“Ela é uma mortal. Um dia vamos perdê-laâ€, Eros disparou em uma noite, sua voz carregada de frustração enquanto se afastava da cama, cruzando os braços com raiva. O olhar dele estava fixo em Demétrio, como se esperasse que o lobisomem pudesse fazer algum tipo de milagre. “Mas será que você não consegue ficar um maldito século sem querer controlar tudo e todos ao seu redor, Eros?†Demétrio respondeu, o tom de sua voz tenso. “Nem todos são piões em seus joguinhos de manipulação!†Aiko, sentada na beirada da cama, olhou entre os dois, seu coração apertando ao ver a tensão crescendo. “Por favor, parem com issoâ€, ela pediu, sua voz suave, mas firme. “Eu não quero ser um fardo para vocês. Não quero que a imortalidade se torne o tema de nossas conversas.†Eros se aproximou, a expressão de desespero nos olhos. “Aiko, você não deseja a imortalidade? Você não deseja viver para sempre comigo e Demétrio?†“Não, Erosâ€, Aiko respondeu, sacudindo a cabeça. “Eu gosto de ser humana! Eu não quero ser nem um vampiro, nem um lobisomem! Minha vida, mesmo limitada, é preciosa para mim.â€
“Mas Aiko, você...†Eros começou, mas foi interrompido. “Chega, Eros, pare de forçar suas convicções na Aiko! Ela não quer! Apenas aceite isso!†Demétrio gritou, seu rosto contorcido em frustração. Ele se virou para Aiko, seus olhos suaves agora cheios de compreensão. “Você é perfeita do jeito que é, Aiko. E nós não vamos deixar que isso mude.†“Como você espera que eu aceite que ela vai morrer um dia?†Eros perguntou, sua voz um sussurro carregado de dor. “A ideia de perdê-la... é insuportável.†Demétrio deu um passo à frente, a tensão elétrica entre eles quase palpável. “Eros, você não pode simplesmente controlar a vida de Aiko como se fosse um jogo. Ela merece viver a vida dela, com todas as suas fragilidades e belezas. Isso não significa que nós não podemos amá-la ou proteger seu coração.†Aiko olhou para os dois homens, sentindo-se perdida entre eles, mas ao mesmo tempo forte em sua decisão. “Eu não quero que a imortalidade nos separe. Eu escolhi vocês dois por quem vocês são, não por suas vidas eternas. O que temos é real, e não preciso de mais nada além disso.†Eros respirou fundo, o desespero dando lugar a um reconhecimento doloroso. “Mas e quando você estiver velha e eu e Demétrio ainda formos jovens, poderosos? Isso vai nos destruir, Aiko. Eu não posso suportar a ideia de ver você murchar e partir enquanto nós permanecemos.â€
“Eros, isso não pode ser tudo o que importaâ€, Aiko respondeu, lágrimas começando a se formar em seus olhos. “Eu não sou um objeto a ser mantido em uma caixa de vidro. Eu sou uma pessoa, com a capacidade de amar e ser amada. Eu escolho amar vocês, e isso deve ser suficiente, não deve?†Demétrio colocou uma mão em seu ombro, oferecendo um conforto que Eros parecia não conseguir dar. “Você está certa, Aiko. O amor não é sobre controle ou posse. É sobre liberdade e aceitação. Aceitar o que é, e o que pode vir a ser.†Eros olhou para Aiko, seu coração dividido entre o amor que sentia por ela e o medo de perdê-la. “Se isso é o que você realmente deseja, então eu tentarei aceitarâ€, ele finalmente disse, a voz mais suave, mas ainda tensa. “Mas não será fácil.†“Eros, eu nunca vou deixar de te amarâ€, Aiko afirmou, seus olhos fixos nos dele, buscando um entendimento que ainda parecia distante. “E nem Demétrio. Nós somos um triângulo, um amor complexo, e isso é o que nos torna especiais.†Mas a verdade não desapareceu. A mortalidade de Aiko pairava sobre eles como uma sombra, e, a cada dia que passava, o inevitável se tornava mais real. Eles precisavam encontrar um equilÃbrio, uma maneira de amar um ao outro, mesmo quando o tempo parecia se tornar um inimigo implacável.
As brigas se tornaram uma constante na vida de Aiko, Demétrio e Eros, cada uma mais intensa e carregada de emoções do que a anterior. O tema central das discussões era sempre o mesmo: a mortalidade de Aiko, e Eros se tornava cada vez mais implacável. “Chega, Aiko!†Eros bradou em uma noite, sua voz cheia de urgência. “Eu não vou ficar parado vendo você envelhecer! Você só precisa beber meu sangue, ou Demétrio só precisa morder você em uma noite de lua cheia e pronto! Imortalidade!†Aiko cruzou os braços, a frustração crescendo dentro dela. “Eros, por que você não consegue entender? Eu não quero isso! Minha vida, com todas as suas imperfeições, é suficiente para mim!†Demétrio interveio, os olhos brilhando com uma mistura de preocupação e raiva. “Deixe ela em paz, Eros! Mas que merda! Você não vê como isso está a destruindo?†“Não! Eu não vou deixá-la em paz!†Eros retrucou, a determinação em sua voz como uma faca afiada. Ele andava de um lado para o outro, incapaz de se conter. “Você não sabe o que é ver alguém que você ama murchar e morrer. Eu não posso permitir isso!â€
“Eros, você está sendo egoÃsta!†Demétrio exclamou, avançando em direção ao vampiro. “Você está tentando impor suas crenças sobre Aiko! Você a ama ou a vê como uma posse? Não somos criaturas de controle, mas de amor!†“Amor?!†Eros gritou, a frustração transbordando em sua voz. “Se eu a amo, devo garantir que ela viva para sempre! Isso é amor, Demétrio! Não podemos simplesmente sentar e esperar que o tempo leve tudo isso dela!†Aiko sentiu as lágrimas escorrendo pelo rosto, a pressão emocional quase insuportável. “Vocês dois estão me sufocando!†ela gritou. “Eu não quero ser imortal! Não quero ser uma vampira ou uma lobisomem! Eu sou humana, e essa é a beleza da minha vida! O tempo pode ser cruel, mas eu escolho viver todos os momentos que me restam!†“Então você está disposta a aceitar a dor da perda? A aceitar que um dia não estaremos mais juntos?†Eros perguntou, a voz mais suave, mas ainda carregada de desespero.
“Eu aceito isso porque é a vida!†Aiko respondeu, firme em sua convicção. “A mortalidade faz parte do que somos. Amar não é só sobre o que queremos; é sobre respeitar as escolhas dos outros!†Demétrio, em um esforço para apaziguar a situação, levantou a mão. “Eros, você precisa parar de forçar isso sobre ela. Aiko sabe o que quer, e você não pode mudar isso.†Eros virou-se para Demétrio, os olhos cheios de dor. “Você pode não se importar, mas eu me importo! Eu não posso apenas ficar sentado aqui, esperando o inevitável. Não posso!†As discussões continuaram, cada uma mais acalorada do que a anterior. Eros não se contentava em aceitar a mortalidade de Aiko; ele estava obcecado, um cego lutador contra um destino que parecia inescapável. Aiko e Demétrio se uniram, mas, a cada batalha, a tensão entre eles aumentava. “Eros, você precisa entender que a vida de Aiko não é uma mercadoria a ser trocada ou manipuladaâ€, Demétrio insistia em momentos de calma, mas Eros estava irredutÃvel. “E eu preciso entender que isso não é apenas sobre você ou sobre mim. É sobre Aiko, e ela merece algo melhor do que apenas assistir sua vida passar diante de seus olhosâ€, Eros retorquia, o fogo da emoção queimando em seu interior.
