"Aramam nos guiou nos tempos imemoriáveis, agora é hora de faze-lo mais uma vez. os Humanoides viveram pelo escudo de seus irmãos e pelo martelo de seu mais poderoso deus."
– Ardion, Sacerdote de Aramam e mestre de Cerco
A queda do reino e a instauração de uma
República centuriana começava a mostrar os primeiros sinais de sua criação. As
fundações de postos militares e a sucessiva integração de povos fizeram com que
a cidadela entropiy tomasse forma de um país próprio. Agora se tinha duas
grandes cidades ao lado da crescente república, mesmo contendo diversas
oposições de reinos e facções próprias criadas, a península de Lamer estava
tendendo ao controle centuriano. Porém, ainda havia diversas falhas a serem
tratadas...
Na capital, a crescente população começava a demandar cada vez mais do recém-nascido senado, em sua principal questão, era o templo do Deus Ascendido. Aramam D'gedom, a questão havia se insaturado não só pela população civil, mas também pelos guerreiros, a espinha dorsal da república. Em uma reunião emergencial, os senadores davam início a um dos mais acalorados debates.
— Não há mais a possibilidade de testarmos a paciência das
legiões! O povo se juntou a eles e cada dia mais as manifestações ficam maiores
e mais agressivas. Os pilares e muros de nossas instituições estão talhados de
protestos e injúrias sobre nós. Recentemente, tive de impedir um que não só
grafitava nos pilares do Senado, mas o pintava! Temos que fazer algo rápido!
Após a fala de abertura, o senador Summanus, representante dos goblinoides
das florestas de Camor, levantou-se e, olhando a todos, disse:
— Temos que lembrar de nossa origem, senhores, aqui estão representantes de todos os Entropiy's e regiões da nossa digníssima república. Mas todos aparentam desconhecer daqueles que representam, como pode isso? Nosso povo era unido pelo Deus da guerra, o único dos nossos que ascendeu à grande hierarquia e agora abençoa não só nossas terras como nossos soldados em suas marchas pela unificação. O povo deseja que seu deus seja exaltado assim como os deuses dos elfos, dos ordareos, dos rúnicos fazem! Quando que vamos nos manter inferiores a eles? Eles têm grandes estátuas, templos, cleros e até mesmo festivais e nós o que temos? Apenas objetos dos tempos de nossos avós e artefatos que nossos xamãs faziam desde o tempo que éramos tribais. — O hobgoblin apontava para todos ainda em seu monólogo com dita seriedade em sua voz — É nosso dever dar isso a nossos guerreiros, a nossos civis e a nosso Deus! —
O fim da frase resultou em um escalonamento da discussão que tomava rumos árduos, um bestial coruja lentamente se levantou com um olhar direto para Summanus e respondeu.
— Isso não faz jus! Se o povo deseja elevar um templo, que
ele o eleve por sua vontade! Somos administradores de uma nação de muitos,
muitos estes que têm deuses próprios e às vezes tampouco os cultuam! Por que
faríamos tal? Se Aramam receber um templo, também será necessário que outros
deuses muito cultuados o recebam. Vamos dar o luxo de favorecer uma só das
entidades de nosso povo? É certo dizer que o Deus Guerra foi o primeiro a tomar
o alto posto. Mas e aqueles que nos ajudam constantemente? Irá dizer que a
benevolência de Fertidalivas não merece ser homenageada? Tu comes espadas e
batalhas Summanus? — O senador andava para o centro do Senado graciosamente
enquanto suas mãos ficavam ocultas por trás de sua toga.
Ao lado de Summanus havia outros goblinoides que
representavam outras partes da nação. Estes tomavam lado do representante de
Camor, e alguns poucos tomavam por lado a ideia de seguir aquele que desafiava.
Contudo, uma terceira figura se levantava. Era um orc velho, trajando uma
mascará de cobre que tampava suas feridas e máculas. O ancião, perto do centro,
chegou antes de todos ao meio e seu simples movimento das mãos fazia todos se
calarem. A aura daquele nobre de raça e, após todo sussurro se cessar, o mesmo
deu início a seu discurso.
