Ao ver que acordei, minha filha aciona a campainha para chamar a enfermaria, ainda exaltada, chega ao lado do leito e me pergunta?
– Acordou? Tá tudo bem?
–Oi??? Respondo quando paro de tossir.
Pergunto sem entender o que estava acontecendo, olho para ela, depois olho para as mangueiras presas em meu corpo, olho em volta e me dou conta que estou em uma cama de hospital, levanto o braço e fico olhando para o acesso do soro no braço esquerdo e pergunto?
– Ué? O quê aconteceu? Por quê estou aqui?
– Tu tava dormindo e não queria acordar. Responde ela com olhos levemente marejados.
Nisso, chega uma enfermeira e fala:
– O moço acordou então? Está tudo bem seu Luís?
Respondo que sim, meio automaticamente, ainda sem entender o que estou fazendo ali.
-Vamos tirar só a sonda de alimentação, o soro e o equipamento vão continuar ligados até o doutor vir te avaliar. Avisa ela.
Olho para Liza ainda sem compreender o que tinha acontecido, não vejo nada de diferente no meu corpo, nenhuma dor, nenhuma parte faltando, nenhuma parte quebrada… questiono:
-E tua mãe e a Mimu?
-Mamãe tá em casa descansando, ela ficou a noite aqui, e a Mimu, veio comigo aqui meio-dia e foi levar a tia Jan (Janna) para casa, deixa eu avisar a mamãe que tu acordou.
-O quê? A Mimu foi dirigindo levar a tia Jan sozinha? Pergunto abismado, pois Michaele, até então, ainda não havia dirigido sozinha.
-Sim, os tios não puderam vir e a tia falou que ia indicando o caminho.
Ela falava enquanto liga para o número da sua mãe, escuto o som da chamada que toca e toca por diversas vezes, sem que ela atenda.
– Ainda deve estar dormindo, vou mandar mensagem, espera, vou tentar falar com a Mimu.
Dizendo isso, ela liga para a irmã, que por incrível que pareça, atende.
-Oi, Mimu, avisa a mamãe que o papai acordou… sim está bem… diz pra ela vir logo… NÃO! Vai logo. Tchau!
Desliga o telefone e começa a digitar no grupo da família:
GRUPO, FAMÍLIA 🎪 🎊.
Liza: “O belo adormecido acordou e está bem.”
Tio Je: 🙏 🙏 🙏
Tia Jan: precisa alguma coisa? Precisa que vá ai?
Liza: acho que não, avisei a Michaele e mamãe já deve estar vindo.
Tio Jonnes: 👍
Tia Zefa: 👏 👏
Tio Geraldo: Quem foi o príncipe que deu beijo? Kkkkk
🤣🤣🤣🤣
…
Nesse tempo a enfermeira termina de retirar a sonda, faz uma checagem nos demais equipamentos e me dá um lenço para limpar as narinas.
-Prontinho, agora só esperar o doutor vir ver e, se for o caso te dar alta, já avisamos ele, mas parece que ele está terminando uma cirurgia, então só aguardar.
-Obrigado! Agradeço.
Limpo minhas narinas, mas sinto uma náusea e mal-estar em função dos equipamentos intrusivos que estavam inseridos em mim, recém-retirados, mas permaneço com a sensação dos tubos inseridos, é horrível, tenho um início ânsia de vômito, mas controlo e pego um pouco de água que está sobre a mesinha do lado.
Olho com os olhos arregalados para minha filha e erguendo a palma da mão esquerda para cima 🤷, falo:
-Mas… o que quê aconteceu?
-Sei lá, ontem de noite tu não acordou pra comer, a gente te batia e tu não respondia, achamos que tinha morrido.
-Meus Deus que loucura! E como que vim para aqui?
-Os tios chamaram uma ambulância…
-Ambulância!!! afff…
-É, e te carregaram pra cá.
-Ai que vergonha! Mas eu não tenho nada.
-Mas a gente não sabia…
Tento lembra de tudo que aconteceu no dia anterior, e realmente, só me recordo do momento que me deitei e comecei a relaxar, depois disso não me lembro de mais nada até o momento em que acordei minutos atrás.
Liza me põe a par dos acontecimentos que ocorreram durante o tempo que estava desacordado, quando dou conta que estava usando uma fralda, pergunto se tinha roupas minhas ali, ela aponta para a bolsa.
-Acho que já posso tirar essa fralda né?