Aiko se via no centro desse furacão emocional, tentando fazer com que os dois entendessem. “Por favor, parem de brigar por minha causa. O que eu mais quero é que vocês aceitem um ao outro e me aceitem como eu sou. Isso é amor verdadeiro, não é?†Mas, mesmo com seus apelos, a luta entre eles continuava, um ciclo interminável de amor, possessividade e dor, onde a mortalidade se tornava um desafio quase insuperável para o que deveria ser um amor eterno. As discussões entre Demétrio e Eros haviam se tornado um turbilhão emocional, mas tudo piorou dramaticamente quando a verdade veio à tona: Aiko estava grávida. A revelação pendia no ar, pesada e cheia de incertezas. “Grávida...? Uma humana... grávida de um vampiro e um lobisomem?†Eros murmurou, sua expressão uma mistura de incredulidade e desespero. “Mas... quem de nós...?†“E isso importa, Eros?†Demétrio interveio, seu tom firme. “Nós sempre fizemos amor juntos. Seja o que vier, essa criança será nosso filho. De nós três.â€
Eros passou a mão pelo cabelo, seu rosto contorcido em angústia. “Demétrio, você ficou louco? Isso... isso não pode acontecer! Um mestiço? O que isso significa? Você realmente acha que podemos criar um filho que não pertence completamente a nenhum de nós?†“Eros, por favor, se acalma!†Aiko disse, a voz trêmula, sentindo a tensão crescendo entre os dois homens que amava. “Me acalmar? Agora, além de lidar com o fato de que vou perder a porra da mulher que amo pra morte um dia, eu ainda tenho que pensar no que nós três fizemos?†Eros quase gritou, seus olhos lançando faÃscas de frustração. “Isso é um desastre esperando para acontecer!†Demétrio se aproximou, seus olhos ferozes. “Eros, se você falar mais alguma merda com a Aiko de novo, eu juro que...†“Que vai fazer o quê?†Eros desafiou, sua voz baixa e ameaçadora. “Nosso relacionamento já é uma bomba-relógio, e agora temos uma criança na equação. Você realmente acha que isso pode acabar bem? Essa criança será vista como uma aberração!â€
Aiko sentiu o peso das palavras de Eros, um nó se formando em seu estômago. “Vocês dois precisam parar!†Ela exclamou. “Essa criança é uma bênção, e nós precisamos enfrentar isso juntos, em vez de se atacarem um ao outro! Eu não quero que essa vida comece em meio a brigas e desentendimentos!†“Mas é exatamente isso que estou tentando dizer!†Eros retrucou, olhando para Aiko com desespero. “Não sabemos o que vai acontecer! Não sabemos como uma criança metade humana, metade vampiro, metade lobisomem será recebida. O mundo não é gentil com o que não entende.†“Ela será amada! Assim como nós três a amamos!†Demétrio afirmou, sua determinação firme. “Eros, você está focando demais no que o mundo pode pensar em vez de nos concentrarmos em nós. Aiko precisa de nós ao seu lado, não de dois homens em conflito.†“Você realmente acredita que essa criança terá uma vida normal? Que não será alvo de preconceito? Você é ingênuo!†Eros disparou, a frustração explodindo em sua voz. “E você é cego!†Demétrio respondeu, um rugido de raiva. “Eu não vou deixar você destruir o que temos por causa do seu medo! Essa criança é nossa, Eros! Nossa! E você precisa decidir se vai fazer parte disso ou não!â€
Aiko estava no meio de um campo de batalha emocional, suas emoções em ebulição. “Por favor, não briguem por mim. Eu escolhi vocês dois porque acredito que juntos somos mais fortes! Essa criança não é um fardo, mas uma nova vida, uma nova esperança. Não podemos deixar que nossos medos a afetem!†Eros olhou para Aiko, e pela primeira vez, a fraqueza apareceu em seu olhar. “Eu só... não quero te perder, Aiko. Eu não sei como lidar com isso. Não sei se sou forte o suficiente para ser um pai.†“Então, vamos aprender juntos,†Aiko disse, estendendo a mão para tocá-lo, seu toque suave e reconfortante. “Seremos uma famÃlia, mesmo que isso signifique enfrentar o desconhecido. Mas precisamos estar unidos, todos nós.†Demétrio respirou fundo, percebendo que a tensão entre eles precisava de uma resolução. “Eros, se você realmente ama Aiko, então precisa dar um passo atrás e confiar em nós. Não podemos deixar o medo nos dividir. Precisamos ser um time, não adversários.†A tensão no ar parecia estar se dissipando lentamente, mas as inseguranças ainda persistiam. “Eu... eu vou tentar,†Eros finalmente murmurou, sua voz hesitante, mas cheia de relutância. “Por você, Aiko. Eu não quero te perder.â€
“Eu também não quero te perder,†Aiko respondeu, seu coração cheio de esperança. “Vamos fazer isso juntos. A cada dia, um passo de cada vez.†A batalha interna ainda existia, mas a promessa de unidade era o que eles mais precisavam agora. Assim, com os corações pesados e as incertezas pairando, os três se viraram para o futuro, determinados a enfrentar o que viesse, juntos. O tempo passava, e o crescimento da barriga de Aiko se tornava cada vez mais visÃvel, simbolizando não apenas a nova vida que se formava, mas também o aumento da tensão entre os três. As brigas que antes eram meras discussões agora se tornavam intensas, repletas de acusações e inseguranças que ecoavam pela casa. Era uma noite particularmente tensa. As estrelas brilhavam acima, mas a atmosfera entre eles estava carregada. Demétrio e Eros estavam de pé um frente ao outro, a frustração e a raiva transbordando. “Saia da minha frente, Demétrio!†Eros gritou, seu tom feroz. “Eu vou transformar ela em vampira, quer ela queira, ou não!†“Se você encostar em um dedo de Aiko,†Demétrio respondeu, a voz grave e ameaçadora, “eu vou te rasgar no meio!†A adrenalina pulsava em suas veias enquanto ele se preparava para o confronto. Aiko, com a mão na barriga, sentiu o desespero crescer em seu peito. Ela não podia deixar que suas brigas chegassem a esse ponto. “Parem! Por favor, parem!†Aiko gritou, sua voz se elevando acima do tumulto. Mas suas palavras foram apenas um eco distante, perdidas no turbilhão de emoções. Ela se aproximou, desesperada, tentando separar os dois homens que amava. “Vocês não podem fazer isso!â€
