O astro sol por somente um dia
Sentiu o meu prazer, meu privilégio
E estendeu ao meu bem seu sortilégio
Brilhando com uma luz que não se via.
E minha amada que se divertia
Não percebeu que o sol egrégio
Se insinuava em tom régio
Ardendo como nunca ardia.
Assim o sol lá do topo
Beijou minha amada e todo o seu corpo
Por muitas horas, de ou onze.
Mas se inclinando a Terra,
O sol seu flerte encerra
Deixando em minha dona a cor de bronze.
QUEM PRIMEIRO SOUBE QUE TE AMO
Quem primeiro soube que te amo?
Certamente tu não foste.
Soube a Terra, e as estrelas em hoste,
Souberam antes que te amo.
Quem primeiro soube que te amo?
Não foste tu, decerto,
Foram teus pais e quem estava por perto;
Souberam antes que te amo.
Soube primeiro o Inventor do amor,
Soube porque sendo amoricultor,
Soprou-me nas narinas teu gostar.
Quem primeiro soube que te amo
Foi tudo que ouve, vê o que proclamo,
Tudo que é, se move e tem hábitat.
PELA TUA ÓRBITA
O sol nasce de um lado
E percorre a Terra pra no outro descansar.
Depois de passar o dia ocupado,
Manda que a lua tome o seu lugar.
Então vem a lua nesse traslado
Para as faces da Terra vigiar,
Altiva a terra com tamanho cuidado
Não poderia senão se ataviar.
Como a Terra que noite e dia
Tem sobejo de fina companhia,
A evidência por ti sempre opta.
E sou eu que faço esse trabalho
De ser constante pra ti, nunca falho,
Ao mover-me pela tua órbita.
MINHA MAIOR RIQUEZA
Dei-te a minha maior riqueza
E da tua riqueza também me deste.
Meu recurso de maior despesa
Dei-te e nele tu investes.
Demo-nos ao tempo, que com certeza,
É o mais vivo presente, the best,
E para se saber de algo a natureza
Não há outra forma que esta conteste:
Dar tempo ao que por ora germina
Para ver a sua frutescência,
Pois o tempo mostra a realidade.
Há coisa que começa e termina,
Mas tudo que encontra sua essência
Ganha de brinde a felicidade.
SONETO À MULHER PERFUMADA
Quando se me apresenta ela
Todo embebida em unguento,
Seus braços e pernas são pétalas
Que exalam a todo momento.
Seu hálito de rosa revela
Lábios de sândalo sedentos
Do perfume dos astros e das estrelas,
Visto que os da terra tem a contento.
Quando perfumada, vê-se sua aura
De crisântemo que me restaura
E refina e repara o olfato.
É a alma a transcender na pele,
É a natureza pedindo que zele
O seu dom fragrante e intato.
SONETO À MULHER MAQUIADA
És uma pintura neorrenascentista,
Cuja própria face é a tua tela.
É nela e exclusivamente sobre ela
Que fazes teu movimentos de artista.
Tens uma arte em voga, benquista,
Que à de Da Vinci se nivela,
Porquanto tens métodos quando pincelas
E uma sensibilidade que apetece a vista.
E vens a suplantar os antigos ainda
Porque não dispões de todas as cores,
Ademais, nem todas elas convêm.
Entregas a tua obra facial linda
Aos beijos repletos de amores
Deste poeta que tanto te quer bem.
SONETO DO LAÇO
Quando nossos caminhos são vetores
Bem mais opostos que constantes,
É um mar que se enche de dissabores
A cada metro que ficamos distantes.
Dizei aos céus que nos ouçam os clamores
Que, entoados unÃssonos e incessantes,
Sejam um discurso a conseguir favores
Colocando-nos lado a lado como antes.
Dize-o, querida, que o céu decreta
Que por através de passagens secretas
Regresses, por tempo ou por espaço.
Dizei ao cÃrculo da Terra que te permita
Escorregar a mim feito uma fita
Que no nosso encontro se faz um laço.
TRAVESSEIRO DE CABELOS CACHEADOS
Os melhores sonhos atrelados
Ao travesseiro dos mais macios,
É o travesseiro de cabelos cacheados,
Donde nunca se sonha desafios.
