Catarine caminhava lentamente pela floresta congelada, a neve sob seus pés estalando suavemente a cada passo. A brisa gelada acariciava seu rosto, mas dentro dela ardia uma chama de determinação. As semanas que passara na alcateia haviam sido reveladoras; a vida entre os lobos a transformara de maneiras que ela nunca imaginara. Agora, em vez de apenas olhar para o mundo através das lentes de uma humana, ela via o coração pulsante da alcateia, cheio de vida, dor e lealdade. Ela se virou para Christian, que caminhava ao seu lado, seu olhar intenso e atento, como se estivesse observando não apenas o que a cercava, mas também as emoções que lutavam dentro dela. "Estar... do outro lado dessa guerra me faz pensar em tudo que fiz..." disse ela, a voz um misto de nostalgia e arrependimento. Christian parou, e o som da floresta parecia silenciar enquanto ele a encarava. "O que você quer dizer, Cate?"
Ela suspirou, lembrando-se de suas ações passadas, de quando usou seu próprio fogo para forjar armas que acabaram ferindo aqueles que agora chamava de amigos. "Quando eu matava lobos, pensava que estava protegendo minha vila, mas agora, aqui, vendo a dor que os humanos causam, percebo como a linha entre o bem e o mal é borrada." Seus olhos brilhavam com lágrimas não derramadas. "Aqueles que eu matei... eles não eram monstros. Eram seres sencientes, com suas próprias vidas, suas famÃlias." Christian se aproximou, segurando sua mão. "Você não estava errada por querer proteger sua casa. O instinto de proteger quem amamos é algo poderoso. Mas agora, você está do lado que procura entender, que luta por um futuro diferente." "Sim, mas a dor que sinto é profunda", respondeu Catarine, a voz embargada. "Eu gostaria de poder apagar o passado, mas não posso. Eu não sei se conseguirei lidar com isso. O que acontece se eu me tornar uma loba e me perder nesse instinto? E se um dia eu me ver virando contra os humanos novamente?"
Christian a puxou para perto, suas mãos firmes em seus ombros. "A transformação não muda quem você é, Cate. Ela realça sua essência. Você é uma guerreira, sim, mas também é bondosa. Você terá um lobo guardião, mas a escolha de como agir sempre será sua. O amor que você sente por nós, pela alcateia, irá guiar suas ações." Catarine olhou em seus olhos, sentindo a sinceridade nas palavras dele. "E se eu não conseguir controlar esse lado? E se eu acabar machucando alguém?" "Então nós estaremos aqui para te ajudar", Christian assegurou, seu tom suave mas firme. "Todos nós já enfrentamos isso, e sempre encontramos um jeito de seguir em frente. O importante é que você se lembre de quem você é. Você já se provou uma aliada valiosa para nós. O que mais importa é seu coração." Ela respirou fundo, tentando absorver suas palavras. "Eu quero ser uma parte disso, Christian. Quero ser forte como vocês. E, acima de tudo, quero fazer isso ao seu lado."
"Então você não deve se preocupar. Estamos juntos nessa", ele respondeu, envolvendo-a em um abraço reconfortante. A sensação de seu calor e a força de seus braços ao redor dela dissiparam um pouco da inquietação em seu coração. Caminhando pela floresta, a conexão entre eles se fortaleceu, e, por um breve momento, Catarine sentiu que poderia enfrentar qualquer tempestade, desde que tivesse Christian ao seu lado. Catarine estava imersa no calor da forja, o som do martelo batendo no metal ecoando pelo espaço, misturando-se com o cheiro de fumaça e ferro. Desde que chegara à alcateia, sua paixão pela forja ressurgira com força renovada. A cada dia, ela se dedicava a criar itens que não apenas eram utilitários, mas que também traziam um toque de beleza e significado para os guerreiros lobos. Espadas reluzentes, armaduras que brilhavam à luz da fogueira, e agora, um baú que ela considerava muito especial. Enquanto o calor da forja a envolvia, Catarine estava concentrada, moldando o metal com uma habilidade que surpreendia até mesmo a si mesma. A ideia de criar um baú surgiu de sua necessidade de proteger seus pertences, mas também de guardar as memórias e experiências que a alcateia estava lhe proporcionando. Ela queria que esse baú fosse mais do que um simples objeto; queria que ele simbolizasse a nova vida que estava construindo. Quando Christian entrou na forja, a luz da chama refletiu em seu rosto, e seus olhos se iluminaram ao ver Catarine em ação. Ele se aproximou, observando-a com admiração. "O que é isso?" perguntou ele, a curiosidade transparecendo em sua voz.
