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Sylvvia Rubraurora

Sylvvia Rubraurora

Ativo

Selo L1 Selo 365

#desafio 365 dias

Dia 61 - Fale sobre um livro religioso ou que trate de religiosidade.

Resenha do livro "Escolhas", da escritora Dado Matins (insta: @martins.dado).

Comecei o livro sem ter muita ideia do que viria a ser um Romance Cristão, mas fui surpreendida com uma escrita leve (apesar de tratar de assuntos pesados), uma história envolvente (apesar de eu não ser uma pessoa religiosa) e com um posicionamento muito correto e corajoso da autora, diante de temas que muitas vezes são calados nas Igrejas (a despeito da denominação).

Luana, a protagonista inicial, passa por violência doméstica - André, o mocinho para se apaixonar, é um fervoroso crente e viúvo. A vida de ambos se ligam pelo acidente que levou a esposa de André. De início, a narrativa é contada pelo ponto de vista de ambos.

No decorrer da narrativa, vamos conhecendo outros personagens, como Ester e Tiago. Ela passou por abusos na infância e acreditava que nunca se abriria para o amor. Mas Deus tinha seus propósitos e bastava que ela lhe permitisse agir.

Como nem tudo são flores, alguns capítulos são contados por Pastor Jonas e estes em específico embrulharam meu estômago. Sim, o vilão da narrativa é um pastor que usa de sua posição de prestígio para encobrir seus crimes.

O curioso é que a história possui dois finais. Eu li ambos, porque sou curiosa! Gostei bastante dessa escolha narrativa, porém eu queria um terceiro final, autora!!!!

Sugiro esta leitura para quem gosta de romance que não explorem a sexualidade, para quem deseja uma palavra de esperança religiosa e para quem for curioso como eu e nunca nega a leitura de algo novo!

#desafio 365 dias

Dia 60 - Paródia

Eu escrevi um poema (Intertexto) fazendo uma paródia do poema "Adeus! Eu voltarei ao sol da primavera", de Ascenso Ferreira. Fiquem com ambos!

INTERTEXTO (Sylvvia R.)

Por três vezes, as andorinhas
revoaram...
Por três vezes, as folhas
se renovaram...
E, por te esperar ao sol da primavera,
tostei.

--------------------------------------------------------------------
Agora o original:

Adeus! Eu voltarei ao sol da Primavera!
(Ascenso Ferreira - 1895/1965)

“Adeus! Eu voltarei ao sol da Primavera!”
E a tua boca em flor à minha boca unindo
Murmuraste baixinho: “O amor que em nós impera
Nos permite encarar esta ausência sorrindo...”

“Adeus. Eu voltarei logo que seja findo
O Inverno... Ficará meu coração! Espera...”
E estendendo-me a mão formosa em gesto Lindo:
“Adeus! Eu voltarei ao sol da Primavera!”

Três vezes pelo azul as andorinhas voaram!
Três vezes do arvoredo as folha renovaram
Como nos corações se renova a quimera...

E, embora não cumprida a jura que fizeste,
Inda escuto no ouvido a frase que disseste:
“Adeus! Eu voltarei ao sol da Primavera!”

#desafio 365 dias

Dia 59 - Nada mudou, Sylvia.

Ele me diz que lhe causo enxaqueca.

A minissaia vende minha coxa e sou consumo. Ou acham que sou. Repouso o copo entre minhas pernas e todos olham. Isso é Hollywood ou não é? Você não queria que fosse?

Mas ele diz que lhe causo náuseas.

E ela? Ela diz que quer ter carro e casa com vista para um iate. Eu pergunto com que bunda e ela me olha mortificada. Oi? Ela pensa que trabalhar oito horas diárias fora e mais as dezesseis restantes em casa não é ser fodida. Ela questiona como eu sou quem sou. Ela queria que eu fosse quem ela achava que eu deveria ser. Fo-di-da.

E o que penso é: sou a agonia dele?