Além de já dormir ao teu lado,
O que me gera afáveis arrepios,
Ainda apoio meu rosto sobre o acolchoado
Travesseiro mais caudaloso que rios.
É travesseiro vivo que tu me estendes
Que muita fragrância compreende;
De aromas, de belezas e rodopios.
Salve o dormir sobre teus cabelos,
Mais que as plumas apresentam desvelo,
Têm o amor de sua dona em todos os fios.
TEU ESPREGUIÇAR
Quando abres os braços assim,
Algo há que a paixão atiça.
Os braços que abres espantando a preguiça
São os mesmos co’s quais chamas a mim.
Teus olhos amendoados, slim,
São a prova que todo o corpo se espreguiça.
Os olhos que fechas espantando a preguiça
São os mesmos co’s quais chamas a mim.
O teu espreguiçar me é um ritual
De contemplação e inspiração matinal,
Porque tua magia não é omissa.
Teu revitalizar é único em beleza
Que me alegra e alegra a natureza
No átimo charmoso que te espreguiças.
CONTRA O SOL
O sol acorda do meu lado direito
E tu me dás bom dia pela sinistra,
Deitada, ainda sonolenta em meu peito,
Desde aà o meu dia tu ministras.
Ele caminha pelo firmamento dum jeito
Que meia face do mundo conquista
E tu caminhas pela casa, perfeito
Andar que enche minha vista.
Se põe o sol pelo lado esquerdo
E pela destra inda da noite cedo,
Vens te recolher comigo, alegria tamanha.
Não se cruzam uma vez ao dia,
Parece que um ao outro porfia
Pra ver quem mais luz ao mundo banha.
O ÚLTIMO POEMA
Escrever para ti muito me requer
E nunca te expus o quanto isso me exige,
Mas é-me preciso estudar com fé
E não surgindo versos o coração se aflige.
Por isso escrever-te é um monte cujo sopé
É do tamanho do milenar Fuji
Ou qual o ciclo brando da mare
Que vai e volta no texto e o corrige.
E este é o ultimo poema que te escrevo
E neste desplante que me atrevo
Também posso explicar minha vertente.
Por mais que me seja um dilema,
Quando eu disse que era o último poema
É só no sentido de ser o mais recente.
SONETO PARA A ENVAIDECIDA
Se te chamo linda, o dobro te aformoseias
E se enrubescem teus zigomas
Evidenciando claros sintomas
Do quanto tu te incendeias.
E mesmo antes que meu texto leias,
Quiçá só do elogio os aromas
Te fazem abalelar os idiomas
E te admiras, meu bem, te recreias.
Gosto então de te ver pedante
E de te ver demasiada delirante
E mais panegÃricos te ofereço.
Para que saibas que és uma entre mil,
Que igual a ti humano nenhum viu…
Só sou poeta porque te envaideço.
INCOCEGÃVEL
Se atrito meus dedos com suas costelas
Ou os deslizo na cavidade das axilas,
Pouca coisa vejo que oscila,
Continua o mesmo riso de donzela.
Se passo no seu pescoço a ponta da flanela,
Permanece com o mesmo riso de tranquila,
Seu corpo não se move nem flabela.
É uma austeridade que cintila.
Ela sabe que é às cócegas imune,
Mas o seu não rir não me pune,
Antes me é uma caracterÃstica adorável.
Assim divirto-me em lhe fazer carinho,
Posto que rir, eu ria sozinho
Porque sei que é ela uma moça incocegável.
TUA VOZ
Tua voz não é a mais alta na multidão,
Porém, augusto anjo, é a que mais se escuta
Porque desvozeadas vozes refuta
Meu ouvido e te ouve com o coração.
Tua voz não é a mais alta na multidão,
No entanto encontrou a alma forma augusta
De calar qualquer estampido que contigo luta
E abrir a ti os ouvidos do coração.
Tua voz não é a mais alta da multidão,
Mas é a que mais se exalta
E como assim se não é mais alta?
É que é voz de grande mansidão
Que por seres de caráter tão bom,
Leva-a ao infinito a fÃsica do som.