Ela dá de ombros e me entrega uma cueca e uma bermuda e sai pela porta e encosta ela. Rapidamente me troco, ali mesmo, sobre o leito e, por fim, enrolo a fralda, não havia nada nela.
-Deeeeu, pode entrar! Grito.
Quando ela volta, eu entrego a fralda para ela jogar fora.
-Éééca!!
-Tá limpo, não tem nada guria.
Segurando a fralda com as pontas dos dedos e fazendo careta ela vai até o banheiro descartar o material.
-Eu tô é com fome! Exclamo.
-A gente pode comer sushi depois. Sugere ela com um sorriso maroto.
Algum tempo depois, chega minha esposa junto com a Michaele, ela me dá um beijo e pergunta como que estou, se já estava me sentido melhor.
-Sim, mas nem tava sentindo nada! Respondo.
Michaele chega ao meu lado e me cutuca com o dedo indicador dizendo:
–Papai! Tá vivo???
–Tô com fome! Trouxe comida?
-Não!
-Já pode ir embora, o que o médico disse? Pergunta Re.
-Ainda não fui liberado, a enfermeira disse que ele estava terminando uma cirurgia.
-Ixi, então vai demorar.
-Ela disse que já estava terminando.
Enquanto aguardamos a chegada do médico, ficamos conversando tentando entender o que havia acontecido, digo que para mim, eu estava só dormindo, que não havia sentido nada nem ouvido nada desde quando adormeci no dia anterior.
Nisso chega a copeira com uma bandeja com um sanduíche, suco de laranja em caixinha e um pote de gelatina de framboesa.
-Trouxe uma comida de verdade para o senhor, deve estar com fome né?
-Bah! Parece que adivinhou, agora a pouco estava falando para elas que estou morrendo de fome.
-Só imagino, desde ontem sem comer nada.
Ela deixa a bandeja sobre a mesinha e se vai, agradecemos e parto para o sanduíche.
-Estão servidas? Pergunto para as meninas, sem a menor intenção de dividir.
-Não! Pode comer.
Mal finalizo a refeição, o médico chega, cumprimentando a todos.
-Boa tarde! Então? O homem acordou? Como que o senhor está se sentido seu Luis?
-Bem respondo.
-Vamos examinar para liberar o senhor, sabe o que aconteceu?
-Não, só me lembro de ter dormido depois do almoço e quando acordei, estava aqui deitado, mas não estou sentindo nada de errado, só um pouco de enjoo.
-Respira fundo e solta o ar bem devagar. Diz o médico colocando estetoscópio, primeiro sobre o meu peito e depois nas costas ao mesmo tempo que examina monitor cardíaco .
Pega oftalmoscópio do bolso e com o polegar esquerdo levanta a pálpebra do meu olho direto, examina e faz o mesmo procedimento com o olho esquerdo.
-Tudo normal, os exames não detectaram nada, é um caso bem estranho, talvez só um mal súbito, mas por hora podemos liberar.
-Ele pode ir trabalhar, não precisa ficar de repouso? Pergunta minha esposa ao médico.
-Olha, os exames não apresentaram nada, e neste momento os sinais vitais estão todos normais, se não apresentar nada daqui pra frente, não vejo problema nenhum. O Senhor trabalha com o quê?
-Serviço público, administrativo.
-Assim, se sentir qualquer coisa nas próximas horas, dor de cabeça, enxaquecas, náusea, vômito, tontura ou dor em alguma outra parte do corpo, volta pra cá. Tá bom?
-Certo, entendido! Respondo.
-E mesmo se não tiver nada, é bom fazer novos exames nos próximos dois ou três meses. Prontinho, liberado! Exclama o médico após assinar o documento de alta e complementa:
-As gurias da enfermaria já vem tirar os equipamentos.
-Muito obrigado doutor! Agradecemos quase que em coro.
Boa tarde e bom feriado!
O Profissional sai do quarto, a gente se olha, como se perguntássemos um ao outro, “e agora?”. Mas não demora muito, as enfermeiras chegam empurrando o carrinho de apoio.
-O moço tá liberado para ir pra casa então? Vamos tirar o acesso do braço e o monitor.
Após, levanto-me do leito e coloco o chinelo de dedos, havaianas, que haviam trazido junto com minhas roupas, tiro a camisola do hospital e coloco uma camiseta azul sem estampa.
Pegamos nossas coisas e nos despedimos dos profissionais do hospital agradecendo pela atenção dispendida e desejando bom trabalho para todos e a todas.