Mas Eros estava implacável, sua determinação era uma tempestade. “Ela precisa de mim! Você não entende, Demétrio? Um dia, ela vai envelhecer e morrer! Eu não posso ficar parado e ver isso acontecer!†“Eros, você não pode decidir o que é melhor para ela!†Demétrio retrucou, os punhos cerrados, preparado para qualquer ataque que Eros pudesse desferir. “Aiko tem o direito de escolher o que quer para sua vida, e você não pode forçá-la a nada!†Aiko, sentindo a tensão crescer, fez um movimento em direção a Eros, colocando a mão em seu braço. “Eros, eu não quero ser vampira! Eu gosto de ser humana! Por favor, escute o que estou dizendo!†Mas ele a ignorou, focado apenas em Demétrio. A situação chegou a um ponto crÃtico quando, em um momento de raiva, Eros avançou, e Demétrio não hesitou em se defender. Os dois homens se lançaram um contra o outro, um tumulto de garras e socos, um duelo que parecia ter se intensificado em questão de segundos. “Parem!†Aiko gritou novamente, mas suas palavras caÃram em ouvidos surdos. Ela sentiu a urgência da situação e, sem pensar duas vezes, se colocou entre eles, os braços abertos em um gesto desesperado de proteção. “Por favor! Eu não quero que vocês se machuquem!â€
Mas a fúria de Eros era como um incêndio incontrolável. Ele empurrou Aiko para o lado sem querer, e Demétrio aproveitou a oportunidade, golpeando Eros com toda a força que tinha. Eros revidou, e os dois começaram a se rolar pelo chão, lutando como feras, enquanto Aiko se ajoelhava, apavorada. “Parem, por favor! Isso não vai resolver nada!†Aiko chorou, sua voz embargada. “Vocês estão se machucando por causa de mim!†A cena se desenrolava como um pesadelo, e, em meio à luta, Demétrio finalmente parou, ofegante, ao ver a dor nos olhos de Aiko. Ele não queria isso; ele não queria que ela visse o lado mais sombrio deles. “Chega!†Ele gritou, se afastando de Eros, que também se levantou, ofegante. “Isso é o que você quer, Eros? Isso é o que você quer que nosso filho veja? Dois homens brigando?†Eros hesitou, a raiva dando lugar à confusão e ao remorso. Ele parou, olhando para Aiko, cujos olhos estavam cheios de lágrimas. “Aiko... eu...†Aiko limpou as lágrimas, tentando manter a voz firme. “Eu não quero que vocês briguem. Eu não quero que nosso filho nasça em um ambiente assim. Precisamos encontrar uma maneira de resolver isso, de sermos uma famÃlia.â€
A tensão ainda pairava no ar, mas as palavras de Aiko pareciam ter um efeito. Eros e Demétrio trocaram olhares, a briga começando a se dissipar enquanto a verdade sobre o que realmente importava começava a se firmar. As emoções na floresta estavam à flor da pele, uma tempestade prestes a estourar. Aiko, Demétrio e Eros se enfrentavam, e a tensão havia atingido um ponto insuportável. Os olhos de Eros, antes cheios de paixão e amor, agora ardiam com uma mistura de ódio e desprezo. Ele se sentia traÃdo, como se o chão sob seus pés estivesse desmoronando.
“Se você não pode amar e desejar ficar conosco por quem Aiko é, Eros,†Demétrio disse, a voz firme, mas também carregada de dor, “então você não merece estar conosco!†As palavras atingiram Eros como um golpe, e ele retrocedeu, incredulidade se misturando à raiva. “Vocês... Vocês dois estão me deixando? Como... como ousam...†Ele mal conseguia processar a ideia de ser excluÃdo daquele vÃnculo que uma vez considerou sagrado. “Eros,†Aiko interveio, sua voz trêmula, mas decidida. “As brigas... isso... isso não é saudável para nosso filho. Ver vocês brigando todos os dias... isso está me destruindo!†A expressão de Eros se transformou em uma máscara de ressentimento. Ele se sentia encurralado, e a dor da rejeição começou a se transformar em rancor. “Mas eu sou o que você precisa, Aiko! Eu sou a única maneira de garantir a segurança de vocês!†“Já chega, Eros,†Demétrio disse, seu tom carregado de um poder crescente. “Eu não vou permitir que você continue fazendo Aiko sofrer. Vai embora, se não, eu vou te matar!â€
“Demétrio!†Aiko exclamou, mas a determinação em sua voz era clara. Ela sabia que algo precisava mudar, e que Eros não poderia continuar a fazer parte de suas vidas se ele não fosse capaz de aceitar Aiko como ela era. Eros sentiu que seu mundo estava desmoronando. Aquelas palavras ecoavam em sua mente, e a dor se transformava em uma tempestade de emoções negativas. O amor que ele sentia por Aiko agora se misturava com a traição e a raiva. Ele olhou para os dois, suas feições distorcidas pela raiva e pela frustração. “Então é isso?†ele disse, a voz carregada de amargura. “Vocês vão me jogar fora como se eu fosse um lixo? Como se o que eu sinto não significasse nada?†“Não é isso, Eros,†Aiko tentou dizer, mas a determinação em seus olhos dizia tudo. “Precisamos de paz. Precisamos de um futuro juntos, e você não pode aceitar isso.â€
Eros respirou fundo, a raiva fervendo dentro dele, transformando-se em um ódio corrosivo. Ele sentia como se estivesse sendo traÃdo por aqueles que amava. “Vocês dois vão se arrepender disso,†ele rosnou, seus olhos brilhando com um fogo intenso. “Vão se arrepender de me deixar fora.†Ele começou a se afastar, a dor pulsando em seu coração como um veneno. Cada passo que dava parecia pesado, como se estivesse carregando o peso do mundo nas costas. “Eu não preciso de vocês! Não preciso de vocês dois! Vou mostrar a vocês o que é viver sem mim!†Eros virou-se e desapareceu na escuridão da floresta de Hinode, carregando consigo a raiva e o rancor, deixando para trás uma nuvem de desespero. Aiko e Demétrio, mesmo aliviados, sentiam a sombra da perda e da dor se formando em seus corações. Eles haviam cortado Eros do trisal, mas a batalha ainda não tinha terminado.