— Eu... vejo vocês com grande tristeza. Discutem assuntos que pouco ajudam à
nossa nação. O que adianta intimar e contestar as opiniões do outro para algo
que pode ser resolvido de forma tão banal? Eu, Masai, tenho uma proposta para
ceifar este tolo desvio de nossa missão. — Sua calma e rouquidão ecoavam por
todo o Senado que escutava atentamente, o respeito tanto pela raça quanto pelo
status daquele humanoide era um consenso para todos que lá se encontravam.
O mesmo com a mão ocultada em sua túnica e logo a erguia de
seu aconchego, mostrando uma simples moeda de prata. — Não vamos fazê-la
diretamente, mas sim dedicar de nossa própria ação para construir o templo,
aqueles que forem contra, nada darão e seus nomes serão esquecidos por sua
omissão, enquanto, aqueles que derem parte de sua riqueza a nosso deus terão
seus nomes cravados nas paredes do templo e com o poder do Deus-guerra serão
imortalizados por sua gentil oferenda.
Todos se mantiveram em silêncio enquanto Masai voltava a se sentar em seu
posto. A ideia dada era razoável e ambos os lados trocavam olhares que
expressavam suas puras opiniões. O Bestial tomava seu lugar ao centro.
— A opinião de Masai deve ser respeitada. Não é nosso dever criar lugares de
devoção, mas permitir que ela seja garantida. Se querem dar o luxo de usar suas
riquezas para criar o templo para o clero de Aramam, devem fazer isso com seus
bolsos, e não usurpar o dinheiro de nossas estradas! E se ainda, sim, desejarem
usar tal recurso, deverá ser para um templo misto para que todos os que se
mantêm sobre esta república tenham o igual tratamento para as divindades que os
tantos ajudam.
— E assim será feito — Summanus brandia sua voz como um trovão sobre o Senado,
todos parabenizavam o ancião por sua sugestão e dando fim breve ao árduo
debate, mas não a missão.
Os Senadores, representantes dos goblinoides e também dos reinos tribais e ex-integrantes das tropas centurianas se reuniram após as votações para tratar do orçamento.
Summanus de Camor trazia consigo: Grutius, de Suider;
Altides, de Ruaside; Toriel, da cidade de Roinan; Hitolis, das costas de
Entron; além de outros oito senadores. Além deles, Masai, junto de mais 16
representantes, entre eles Organun Torus I, este que conseguiu captar mais
quatro para se juntarem ao acordo de auxiliar na construção do grande templo de
Aramam.
— Senhores, eu fico gratificado por saber que boa parte do Senado se juntou à
nossa causa... somos 34, todos aqui têm suas próprias propriedades, mas acho
que iremos precisar de mais. — Summanus falava amistosamente, porém pensativa,
olhando para todo o círculo de comprometidos.
— Hm, vamos fazer campanhas com os soldados. Eles apreciarão a ideia de
glorificar o patriarca — Organun cruzava seus braços enquanto mantinha a face e
a voz de um estoico mino.
— Posso garantir que os homens de minha nação contribuam para essa obra. Mas
temos que dar uma garantia a eles, ainda temos opositores e eles não aceitarão
de bom grado a construção do templo. Toriel dava por vez o alerta enquanto
sorria de forma serena com a ideia proposta.
— Vejo que vamos ter conflitos de quaisquer formas... mas antes de querermos
levantar o maior dos templos... precisamos do maior dos engenheiros. E quem
seria? — Grutius colocava todos na mais pura dúvida de quem seria o indivíduo
que fazia essa missão. Masai ia ao meio do círculo.
— Sei como solucionar este impasse.
— Quem seria, oh, nobre Ancião? — Altides questionava enquanto furava um tecido
marcando suas ideias.
— Conheço um guerreiro capaz de tal feito, mas ele pedirá coisas muito únicas.
— O que exatamente? — Summanus interrompia.
— Ele é bem exigente e estressado, não ficará de mãos aos ares.
— Que um guerreiro? — Hitolis perguntava curioso.
Organun ria alto e dava um tapa nas costas do goblinoide — quem é melhor para
fazer o templo do Deus da guerra além de um guerreiro?
— Ele entendeu a ideia.