"É apenas algo para... guardar meus pertences de maneira mais segura," ela respondeu, afastando-se um pouco para mostrar a ele o baú. O metal trabalhado tinha detalhes delicados, e uma chave de prata pendia de seu pescoço. "Eu fiz esta chave para trancar o baú." "Ah, um baú para esconder os segredos de Catarine?" Ele brincou, um sorriso largo no rosto. "Mais ou menos isso," ela riu de volta, o som leve e musical. "Eu quero que seja um lugar seguro, onde eu possa guardar não apenas meus itens, mas também as memórias que estou criando aqui." Christian se aproximou, admirando o trabalho dela. "Você realmente tem um dom para isso, sabe? Cada peça que você cria tem uma alma própria. A alcateia é sortuda por tê-la." Catarine sentiu um calor subir pelo rosto ao ouvir suas palavras. "Obrigada, Christian. Significa muito para mim ouvir isso de você. Este lugar... as pessoas... tudo isso me faz sentir viva novamente."
Ele a observou por um momento, notando a paixão nos olhos dela. "E o que mais você planeja guardar nesse baú? Segredos? Sonhos?" "Talvez um pouco de tudo," respondeu Catarine, olhando para o baú. "Sonhos de um futuro que quero construir aqui, com você e a alcateia. E quem sabe, talvez até alguns segredos." Christian inclinou-se um pouco mais perto, seus olhos fixos nos dela. "Segredos, huh? Agora você me deixou curioso. O que mais você tem em mente?" Ela sorriu, o brilho nos olhos se intensificando. "Talvez planos para armas que combinem nossas habilidades... ou até mesmo algumas surpresas para os outros membros da alcateia." "Estou ansioso para ver o que você vai criar," ele disse, com um brilho de orgulho em sua voz. "Se precisar de ajuda, estarei sempre por perto." "Isso significa muito para mim," Catarine respondeu, sentindo-se reconfortada pela presença dele. A conexão entre eles se tornava mais forte a cada dia, e a forja se tornava não apenas um lugar de trabalho, mas um espaço onde seus sonhos podiam ganhar vida. Enquanto ela continuava a trabalhar no baú, a sensação de pertencimento a envolveu como uma capa quente. Os guerreiros lobos eram mais do que amigos; eram uma famÃlia, e Catarine sabia que tinha um lugar especial no coração da alcateia.
A noite da transformação de Catarine havia chegado, e a floresta estava envolta em uma neblina mÃstica, iluminada apenas pela luz prateada da lua cheia que pairava majestosa no céu. O ar estava denso com a expectativa e o cheiro da terra úmida, e a atmosfera parecia vibrar com a energia dos lobos que se reuniam em torno dela. Eles estavam prontos para dar as boas-vindas a mais uma membro da alcateia. Christian permaneceu ao lado de Catarine, seus olhos expressando uma mistura de orgulho e ansiedade. Ele segurou a mão dela, transmitindo seu calor e força, enquanto a lua lançava sombras dançantes sobre seus rostos. Ela estava nervosa, mas determinada. O que estava prestes a acontecer mudaria sua vida para sempre, e ela queria estar pronta. "Estou aqui, Cate," Christian sussurrou, a voz dele suave como a brisa da noite. "Você não está sozinha. Sinta a energia da floresta, a ligação com os lobos. Estamos todos com você."
Ao seu lado, Caspian começou a entoar palavras em uma lÃngua antiga, suas mãos elevadas em um gesto ritualÃstico. Ele era um guia espiritual, o elo entre o mundo humano e o sobrenatural. "Catarine, hoje você se tornará mais do que uma humana; você se unirá à nossa famÃlia. Sinta o lobo guardião despertando dentro de você, abrindo caminho para a transformação." Catarine fechou os olhos, respirando profundamente. Concentrou-se em sua essência, no lobo que estava prestes a emergir. Ela se permitiu sentir a energia pulsante ao seu redor, a batida do coração da floresta ressoando em sua própria alma. As vozes dos lobos ao redor dela se uniram em um coro harmonioso, elevando seu espÃrito. "Prepare-se," Caspian disse, a voz firme e reconfortante. "A transformação é intensa, mas você é forte, uma guerreira. O lobo não é uma maldição; é uma bênção." Enquanto ele falava, Catarine começou a sentir uma onda de calor percorrendo seu corpo, como se a própria lua estivesse infundindo sua luz em suas veias. A sensação se intensificou, e logo o calor se transformou em uma dor aguda, como se algo estivesse se espremendo para fora dela. Ela gritou, não de desespero, mas de libertação, como se estivesse se despindo de uma pele antiga.
Nesse momento, Demétrio, o alfa da alcateia, apareceu, sua presença imponente radiando força. Sua pelagem negra brilhava sob a luz da lua, e seus olhos azuis estavam fixos em Catarine, cheios de poder e compaixão. "Você está pronta, Catarine," ele disse, a voz profunda e envolvente. "Agora é hora de se tornar uma de nós." Catarine olhou para ele, sentindo a conexão que unia todos os lobos da alcateia. A dor se transformou em algo mais, um tipo de êxtase que a envolveu, e ela assentiu com a cabeça, determinada. Demétrio se aproximou, sua forma majestosa fazendo o coração dela disparar. Ele se inclinou, expondo os dentes afiados, e mordeu suavemente seu ombro, a mordida misturando dor e prazer. "Agora você é uma de nós," ele declarou, e a palavra "nós" reverberou em seu coração como um mantra, uma promessa de pertencimento. O mundo ao seu redor começou a girar, a dor da transformação se intensificando, mas ao mesmo tempo, Catarine sentiu-se mais viva do que nunca. O lobo dentro dela finalmente se libertou, e em um instante, ela viu flashes de memórias ancestrais, a história de sua nova famÃlia. Sussurros de lobos antigos, momentos de caça sob a lua, e a proteção de uma alcateia unida. Com cada fragmento de memória, a dor se dissipou, substituÃda por um profundo sentimento de aceitação e amor.