No silêncio que se seguiu, Aiko se virou para Demétrio, lágrimas escorrendo por seu rosto. “O que fizemos?†ela sussurrou, a incerteza nas palavras refletindo a fragilidade do que estavam construindo. “Fizemos o que era necessário,†Demétrio respondeu, envolvendo-a em seus braços, a necessidade de conforto e união forte entre eles. “Agora precisamos nos concentrar em nós, e no nosso filho. Essa é a nossa nova realidade.†Eros caminhava pela floresta, cada passo pesado com um ódio visceral que pulsava em suas veias. O desespero e a traição o consumiam, e ele sentia a dor de perder Aiko e Demétrio como uma lâmina afiada cravada em seu coração. Ele estava cego por uma raiva incontrolável, e em sua mente, um único pensamento se repetia: se não pudesse ter os que amava ao seu lado eternamente, então eles não deveriam viver em paz. No dia do parto de Aiko, a atmosfera estava carregada de expectativa e nervosismo. Demétrio segurava a mão de Aiko firmemente, seu olhar fixo nela enquanto as dores do parto a atingiam em ondas. A equipe médica, uma combinação de profissionais experientes, se movia rapidamente ao redor, ajustando equipamentos e monitorando os sinais vitais. Aiko gritava de dor, cada contração mais intensa que a anterior, mas em seus olhos havia uma determinação indomável. Demétrio a encorajava, suas palavras suaves e firmes: “Você consegue, meu amor. Estamos quase lá.†“Demétrio, está doendo tanto!†Aiko gemia, seu rosto pálido, mas suas mãos apertavam a dele com força, buscando conforto na presença dele. O médico, com uma voz calma e autoritária, coordenava a equipe, pedindo que Aiko respirasse profundamente. “Você é forte, Aiko. Vamos lá, mais uma vez!â€
As horas se arrastaram, e a tensão aumentava. A equipe médica estava completamente focada, cada um desempenhando seu papel, desde a monitoração dos batimentos cardÃacos até a assistência direta no parto. O suor escorria pela testa de Demétrio enquanto ele observava Aiko lutar, sentindo sua própria impotência. Finalmente, com um grito agonizante, Aiko deu à luz ao primeiro bebê. O som do choro ecoou na sala, e um menino foi colocado nos braços de Aiko. Demétrio mal podia acreditar em seus olhos: um garotinho loiro, com olhos verdes brilhantes, tão parecidos com os dela. A felicidade inundou seu coração. “Aiko, ele é lindo!†Demétrio exclamou, suas emoções transbordando. Ele inclinou-se para beijar a testa da esposa e acariciar a pequena mão do bebê. “Qual será o nome dele?†Aiko sorriu, um brilho nos olhos apesar do cansaço. “A menina... que se parece tanto com você e com Eros... se chamará Naomi de Eternité...†Ela olhou para o menino nos braços dela. “E o menino... ele se chamará Kenji Takahashi.†Demétrio sorriu de volta, a felicidade invadindo o espaço entre eles. “Kenji e Naomi... são nomes perfeitos.â€
Mas, quando a alegria parecia estar em seu auge, uma sombra se aproximou da porta da sala de parto. Eros apareceu, a presença dele cortando a atmosfera de felicidade como uma lâmina. Aiko e Demétrio sentiram um frio percorrer a espinha, um misto de alÃvio e tensão ao vê-lo ali, mas o olhar de Eros era carregado de ódio, uma tempestade que prometia desgraça. “Eros...†Aiko começou, seu coração batendo mais rápido, mas as palavras ficaram presas em sua garganta. Demétrio ficou de pé, protetivamente à frente de Aiko e dos recém-nascidos, uma aura de alerta ao seu redor. “Vocês acham que podem ser felizes sem mim?†Eros rosnou, cada palavra impregnada de veneno. O ambiente que antes era de celebração se transformou em um campo de batalha silencioso, a tensão elétrica pairando no ar. Demétrio sentiu a adrenalina subindo, pronto para se interpor entre Aiko e a fúria de Eros. “O que você está fazendo aqui, Eros? Não precisamos de você!†Eros avançou um passo, seus olhos cintilando de ressentimento. “Você acha que pode roubar Aiko e criar uma vida com ela e esses... esses filhos? Você não sabe o que está por vir.â€
O semblante de Aiko mudou, a alegria do momento despedaçando-se diante da fúria incontrolável de Eros. E, enquanto a sala de parto se tornava um campo minado emocional, a felicidade de receber Kenji e Naomi estava prestes a ser ofuscada pela tempestade que Eros trouxera consigo. Demétrio respirou fundo, a determinação em seu olhar se intensificando. Ele sabia que precisava proteger sua famÃlia a todo custo, mesmo que isso significasse enfrentar o amor que um dia Eros havia sentido. A luta estava longe de terminar, e o que era para ser um momento de alegria se transformava em um confronto de desejos, ciúmes e amores complicados. A sala de parto, que antes transbordava com o milagre da vida, agora se tornava um cenário de terror absoluto. Eros, consumido por um ódio incontrolável, sentiu a raiva pulsando em suas veias, cada batida de seu coração ecoando o desejo de vingança. Com um movimento brusco de dedos, ele lançou sua fúria.
Um estrondo ensurdecedor preencheu o ambiente, e em um único gesto, a cabeça de cada membro da equipe médica explodiu em uma nuvem de sangue e carne. Os gritos agonizantes e os sons de choque foram rapidamente abafados, substituÃdos pelo silêncio mortal. Aiko e Demétrio olharam, horrorizados, enquanto o sangue espirrava e o caos se desenrolava ao seu redor. “Eros, não! Para com isso!†Aiko gritou, desesperada, seu coração despedaçado pela cena diante de seus olhos. “Eros, por favor, eu e Aiko amamos você!†Demétrio tentou interceder, sua voz tensa e cheia de dor. “Tarde demais para vocês dizerem que me amam!†Eros vociferou, a raiva consumindo-o. Ele apontou para Naomi, a garotinha ainda em braços de Aiko. “Essa criança... uma mestiça... Ela carrega meu sangue, eu estou sentindo isso! Essa... essa... coisa... esse erro... nosso relacionamento foi um erro. Vampiros, lobisomens e humanos nasceram para se odiar!!!†Com passos firmes e ameaçadores, Eros avançou em direção a Naomi. Demétrio, em um instinto protetor, se interpôs entre a filha e Eros. “Não! Você não a tocará!†Ele gritou, sua determinação ardendo intensamente.
Mas Eros, consumido por sua fúria, usou a força de sua mente e empurrou Demétrio como se ele fosse apenas uma folha ao vento. O lobisomem caiu ao chão, atordoado, sem conseguir se levantar a tempo para impedir o que estava por vir. “Eros, por favor!†Aiko implorou, sua voz tremendo enquanto a realidade se despedaçava ao seu redor. Mas já era tarde. Em um movimento cruel, Eros desferiu o golpe final, e Aiko caiu, a vida esvaindo-se de seu corpo, seu olhar vazio fixado em Demétrio. Com um grito de desespero, Demétrio se lançou para frente, mas não havia nada que ele pudesse fazer. Naomi também estava morta, seus olhos brilhantes apagando-se para sempre. O luto e a raiva se entrelaçavam em seu peito, e ele sentiu como se um buraco gigantesco tivesse sido aberto dentro de si.
