Entre a madrugada silenciosa e o café amargo, nasce a rotina invisível do escritor. Há dias em que as palavras fluem como um rio impaciente, rompendo barragens internas, e outros em que cada frase parece uma rocha a ser esculpida com unhas e paciência. O escritor vive entre extremos: o êxtase de uma ideia que chega inteira, como um presente dos deuses, e o deserto de semanas em que até o próprio nome parece mal escrito.
As primeiras conquistas — um texto publicado, um elogio inesperado, o convite para uma antologia — brilham como medalhas no peito de quem sempre batalhou contra a própria descrença. Mas esse brilho convive com o peso das recusas, das leituras silenciosas que não rendem aplausos, dos dias em que o mundo parece não ter lugar para mais um livro.
Escrever é um ofício de fé. Fé na história, fé na própria voz, fé de que alguém, em algum canto, será tocado pelo que você colocou no papel. É caminhar sobre a corda bamba entre a necessidade de criar e a urgência de sobreviver. É expor feridas para transformar dor em beleza.
E você, que lê estas linhas, já pensou no que significa entregar anos de vida a um punhado de páginas? Já sentiu o peso de um sonho que insiste em existir, mesmo quando o resto do mundo diz para desistir?
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