Olha, a “menina dez” é porra-louca. Fez tattoo e se pintou. A menina dez não raspa o sovaco e você ri dela. Mas, para ela você, nem existe. Que diferença faz?

Ele vai falar comigo mais uma vez?

Eu piso na lama e meu coturno não encharca. A menina dez dança descalça na chuva e nem vai pegar resfriado. A burra-dou-a-bunda-oito-horas-pra-empresa chora pelo seu salto alto arruinado e as unhas, cujas cutículas ela arrancou, vão apodrecer.
Enxaqueca é a puta que pariu.

Pego o copo e cruzo as pernas. Todos olham de novo. Porra de Hollywood: isso é real, sem maquiagens.

Ela passou o fim de semana num cruzeiro. Voltou queimada e ardida. Mas de bunda descansada pra recomeçar.

A “menina dez” tirou zero. Ninguém entendeu o porquê. Mas ninguém se importou.

E ele continua lá, sol. E eu, inseto. Chego mais perto, e ele agora apenas lâmpada.

Mas morro do mesmo jeito.

#desafio 365 dias

Dia 58 - Um sonho de corvos

Me mexo avulsa enquanto sinto a asa quebrar.

Um tom negro se pinta no céu, eu digo e ele olha para, sem confirmar o quê. É uma asa, prossigo, uma asa quebrada. De pombo? Quer saber sobre. Não, de corvo. E olho decidida para seus olhos e ele entende como.

Paraliso, observando meus reflexos no chão.

Não sei, tento quebrar o silêncio. Acho que está caindo. O quê? O corvo… se a asa quebrou… Parece não mais preocupar-se com e fala alguma coisa boba. Você não vê? Insisto em e ele nega rapidamente, passando a mãos no cabelo, o que sempre faz quando está com.

Fecho os olhos e sinto o solo aproximar-se, lépido.

Agora o vermelho pinta o chão, eu sinto, mas não comento. Fecho os olhos e vejo. Você apenas sonha com, ele sentencia, mudo, mas eu posso ouvir. São eles que sonham conosco, deixei-me dizer por último, antes de.

#desafio 365 dias

Dia 57

havia sim teu rosto em minha gaveta: último papel impresso de uma pilha de papeis impressos – guardados para que ocasião? ele restava ali e poeira alguma havia desgastado a suavidade dos pelos que o moldavam. e reencontrá-lo é sempre como a vez primeira que o encontrei: um susto pequeno que a possibilidade sempre causa. essa náusea. esse tremor discreto e sem antecedente. é sempre novo. me é sempre por inteiro.

reencontro teu rosto em meio a post-its, bics que não riscam e corretivos que secaram. vai ver que é isto: teu rosto foi eternizado numa daquelas tarefas mimeografas que trouxemos para casa. e erramos. e se passarmos a borracha, mancha; e se tentarmos com mais força, rasga. e se passarmos o erroex já era: restará um grude criando relevos ainda mais quasímodos.

#desafio 365 dias

Dia 56 - Conte sobre um livro que tenha uma frase de efeito ou famosa, cite a frase.

Quantas pessoas devem conhecer a frase "Tudo vale a pena, se a alma não é pequena" sem saber, no entanto, que se trata de um verso do poema Mar Portuguez, um dos poemas mais conhecidos de Fernando Pessoa? Eu já conheci muitas!

O poema, primeiro lançado na revista Continental em 1922, tornou-se um dos poemas mais icônicos do livro "Mensagem" , publicado em 1934. Fiquem com o poema:

Mar Portuguez

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

#desafio 365 dias
Dia 55 - Poemas de outrora

Pensamentos (1997)

Se o pensamento voa
estou voando sobre um rio
onde as águas espelham teu rosto
e teus olhos são as pedras mais raras
que ele possui.

Se o pensamento voa
estou voando sobre um rio
que se encontra onde nunca se chega
pois é guiado pela saudade do que nunca
me deixaste viver.

#desafio 365 dias
Dia 54 - Conte sobre um livro que você sempre cita.