Eros então, se voltou para Kenji, que ainda estava sendo segurado firme pelos braços mortos da mãe, inocente e indefeso. Demétrio, agora sem nada a perder, se lançou sobre o filho, envolvendo-o em seu corpo. “Não, Eros! Você não fará isso!†Eros hesitou, seu olhar gélido fixo em Demétrio. A intensidade da cena o cercava, a escolha que ele deveria fazer pairava no ar, e a raiva que antes o consumia agora era misturada com um pingo de dúvida. Ele olhou para Demétrio, e em seu rosto refletia a dor e a traição. “Você causou isso, Demi... você e... Aiko.†As palavras saÃram pesadas, como se um peso imenso estivesse pressionando seu coração. “Esse ai…esse ai só vai viver por ser humano!†Eros vociferou. “Vai embora daqui, Eros, eu não quero ver você... NUNCA MAIS!†Demétrio gritou, sua voz carregada de uma dor profunda e uma determinação inabalável. Eros, cercado por seu próprio ódio, virou as costas, saindo do que um dia fora um lar. Ele se afastou, deixando Demétrio em um mar de tristeza e desespero, um buraco enorme em seu peito onde antes existia amor. Aiko e Naomi estavam mortas, e o futuro que poderiam ter compartilhado havia se dissipado como fumaça, levando consigo os sonhos e esperanças que um dia foram tão vÃvidos. A solidão e o luto eram agora seus únicos companheiros.
Demétrio estava em um estado de devastação completa, seus sentimentos uma tempestade de dor e desespero. Ele se ajoelhou no chão do quarto de parto, segurando com força Kenji, o menino que agora era a única luz em meio à escuridão que o cercava. O bebê, ainda inocente e sem compreender a tragédia que acabara de acontecer, dormia tranquilamente nos braços de seu pai, ignorando a tragédia que se desenrolava ao seu redor. Os olhos de Demétrio estavam fixos nos corpos sem vida de Aiko e Naomi, a dor em seu coração mais intensa do que qualquer ferida fÃsica. Ele sentia como se o mundo ao seu redor tivesse desmoronado, cada respiração se tornava mais difÃcil de suportar. Aiko, sua amada, sua parceira, agora jazia ali, imortalizada em uma expressão de paz que contrastava com a turbulência que consumia sua alma. E Naomi, tão pequena e indefesa, também foi arrancada dele de forma cruel e definitiva. “Não, não, não...†ele sussurrou, a voz quebrada pela dor. As lágrimas escorriam pelo seu rosto, quentes e salgadas, enquanto ele pressionava o garoto contra seu peito, como se a força de seu amor pudesse trazer Aiko e Naomi de volta. Cada batida do coração de Kenji parecia um lembrete insuportável do que havia sido perdido. “Eu prometo, eu prometo que vou cuidar de você,†ele murmurou para o menino, sua voz um fio de esperança em um mar de desespero. “Você é tudo o que nos resta.â€
Demétrio sentia a necessidade de proteger Kenji com cada fibra de seu ser. O pequeno ser humano era agora seu único vÃnculo com Aiko, a única parte dela que ainda respirava. Ele pressionou o rosto do menino contra sua pele, como se assim pudesse transferir o calor da vida que agora faltava em sua vida. “Eu não posso deixar você ir, Kenji. Nunca,†ele sussurrou, seu coração pesado com a responsabilidade e o amor que preenchiam seu peito. O silêncio no quarto era ensurdecedor, cada segundo se arrastando em uma eternidade de dor. As lágrimas não paravam de fluir, uma torrente de luto e desespero. Ele se lembrava das risadas, dos momentos felizes que passaram juntos, das promessas de um futuro que agora estavam destruÃdas. Aiko e Naomi eram as estrelas de sua vida, e agora tudo o que restava era a escuridão que ameaçava engoli-lo. “Eu não sei como vou viver sem você,†ele falou em um sussurro, sua voz quase inaudÃvel, como se falasse para os corpos, como se Aiko pudesse ouvi-lo e retornar para ele. Mas não havia resposta, apenas o eco de sua própria dor. Ele se virou para olhar uma última vez para Aiko, para o rosto sereno que nunca mais veria acordar. E então, enquanto segurava Kenji, Demétrio fez uma promessa silenciosa: ele nunca deixaria que o legado dela se apagasse. O pequeno Kenji carregaria a história de sua mãe, e Demétrio faria de tudo para garantir que ele crescesse conhecendo o amor que Aiko e Naomi lhe haviam proporcionado. Mas a dor era quase insuportável, e naquele momento, Demétrio soube que a luta ainda não tinha terminado. Ele tinha que ser forte, não apenas por si mesmo, mas por Kenji, e pelo que Aiko sempre sonhou para eles. Com um último olhar para os corpos, ele virou-se, os pés pesados de tristeza, e começou a dar os primeiros passos em direção a um futuro incerto, determinado a honrar a memória de quem perdera. Demétrio estava mergulhado em um abismo de dor e perda. Cada dia que se passava era um lembrete doloroso da vida que havia sido brutalmente arrancada dele. Aiko, sua amada, a luz que iluminava seus dias, agora estava ausente, e com ela, a esperança de um futuro feliz. O vazio deixado por sua partida era como um buraco negro que sugava todas as suas forças, mas havia uma pequena chama que ainda ardia dentro dele: Kenji.
Ele olhou para o rosto do menino, que parecia ser um reflexo perfeito de Aiko. Os cabelos loiros, os olhos verdes, cada detalhe parecia sussurrar memórias de momentos felizes que agora se tornavam insuportáveis. Em meio à sua dor, Demétrio encontrava consolo em cuidar de Kenji, em segurá-lo em seus braços e saber que, apesar de tudo, ele ainda tinha uma parte de Aiko ao seu lado. “Eu vou cuidar de você, meu pequeno,†ele prometeu repetidamente, como um mantra que o mantinha firme em meio à tempestade de emoções que o envolvia. Cada vez que Kenji sorria ou fazia algum gesto inocente, Demétrio sentia uma onda de amor incondicional, um calor que aquecia seu coração gelado pela tragédia. “Você é tudo o que me resta.†Os dias eram longos e cheios de luto. Ele se encontrava perdido em memórias: as risadas de Aiko, o jeito como ela o olhava, o toque suave de suas mãos. A casa, que antes ressoava com alegria, agora parecia um eco vazio. Demétrio passava horas sentado em silêncio, segurando Kenji em seu colo, enquanto olhava para as fotos de Aiko na parede, cada uma delas uma faca cravada em seu peito. Ele se permitia chorar, a dor escorrendo pelo rosto, mas sempre se lembrando de que Kenji precisava dele.