— Compreensível, senhores, bom. Vou indo... enviarei os recursos que arrecadar
há um cofre próprio e lá será enviado para a compra dos materiais e o pagamento
da mão de obra. — Toriel sorria enquanto olhava para o caminho da saída.
— Perfeitamente, conto com todos a esta nobre empreita. Vejo-lhes em breve,
meus nobres colegas. Até mais. — Summanus dava fim à conversa e todos tomavam
seus postos para dar início à mais magnífica obra. Porém, Masai ainda tinha que
fazer uma missão...
Após uma breve viagem, o ancião Orc
chegou a um posto militar que era afastado da capital. Os guardas, sua maioria
bestiais, observaram o senador com total alerta, já que poucos saíam das
regiões capitais e de suas propriedades. O bater de tambores de aviso era feito
e os portões de madeira se abriam perante Masai, ele adentrava sob escolta de
seus dois guardas e de mais cinco guerreiros da guarnição até a sala do Legado.
Um dos guardas de menor patente correu até o centro alertando da chegada do
político.
Muitos dos recrutas e legionários começaram a se arrumar
apressadamente, limpando suas barracas e arrumando a sujeira que se encontrava
pelas pequenas pavimentações da fortificação. Todos estavam em pé com seus
escudos à frente de suas pernas e com seus elmos fechados. Eles não se moviam e
apenas saudavam o senador quando ele passava. O grande líder do forte ficou à
espera em sua porta, no centro de operações. Em total silêncio, vendo a figura
política adentrar, quando Masai chegava de frente a ele, o mesmo baixou sua
cabeça e a levantou. Ele era um bestial lobo, de pelagem azulada com manchas
brancas e com faltas de pelos perto do focinho, além de não ter um dos dedos da
mão.
— Meu nobre senador, o que lhe devo a honra? — O Legado tomava uma voz
cortesia, enquanto puxava as cortinas para o mesmo entrar.
— Uma grande missão, tão grande que tive que vir pessoalmente.
— Percebo que ela também é urgente, certo?
— Exatamente.
Os dois entraram na sala. Ela estava repleta de mapas e
peças de madeira sobre a mesa. Os tecidos que recobriam todo o ambiente estavam
amarelados pelo tempo, com bordados em vermelho e preto. Nas estantes, havia
tributos, papiros de ordens e registros, além de estandartes das tropas,
pintados na parede e perto de um trono de madeira sem acabamento. O lugar
demonstrava um ar de seriedade e um tanto bagunçado.
— Parece que houve imprevisto, pelo que parece. — O senador contemplou.
— Naturalmente há, se fossem apenas as facções Ordareos e os rebeldes, ainda há
monstros e outros imprevistos. Então, sempre temos que mover tropas para
atender às necessidades, atualmente não temos caçadores e tampouco mestres de
bestas para dar conta dos monstros. — Ele coçava a cabeça de forma um pouco
cansada. — Perdão, meu senador, deixa eu me apresentar, sou o Legado Luridites
de Virnhardi. — Luridites fazia a apresentação centuriana ao mesmo tempo.
— É um grande prazer, Luridites, eu sou... — o Legado interrompia lhe a fala.
— Sei bem quem és, senador Masai, muitos dos documentos de nossos Tribunos são
entregues a seus auxiliares e a seu conselho. — Legado puxava uma cadeira
acolchoada com pelagem para o orc e, enquanto se mantinha atento ao mesmo, —
Então, senhor, por que veio até nossa humilde fortaleza?
Masai ficou em silêncio olhando ele, uma tensão se mantinha
com aquele momento. O mesmo tirava sua máscara, mostrando sua pobre face
injuriada pela maldição e dizia em alto e bom-tom.
— Estou à procura de Ardion
Luri pensou por um momento desacreditado no que acabava de ouvir e, apenas com
um ar de singela dúvida, questionou.
— O tombador de muros? O mestre dos cercos? Está querendo demolir algo, meu
senhor?
— Pelo contrário...-ele sorria de leve, olhando ao guerreiro — quero erguer
algo.
— Deveria então chamar um dos nossos mestres de obras ou engenheiros que fazem
nossas defesas... Ardion é mestre em derrubar elas, não em edificá-las.