Eu podia citar aqui vários livros, mas vamos falar de um livro de uma autora nacional, @cadantasautora !

Ele se tornou um livro muito citado por mim quando falo sobre autoras que vou conhecendo. Por quê? Ora, porque é um livro visceral, Pulp, mas também que crimes não são romantizados, como em muitos livros que vemos por aí.

A autora criou um casal com uma química inegável, cada um com uma bagagem emocional carregada e que tentam sobreviver na cidade de Desejo. Costumo dizer que Desejo é uma cidade onde o crime compensa e os protagonistas vão, da maneira que sabem, lidar e vencer a isto.

#desafio 365 dias
Dia 53 - Poemas de outrora

Mãos de sonhos
de arado
que arranham e adubam
e afundam nostalgias
em águas claras e mornas
de gosto pêssego
que não passa cedo
que fica
que finca
e só finda
quando de novo arranhas
e entranhas
tuas unhas
e tu ficas
e te fincas
e findas
para renascer em mim.

#desafio 365 dias
Dia 52 - Fale sobre um livro de Sonetos

Em 1959, Pablo Neruda publicava seu livro “Cem Sonetos de Amor” (Cien sonetos de amor), talvez sua obra mais conhecida. Como o título diz, se trata de 100 sonetos que declaram um amor intenso por sua esposa Maltide Urrutia.

O livro é dividido em quatro partes ("Manhã" (Mañana), "Meio-dia" (Mediodía), "Tarde" (Tarde) e "Noite" (Noche) e os sonetos unem uma linguagem simples a uma mensagem emotiva, com ricas construções de metáforas.

O amor é mostrado tanto de uma maneira sensual quanto espiritual, indo além da idealização romântica, tocando também na imperfeição e na realidade do amor cotidiano.

"Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo como se amam certas coisas escuras,
secretamente, entre a sombra e a alma."

#desafio 365 dias

Dia 51- Fale sobre um livro que você não entendeu ou teve bastante dificuldade para entender.

Há livros de conforto; livros instigantes; livros que trazem novas perspectivas a cerca de algum conhecimento que você já tem; livros que te ensinam algo novo; que te fazem rir ou chorar... e há livros que te chamam de burra. É o caso de “Ideias para uma Fenomenologia Pura e para uma Filosofia Fenomenológica”, de Edmund Husserl.

O filósofo e matemático busca um olhar filosófico que se contrapôs ao pensamento positivista do século 19. Talvez por nossa escola (ao menos nos anos 80 e 90 quando estudei) ainda fosse tão cartesiana, ou ainda na universidade as discussões filosóficas fossem tão dialéticas, eu me peguei batendo a cabeça para apreender o sentido da intencionalidade da consciência acerca dos fenômenos.

Não entenderam a última coisa que eu disse? Também não. Sigamos.

#desafio 365 dias

Dia 50 - Fale sobre um livro que você nunca leu, mas gostaria.

Que tipo de pergunta é esta? A minha lista de livros que nunca li, mas que gostaria de ler é muito maior do que a lista de lidos! Tem tantos de literatura, mas, ainda mais, de filosofia e de teoria.

Vou citar aqui "Corte de Espinhos e Rosas", de Sarah J. Maas, porque eu nunca li "romantasia" - o que é muito louco, porque tenho um livro inacabado bem dentro dessa gênero. Então fico sempre sentindo que estou em dívida de ler algo do tipo. Aceito outras sugestões de títulos relacionados!

#desafio 365 dias

Dia 49 - Fale sobre um livro que seja peça teatral.

Sabe um daqueles livros que você lê, esquece o nome das personagens e até mesmo a maior parte do enredo, mas, em contrapartida, NUNCA esquece? Então...

Li a peça "Uma Casa de Bonecas" de Henrik Ibsen em 2005 (último período da faculdade) e lembro-me muito bem do incômodo que me foi ler uma peça de 1879, porém que me parecia tão atual.

A peça é sobre como mulheres são excluídas da sociedade, às vezes com uma roupagem de cuidado e afeto.

