

purapoesia @purapoesia
a quero assim
tão perto
a quero assim
dentro de mim
unha e carne
flor e semente
céu e pássaro
duas metades
perfeitas
premeditadas
a quero assim
quente e colada
aninhada em mim.

purapoesia @purapoesia
o vento nas folhas
memórias
de tão embaralhadas
inventam histórias
fantasia-se o doce
peneira-se a lembrança
os dias mortos
entre britas
cintilam auríferos
calendários despidos
bem-me-quer
mal-me-quer
as folhas desmembram
o outono prepara o inverno
as primaveras correm
atrás do trem.

purapoesia @purapoesia

purapoesia @purapoesia

purapoesia @purapoesia

purapoesia @purapoesia
🅢🅔🅧🅧🅧🅣🅞🅤
selvagem
este corpo lhe pertence
o tateie, o rasgue!
lambe-o, chupa-o
selvagem
me oferto, presa
devora-me
me põe na boca
me põe em ti
roça e uiva
revela o instinto
alimenta-te de minha carne
a leva à tua garganta
saboreia a minha seiva
não deixas uma gota
desfruta de meus restos
e eu de tua nua fruta
comemo-nos
ceemos sem receio
melarei-me com tua polpa
a face entre as dunas
as mãos em tua maciez
colherei os suspiros
matarei a sede
com a tua mélea água.

purapoesia @purapoesia
#🅢🅔🅧🅧🅧🅣🅞🅤
devo(ra)ção
provo-a com os dedos
choves sobre eles
tenho sede de tomá-la
nos braços, na boca
fome de comê-la
lamber os lábios
me sirvo de tua tez
inebrio-me e devaneio
meto-me em teus seios
adentro-a
dança lenta
cálida e úmida
a cama, em chamas, geme
derretes e tremes
jorro-lhe meu desejo
a cereja do bolo
amoleço e adormeço
dentro de ti.

purapoesia @purapoesia
espelhos, miragens e quimeras
o quadro torto me retrata
a imagem refletida
não me reflete
minha juventude irrevogável
perfura os poros
esta face transpira o peito
os cardinais e ordinais
ofuscados pelos cardeais
pela bússola sísmica
apontando à direção indecisa
a carne irá secar
contra todo ferrenho desejo
o destino é ser
semente caule flor fruto e
semente
o horizonte se despe
à olho nu
quando o encontro
já não é o mesmo
me contento
em pescar miragens
me contento
em ser a caça
mas não irei sem antes
ter uma quimera entre as presas.

purapoesia @purapoesia
perdidamente
se for para perder o ar
seja em teu beijo
se for para perder o medo
seja em teu abraço
se for para perder a cabeça
seja em tua cama.

purapoesia @purapoesia

purapoesia @purapoesia

purapoesia @purapoesia
ahora ala
o que ficou, passara
o adiante, pássaro
o passado desmembrado
obsoleto
o presente asado
o
v

purapoesia @purapoesia
hora do rush
empurra empurra em pé na lotação
sufoco no metrô corre à estação!
tráfego louco pé no freio no acelerador pé no freio no acelerador
verde corre corre corre
não mira a árvore
o verde é outro
amarelo não pense avance
fortuna é estar à frente
vermelho enlouquece
e nem é paixão
pernas pernas mais pernas tropeçam apressadas
tudo é pressa pressa é tudo depressa!
tudo tem preço na peça dos mascarados
aviões trens motos e carros
anda tudo desmontado
não me peça as peças
ando meio enferrujado
depressa depressa depressa!
depressão
como raio atropela árvore
bem no meio no meio
do anseio
o semáforo sinal farol subterfúgio
qualquer coração apressado
afogado em sangue
alta pressão
afobado desregula desvirgula despedaça
no poste logo após o vermelho
enfurece enlouquece enferruja
igual paixão.

purapoesia @purapoesia

purapoesia @purapoesia

purapoesia @purapoesia
hora de dormir
a noite é uma criança
inquieta
o dia remói no travesseiro
a algazarra particular
vizinho indesejado
o amanhã nasce prematuro
amanhece natimorto
e o crepúsculo o enterra
nossos tarôs tão convencidos
reprovam outra vez
muito se fala sobre a fronha
os olhos fechados
apenas uma desculpa
para abrir a boca
sem dar um pio.

purapoesia @purapoesia
Ponto sem Nós
humanidade, um pulso
na canção das estrelas
uma ínfima reticência
no obsidiano cosmo
o calor que sinto
o corpo o qual amo
a refeição por qual salivo
a brisa assanhadora
a maresia inebriante
a conversa passarinhal
o anil, a pérola, o fogo
tudo tão belo
mas nada será
além dum ponto
numa costura sem fim.