— Está contestando meu pedido?
Ele sorria de nervoso por um momento e se levantava de sua cadeira, olhando aos
lados neutralmente.
— Vou chamar ele à vossa presença, caro mestre Masai.
O mestre de guerra saía da sala, deixando o ancião ali à sua
espera... Após um instante, Luridites chegava acompanhado pelo mestre de cerco.
Ele era um Orc jovem, ainda sem máscara, com os cabelos cacheados e curtos, seu
rosto tinha marcas de riscos e suas orelhas eram toda torcida e mutiladas, seu
corpo, mesmo que atlético, ainda sim esguio, que olhava com uma face séria o
senador.
— Me chamou, senador? Além da seriedade emanada, sua face mostrava belos sinais
de cansaço. Seus olhos estavam pesados e marchados de forma escura, similar ao
de um escrivão que passava noites a fio escrevendo mensagens para serem
entregues.
— Sim, eu o procuro, engenheiro. Percebo que deve estar bem ocupado nesses
dias.
— Como não estaria, armas de cerco devem ser feitas. Muros não cairão por
golpes de espadas e tampouco por palavras — ele esfregava os olhos cansadamente
e suspirava — Veja... Polermos é a cidade mais forte da península... se ela se
manter naquele estado, nunca iremos unificá-la.
— Entendo... entendo, mas preciso de você para outra empreitada, meu caro
artífice de Aramam — O orc se levantava, pegando sua máscara e a colocando de
volta a seu lugar.
— E o que necessita dos serviços de um mestre de cerco?
— Você fará a maior das honras, Ardion, maior que qualquer coisa que você já
fez em vida.
— E... o que seria?
— Quero que você me construa o templo de Aramam. — O Senador falava
contentemente para o engenheiro, que o fazia ficar perplexo.
— Oi? Perdão, meu nobre senador... o templo de Aramam? — Ele esfregava seus
olhos cansados e esfregava as calejadas orelhas.
— Sim, o templo de Aramam.
— Ha... — Ele dava um riso sem jeito, o Legado olhava sério para seu artífice,
mostrando a seriedade daquela conversa — Perdão, mestre... Meu senador, peço
que faça esse pedido a outro... não sou um mestre de obras, mas sim um
demolidor.
— Exatamente por isso, você faz a parte mais intensa da guerra, a de derrubar
aquilo que foi feito para proteger. Você é o mais apto para criar um templo —
Masai apontava para o jovem orc enquanto explicava seu raciocínio.
— Não estou lhe entendendo.
— Quero que faça o templo da guerra.
— Sim, isso entendi, mas por quê? Esta lógica não é coesa, muros são precisam
de cordas para fazer bater uma tora contra um portão, tampouco erguer uma
grande pedra ou disparar um virote de balista. Porque eu o faria melhor que
meus irmãos de obras que ergueram os muros dessa fortaleza e das muralhas de
Centurion.
— Eu entendo, mas você estuda elas?
— Sim.
— Se você fosse ver elas, saberia apontar os pontos de fraqueza de cada uma
delas.
— ... Eh... sim.
— Agora entende meu ponto, lhe vejo em breve, caro engenheiro. Pois só você é
capaz dessa missão.
— Mas, meu senhor! — Ardion começava a tentar quase implorar, um pouco tenso.
Porém, o Senador ainda contente o olhava com um ar de total tranquilidade.
— Ardion... vou gostar de ver sua obra. Te vejo na capital — o ancião ria
levemente e começava a sair — tenham uma boa noite, senhores. — ele passava
pela cortina e andava junto de seus homens até sua carroça.
Ambos se olhavam por um momento, o Legado ficou sério por um
momento, enquanto o engenheiro de guerra sentava-se derrotado sem ter muito o
que fazer. Luridites sentava-se ao lado de seu mestre de cerco em total
silêncio, ele olhou para Ardion e começou.
— Vou te ajudar, pois temos que ainda lutar em um cerco. Polermos tem que cair
por suas armas. Vou te deixar escolher seus colegas, faça o templo da guerra,
honre o deus que nos conceda a vitória e depois unificaremos esta península
inteira...