#desafio 365 dias

Dia 48 - Poemas de outrora

Desconhecido (nov./1998)

Mosaico incerto
formam-se meias imagens
pois há tons encobertos
que distorcem a paisagem.

Paraíso desconhecido
vão espaço em mim,
não me conheço nem ao sentido
do que sentimos afim.

Vida, mosaico incerto,
por onde o amor passa perto
e só me faz sofrer.

Amor, paraíso desconhecido,
que se esconde num peito partido
que vive e sofre por você!

Porto

Um barco
veleiro
perdido
no cais
do porto
na escuridão.

Um marco
de jeito
sentido
nos ais
do corpo
no coração.

Um barco
no peito
sofrido
no cais
do corpo
na solidão.

#sinais

#desafio 365 dias

Dia 47 - Retalhos

Porque algumas pessoas têm o dom de tornar o mundo mais confuso, mesmo que não queiram. Era, justamente, o que eu tentava, sem sucesso, explicitar, quando encontrei mais ou menos isto confidencialmente perdido em uma rede social.

Claro que minha veia de escritora não me deixaria apresentar a frase como se fosse minha, mas também não seria justo recitá-la assim, como se exprimir o que eu sentia nas exatas palavras não fosse mérito meu.

Engraçado que eu, até ontem, transcendia, em poesia, o que era segredo. Uma forma de revelar-me em palavras que se fingiam endereçadas a todos que as lessem, quando, na verdade, havia um só destinatário. Eu escolhia os códigos e me esquecia em questionamentos se você os compreenderia.

Eu ria sozinha, imaginando situações prováveis, quando você perceberia, numa palavra-espelho, o seu rosto. Mas pra que pressa? Eu despedaçava o espelho em metáforas mil, para que seu trabalho de juntar os cacos se tornasse mais infértil e você desistisse. Afinal eu queria um mundo simples.

E sempre havia um quê de voz na minha apreensão, quando conversávamos. E essa frase também não é minha, porque o que me resta dizer, se o segredo já não há? A poesia sempre me foi dizer o que era preciso ser deixado no quase esquecimento. Quase. Quase porque uma lembrança, com um resquício de vida, ainda brinca por aqui.

O mais importante era que eu sou uma casa de cômodos repetidos. O poeta da rede social, de quem roubei os versos, que me desculpe, mas tudo que eu fizera, tudo que eu dissera, só havia significado uma coisa e uma coisa apenas. E eu não tenho como dizer isto melhor.

#desafio 365 dias

Dia 46 - Poemas de outrora

Areias (fevereiro, 2000)

Amor, amor,
e agora?
Como me verei a sós?
Não há alegria, há a aurora
e o romper dela
a tudo destrói:
corrói a alma, fere o ser
esmaece a vida, faz-me escrever.

Amor, amor,
não há o que se saber.
Como ter o olhar
de um girassol
se vejo apenas
pedras no caminho?
Não se escreve versos livres
se os olhos da alma a nada podem ver.

Amor, amor,
adeus?
É, anoiteceu o dia
não se pode reverter:
esgotou o tempo
da ampulheta de nossas
vidas... Amor
amor, esgotamos eu e você!

#desafio 365 dias

Dia 45 - Avesso

(Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?

Álvaro de Campos)

Eu não pedi amor, mas me trouxeram e puseram à mesa. Eu olhei por um momento e reconheci o prato de sempre. Eu ri.

Eu, definitivamente, não pedi amor, mas você veio. E como veio. Quando eu percebi, as cadeiras já estavam com as pernas para o ar, sobre as mesas, e as garçonetes já haviam fechado o café.

Eu, que não pedi amor, só pude argumentar para mim que era um engano. Levantei-me e caminhei até a porta, abri-a. Antes de sair, ainda olhei para trás em tempo de ver uma Tecedeira arrematar o ponto.

Eu não pedi amor, mas aquele para sempre seria o único prato da casa.

