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RAFAEL ARAUJO

RAFAEL ARAUJO

Ativo Poeta, Contista e atualmente novelista

Signo no Universo em Órbita:

Costuméritus

RAFAEL ARAUJO
RAFAEL ARAUJO @rafaelaraujoescritor

A fábula da Libélula e a raposa

O bambolê que girava na cintura da moça bonita conquistara o coração do bad boy, que a admirava enquanto fumava um cigarro, sentado no capô do conversível vermelho.
Na estica, o bad boy a convidou para sair, e, desse encontro, surgiu um romance quase natural.
A moça bonita, que adorava adornos e o vestido branco que marcava a cintura, aos poucos tornava-se a fraqueza do rapaz, que vivia apenas nas madrugadas.
A moça bonita que um dia girava bambolê na praça já não se vestia como Marilyn Monroe, pois não conseguia maquiar, com pó de arroz, as marcas deixadas em seus lindos braços.
Aquele sorriso que encantava a todos ficara congelado no passado, enquanto a tristeza se tornara seu sorriso de ponta cabeça.
Houve um dia em que o bad boy não resistiu ao passo da moça que um dia fora feliz, e a trancou no quarto.
Mas, no incêndio aceso por seu cigarro, a bailarina que girava o bambolê na cintura, radiante, deixou de ver o sol nascer.
E o bad boy, que por muito pouco tempo enxergara o sol quadrado, reiniciava a fábula do príncipe que virara sapo.

© 2025 Rafael Araujo

RAFAEL ARAUJO
RAFAEL ARAUJO @rafaelaraujoescritor

As palavras têm um poder tão avassalador que podem:

Te fazer sorrir como quem recebe aquele abraço e o colo quente da mãe;
ou chorar como quem abraça a própria ausência.
Te ferir como lâminas invisíveis que cortam até a mais fina camada da alma;
ou te curar como o bálsamo que alivia toda dor que te aflige.
Despertar o amor como quem se apaixona à primeira vista;
ou o ódio, que suga até o cerne da tua existência.
Trazer a guerra como quem profere discursos infames e tortuosos;
ou a paz, num simples pedido de perdão.
Salvar uma vida que está pendurada por um fio de seda;
ou condená-la, como quem é empurrado para o abismo sem fim.
Te aprisionar como quem não quer que você enxergue com lucidez;
ou te libertar, como a luz do farol que guia os navios em meio à escuridão e à neblina densa que engole a visão.

© 2025 Rafael Araújo

RAFAEL ARAUJO
RAFAEL ARAUJO @rafaelaraujoescritor

Nada Além de Você apresenta em sua narrativa um thriller psicológico, onde a verdade é subjetiva e as mentiras parecem mais reais do que a própria verdade. No meio de tantos segredos, manipulações e relações conturbadas, o fotógrafo Mateus, a mimada Júlia, o empresário Felipe e o psicólogo Rafael se envolvem em um jogo perigoso, onde ninguém é exatamente quem parece ser.
© 2025. Rafael Araújo. Nada Além de Você.

RAFAEL ARAUJO
RAFAEL ARAUJO @rafaelaraujoescritor

Mulher
Tu és a flor que torna qualquer jardim mais vivo
e o espinho que fere as mãos de quem tenta despedaçar-te.
Assim como o sol tu brilha forte mesmo em tempo de eclipse
e és como o arco-íris que representa a esperança.

Tu és mãe, avó, tia, filha, irmã e prima.
A professora, a doméstica, a escritora, a advogada, a motorista, a atriz, a médica, a vendedora, a cientista, entre muitas outras mil profissões
e cada uma conquistada com muita determinação.

Tu és força e resistência.
As guerreiras lendárias que não fogem ou se encondem da batalha.
A rainha que o mundo precisa aprender a se curvar com respeito.

De Rafael Araújo
Poesia - Projeto: Almanaque da Poesia Livre

RAFAEL ARAUJO
RAFAEL ARAUJO @rafaelaraujoescritor

O Soneto das Máscaras

Eis que eles ainda estão aqui presos em indagações que se julgam no direito de proferir: ― Para quê? Por quê?