A perda de Aiko era devastadora, mas a responsabilidade de ser pai o mantinha em movimento. Demétrio decidiu que nunca deixaria que Kenji sentisse a falta da mãe. Ele contava histórias de Aiko, falava sobre como ela amava a vida e tinha um sorriso que iluminava o mundo. Em cada gesto, ele tentava replicar a ternura que Aiko tinha, mesmo que não pudesse substituir a presença dela. Ele vestia Kenji com roupas que ela havia escolhido e o levava a lugares onde costumavam ir juntos, tentando manter viva a essência de sua amada. Mas a amargura não o abandonava. Ele sentia a falta de Eros, mas não de maneira que esperava. O que restou de Eros agora era um eco distante, um fantasma de um amor que havia se transformado em rancor. Depois do que aconteceu, Eros desapareceu da vida de Demétrio, fugindo de suas próprias emoções, carregado de ódio e dor. Demétrio sabia que a presença de Eros era uma chama que havia se apagado, e em seu lugar havia um desespero que o deixava ainda mais solitário. Com o tempo, ele aprendeu a lidar com a dor, mas o buraco deixado por Aiko nunca se fecharia. Em momentos de solidão, ele olhava para Kenji e prometia a si mesmo que o protegeria a qualquer custo. O menino se tornaria a razão de sua luta, e, no fundo de seu coração, Demétrio sabia que a memória de Aiko viveria através dele. Kenji era o futuro, a única esperança que ainda pulsava em sua vida. Demétrio se tornou uma fortaleza, decidido a criar Kenji com amor e força, apesar da dor que o consumia. E, enquanto o menino crescia, ele se certificava de que Kenji soubesse o quanto sua mãe o amava. Com cada dia que passava, a dor se tornava mais leve, mas a saudade permaneceria como uma constante. Ele respirava fundo, sentindo a mistura de amor e perda, e segurava Kenji um pouco mais perto, determinado a ser o pai que Aiko sempre sonhou que ele seria. Demétrio respirava fundo enquanto caminhava pelas ruas silenciosas de Hinode. A noite estava fria e calma, mas seu coração ainda era uma tempestade de lembranças dolorosas e decisões irrevogáveis. Ele tinha uma missão, uma última ação que significaria desligar-se do passado, de tudo que havia perdido e de tudo que jamais poderia ter de volta. Era um passo doloroso, mas necessário. Ele só pensava em Kenji, no futuro do filho, que precisava de paz – e paz era o que Demétrio jamais conseguiria lhe dar se continuasse preso às sombras que Eros havia lançado sobre suas vidas.
Ao entrar no pequeno e despretensioso bar local, seu olhar logo encontrou o homem que buscava. Yin de Eternité, embora famoso entre os que precisavam de novos começos, mantinha um perfil discreto. Ali, usava o codinome "Harlan," escondendo sua identidade com um ar calculado e frio, como uma sombra sempre atenta. Sentado no canto mais escuro, Harlan aguardava, já com um envelope pardo repousando sobre a mesa. Ao perceber a aproximação de Demétrio, levantou os olhos com uma expressão impassÃvel e lhe fez um sinal para se sentar.
Sem uma palavra, Demétrio acomodou-se diante do vampiro. Não havia trocas de gentilezas ou cumprimentos. Apenas a espera, carregada de intenções que ambos compreendiam. Harlan deslizou o envelope para Demétrio, e ele o abriu com mãos firmes, porém tensas. Dentro, estavam seus novos documentos, a chave para uma nova identidade, uma nova existência. “Akira Takahashi,†leu Harlan, sua voz ecoando o nome com um toque de aprovação calculada. Demétrio assentiu, a expressão dura e decidida. “Sim. Demétrio Rodrigues morreu junto com Aiko e Naomi,†disse, cada palavra carregando o peso de uma perda intransponÃvel, mas também a aceitação de que não havia volta. Ele sentia que precisava cortar todos os laços para poupar Kenji de qualquer futura ameaça que o passado pudesse trazer. Harlan inclinou-se, curioso. “E o garoto? Seu filho, Kenji? Como deseja registrá-lo?†Por um momento, Demétrio hesitou, mas logo a decisão veio com clareza. “Coloque-o como meu filho adotivo. Adotivo, e... a mãe dele….†Uma sombra atravessou o rosto de Demétrio ao lembrar do marido humano de Aiko, morto pelas mãos de Eros em um ato de puro egoÃsmo e rancor. “Coloque o nome do marido dela como pai,†ordenou, a voz carregada de uma firmeza inquebrantável.
A surpresa passou pelos olhos de Harlan, que, apesar de sua postura inabalável, não pôde evitar a pergunta que pairava. “Por que isso, Demétrio? Ou melhor… Akira?†Demétrio, agora Akira, respirou fundo, lutando contra as lembranças e a dor que ainda queimava em seu peito. “Kenji jamais deve saber sobre Eros… sobre mim… sobre nada disso. Ele é humano, e eu vou criá-lo longe dessa porra toda de vampiros e lobisomens.†A voz dele estava marcada por uma determinação que já não deixava espaço para dúvidas. Harlan assentiu em silêncio, respeitando o desejo de Demétrio – ou Akira – e o profundo peso daquela decisão. Naquele instante, ao ver seu novo nome no papel e sentir o adeus final ao passado, Akira selou sua própria promessa. Ele faria qualquer coisa para proteger Kenji, para garantir ao filho uma vida sem os horrores que tinham destruÃdo a dele.
O tempo transformou Demétrio em algo que ele próprio jamais imaginou ser. Sob o nome de Akira, ele passou a nutrir uma dureza inflexÃvel, uma amargura que se refletia nos olhos firmes e na expressão fria que ele carregava como uma segunda pele. Longe de enxergar em Kenji uma chance de redenção, Akira via o filho como alguém que precisava ser moldado para nunca sofrer as dores que ele próprio havia experimentado. Contudo, essa “proteção†disfarçava uma sede de controle, uma maneira brutal de impor a visão do que Akira acreditava ser “força†e “resistência.â€
Desde pequeno, Kenji foi submetido a um treinamento extenuante. Akira não o poupava nem por um momento, fosse emocional ou fisicamente. A cada falha, a cada hesitação do garoto, Akira respondia com palavras afiadas e gestos rudes, como se temesse que qualquer sinal de fraqueza pudesse transformar Kenji em algo que ele próprio odiava. Para Akira, Kenji precisava aprender a ser impiedoso, e isso incluÃa ensinar o menino a manejar armas com precisão e frieza. Quando Kenji, com apenas sete anos, se viu incapaz de atirar em um cervo – a súplica silenciosa de seus olhos refletindo sua inocência –, Akira respondeu com uma repreensão severa e fria. A palmada pesada que ele deu no filho ecoou não apenas pelo campo, mas dentro do coração de Kenji, marcando uma cicatriz profunda que o acompanharia por toda a vida. No aniversário de oito anos de Kenji, enquanto crianças normais ganhavam brinquedos ou livros, Akira presenteou o filho com uma Magnum 357, uma arma pesada para mãos tão pequenas. “Seja homem de verdade,†Akira murmurou com severidade, vendo no olhar assustado do filho a necessidade de quebrar qualquer traço de delicadeza ou bondade que ele acreditava ser uma fraqueza. A obsessão de Akira pelas armas e por treinar Kenji a manuseá-las se tornou a única forma de conexão entre eles, ainda que essa conexão estivesse envenenada pela dor e pela intolerância.
Foi em uma tarde de verão, uma daquelas em que o ar quente parecia pulsar contra a pele, quando Akira viu algo que o deixou furioso. Kenji, com treze anos, sorria tÃmido e desajeitado para um amigo que estava ao seu lado. O garoto, de olhos gentis e cabelos desgrenhados, parecia tão envergonhado quanto Kenji, mas ambos se encorajaram por um instante, e num impulso, se aproximaram, trocando um beijo rápido, carregado da inocência e nervosismo tÃpicos da idade. Akira observou a cena de longe, e o choque se transformou rapidamente em uma fúria visceral. Marchando em direção a Kenji, ele agarrou o filho pelo braço com uma força que causava dor e, sem dizer uma palavra, o arrastou para dentro de casa, trancando a porta atrás de si. Seu rosto estava contorcido de raiva, e seus olhos, normalmente frios, queimavam com uma intensidade que Kenji nunca havia visto.