#desafio 365 dias

Dia 44 - Do que não consigo escrever

Olho para o cursor: ele tirita, lembrando-me de que um texto não aparecerá na tela se eu não dispuser meus dedos no teclado e os fizer trabalhar. Barney pula no meu colo; pelo menos meus gatos sabem que não suporto solidão.

Dou reload na página: a internet ainda não voltou. Não podia ser diferente, o dia passou como animação dos anos 30, como se estivéssemos desenhados em folhas e alguém as dedilhasse. Tanto faz: estamos separados ao final.

Ontem, ela me perguntou o que eu sentia. Ela sempre precisa etiquetar, enumerar, pesar, medir e, o que mais me atormenta, nomear. Em busca do que dizer, olho as pessoas ao redor: todas têm a mesma face. Depois julgo que as ver assim é egoísmo meu. Todas têm um cursor trêmulo à frente, à espera de que algo novo seja digitado; talvez só não o enxerguem. Ela chamou minha atenção e eu não tinha resposta. Talvez nunca tenha.

Acho que sinto fome, eu tentei dizer. Igual à do cursor: não me interessa quantas páginas já foram escritas, tremulo. E, tremendo, expando o que percebo. Curvo o mundo à minha palavra, me iludo. Egoísta é você, penso, como se ela me tivesse chamado de. Mas não falo, por lembrar que essa foi minha, e só minha, conclusão.

Você deveria ter as palavras certas; ela não me diz, mas certamente é o que pensa.

Eu nunca tenho palavras, na verdade.

São elas que me têm.

#desafio 365 dias

Dia 43- Fale sobre um livro que quebre a quarta parede e o narrador conversa com o leitor.

ah, hoje vou fazer publicidade do meu livro "Sem Fôlego". Nele, a protagonista chama o leitor para dentro da narrativa, como se fosse alguém com quem ela está conversando.

"Ei, você aí. É, você mesma! Eu sei que você não tem nada melhor para fazer agora e eu, bem, não posso viajar antes que meu passaporte falso seja entregue. Então, quer ouvir uma história? Pois bem, se senta aí confortável numa poltrona, imaginando que as almofadas são os braços de um galã de novela. E se prepare, pois ora sou detalhista, ora me perco divagando em ideias secundárias."
(Sem Fôlego, pg 13)

#desafio 365 dias

Dia 42- Fale sobre um livro que aborde hipocrisia.

Quem melhor para narrar, sem papas na língua, acontecimentos da sociedade no final do século 19 que um autor defunto?

Memórias Póstumas de Brás Cubas foi lançado em 1881 e é considerado não só o maior livro de Machado de Assis como também um dos melhores da Literatura Brasileira.

Machado cria um defunto autor, que decide contar suas memórias após sua morte. Em vez de seguir uma linha narrativa tradicional para a época, a história é dividida em capítulos curtos, com certo tom anedótico.

Brás Cubas é um narrador cínico que não poupa críticas a si mesmo e aos outros; à sociedade hipócrita do final do século 19.

#desafio 365 dias

Dia 41 - Fale sobre o primeiro livro que você leu ou que você se recorda da história.

Eu esqueci muita coisa da minha infância, quase tudo na verdade. Porém lembro do primeiro livro que ganhei na infância "Pé de Pilão", de Mário Quintana.

Trata-se de um poema infantil, todo rimado. eu nunca esqueci dos versos iniciais, pois virou uma tradição eu lê-lo para meus sobrinhos, assim como minha mãe o leu quando eu não sabia ler.

"A vó do pato era uma fada
Que ficou enfeitiçada
Nunca, nunca envelhecia
E era loira como o dia!

Ai, que linda ela era
Agora é seca e amarela
Parece passa de gente
Não tem cabelo nem dente."

#desafio 365 dias

Dia 40 - Meu Sorriso de Lua

A lua hoje se pintou para mim como um sorriso de palhaço: Sorria largamente para esconder um desassossego.

Sorri-lhe também. Mais por educação do que por simpatia.