Quando a transformação finalmente a envolveu, Catarine abriu os olhos novamente, agora com uma nova visão. O mundo ao seu redor se tornou mais vibrante, as cores mais intensas, os sons mais claros. Ela olhou para Christian, que estava agora mais próximo, seus olhos cheios de lágrimas de alegria e orgulho. "Você é linda," ele murmurou, e suas palavras ressoaram na nova essência dela. Catarine sorriu, a felicidade radiante em seu coração. Ela era uma loba agora, um membro da alcateia, e mais importante, ela estava ao lado de Christian, pronta para enfrentar o futuro juntos. Catarine sentia uma explosão de energia pulsando em seu novo corpo lupino enquanto corria pela floresta sob a luz da lua cheia. Ela agora era uma loba cinza, com olhos cor de mel que brilhavam como duas lanternas na escuridão da noite. As patas pequenas e ágeis a levavam a um ritmo alucinante, e ela ria, um som que ecoava como um uivo feliz, enquanto a adrenalina percorria suas veias. Ao seu lado, Christian, um lobo branco de olhos vermelhos, corria com a mesma intensidade. Ele se movia com graça, sua pelagem brilhando sob a luz prateada da lua. "Meu Deus, isso é incrÃvel!" Catarine exclamou em um latido alegre, sentindo-se mais viva do que nunca. A energia do mundo ao seu redor era palpável, e cada respiração era preenchida com o perfume das árvores, da terra úmida e das folhas.
"Sim, é maravilhoso," Christian respondeu, sua voz ressoando em um tom profundo e amigável. Ele sabia que essa experiência era única para Catarine, e o orgulho em seus olhos era inegável. "Sinta tudo, Cate. Agora você é parte da floresta, parte de nós." Ela olhou para ele, seus sentidos aguçados captando cada movimento, cada cheiro, cada som. "Sinto cheiro de tudo agora, tudo parece mais nÃtido," disse ela, maravilhada com a nova percepção do mundo. A floresta, antes distante e confusa, agora estava viva e vibrante ao seu redor. "Vamos caçar," ele sugeriu, e Catarine, excitada com a ideia, balançou a cabeça em concordância. Christian a guiou por entre as árvores, sua presença reconfortante ao lado dela. Cada passo era uma nova descoberta, e logo eles chegaram a uma clareira, onde o cheiro da presa se tornava mais forte. Catarine sentiu o instinto de caça despertando dentro dela. Ela parou, focando, e em um instante, avistou uma lebre, a pequena criatura se movendo cautelosamente entre os arbustos. Seu coração disparou. "Lá!" ela sussurrou, apontando com a cabeça.
Christian se posicionou ao seu lado, suas patas se movendo silenciosamente sobre o solo. "Vamos lá, faça o que eu fizer," ele instruiu. Eles começaram a correr, em harmonia, seus corpos movendo-se como um só. A lebre parecia não perceber o perigo até que já era tarde demais. Com um salto ágil, Catarine se lançou em direção ao animal, suas patas firmes contra a terra. Ela estava concentrada, a adrenalina fervilhando em seu corpo. Christian a seguia de perto, os dois se movendo como uma unidade. A lebre fez uma curva, mas Catarine não hesitou, cavando a toca e rapidamente a alcançando. Finalmente, com um movimento ágil, ela capturou a lebre, seus dentes se fechando ao redor do corpo pequeno e macio. O sabor do sucesso era indescritÃvel. Ao morder o animal, uma onda de emoção a invadiu, uma mistura de poder e instinto primitivo. A carne crua era nova e intensa em sua boca, a textura e o gosto a surpreendendo. Ela se afastou por um instante, sentindo a natureza pulsar dentro dela, e Christian se juntou a ela, seus olhos vermelhos brilhando com orgulho. "Você fez isso, Cate! Você caçou como uma verdadeira loba."
Com a carne fresca em suas mandÃbulas, ela experimentou uma sensação de liberdade e força. Era uma conexão profunda com sua nova vida, e o sabor da carne crua a fez se sentir mais próxima da alcateia, mais viva do que nunca. Ela olhou para Christian, seus corações batendo em unÃssono, e naquele momento, tudo fazia sentido. Eles eram um, unidos pela natureza e pela magia daquela noite. A noite estava densa na floresta, iluminada apenas pela luz suave da lua cheia. Christian e Catarine continuavam a caçar, movendo-se como sombras entre as árvores. A adrenalina pulsava em suas veias enquanto se lançavam atrás de cervos e coelhos, a sinfonia da natureza ao seu redor preenchendo os espaços entre seus pensamentos. Cada captura trazia uma nova onda de excitação e satisfação, um lembrete do quão bem ela se adaptara à sua nova vida como loba.
