A Queda do Messias de Barro
Há símbolos que pesam mais que grilhões. Quando uma tornozeleira eletrônica abraça a perna de um ex-presidente, não é apenas um metal que se fecha, mas o ciclo de uma ilusão que muda. Bolsonaro, outrora erguido como um cruzado tropical contra os "inimigos da moral", hoje caminha marcado, não por ideais, mas por processos e suas loucuras.
Sua armadura de retórica tosca, feita de memes, frases de efeito e machismo mofado, enfim revela o que sempre foi: estanho disfarçado de aço. Um golem de ressentimentos, sustentado não por convicções, mas por desilusões alheias. Um avatar do anti, do não, do medo, nunca do futuro.
A tornozeleira, discreta e objetiva, é a nova faixa presidencial que lhe cabe. Não há mais multidões; há silêncio. Não há mais palanques; há audiências. Os generais já lhe viraram o rosto, os fiéis agora fazem fila para negar-lhe três vezes antes que o galo agonize.
Sua força, que parecia vir do povo, vinha na verdade de um vácuo, do desencanto, da falta de sonhos. Era a âncora dos que se afogavam e preferiam arrastar outros a nadar. Agora, é só um homem com um radar, esbravejando bravatas que já não assustam nem o espelho.
Ele que gritava por liberdade, carrega agora um sinal que apita se ousar ultrapassar os próprios limites, como um cão de quintal que mordeu os próprios donos. A "nova política" virou peça de museu, com direito ao próprio pé na vitrine.
E os que ainda o seguem, cada vez menos, não o fazem por fé, mas por falta. Falta de rumo, de leitura, de coragem de se rever. São sombras do que foram, e ele, a sombra da sombra, um palhaço que já não encontra picadeiro.
Não se celebra prisão, mas se observa história. E quando a História aponta o dedo, ela não julga só o homem, mas o tempo que o criou. A tornozeleira é apenas o laço final no pacote de contradições que ele próprio embrulhou.
E assim caminha, não mais como salvador da pátria, mas como lembrança incomoda da nossa própria decadência.
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