purapoesia @purapoesia
dois mundos
sobre a mesa
riso indiscreto
abaixo dela
mão boba
sobre a mesa
caretas
embaixo
carícias
sobre a mesa
a sobremesa
abaixo
uma delícia
sobre a mesa
faces rubras
abaixo dela
impudicos
sobre a mesa
uma conversa
lá embaixo
o grito
sobre a mesa
descontração
por baixo
descontrole
sobre a mesa
olhos desencontrados
embaixo
corpos colados
sobre a mesa
uma mão gesticula
abaixo
a outra ejacula
sobre a mesa
conversa mole
debaixo
o duro e o melado
sobre a mesa
lado a lado
abaixo
trançados
sobre a mesa
transações
debaixo
transa
sobre a mesa
quem diria
logo abaixo
uma orgia!
🅢🅔🅧🅧🅧🅣🅞🅤

purapoesia @purapoesia

purapoesia @purapoesia
calmo deslizo
por tua água
duas carnes
macias
valsando
duas chamas
bailando
arquejantes
pelos eretos
corpos arfantes
indo e vindo
provando-se
incêndio
entre quatro paredes
de quatro
de ladinho
decúbito
missionária
louvando ao delírio
do gozo!
#🅢🅔🅧🅧🅧🅣🅞🅤

purapoesia @purapoesia
Lições Marítimas
as ondas comem
minhas desesperanças
quebra e ronca
dorme o peso
acorda o sonho
maré convida a navegar
expulsa âncoras
há profundidades
habitando toda coisa
há tesouro apenas
a quem não teme naufragar
enfrentar o dissabor do sal
usá-lo de tempero
para uma doce conquista.

purapoesia @purapoesia
Consumação
nossa transa iniciou no olhar
a carne magnética, a pele eriçada
corpos rogando pelo nó
as bocas colam, as línguas calam
na ardente linguagem do desejo
desce elétrico o doce prazer
umedece e enrijece o íntimo
encosto em ti, abraço tua chama
lento a tateio, lendo-a inteira
tua face, teu seio, o mamilo
a cintura, os pelos, os lábios
pequenos, macios, viscosos
os dedos dançam dentro de ti
a tua mão me devora feroz
forte agarra o membro
como fosse presa
selvagem o abocanha
serei a ti oferenda
sereia
incontrolados
fome e sede
nos unimos
únicos
uma só carne
quente e molhada
ofegos e afagos
fogo e gozo
gelo
esvai em tuas coxas
minha semente
mela a cama
floresce rubor
em tuas bochechas
o olor do ato
perfuma as colchas
só quero este encaixe
latejante
estar dentro de tua calidez
em perpétuo torpor
selamos de novo as bocas
sorvendo os hálitos satisfeitos
delirando desnudos
o mundo esquecido
reduzido a nós
entrelaçados.
#🅢🅔🅧🅧🅧🅣🅞🅤

purapoesia @purapoesia
Reflexão
és tu mais do que um reflexo
oɥןǝdsǝ ɹǝs oɐ̰u ɐɹɐd 'ɹıʇǝןɟǝɹ

purapoesia @purapoesia
Um Dia a Dia à Dois
na manhã eu acorde
sentindo a brisa de teu respiro
à tarde, caiamos na cama
de conchinha
ouvindo os amares dos sonhos
anoitecendo
teçamos nosso próprio céu
ascendendo ofegantes
até ver estrelas
no atravessar dos dias
cultivemos a flor da pele
pois quando um amor cresce
os dias ficam cada vez menores.

purapoesia @purapoesia

purapoesia @purapoesia

purapoesia @purapoesia
Versos para Um Corpo Ilimitado
esta carne
mero detalhe
vai além
fervilham desejos
transcendem paixões
orbitam sonhos
esta alma
ferida e remendada
tem rosas mais belas
que a flor da pele
neste invisível
sem metragens
cabe o universo
cabem deuses
cabe o mistério
cabe um poema
descabido
neste vaso
que vaza
por versos
transborda sangue
e vísceras
batuca o sentimento
de ser maior
do que todo
e limitado
sentido.

purapoesia @purapoesia
Viajante
despir o novo
encontrar-se perdido
estrangeiro, desconhecido
viajar desafia
pula-se a muralha aramada
da rotina
cair outra vez no mistério
tatear de novo no escuro
prazer contra todas as moedas
faço minhas malas
digo adeus ao que fui
ao voltar não serei eu
pois onde vou me deixo
também trago novos ares
viajo para desentender
para sair do corpo
para colar penas
nestas asas famintas.

purapoesia @purapoesia
Festim
os dedos ávidos
tateiam o volume
descortinam a carne
a língua fala o desejo
lambendo o batom
a refeição está servida
de joelhos, ora à volúpia
entre quatro paredes
come o fruto proibido
os pequenos lábios escorrem
os grandes abocanham
idas e vindas vorazes
estalos úmidos
na boca melada o latejo
nascente do desejo
o monte erupciona
o prazer culmina
a polpa carmim
engole o viscoso
festim.
#🅢🅔🅧🅧🅧🅣🅞🅤

purapoesia @purapoesia
O Que Sou
sou os tombos que levei
as cicatrizes que deixaram
sou as vezes que errei
crendo ser coisa certa
sou todo dúvida, mente aberta
sou bicho, natureza e música
sou impulso, não me seguro
também inseguro e pierrot
quem sou? nem sei
mero civil dentro da lei
todo café que já tomei
e, nele, o poema que pensei
poeta do espontâneo
verso o que transpira
fenômeno cutâneo d'alma
sou a essência que inalei
e instalei na lembrança
sou o banco onde sentei
e neles aquilo que devaneei
sou caos e dilemas
os sonhos não realizados
insônias, preguiças, problemas
tanta coisa
nem cabe no poema
sou os pores do sol que admirei
toda lua cheia por qual enamorei
o choro, o riso, a raiva, o tédio, o gozo
montanha-russa
sou deslocado
não sou desta geração
sou pop, rock e blues
tenho medo
do mundo e da solidão
sou girassol em busca da luz.