No entanto, à medida que a noite avançava, uma sensação de inquietação começou a se instalar em Catarine. Enquanto perseguia um cervo, uma brisa fria trouxe com ela um cheiro que a fez hesitar: sangue humano. A euforia da caça logo se misturou com um gosto amargo em sua boca. A alcateia de Demétrio estava em ação, e sua presença pesava no ar, como uma sombra que se estendia sobre a floresta. Após uma corrida bem-sucedida, enquanto o cervo ainda era fresco em suas garras, os dois retornaram à alcateia. O riso e a celebração ecoavam à distância, mas a alegria dos guerreiros lobos contrastava brutalmente com a ideia de que, em algum lugar, vidas humanas estavam sendo ceifadas. Quando chegaram, Catarine viu um grupo de lobos se reunindo em torno de uma fogueira, suas vozes altas e animadas enquanto compartilhavam histórias de suas caçadas noturnas. "E você deveria ter visto o olhar no rosto dele quando eu o peguei!", um dos lobos exclamou, rindo histericamente. Outro acrescentou: "Ele não viu o que o atingiu! Mais uma vila destruÃda, e tudo por um punhado de humanos!" Catarine parou, seu coração apertando-se. Ela olhou para Christian, seu rosto pálido refletindo a confusão e a dor que sentia. Era uma dualidade inquietante que a deixava em conflito: o lado primal e selvagem que se deleitava na caçada e o lado humano que não conseguia se esquecer da brutalidade que cercava essa vida.
Christian percebeu seu desconforto e a puxou pelo braço, afastando-a da cena. "Vamos, Cate," ele murmurou, sua voz suave, mas firme. "Não precisamos ouvir isso." "Mas sua alcateia... eles... atacaram outra vila," Catarine sussurrou, a tristeza e a incredulidade transparecendo em seu tom. O sabor do sangue na boca agora parecia muito mais pesado. Christian suspirou, levando-a para a cabana onde passavam suas noites juntos. "Nem todos os lobos são... bons, Cate." Sua voz era grave, repleta de um entendimento que ela lutava para aceitar. Ele a conduziu para dentro, o calor do interior contrastando com o ar frio lá fora, mas a tensão persistia. Catarine olhou nos olhos dele, sentindo-se dividida entre a criatura da floresta que se tornara e a mulher que sempre fora. "Isso não é certo," ela disse, o desespero em sua voz crescendo. "Por que eles fazem isso? Somos seres da natureza, não monstros." Christian a observou, a dor em seu olhar refletindo a luta interna que ambos enfrentavam. "A linha é tênue, Cate. Para alguns, a bestialidade se sobrepõe à natureza. Eles veem os humanos como uma ameaça, e a proteção de nosso território se transforma em um instinto assassino."
A escuridão da cabana envolveu-os, mas a luz da fogueira ainda iluminava as sombras que dançavam nas paredes. "E se... e se eu não quiser ser parte disso?" Catarine questionou, sua voz um sussurro. "O que se torna de mim se isso continuar?" "Você é mais do que isso," Christian respondeu, puxando-a para mais perto. "Você é uma guerreira, uma forjadora, e sempre será uma parte essencial de nossa alcateia. Mas você não precisa se deixar levar pela sombra. Podemos mudar isso, juntos." Catarine sentiu a força de suas palavras, mas a batalha dentro dela continuava. Ela não queria ser um monstro. Com um gesto delicado, Christian segurou seu rosto, seus olhos vermelhos brilhando com determinação. "Prometo que faremos isso do nosso jeito. Um jeito que honre tanto o que somos como o que podemos ser." Enquanto as risadas e os gritos dos guerreiros ecoavam na noite lá fora, Catarine se perdeu no calor e na firmeza de Christian. A luta ainda estava longe de terminar, mas pela primeira vez, ela sentiu que poderia encontrar um caminho que equilibrasse a natureza e a humanidade. Ela não estava sozinha nessa jornada.
No mês seguinte, Naquela noite de lua cheia, a floresta parecia viva, vibrando com os sons de suas criaturas e o sussurro do vento entre as árvores. Catarine e Christian corriam juntos, sua forma lupina se movendo com graça e agilidade, enquanto a adrenalina pulsava em suas veias. No entanto, a velocidade e a excitação fizeram com que Catarine se afastasse de Christian por um breve momento, sua atenção capturada por uma lebre que desapareceu entre as sombras. Ela correu, a euforia da caçada a dominando, mas, ao se perder em sua própria velocidade, Catarine não percebeu que estava se afastando mais do que pretendia. Então, ao passar por um arbusto, ela se deparou com uma cena que a fez parar em seco: uma garotinha humana, não mais que sete anos, estava parada, os olhos arregalados de terror.