— Acha que consigo fazer isso? Sou o tombador de muros, o mestre do cerco, a
tormenta das cidadelas... nunca fui ninguém para ser chamado de grande esculto,
artífice das nobres divindades... como que vou agradar ao senador. Pior, como
que vou agradar Aramam?
— Tenho um plano.
— Pois o conte, meu mestre, eu estou ficando desesperado já.
— Quem é o único que consegue levantar pela palavra todos em meio ao campo de
batalha?
— Os Sacerdotes da batalha?
— Exatamente. — O Legado batia as mãos de satisfação, enquanto levantava suas
orelhas caninas
— ... Tá, isso parece ser uma boa ideia — Ardion ficava pensativo com sua mão
no queixo, começando a ligar os pontos — Posso fazer também uma sugestão?
— Claro. Você que é o executor da missão.
Por um momento, eles se silenciaram estranhamente e Ardion deu fim ao silêncio.
— Vou precisar da ajuda daquele mestre de obra que nos prendemos.
— Hieronipides? — Luri olhou surpreso com a ideia — Sabe que ele é mestiço e o
que faria ele trabalhar... pior, dar os conhecimentos dele a seu favor.
— Mesmo que ele seja um mestiço de Orc com Ordareos, ele ainda é metade Orc.
Podemos conceder-lhe a liberdade em troca do serviço.
— Provável que aceite. — O mesmo dava de ombros e se escorava no pilar, por um
instante suspirava — Naturalmente isso não era para ocorrer... ainda mais
estando em guerra, mas confio em ti. Depois vou convencer os outros senadores
para lhe trocar, consegue segurar as pontas enquanto isso?
— Vou tentar.
– Perfeito.
Alguns dias se passaram e Ardion foi transferido para a
capital, junto de alguns membros da engenharia que foram a seu auxílio. No
total, deslocaram-se 5 engenheiros e o prisioneiro, que agora estava
condicionado pelo acordo. Os portões da cidade se abriram para sua chegada, a
cidade se manteve tranquila sem saber de algo novo que estava por vir. Eles
desceram do carro de boi já na antiga ala nobre, encontrando novamente com o
ancião, dessa vez acompanhado de outros senadores.
— Que bom que veio, meu caro, percebo que trouxe auxiliares... — O ancião
olhava com um ar de dúvida para trás, vendo o meio-orc com o cabelo raspado. —
Quem é esse que vocês trazem? –
Ardion tomava a frente de Hieronipides evitando que ele pudesse falar — este é
um grande engenheiro, porém é encrenqueiro. Por isso está assim, foi uma
punição –
— Compreendo... Bom, devo salientar que vocês irão trabalhar na criação do grande templo de Aramam, por isso deixei uma parte um pouco longe da cidade para que vocês escolhessem onde será instalado o templo. Queremos que ele represente o ápice da manifestação do deus, espero que escolham sabiamente aonde será o destino. — ele acenava para os engenheiros. — meus servos estarão a serviço de vocês, se necessitarem de materiais ou para conversar comigo é por eles daqui em diante... — o mesmo sorria enquanto saia do lugar.
O grupo era encaminhado para uma região um pouco vazia e
espaçada próximo à cidade, era uma parte com poucos campos e próxima de algo
ermo, contudo, não portava grandes matas ou florestas que pudessem atrasar toda
a empreitada. Por meio havia um morro alto, com uma falésia curta descendo até
perto do rio que desaguava no mar. Ambos olharam para os pontos a procura de
locais para pôr as solidificações da estrutura. Ardion observou aquela bela
paisagem limpa e apontou seu dedo para o topo do lugar.
— Ali.
— quê? — Um dos engenheiros o olhou com indignação pela ideia — Você vê a
altura que é naquele lugar?
Mas ainda, sim, é o ponto mais alto e também o mais protegido, de um lado uma
falésia quase impossível de subir e do outro um declive sem vegetação densa,
perfeito para expandir muros e locais de treino ou partes do templo.
Hieronipides interviu na discussão — fazer isso vai nos custar mais tempo,
porém vai suprir as necessidades futuras. Podemos usar a estrutura íngreme para
subir pólias e subir as estruturas por jogo de cordas.