Essas questões são abstratas e servem como um refúgio, onde eles esperam encontrar a salvação de um abismo criado por sua imaginação voraz.

Todos esses adúlteros inconformados não fazem ideia de que a roda sempre existiu e permanecerá igual mesmo que a mudança aconteça. Esta naturalidade que tanto buscam já não é mais natural.

Seria mais fácil se eles seguissem o roteiro planejado para não perder tanto tempo de sua simples e humilde realidade. Afinal, a única certeza que existe é que tudo já está definido e ninguém pode fugir do seu destino.

― Para todo efeito, eles são o que nós queremos que sejam.

No entanto, nem todos são iguais, pois existem aqueles que transcendem em um sentido mais amplo da realeza e esses pertencem à aristocracia da majestade. Eles são bem diferentes dos seres inferiores que só buscam questionar a ordem natural do sistema.

Esses, por sua vez, até tentam incorporar sua revolta em gritos ecoantes, mas sempre vão escutar a mesma resposta: ― Porque sempre foi assim e pronto!

Afinal, não precisa lutar contra aquilo que se mostra verdadeiro, tampouco desejar algo tão irreal quanto os sonhos, pois tudo ficará mais evidente quando finalmente compreenderem o nosso papel: — Sou o espelho que preenche o vazio do rosto de quem deseja ser mais do que um simples plebeu nem um bobo da corte.

Prosa Poética - Projeto: Sons, Vozes e Silêncio

RAFAEL ARAUJO
RAFAEL ARAUJO @rafaelaraujoescritor

O Soneto de um Plebeu

Paralisado, quase em pranto, envolto pela poeira, na aurora de mais um dia, enquanto o sol ainda hesitava em nascer, eu ficava para trás, apesar da promessa de nunca abandonar aqueles que um dia jurei não deixar sozinhos.
Não era algo eterno, embora meu comprometimento parecesse ser para sempre; eu me consolava sabendo que, ao entardecer, enquanto o sol punha-se lentamente, retornaria para enxugar as lágrimas do pequeno.
No meio do nada — que para mim era nada, mas para os grandões coroados com aço e ouro era muito — eu cavava a terra com ferramentas de ferro, alimentando a esperança de que, ao menos, houvesse pão na mesa todos os dias.

― Por que será que tantos têm tão pouco?

As palavras da velha mais sábia da vila indicavam que, por vezes, era do pouco que mais se podia ter. No entanto, todos anseiam por mais do que lhes é dado.
Suor, dor, fome e fraqueza... esses eram os ingredientes que sustentavam a vida de um plebeu.

― Minha obrigação, não é mesmo? Pelo menos era isso que o arauto sempre dizia. E os cobradores de impostos eram a confirmação.

Afinal, nasci e cresci para isso. Se fosse diferente, a vida seria como saborear as pétalas de uma rosa amarela, suave e fresca, e beber o sumo dos lírios brancos.

― Sou apenas um plebeu, alimentando-me das marmitas de ferro, com pão duro e, com sorte, água. Caso contrário, apenas água para sustentar o dia cansativo de tanto caminhar.

Às vezes, sob o sol escaldante, viajo entre os muitos pensamentos, que é a única coisa que não podem nos cobrar. Nessas reflexões sobre o tempo e sobre o que poderia ter sido diferente, vêm-me à mente lembranças que ainda pairam como devaneios que nunca se concretizaram.
Longe dos ouvidos afiados do grande e respeitado arauto, posso afirmar que, como plebeu, sou a peça fundamental desse moinho.

― Contudo, não sou o juiz!

No fim da tarde, com o dia quase coberto pela escuridão, as notas de silêncio ecoam alto sobre as balanças repletas de coroas e tesouros escondidos que um dia ajudei a encontrar. Desse silêncio, compreendo que minha vida, tal como é, é minha. Por mais dura que ela possa ser, tento ser feliz e me alegrar, mesmo carregando no calcanhar as marcas dolorosas de um dia cansativo.

Prosa Poética - Projeto: Sons, Vozes e Silêncio