Catarine, em sua nova forma, sentiu um impulso incontrolável de se aproximar da menina, como se a pureza da infância pudesse curar algo dentro dela. Mas antes que pudesse fazer qualquer movimento, uma lança cortou o ar e cravou-se em seu pelo prateado, fazendo-a recuar, um rosnado involuntário escapando de seus lábios. A dor atravessou seu corpo, e o pânico a envolveu como uma névoa. O humano que empunhava a lança estava prestes a dar o golpe final, sua expressão repleta de ódio e medo, mas antes que pudesse agir, um grupo de lobos da alcateia de Demétrio surgiu como um relâmpago, abatendo-o com precisão letal. O caos se instalou por um breve momento, e o eco das garras cortando a carne reverberou pela floresta. Christian apareceu imediatamente ao seu lado, seu olhar preocupado penetrando em Catarine. "Você está bem, Cate?" Ele esfregou seu focinho delicadamente na ferida em seu pelo, o sangue manchando o cinza suave de sua pelagem. No entanto, Catarine estava distante, sua mente girando em um turbilhão de emoções.
O olhar dela se fixou na criança, que observava os lobos com uma expressão de terror absoluto. A menina via aqueles que, até alguns momentos antes, eram criaturas magnÃficas aos olhos de Catarine, como monstros que acabaram de tomar a vida de seu pai. Uma sensação de ironia e confusão se instalou no peito dela; na sua própria infância, ela havia perdido a mãe para a mesma alcateia. "Quem começou essa guerra de morte?" pensou ela, o dilema cortando-a profundamente. A inocência da menina se refletia em seus olhos, e a batalha interna em Catarine se intensificou. A criança, assustada, virou-se e começou a correr, mas não por muito tempo. Em segundos, os lobos que antes estavam celebrando a caçada agora a perseguiam, e o ar se encheu de rosnados. Catarine não conseguiu conter o grito que ecoou na floresta, mas antes que pudesse se mover, um grito agudo da menina cortou o ar, cercado por sons grotescos de carne sendo arrancada dos ossos. "Não..." O horror tomou conta dela, e Catarine fechou os olhos, incapaz de suportar a cena que se desenrolava diante de si.
Christian, percebendo o estado dela, a guiou de volta à alcateia, sua voz grave e séria. "Não se afaste, nunca se afaste de mim durante as transformações!" Ele a lembrou, lambendo a ferida em seu pelo, como se quisesse apagar a dor que sentia por ela. Mas Catarine estava distante, sua mente girando. "A... a alcateia... mataram aquela... aquela menina..." O desespero em sua voz era palpável, e a dor de saber que sua nova vida a tornara parte de um ciclo de morte a consumia. Christian olhou para ela, seu coração apertando ao perceber a profundidade do sofrimento dela. "Cate, não é assim que queremos ser. Há algo maior do que isso, uma luta maior. Vamos encontrar um jeito." Mas as palavras dele pareciam distantes, quase inaudÃveis, enquanto Catarine lutava contra a tempestade de emoções que a arrastava para um abismo escuro.
Na manhã seguinte, os primeiros raios de sol filtravam-se através das árvores, iluminando a floresta com um brilho suave. Christian ainda dormia, seu corpo aquecido na cabana, mas Catarine não conseguia permanecer ali, imersa em seus pensamentos sombrios. A lembrança da criança morta da noite anterior a atormentava, uma sombra constante em sua mente. Com um suspiro resoluto, decidiu sair para um passeio sozinha, buscando alguma forma de alÃvio. Enquanto caminhava, Catarine se lembrava de sua antiga aldeia. Já se passavam seis meses desde que se juntara à alcateia de Christian, e a saudade de casa a envolvia como um manto pesado. O que teria se tornado de sua vila? Assim que alcançou o local onde uma vez se erguera, o que encontrou a fez parar em seco. O que outrora fora um lar vibrante agora não passava de uma sombra cinza, uma ruÃna desoladora. As casas estavam em colapso, os telhados desmoronados, e as paredes crivadas de buracos como se tivessem sido alvo de um ataque feroz. O ar estava impregnado de um fedor nauseante, resultado do apodrecimento e da decadência que pairava sobre a terra. O cenário era um testemunho do desespero humano, uma lembrança da devastação que a peste havia deixado para trás.
Catarine caminhou em meio aos escombros, seu coração pesado. Ao se aproximar de sua antiga casa, um calafrio percorreu sua espinha. O que um dia fora o lugar onde ela passava suas tardes, aprendendo a forjar e sonhando com um futuro, agora era uma pilha de entulho. Ela se agachou, suas mãos tocando a neve coberta de sujeira, e avistou crânios e ossos expostos, restos de vidas que foram interrompidas. Ratos corriam pelos corredores desmoronados, enquanto a natureza começava a reclamar o que era seu. Catarine sentiu um nó na garganta, a dor da perda e da saudade a inundando. Mas, em meio ao caos, algo a chamou a atenção. Um objeto parcialmente enterrado na neve chamou seu olhar: era um diário. Ela se aproximou, a esperança brotando em seu coração enquanto retirava a neve que cobria a capa do diário. O objeto era antigo, com a capa de couro desgastada e as páginas amareladas pelo tempo. Com cuidado, Catarine limpou a neve e a sujeira, revelando uma aparência que sugeria a passagem de muitos anos. As bordas estavam franjadas, e o cheiro de mofo se misturava ao ar fétido da vila. Quando finalmente teve o diário em mãos, um sorriso involuntário surgiu em seu rosto. Lembrou-se de como praticava a escrita e a leitura escondida de todos, mesmo quando estudar era proibido para as mulheres de sua aldeia. Era um ato de rebeldia que a fazia sentir-se viva. O diário representava não apenas o conhecimento que ela sempre desejou, mas também os sonhos que foram silenciados.