Eles se olhavam por um momento, e o grupo começava a se encarar em silêncio
total. Por fim, eles concordavam com o engenheiro de guerra. Começando a pegar
os pergaminhos para criar os primeiros esboços da estrutura, afastado dos
demais, Ardion olhou para o seu "auxiliar" e sussurrou.
— Às vezes eu me pergunto como você foi pego sendo um dos mais geniais
artífices de seu país.
Hieron sorriu e olhou para ele enquanto mexia no pescoço amarrado. — Fugir me
faria o que de bom? Eu era útil, logo não seria morto. Seja por minha
descendência ou por minha aptidão.
– Esta me dizendo que você previu sua chegada aqui?
— Não sou vidente, mas supôs que eu teria de fazer algo do tipo ou servir como
escravo técnico de algum mercador ou mestre de obras. — O mestre escutava
aquilo com surpresa, aquele mestiço estava preso há meses, mas não havia em
ponto algum tentado fugir. Isso fazia com que os pontos se encaixassem
perfeitamente com o que acabou de dizer. Ele coçou seu queixo e logo deu um
leve tapa nas costas do prisioneiro.
— Vamos nos juntar aos outros, essa obra vai demorar bastante a ser feita.
– Certo.
Após todos se juntarem, decidiram que, mesmo tendo a
aparência de um templo, ele deveria ser dedicado à guerra, logo, tinha que ser
tão poderoso quanto qualquer fortaleza. Por via, eles pensaram com alguns
esboços, mas todos ficaram bem imprecisos. Um engenheiro novo levantava sua
mão, chamando a atenção de todos.
— Vamos fazer o seguinte, vamos subir e desenhar usando de base lá.
— Tens razão, garoto, vamos lá então.
Todos começaram a ir em direção ao aclive, a subida levou alguns minutos até
chegarmos ao ponto onde seriam construídas as fundações do templo.
— Aqui, vamos medir. Isso vai demorar o dia todo...
Começamos o trabalho das medidas, muitas vezes
usando tábuas que havíamos pegado para marcar a cada 10 passos. No total foram
marcadas vinte nove vezes na primeira linha, setes marcas na segunda que era
uma subida, o terceiro deu vinte quatro e meio, no quarto sete e um, quinto,
chegando no Quinto foi três tabuas e em sequência foram 6º -4 marcas, 7º -16
tabuas, 8º-6 tabuas, 9º-8,5 marcas, 10º-5,2 tabua, 11º -15,4 marcas, 12º -5,2
tabua. No total, em nossas contas, somamos 104.375 pés (31,81 km) ao quadrado...
um dos engenheiros apenas arredondou as contas para evitar confusões
posteriores.
Boas partes estavam lisas e um pouco planas, porém isso era apenas um quinto
perto da falésia, o resto era um declive liso que precisaria de muitas
mudanças. Por sorte, a terra era bem firme e com um mato curto de raízes bem
grossas.
— Vamos fazer como isso? Seguindo o caminho ou deixando retilíneo como os
templos menores? — Um dos mestres de defesa citou.
— Veja bem... se fizermos muito reto, pode ser que tenhamos que trazer mais
pedras. — o mesmo começava a fazer pequenas anotações.
— Bom, seria melhor estruturar e deixar reto, haverá rituais e acho que deixar
inclinado não será bom para tais prestações. — Ardion indicativa tal ponto
enquanto rabiscava uma parte do plano.
— Certo, então vamos definir algumas bases para tais aspectos e o resto ficará
corrente, vamos evitar mexer muito no solo para evitar desabamentos futuros. —
O mestre pegava o pincel colocando pontos específicos ao redor de pontos de
reforço.
— Vocês estão esquecendo algo — Hieronipides intervia, apontando a parte
próxima da falésia. — Se teremos que fazer um templo para o deus da guerra,
precisamos por elementos de guerra nele, aqui precisamos de uma arma de cerco
para auxiliar a c... — Ardion o interrompia levemente.
— Isso nos preocupamos depois, primeiro temos que garantir o templo.