“Então é isso?†Akira disparou, a voz carregada de desdém. “Eu te crio para ser um homem, para ser forte, e você me aparece... com isso?†Ele apontou na direção do portão, onde o amigo de Kenji havia corrido, assustado com a reação de Akira. Kenji tentou argumentar, mas as palavras morreram em sua garganta. Sentia medo e vergonha, uma vergonha que Akira insistia em tornar maior a cada insulto que disparava. “Se eu ver você com outro macho,†Akira grunhiu, aproximando o rosto do dele, a voz carregada de uma violência fria, “eu te arrebento os dentes.†As palavras feriam tanto quanto o aperto bruto que Akira mantinha no braço de Kenji. Ele mordeu o lábio, tentando conter as lágrimas que ameaçavam escorrer. Ele sabia que demonstrar qualquer sinal de fragilidade só pioraria a situação. Akira o soltou finalmente, mas o olhar de desprezo não cessou. “Eu já disse antes. Homens não são fracos. Homens não choram. E você... você não vai me envergonhar assim de novo.†As palavras saÃram cheias de amargura, como se cada sÃlaba fosse um golpe, e Kenji absorvia tudo em silêncio, sentindo-se afundar na própria vergonha e no peso das expectativas distorcidas do pai. Ele nunca mais se permitiu mostrar essa parte de si. Aquela tarde, a promessa de Akira ecoou como um lembrete constante, um temor que Kenji carregaria, moldando sua personalidade e escondendo, cada vez mais fundo, quem ele realmente era.
E com o passar do tempo, essa amargura que Akira carregava também se manifestava de formas mais sutis, mas igualmente destrutivas. Kenji, que era um garoto sensÃvel e gentil, encontrava-se constantemente pisoteado pela insistência do pai em reforçar uma “masculinidade†rÃgida e hostil. Akira, movido por uma homofobia que mais parecia auto-ódio e arrependimento, repreendia qualquer traço de vulnerabilidade que Kenji deixasse transparecer. Era como se, ao punir o filho, Akira tentasse purgar as próprias cicatrizes que Eros havia deixado. Assim, Kenji crescia rodeado pelo peso de ser moldado contra sua própria natureza, carregando um arsenal de armas e uma carga ainda maior de mágoas e feridas, enquanto Akira se afundava cada vez mais na própria amargura. Suas frustrações e rancores, agora espelhados em Kenji, tornavam-se a única lembrança viva do passado que ele tanto desejava esquecer, mas que, ironicamente, insistia em reviver através das sombras do filho.
Akira observava seu filho com um orgulho que beirava a euforia. Kenji, agora com dezesseis anos, havia se transformado em um jovem que refletia mais do que nunca as expectativas e a rigidez que o pai havia imposto. O que antes era um garoto doce e sensÃvel, agora era conhecido como o “badboy da escolaâ€, cercado por uma aura de indiferença e rebeldia que atraÃa a atenção de todos, especialmente das garotas. Akira via isso como uma vitória, um sinal de que sua criação estava dando frutos. Era uma tarde ensolarada quando Akira avistou Kenji do outro lado do parque, cercado por três garotas que riem e sussurram entre si. A visão fez seu coração se encher de orgulho. Ele se lembrou de como lutara para moldar o filho em algo que considerasse um verdadeiro homem, e ali estava Kenji, com o olhar confiante e um sorriso desafiador, impressionando a todos com sua presença. “Seja homem, Kenji,†Akira pensou, sentindo um impulso de se aproximar. Ele queria gritar essas palavras em alto e bom som, para que todos ao redor soubessem que Kenji era seu filho e que, sim, ele era tudo o que Akira sempre quis que ele fosse. “Se você gosta da garota, chega nela e fala. Conquiste-a.†Kenji lançou um olhar para o pai, um misto de reconhecimento e determinação. Akira sorriu, acreditando que, finalmente, estava guiando seu filho na direção certa. Kenji se aproximou das garotas, e Akira pode ver a confiança em sua postura. Ele se sentia como um treinador em um jogo decisivo, assistindo enquanto seu pupilo se preparava para marcar um gol. “Sim, senhor...†Kenji respondeu, quase como um eco das instruções que seu pai sempre lhe dera. As palavras saÃram de sua boca com um tom que indicava tanto a vontade de agradar quanto a necessidade de se mostrar forte. Mas, por trás daquela fachada de confiança, Kenji sentia-se sufocado. As expectativas de seu pai pesavam em seus ombros, e a ideia de se encaixar em um molde que nunca foi feito para ele tornava cada passo mais difÃcil. Ele se lembrava das conversas que não poderia ter, dos sentimentos que não podia expressar. O desejo de ser aceito pelo pai era tão forte que ele engoliu a verdade de sua própria identidade, escondendo-se sob uma persona que Akira considerava ideal.
Ao conquistar a atenção das garotas, Kenji sentia um misto de euforia e vazio. Ele percebeu que, para seu pai, cercar-se de meninas era um sinal de sucesso, uma prova de masculinidade. O coração de Kenji ansiava por algo diferente, mas ele nunca se permitiria explorá-lo. Então, ele abraçou a persona do badboy, mergulhando em hábitos autodestrutivos para se sentir vivo — a fumaça do cigarro que ele acendia escondido, a tequila que bebia em silêncio, tudo se tornava um escape. Akira, alheio ao que realmente se passava na mente de seu filho, apenas via o que queria ver: um jovem que seguia o caminho que ele havia traçado. E Kenji, em busca de aprovação, continuaria a lutar contra sua verdadeira essência, enquanto os ecos do passado de Akira e suas próprias inseguranças moldavam seu presente.
Era uma noite de lua cheia em Hinode, uma daquelas noites mágicas em que o brilho prateado da lua banhava a floresta em uma luz etérea. Taishou Seiji sempre aproveitava esses momentos para se conectar com seu filho, Caleb. No entanto, naquela noite, ele se distraiu ao passar por uma lojinha para comprar suprimentos para a cabana. Com as sacolas pesadas em mãos, seus passos estavam apressados, e uma sensação crescente de urgência pulsava em seu peito enquanto caminhava pelas ruas quase desertas. O tempo parecia escorregar entre seus dedos, e a transformação que ele tanto temia se aproximava. Era uma batalha constante entre o homem e a besta que habitava dentro dele, e a meia-noite era o ponto crÃtico onde essa luta se tornava insuportável. Subitamente, seu nariz se ergueu em direção ao céu, e algo o fez parar abruptamente. O ar estava impregnado de um aroma familiar que fez seu coração disparar. Era um cheiro que ele não sentia há muito tempo, uma mistura de nostalgia e preocupação que o envolveu. Ele fechou os olhos, tentando identificar a essência, permitindo que o vento trouxesse a fragrância mais perto. Era inconfundÃvel: uma combinação de terra molhada, folhas secas e uma suavidade doce que fazia seu coração acelerar.