Mas, à medida que folheava as páginas, um conflito de sentimentos a invadiu. A alegria de redescobrir um fragmento de seu passado misturava-se com a tristeza pela perda da infância e do lar. Como pôde ter sido tão ingênua? Como as pessoas puderam se perder de maneira tão brutal? Aquela aldeia, que um dia fora cheia de risos e histórias, agora era apenas um eco de dor e desespero. Catarine suspirou, segurando o diário contra o peito enquanto lágrimas escorriam por seu rosto. O que fazer com tudo isso? O peso do que havia sido e do que ela se tornara parecia insuportável. No entanto, havia uma centelha de determinação dentro dela. Se aquele diário pudesse ser um sÃmbolo de resistência e conhecimento, talvez ela pudesse usar seu conteúdo para criar um futuro diferente, não apenas para si, mas para aqueles que, como ela, haviam perdido tudo. Com um último olhar triste para a antiga casa, Catarine fez uma promessa silenciosa. A história da sua aldeia não terminaria aqui; ela ainda lutaria para reescrever seu destino.
Catarine caminhava cautelosamente pelos destroços de sua antiga aldeia, cada passo trazendo à tona memórias de um lar que uma vez fora vibrante. As ruas que ela conhecia tão bem agora estavam cobertas de escombros, e o céu nublado parecia pesar sobre seus ombros, mergulhando tudo em uma palete de cinza, como se o próprio mundo estivesse de luto pela devastação. A ausência do sol fazia com que cada sombra se tornasse mais profunda, tornando o ambiente ainda mais opressivo. Enquanto caminhava, os ratos corriam pelas casas abandonadas, seus olhos brilhando em meio à escuridão. O som de suas patinhas minúsculas ecoava, aumentando a sensação de desolação que permeava o ar. Catarine parou por um momento, fechando os olhos e tentando recuperar uma lembrança da felicidade que havia vivido ali. Mas era tudo em vão. Apenas o eco do passado respondia, e a dor da perda apertava seu coração. Então, algo a fez parar. Uma figura à distância, envolta em sombras, chamou sua atenção. Um vampiro, com uma presença que exalava malÃcia e poder, estava ajoelhado sobre uma mulher. Os olhos do vampiro, brilhantes e famintos, estavam fixos na vÃtima enquanto ele bebia seu sangue vorazmente, sugando a vida dela até que a jovem se tornasse apenas uma casca, tão seca quanto uma folha ao vento. O horror tomou conta de Catarine, e um alerta pulsou em suas veias. Seus instintos lupinos despertaram, prontos para atacá-lo.
A mulher caÃda no chão era apenas um corpo agora, um lembrete cruel do destino que poderia ter sido seu. O vampiro, percebendo a presença de Catarine, ergueu a cabeça, um sorriso maligno curvando seus lábios ensanguentados. “Você é uma loba de Silver Moon?†ele perguntou, a voz profunda e carregada de desdém. Catarine não respondeu imediatamente. A raiva e o nojo borbulhavam dentro dela enquanto observava a criatura diante de si, um predador que representava uma nova ameaça em um mundo já repleto de perigos. “Quem é você?†ela questionou, forçando-se a manter a voz firme. “Eu sou um dos servos de Eros, do clã de Eternité,†ele respondeu, limpando o sangue com a ponta dos dedos, como se fosse algo trivial. A menção de Eros fez o coração de Catarine disparar. Esse nome era sinônimo de morte e destruição. “Você está invadindo nosso território,†ela declarou, a determinação crescendo dentro dela. Mas a criatura apenas riu, um som gélido que ecoou pela desolação.
Com um movimento ágil, ele começou a avançar em sua direção, os olhos brilhando com um desejo insaciável de matar. O instinto de sobrevivência disparou em Catarine, e sua mente se tornou um turbilhão de emoção e adrenalina. Era agora ou nunca. Em um impulso, ela sacou a espada, a lâmina brilhando mesmo sob a luz escassa. Com uma rapidez que surpreendeu até a si mesma, Catarine fincou a espada diretamente no coração do vampiro. O grito que se seguiu era de dor e surpresa, mas rapidamente se transformou em um sussurro enquanto o corpo do vampiro se dissolvia em fumaça, desaparecendo no ar como um pesadelo que finalmente se esvanecia. O momento de vitória, no entanto, foi rapidamente substituÃdo por confusão e desespero. Ela se viu envolvida em um mundo onde não apenas os humanos eram seus inimigos, mas também outras criaturas sinistras. Os limites de sua nova realidade estavam se expandindo, e a luta pela sobrevivência se tornava mais complexa e aterradora.
