O abraço dela é deitar nas nuvens,
O abraço dela é deitar em plumas.
Bem-aventurado o que tem alguém
Pra suavizar da vida as escumas.
Devolvo-lhe fidelidade de pajem,
Porque igual a ela vi pessoa alguma.
O abraço dela é deitar em nuvens,
O abraço dela é deitar em plumas.
Meus membros e músculos assumem
Que um abraço de deitar nas nuvens
É o abraço dela e o de mais nenhuma.
Meus olhos vazantes de tristeza confirmam
Que contra as dores que acaso me oprimam,
Vou ao seu abraço que é deitar em plumas.
SONETO PARA ASSANHAR OS CABELOS
O vento queria levar teus cabelos,
E em baforadas impetuosas,
Empurrava tuas bochechas rosas
Como o beduÃno os camelos.
Eram rajadas que vinham em atropelos,
Cada uma com um cacho de melenas sedosas,
Se aproveitavam que tu és generosa
Por bem antes deixar-me assanhar-te os cabelos.
Teus cabelos tremulantes qual bandeira,
Eram o sÃmbolo da menina fagueira,
A menina a quem até o vento deseja.
E eu brigava com ele com vigor régio,
Pois a mim que foi dado o privilégio
De assanhar-te os cabelos, minha Cereja.
IL PRIMO BACIO
A alavanca do amor, a intrepidez,
Deu à nossa despedida mais magia
E num Ãmpeto de ventura e ousadia
Beirava distante de nós a timidez.
Passo a passo o abraço se fez
E minha mão à tua mão se unia
E aceitaste o meu beijo com alegria
Porque o retribuÃste mais uma vez.
As testemunhas da rua lusitana,
Naquela noite de fim de semana,
Chegavam depois da apoteose ocorrida.
Eu pirava até o meu domicÃlio,
Repetia a frase com ênfase e brilho:
“Ganhei o beijo que será pra toda a vidaâ€.
BEIJO PERFUMADO
Acaso é algum dos teus costumes
Transformar teus beijos em fragrâncias?
Quero todos com delicada ânsia,
Quero todas as matizes de perfumes.
Como fazes isso tu me assumes?
Porque teu ósculo puro como infância
Cravou em mim tua elegância
E a lembrança cheirosa dos teus lumes.
Perfumaste-me os lábios num beijo
E aspiro, inalo, farejo
As memórias de obras anteriores.
Teu olor veio além permanecer
Com o teu jeito autêntico de fazer
Que num beijo residam flores.
FLAVORITISMO
Amo-te com poesia, mas não só, com teoria.
E se as teorias constituem-se de conjeturas,
A minha é composta com planura
E dou-te autenticidade e autoria.
Como é que se ama com teoria?
Como é que não se ama? A questão perdura,
Pois aquele que ama, por ternura,
Em tudo vê a amada luzidia.
Eu te vejo nas artes e nas ciências
E és e estás à frente das tendências,
Assim prefiro-te numa contagem temporal infinita.
O Flavoritismo é a minha teoria.
Acredito que tudo que a alma sacia
É ter-te como amada, Flavorita.