática do globo
E ter o rosto corado de sol e de bobo
Quando escrevemos um poema romântico.
A TUA PRAÇA
Com o teu parecer positivo,
Eu interpelo prefeitos e cardeais
E arrogo a praça para nosso cultivo.
A praça que quiseres, meu bem, tu terás.
Tal como fez aquele que, vivo,
Pôs na rua ladrilhos e cristais;
Tu terás, anjo, em exclusivo
Mais que a amada de VinÃcius de Moraes.
Pois terás adro, praça, fontes...
Para nós fitarmos os horizontes,
Dize tão somente à praça que desejas.
E ali leremos as lindas histórias
Enquanto a cidade tem em tua memória
Local que reservas, preservas e verdejas.
SONETO DA UNIFICAÇÃO
À iminência de elevar-se à unicidade,
A mente indaga uma coisa ao coração,
Pergunta quanto por cento da minha personalidade
Já é produto de nossa união.
Se os trejeitos e a sagacidade
Eu já os tinha do berço a concessão
Ou se parte do que sou é novidade
De criar contigo a nossa comunhão.
Para quem já possuÃa alma gêmea,
A convivência faz macho e fêmea
Serem um em tudo, em muito, em tanto.
Por detrás de defeitos e hábitos,
O amor gigante faz-nos aptos
A perpetuar da vida o encanto.
A MULHER AMADA É O IDEAL
A mulher que amo não idealizo,
Ela por si só é o meu ideal,
Não exijo nada em si, seu sorriso...
Quero-a como ela é, natural.
A mulher amada eu humanizo,
Faço-o por ela ser tão transcendental
E olha que digo que não a idealizo,
É que ela em si é o meu ideal.
É a bandeira que se levanta,
É a corrente que se segue,
É ideologia, questão de princÃpios.
É a causa que se agiganta
De forma que não se negue,
Mais forte que nações e municÃpios.
VELOCIDADE DA LUZ II
A lampeira menina de cabelos trêmulos
Deixara no caminho rastos de riso,
Fossem manhãs, fossem crepúsculos
Ela saÃa a pedalar de improviso.
Não viram tão hábeis pés os pedais
Até estribarem o da menina engraçada
E ainda que desse volta nos mesmos locais,
Eu parava em cada canto da pedalada.
Voltei-me à menina que dava volteios.
“Segura minha mão ao soltares os freiosâ€,
Pensei em dizê-la, quando ela na bicicleta.
Em seu trajeto espirituoso e elegante,
Eu de mirá-la que ficava estonteante,
Desde aà ganhou a menina um poeta.
UM DIA DE SAUDADE
Em um dia sofri de saudade
Mais que os poetas sofreram em decênios,
Mais que a quantidade no ar de oxigênio,
Mais que a população de nossa cidade.
Em um dia sofri de saudade
Mais que os conflitos do mundo em milênios,
E que pacientes atendidos sem convênio,
Mais que os operários em minas de jade.
Foi o dia em que Cronos esteve vacante,
Foi o dia que saà do equilÃbrio constante
Ensinado por eremitas e monges.
A saudade me agitou com violência
E o lento tempo bradou com persistência
Que estavas de mim muito longe.
DOÇURA
Se alguém, por seres melÃflua, diz,
Querendo encomiar, que és doce;
Outra coisa na verdade quis,
Mas o seu falar limitou-se.
O panegÃrico que seria mais feliz
Por mais ousado que fosse,
Era admitir, como eu fiz
Que és a doçura e não um doce.
És fonte ilimitada de pólen,
Que por mais que a isolem,
Sempre será a fonte e não a feitura.
Assim és, minha cara,
Cuja meiguice qualquer um repara
Que não és um doce, és a doçura.