Em momentos de discussão e ares de conversa,
todos os engenheiros davam ar a um atrito de ideias, com muitas sendo
descartadas e outras acatadas. Por fim, o templo estava desenhado e
arquitetado... mas precisava de algo. Hieronipides, Ardion, Suenigis (mestre de
defesa), Talus (engenheiro noviço) e Orgaun (mestre de Obras e recursos)
tomavam frente à discussão, definindo alguns pontos importantes à obra. As
colunas teriam 11,5 jardas (aprox. 11 m) de altura e 2,1 jardas (aprox. 2 m) de
comprimento, seriam 15 colunas por 25. Seriam mais, porém a ideia de haver um
ponto de treino que dividiria a parte e por um lugar aos estudiosos separados
do templo principal foi mais coesa.
No entablamento, o friso e arquitrave foram bem difíceis de se numerar, já que precisaríamos pôr em branco naquele momento para calcular o distanciamento das colunas e a resistência das estruturas de mármore. Com isso, deixamos para Orgaun tomar as contas enquanto focávamos em outro detalhe crucial... o Frontão e a Estilobata. Foi decidido que a dita teria o equivalente a 5 degraus nas partes mais próximas do aclive e 3 nas regiões mais planas, seria uma forma de "planificar" o lugar. Porém, o Frontão era sem dúvida um risco para nossas cabeças, já que não poderia ser tão grande, mas, ao mesmo tempo, deveria ter um bom espaço para representar o Deus Aramam, com isso decidimos que ela seria a metade da altura das colunas em seu ponto mais alto.
Por motivos de segurança, deixamos a parte do interior (o
Naos) sobre gestão do mestre da Defesa e de Hieronipides. Ambos concordaram em
criar um portão com a altura de 2/3 das colunas e uma porta inclinada com a
porta mais adiante e posta em forma de um funil, o que facilitaria a defesa do
Nau, evitando que muitos inimigos conseguissem se unir para destruí-lo. Além
disso, o interior continha duas rampas paralelas de subida até o altar de
veneração, o que permitiria o eco dos sacerdotes, além de uma segunda defesa
devido ao alto ponto de defesa...
Ardion e Talus focaram na parte externa, tanto
nos pontos de treinamento, depósitos de suprimentos e um Tholos para o clero e
os sacerdotes estudiosos poderem usar. No total, ela foi definida com 16
colunas, sendo 8 de mármore vermelho e 8 de mármore comum. Porém, medindo um
pouco menos em seu tamanho total. O campo de treinamento ficou em uma área
aberta e com locais tanto de reparos como forja aberta e um arsenal para
guardar os equipamentos, sejam armaduras ou armas.
Após todo o planejamento, Ardion tomou
iniciativa convocando um dos servos do ancião.
— Avise o senador que temos um acordo, após esses dias de planejamento, agora
temos a planta do local. Vamos dar início à primeira das grandes obras de
Centurion — Foi entregue ao mensageiro uma carta em suas mãos com os planos e
esboços da planta, o mesmo partiu enquanto o grupo de engenheiros fazia os
toques finais.
— Penso eu que vamos ter que planejar mais isso. — Suenigis falava com um ar de
receio enquanto olhava a base do projeto — estamos fazendo tudo isso, contudo,
vamos ter de gastar muito para depois criar as muralhas de defesa do templo.
— Sem contar as armas de cerco para proteção dele e da cidade — complementou
Hiero.
— Sabemos disso. — Ardion os respondia enquanto cruzava os seus braços.
— Por que não fazemos? — Talus sorria confuso, tentando entender a lógica.
— Essa não é nossa meta atual. Temos que criar o grande templo primeiro e ver
depois de todos os imprevistos o resto que fica a parte dele. Estamos contando
com uma certeza quase Ordunica –
— Não queria concordar com ele nesse aspecto, mas é um fato impossível de ser
contrariado. — Orgaun dava seu consenso à decisão do líder, ao tempo que
mostrava algumas contas — Se meus métodos de conta estiverem certos, esta obra
será a mais cara já vista desde a fundação desta república. Posso alertar que o
Senado vai ficar em nossas nucas esperando que nos prestemos conta para não nos
impelir ao ato de roubo –
— Isso é absurdo! Por que fariam isso sendo que os próprios nos chamaram para
cá? — Talus levantava os braços enquanto andava incomodado com a ideia de ser
acusado, aquilo infligia um golpe pesado à própria honra do novato.
