Juramento Quebrado

A Maldição Encantada

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Toda civilização começa com um mito e, talvez, seja hora de admitir que a nossa começou com um delírio coletivo.

Mas e se não for delírio? E se for feitiço? E se estivermos enfeitiçados há séculos por um pacto invisível, firmado entre verdades que ninguém ousa contestar?

Esta ideia nasce da confiança na desconfiança.

Desconfiança da moral herdada. Da ordem imposta. Dos discursos uniformes.

E nasce com uma maldição: não aceitar o que parece óbvio.


1. O conforto das jaulas invisíveis


Vivemos numa sociedade que se diz livre, mas se orienta por padrões fabricados em série.

Vestimos a liberdade como um fardamento, com marca, com código de conduta, com slogan.

A cultura da produtividade nos ensinou que parar é fracassar.

A meritocracia nos ensinou que quem sofre merece.

A tecnologia nos ensinou a responder antes de pensar.

Mas ninguém se pergunta: quem foi que escreveu essas regras?

E mais importante: a quem interessa que elas nunca sejam questionadas?


2. O contra-feitiço: a contradição


Para começar com a proposta maldição, enxerguemos o seguinte: vamos amar a contradição.

Sim, é possível criticar o capitalismo e ser consumidor.

É possível defender o coletivo e se pegar em situações de egoísmo.

É possível militar por uma causa e odiar o próprio grupo.

Nada disso é incoerência. É humanidade.

É barulho num sistema que só aceita som estéreo.

A sociedade domesticou o discurso, como quem doma um bicho selvagem para andar de coleira nas redes sociais.

Mas nesta revista, o bicho morde.


3. Quando a evolução se tornou punição

Já reparou como a tal evolução social parece sempre exigir sacrifício?

Você só é evoluído se:

  • não ficar com raiva;
  • não errar a saída;
  • não tropeçar na própria dúvida.

Mas isso não é evolução, é penitência.

Uma nova religião, com dogmas de hashtags, santos verificados e fogueiras de cancelamento.

Se tudo pode ser problema, então qualquer questionamento vira crime.

E aí, o progresso vira prisão.

Com algemas de boas intenções.


4. A promessa: errar com poema


Aqui, a promessa é a seguinte:

Vamos errar bonito. Errar com estilo. Errar com arte.

Porque só quem se permite errar pode mudar de verdade.

Vamos colocar em dúvida a família tradicional, o trabalho, o conceito de amor, a identidade, a fé, o corpo, o gênero, a língua, a história.

Mas não para destruir.

Para reconstruir com olhos abertos e mãos sujas de barro.

Juras de Maldição não é um altar de certezas.

É um confessionário profano.

Uma esquina de ideias sujas e perigosamente livres.

Se você procura coerência, leia bula de remédio.

Se quer salvação, vá ao templo mais próximo.

Aqui, a única salvação é a dúvida e a única oração é o grito dissonante da consciência inquieta.

Começamos assim.

Com um juramento quebrado.

Com uma maldição auto-imposta.

Com a promessa de jamais repetir o mundo sem antes maldizer dele com amor.