Catarine caiu de joelhos, respirando pesadamente enquanto as emoções a inundavam. “O que está acontecendo?†ela sussurrou para si mesma, a frustração e o medo invadindo seu ser. A guerra que parecia simples agora revelava sua verdadeira face, uma teia de traições e ameaças que se entrelaçavam em um cenário sombrio e implacável. Com a espada ainda em mãos, Catarine levantou-se, decidida a não se deixar abater. Ela sabia que precisava entender esse novo mundo, não apenas como uma loba, mas como uma guerreira. A luta estava apenas começando, e, custasse o que custar, ela enfrentaria cada desafio que surgisse em seu caminho. Catarine caminhou de volta para a alcateia, seu coração ainda agitado após o encontro sombrio que tivera. O ar fresco da floresta a envolvia, mas a sensação de peso em seu peito não a deixava. Enquanto atravessava a trilha conhecida, a imagem da aldeia destruÃda ainda a assombrava. Ela segurava o diário contra o peito, como se a conexão com seu passado pudesse oferecer algum consolo em meio à devastação.
Ao entrar no espaço da alcateia, o cheiro familiar da terra e da madeira a acolheu, mas não demorou muito para que ela notasse Christian à sua espera. Ele estava encostado em uma árvore, a expressão preocupada estampada no rosto. Ao vê-la, seus olhos se iluminaram, mas logo foram tomados pela apreensão. “Catarine! Onde você se enfiou?†ele exclamou, o tom de voz carregado de preocupação. “Eu disse a você centenas de vezes para não sair sozinha por aÃ!†Ela apenas sorriu, um sorriso triste, que carregava a dor de suas lembranças. “Fui visitar meu antigo vilarejo,†respondeu, a voz suavizando-se. “Não existe mais nada lá, só ratos, destruição, devastação.†Christian franziu a testa, percebendo a melancolia nas palavras dela. “O que é isso?†ele perguntou, notando o diário que ela segurava com firmeza.
Catarine hesitou por um momento, então, como se a simples menção ao objeto trouxesse à tona suas lembranças mais queridas, ela abriu um pouco mais a palma da mão. “Era meu diário… eu costumava treinar minha caligrafia nele.†“Diário? IncrÃvel, Cate, você sabe ler e escrever?†A curiosidade de Christian era palpável, e a admiração em sua voz fez o coração de Catarine aquecer, mesmo que por um instante. Ela assentiu, um leve brilho nos olhos, mesmo que as sombras de seu passado ainda a cercassem. “Era algo que eu fazia em segredo, porque estudar era proibido para as mulheres da minha aldeia. Eu escrevia sobre tudo — meus sonhos, minhas esperanças… o que eu via ao meu redor.â€
Christian observou a paixão em seu olhar, a conexão que ela tinha com suas palavras e seu passado. “Você deve se sentir tão orgulhosa de ter isso,†ele disse suavemente, mas a preocupação ainda não havia se dissipado de seu rosto. “Mas não pode sair sozinha de novo. O mundo lá fora… é perigoso.†“Eu sei,†respondeu Catarine, a voz um pouco mais firme. “Mas eu precisava ver, precisava entender de onde eu vim. O que aconteceu lá me lembra que preciso lutar — por mim e por todos nós.†Christian deu um passo à frente, seus olhos azuis fixos nos dela, buscando conforto e certeza. “Então, vamos lutar juntos,†ele disse, segurando suas mãos. “Você não está sozinha. Nunca estará.†O calor de sua presença e a determinação em sua voz trouxeram um sorriso mais genuÃno ao rosto de Catarine. “Sim,†ela murmurou, sentindo-se mais forte. “Juntos.†Assim, a nova aliança entre eles se solidificava, enquanto os ecos do passado e os desafios do futuro se entrelaçavam, mas a certeza de que juntos poderiam enfrentar o que viesse à frente os unia mais do que nunca.