“Não… não pode ser.†Ele largou as sacolas no chão, o leite derramando e os ovos quebrando, e correu em direção ao cheiro. “ImpossÃvel.†Correndo pelas ruas da cidade vazia, o cheiro era inconfundÃvel, quase como um chamado. Era o cheiro dela, da sua esposa, da mulher que ele havia perdido em uma fogueira há setecentos anos. “Catarine!†Ele gritou em sua mente, enquanto a adrenalina pulsava em suas veias, transportando-o para um passado repleto de amor, dor e perda. A imagem de Catarine surgia em sua mente, vibrante e intensa, como se ela estivesse ao seu alcance. Os ecos de suas risadas e o calor de seus abraços misturavam-se à frieza da noite, criando um turbilhão de emoções que o impulsionava a seguir adiante. “Catarine!†Ele chamou novamente, sua voz ecoando pela noite silenciosa, mesclando-se ao sussurro do vento. O aroma o guiava como um farol na escuridão, e ele se permitiu seguir aquela trilha que parecia um milagre. A cada passo, as lembranças se tornavam mais vÃvidas — os momentos de felicidade, as promessas sussurradas sob a lua cheia e a dor insuportável de sua perda. A transformação estava próxima, mas a urgência que sentia agora era muito mais intensa. Ele precisava descobrir a origem daquele cheiro, precisava saber se havia uma chance de recuperar o que havia perdido. Sua mente estava repleta de esperanças e dúvidas, uma batalha interna entre o desejo de reencontrar sua amada e o medo do que isso poderia significar.
Ao se aproximar de uma casa, a fragrância tornava-se mais intensa, preenchendo-o com uma mistura de nostalgia e dor. O coração dele pulsava com força. Era o cheiro de Catarine, sua esposa falecida. Como poderia ser possÃvel? Ele se aproximou da janela, o coração acelerando a cada passo. O que viu fez seu mundo girar. A jovem que estava ali, em pé ao lado da janela, era uma cópia exata de Catarine. Os mesmos cabelos longos e castanhos, a mesma pele pálida, as mesmas sardas que ele tanto amava, e aqueles olhos cor de mel que brilhavam com uma intensidade que o paralisou. Ela exibia a mesma fragilidade, a mesma beleza que ele havia adorado. Como isso poderia ser real? O choque o envolveu, e sua mente lutou para entender o que estava acontecendo. A transformação começava a dominá-lo; os pelos brancos estavam se formando em sua pele, e seus olhos negros mudavam para uma cor carmesim. “Catarine…†Ele murmurou para a jovem, até ser surpreendido por um flash de uma câmera. “Aquela garota… fotografou ele?†Seu instinto lupino tomou conta, e ele correu em direção à casa. Sua mente gritava: “Catarine!†Ele conseguiu ver a jovem fechando as cortinas rapidamente, mas não desistiria facilmente. Com movimentos ágeis e precisos, pulou na parede da casa, suas garras afiadas arranhando a superfÃcie de tijolos com um som agudo. Em segundos, estava na altura da janela do quarto, seus olhos fixos nos dela. Ela estava paralisada de medo, incapaz de se mover ou gritar.
Taishou a encarou, um misto de incredulidade invadindo seu corpo. Ele sentia a necessidade de se aproximar, de tocá-la e confirmar que não era apenas uma ilusão. Mas o medo o segurava. E se ela não fosse quem ele pensava? E se ele estivesse se enganando? Mas o cheiro era inconfundÃvel, e a aparência dela o deixou em um estado de êxtase e desespero. A voz suave que escapou de seus lábios o fez estremecer, como se Catarine estivesse ali, viva novamente. Essa ideia era ao mesmo tempo um conforto e uma tortura. "Quem é você?" a jovem perguntou, sua voz ecoando do passado. A confusão tomou conta de Taishou, e ele hesitou, perdido na lembrança da vida que uma vez teve. A criatura que se tornara queria se aproximar, mas o homem que ele havia sido desejava respostas. Ele não conseguia decidir entre o impulso de se revelar e a necessidade de se proteger. Estendendo a mão, tocou delicadamente o queixo dela, sentindo a suavidade da pele sob seus dedos. O toque trouxe uma onda de emoções, lembranças de carÃcias e promessas feitas em um tempo distante. "Seu cheiro... Ele me trouxe até aqui... É familiar para mim," ele murmurou, a voz trêmula.
"Mas do que você está falando? Quem é você?" Ela parecia assustada, e isso o atingiu como um golpe. Ele queria confortá-la, explicar que não era uma ameaça, mas as palavras falharam em sair. O que estava acontecendo? Como aquela garota poderia ser tão semelhante à sua esposa? Ele a observava, absorvendo cada detalhe, cada nuance que fazia seu coração disparar. A frustração começou a se infiltrar em seus pensamentos. O desejo de entender a verdade lutava contra a necessidade de se afastar, de não a assustar mais. Com um último olhar intenso, ele recuou lentamente, lutando contra o impulso de permanecer. A jovem o observava com uma mistura de medo e curiosidade, e ele sentiu a dor da perda cortá-lo novamente. Ao saltar pela janela e desaparecer na escuridão, a confusão o acompanhou. Quem era aquela jovem? E por que ela era a imagem de Catarine? Enquanto se afastava, seu coração se apertava, sua mente um turbilhão de perguntas sem respostas. Uma coisa era clara: aquele cheiro, aquele cheiro era de fato de Catarine.
Enquanto Taishou desaparecia na escuridão, sua mente ainda fervilhava com a imagem da jovem e as perguntas que a cercavam. Quem era ela? E como era possÃvel que ela se parecesse tanto com Catarine? A dor da perda ainda o acompanhava, mas agora havia uma faÃsca de esperança acesa em seu peito. Ele parou por um momento na beira da floresta, o vento sussurrando entre as árvores, e olhou para trás na direção da casa, onde a silhueta da jovem desaparecia na penumbra. O cheiro ainda pairava no ar, entrelaçado com as memórias de um amor perdido e promessas quebradas. “Se apenas eu pudesse descobrir a verdade...†murmurou para si mesmo, sentindo o peso da transformação. A luta entre sua natureza humana e animal se intensificava, mas uma nova determinação começou a tomar forma em seu coração. Ele não desistiria. A busca pela resposta o levaria a lugares que ele nunca imaginou, e ele sabia que, de algum modo, o destino de sua amada estava interligado ao mistério que acabara de descobrir. E assim, enquanto a lua cheia brilhava sobre Hinode, uma nova jornada se iniciava. Um caminho que levaria Taishou Seiji a reencontrar não apenas a mulher que amava, mas também a si mesmo.
Para descobrir o que acontece a seguir, o leitor é convidado a acompanhar Taishou em "Akane: A Luz que Rompe a Escuridão da Eternidade", uma história repleta de mistérios, reencontros e a luta eterna entre o amor e a perda. Prepare-se para adentrar um mundo onde a luz e a escuridão se entrelaçam, revelando segredos que podem mudar tudo.