— É assim que as coisas funcionam. — Hieronipides se sentou
na grama olhando para cima — e tem muito sentido ser desta forma. Já que
estamos sendo financiados para isso... bem, vocês, eu não vou ganhar nada além
de minha liberdade –
— Mas ainda pode ser punido.
— Vamos tomar de volta o assunto antes de qualquer desvio. Nosso foco é dar
vida a esta obra, a maior de todas. — Ardion olhava para o norte estoicamente
enquanto observava de longe na cidade uma carroça vindo em sua direção enquanto
estavam lá em cima. — Vou dizer a vocês que... esta será a maior das obras de
minha vida. –
Eles se olharam por um momento enquanto estranhavam com a fala.
— Dentre todas as guerras que passei, muito ouvi dos nossos guerreiros sobre Aramam, vi muitos daqueles que usaram minhas armas perecerem sem nunca terem pisado em um lugar sagrado para ele. Viviam andando com pequenos totens dele, pedras e até colares de proteção que diziam ser a sua honra... mas sempre falaram querendo ver esse templo sendo erguido. Pela primeira vez... o Deus-guerra não será apenas honrado em batalha, mas terá sua própria central de culto. — Ele olhava para baixo, vendo o solo firmar enquanto a brisa tomava em seu rosto. — Aramam nos guiou nos tempos imemoriáveis de nosso povo, este foi o pilar que solidificou esta nação. Agora é hora de fazê-lo mais uma vez. Nós, os humanoides, viveremos pelo escudo de nossos irmãos e tombaremos nossos inimigos pela força do martelo de nosso mais poderoso Deus.
Todos se calaram ouvindo as nobres falas. Hieron gargalhou
ao vento, dando fim ao silêncio.
— Essa frase é digna de ser escrita no Frontão. Certeza de que não veremos tudo
isso ser erguido, mas posso dizer que eu me alegrarei de ter levantado essa
fundação.
— De todos aqui, acho que só Talus poderá ver o fim dela — Orgaun pegava seu
pincel, anotando as frases e arrumando as últimas correções de conta das
medidas da fundação.
— Vocês estão ficando muito melancólicos! Isso aqui será rápido — Talus dizia
enquanto arrumava as coisas e contemplava a planta feita.
— Isso vai demorar em média 12 a 15 anos — Suenigis citava neutralmente.
— 12 anos?
— Sim. Esse daqui é o dobro do antigo templo de tamanho e ele demorou sete anos
para ser feito.
O jovem olhava para o antigo mestre e tentava dar início a uma argumentação,
mas desistiu antes mesmo de começar suspirando — Certo, eu não irei discutir.
Quando iremos dar início a ela?
— Se der tudo certo... o mais rápido possível.
O ancião chegava junto de alguns de seus aliados do senado,
Tori e Summanus. Os organizadores da obra faziam a saudação de boas-vindas aos
recém-chegados.
— O que temos aqui? — Summanus se aproximava deles, devolvendo a saudação vendo
a planta — Isso está magnifico!
— Vejo que faltam sutis detalhes... mas ainda, sim, este ótimo. — Tori
contemplava seu colega senador, enquanto expressava um meigo sorriso.
— Esses detalhes que faltam são o Capitel? — Suenigis questionava enquanto
olhava diretamente a senhora.
— Sim, senhor...
— Suenigis, minha cara senadora... nesse caso em específico, decidimos que será
melhor ser misto com cada estilo vindo das províncias provedoras. — Ele fazia
uma breve equação de divisão — assim representaremos todas elas, as que não
fizerem nada... não terão nada. —
— Excelente. — Masai tomava a frente com um breve sorriso. — Bom, senhores...
vamos dar início à obra?
Gradualmente, as comunicações entre os senadores e os engenheiros do templo começava a fluir, dando mudanças de ideias e rotas. Os trabalhadores e escravos chegavam aos montes para a obra que duraria bom tempo para ser completa... O grande templo de Aramam começava a se erguer...