
21.
Nós
Â
Nosso amor
é gaivota
Â
de voo alto,
de canto solto.
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A saudade,
mera anedota
Â
aos entardeceres
de mar revolto.
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22.
Signo
Â
Insignificante?
Não signi-fico.
Signi-ficaria, se quisesse.
Mas meu signo é liberdade...
E na dinâmica vontade
prefiro a inconstância
o movimento-ânsia
de ser em benesse
signi-andante.
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23.
Futuro
Â
Eu vivo
em repetidos
mergulhos no abismo.
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Mas a cada salto,
sinto diminuir
a distância da queda-livre...
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Haverá, então,
o dia em que eu possa
vencer cada cânion
com um simples passo;
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E finalmente,
saudoso da aventura,
aprenderei a voar.
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E todos os abismos
serão céus estrelados
sob meus pés.
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24.
Trem
Â
Embarque no trem da vida.
Â
Descarrilhe sempre que for preciso.
Â
Os melhores destinos
não têm trilhos:
Â
Loco-motive-se.
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25.
Rosa
Â
Quero uma rosa para mim.
Não dessas de qualquer florista,
sem viço nem raiz à vista;
desbotado arremedo de beleza.
Triste de quem a colhe,
pobre de quem a compra:
presente temporário
de um tempo imaginário...
Quero uma rosa para mim
ainda que ao sol solitária,
mas bem plantada em solo rico
vista da janela em que fico:
sÃmbolo da perfeição da Natureza.
Quero para mim, mas que não seja minha!
Por mais que em meu jardim ela cresça sozinha,
não há lei ou propriedade
que justifique ou que resguarde
que o mundo não testemunhe seu desabrochar.
Quero uma rosa para mim
para que os mistérios naturais
se multipliquem ainda mais
a cada gota de orvalho em deslize,
para aplacar a forte sede
da minha alma em crise.
26.
Paciência
Â
Paciência:
Â
Ato inato
de ação
em inação.
Â
É Amor
vestido
de Espera,
Â
consciente que
o tempo passado
não é em vão.
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27.
Sonho
Â
Ventos de ventilador,
ondas de um copo d'água...
Â
O quarto é seguro
enquanto estou acordado.
Â
Mas quando a Noite
traz o sono aguardado,
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eu acalmo tufão,
surfo tsunami;
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só não domo o sonho
de ter você ao meu lado.
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28.
Sentimento
Â
Eu não
me compadeço
Â
de quem não crê
Â
que o fim é também
um começo.
Â
29.
Doo
Â
Liberdades poéticas:
Â
"Eu doo"
funciona
Â
no doar
Â
e no doer.
Â
30.
Colheita Ingrata
Â
Sou como um mero semeador
no campo vazio, com sol a pino:
Capino, rego e semeio amor
agarrado à esperança, como menino.
Mas, mesmo com intenção esforçada
a hora da colheita é tão demorada
que a horta faz pouco da minha dor
e apaixona-se por quem quer que a colha
até não restar folha
para agradecer o meu tino.
Â