Enquanto Catarine e Christian caminhavam juntos de volta para a cabana, o crepúsculo tingia o céu com tons de roxo e laranja. O ar estava fresco, e a floresta ao redor parecia sussurrar segredos à medida que os dois se aproximavam do lar que haviam construÃdo juntos. No entanto, a tensão da manhã ainda pairava sobre eles, e Catarine sentia a necessidade de compartilhar o que havia acontecido. “Christian,†ela começou, hesitando, as palavras pesando em sua mente, “eu… eu matei um vampiro.†A revelação caiu como uma bomba, e Christian parou abruptamente, os olhos se arregalando em choque e raiva. “Você matou um dos vampiros de Eros? Sozinha?†A incredulidade em sua voz era palpável, mas rapidamente deu lugar à irritação. “Mas que porra, Catarine! Você é minha mulher, não quero ver você correndo riscos desnecessários!†Catarine sentiu um frio na barriga. O tom de Christian a atingiu como um soco no estômago. “Não me trate como uma mulher fraca, Christian. Você nunca fez isso, não comece agora.†A firmeza de sua voz não conseguiu esconder a dor que sentia por trás das palavras. Ele cerrou os punhos, a frustração transbordando de seu semblante. Ele sabia que Catarine era uma guerreira forte, mas agora ela era sua esposa, e a simples ideia de perdê-la o aterrorizava. “Você agora é minha esposa, Cate, uma Sastre.†Ele afirmou, a imposição de seu novo sobrenome como um escudo, um sÃmbolo de proteção e compromisso. Catarine sorriu, um rubor subindo à s suas bochechas, um pequeno raio de luz em meio à tempestade de emoções que a cercava. Embora nunca tivessem se casado oficialmente em uma igreja, nem recebido a bênção de um padre, aquele momento era tão significativo quanto qualquer cerimônia formal. “Nós não nos casamos numa igreja ainda.†Ela argumentou. “Que se foda as tradições humanas,†Christian continuou, a intensidade de seu olhar cravada nos dela. “Você é minha esposa agora. É assim que é entre os lobos.†O peso das palavras dele a envolveu como um abraço apertado. A afirmação não apenas a fez sentir-se amada, mas também a lembrava da vida que agora compartilhavam, com todas as suas complexidades e perigos. Ela viu a determinação em seus olhos, a luta interna que ele enfrentava para equilibrar sua necessidade de protegê-la com o respeito por sua força.
“Eu quero lutar ao seu lado, Christian,†Catarine disse, sua voz suave mas cheia de firmeza. “Não posso me esconder atrás de você. Precisamos enfrentar isso juntos.†Christian respirou fundo, sua expressão suavizando-se um pouco. “Eu sei, e admiro sua força. Mas não posso evitar de me preocupar. O mundo lá fora é perigoso, e eu não posso perder você.†Ela estendeu a mão e segurou o rosto dele, seus dedos tocando suavemente sua pele. “Não me perderá, Christian. Nós somos mais fortes juntos.†As palavras dela foram como um bálsamo para sua alma agitada, e ele se inclinou para beijá-la, sentindo a conexão entre eles crescer ainda mais. Era uma promessa silenciosa de que enfrentariam os desafios do mundo juntos, não importando quão sombrios ou perigosos pudessem ser.
Durante o dia, o som da martelada de Catarine na forja ressoava pela alcateia, ecoando como um tambor de guerra. Ela estava imersa em seu trabalho, moldando metal com precisão, criando armas e armaduras para seus companheiros lobos. A necessidade se tornava cada vez mais evidente, pois os ataques constantes do clã de vampiros de Eros tornavam-se uma realidade indesejada. Era uma rixa antiga, marcada por um ciclo interminável de batalhas que sempre resultava em baixas de ambos os lados. A cada noite, quando o dia finalmente se apagava, Catarine se sentava à luz tremulante de uma vela, abrindo seu diário. Com a pena nas mãos, ela escrevia sobre suas experiências e sentimentos, registrando cada momento de sua vida como loba. As páginas se tornaram um testemunho da luta e da resiliência, uma forma de encontrar sentido em meio ao caos que as cercava. Certa noite, enquanto ela preenchia uma nova folha, Christian entrou na cabana, seu olhar carregado de preocupação. Ele se aproximou, observando-a com um sorriso suave, mas a sombra de preocupação ainda pairava em seu rosto. “O que está escrevendo, Cate?†Catarine fechou o diário, sentindo a familiaridade daquele momento. “Só... reflexões sobre o dia e o que está por vir,†ela respondeu, sua voz refletindo uma mistura de determinação e incerteza. “Eu simplesmente não entendo. Se Eros era amigo de infância seu e de Demétrio, por que o clã dele vive nos atacando?â€
Christian suspirou, a expressão no rosto dele se tornando mais grave. “É uma maldita batalha que dura há mais de mil anos. Demétrio e Eros estão sempre disputando poder... Eu sempre me vi como o elo mais sensato nessa velha briga entre os dois.†Ela balançou a cabeça, a confusão evidente em seu olhar. “São ataques... pequenos. Embora tenham baixas uma vez ou outra, não apresentam ameaças reais como os humanos.†Christian soltou uma risada amarga, reconhecendo a verdade nas palavras dela. “Isso eu também percebi. Eros e Demétrio nunca se machucam de maneira mortal. É como se... nossa velha amizade impedisse isso.†Catarine franziu o cenho, percebendo a ironia da situação. “Então, estamos presos em um ciclo de hostilidade que é mais sobre orgulho do que sobre a verdadeira luta pela sobrevivência?†“Exatamente,†ele respondeu, a frustração transparecendo em sua voz. “É uma dança antiga, e nós somos os que pagam o preço. Mas não podemos deixar que isso nos defina. Precisamos estar prontos para o que vier.†O olhar de Catarine se suavizou ao encontrar os olhos de Christian. Ela sentia o peso do mundo em seus ombros, mas também a força de sua conexão. “Juntos, sempre,†ela murmurou, a determinação brilhando em seu olhar. Ele sorriu, e nesse momento, as preocupações do mundo exterior pareciam um pouco mais leves, como se a união deles pudesse enfrentar qualquer tempestade que estivesse por vir.