2006.
Minha primeira nota de um dólar.
Trabalhava numa loja quando um turista me entregou e disse:
— Guarde na carteira. Um dólar nela sempre atrai mais dinheiro.
Quase vinte anos se passaram.
Carteiras mudaram…
Mas o dólar ficou.
Com o PIX, o dinheiro em nota, que já era raro de se manter ali, ficou ainda mais ausente.
Hoje, procurando um documento, encontrei a nota.
Rasgada. Amassada. Cansada.
E percebi que não tenho arrependimento algum por não tê-la preservado.
Porque ela se parece demais com quem a lidera, hoje:
poderia ser símbolo de força, respeito e tradição…
mas é apenas um pedaço de papel decadente,
implorando um orgulho que não merece mais.
Rasgando seu próprio valor, dia após dia.
Ainda assim, uma verdade fica:
naquele tempo, aquele turista acreditava no que fazia a “América grande”:
o poder de convencer o mundo de que seus símbolos eram imbatíveis.
Não pela força.
Mas pela imagem que construíram.
Eu poderia ter dito:
— Coloque também na sua carteira uma moeda de 1 real. Quando olhar para ela, lembrará de um povo que não desiste de seus sonhos. Que se une quando a dificuldade aperta. Que erra, pede perdão, segue, até acertar.
Lembrará o que é ser humano.
E muito provavelmente, mesmo com tudo, seria bastante possível que ele olhasse para aquela moeda hoje em dia e ainda admirasse isso, mantendo o significado.
Mas, ao contrário dele,
eu não fui criado para exibir o quão grande é meu povo…
Fui criado para acreditar naquilo que ele dizia, o mundo foi.
Não passou da hora de mudarmos?
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