A noite me era inquieta, como o corpo que se reconhece vida ainda no ventre. E quer rebentar. Quer fazer sangrar para poder surgir.

Sangrei. Mas senti-me única de novo.

#desafio 365 dias

Dia 39 - Poemas de outrora

Deveras o chão
é mais firme agora; a manhã
mais fria e o sonho
mais me apavora.

O papel está rebelde,
e a caneta com revolta...
A poesia é a chave e a chaga, a volta
sem volta, o desastre, o desarme.

Guerra insana em mim.
A mim, parece que sou atenta
detenta por um crime qualquer.

Sem qualquer juiz ou culpa
vou-me repetindo a desculpa
que já não sei me ser.

#desafio 365 dias

Dia 38 - Poemas de outrora

Sim, eu escrevo desde que era muito jovem e fazia aqueles versos bem cheios de paixão adolescente. Hoje, eu inventei de revisitar alguns cadernos antigos e ler algumas coisas, vou compartilhar com vocês os menos ruins!

Dor (10/09/1997)

Chega a Lua na noite
Entrega-se à luz a flor
Pensamentos e sonhos
Trazem à garganta um clamor:
- Vem com a Lua, meu amor!

Despede-se da noite, a Lua
De saudades, enche-se a flor
Sonhos e pensamentos
Trazem ao coração uma dor:
- Não veio com a Lua, o meu amor.

Na noite, a Lua retorna
A flor enche-se de alegria
Nada de sonhos ou pensamentos
Pois era real o que eu via:
- O meu amor, a Lua trazia!

#desafio 365 dias

Dia 37 - Poema

São dez anos.
Ou foram dez anos?
Quanto mais estudo linguagem,
mais me perco nas representações temporais.

Talvez por senti-los apenas como evento único,
seria mais correto dizer: é dez anos,
a despeito de meus enganos
ou do que a dona Norma diga.

Eu odeio dona Norma, na verdade.
Por ela, eu deveria ter chorado,
perdido o controle, ter ido à missa,
ter refletido sobre aquela premissa
de amar as pessoas como se não houvesse amanhã.

Mas eu não consigo ser assim.
Pena. Não para mim, claro.

É dez anos sabendo da continuidade
de sua existência apenas no que sou,
daí só me restou o presente verbal.

O espelho me mostra seus olhos;
o espelho me mostra seus traços
adquiridos com a idade.
Eu sou tão ela, até mesmo no que ela
queria que eu não lhe tivesse sido.

Prefiro que pensem que esqueci.
Prefiro que pensem que não sinto.
Prefiro sempre ser aquele verso do Pessoa:
“Quem quer dizer o que sente/
não sabe o que há de dizer:/
Fala, parece que mente/
Cala, parece esquecer”.

Se é para ser, que seja poesia!

Dez anos com minha mãe em mim.
E nos rouxinóis que vejo por aí.

(nota: e agora já se passaram vinte...)

#desafio 365 dias

Dia 36 - Afasia

Eu poderia ser mais clara, mas se teus olhos não veem é porque o tempo das pontes se fora: somos ilhas imersas em nevoeiro. E, sem mãos, sequer podemos remar até a outra margem. Somos corpos náufragos, sem algum fôlego, entretanto ainda lúcidos e com vida.

Poderia ser mais claro, se eu desenhasse. Até ergo meu braço e crio formas na espessa névoa. Formas de um lábio, um tanto decaído: um lábio de adeus. O mistério está em eu partir antes mesmo do aceno de encontro. Como se, de avistar a terra firme, eu apenas vivesse.

Mais claro seria se este céu se vestisse com meu nome e nele respingássemos nuvens pálidas nas formas do teu. Embora eu procure no infinito o manto azul desejado, o tecido se despetala e só nos resta aquela cortina negra e mofada de cinema antigo.

Mais claro não será porque não existe a forma exata em que eu possa definir os teus sentidos em mim.

#desafio 365 dias

Dia 35 - Fale sobre um de seus livros preferidos de ficção científica.

Trago hoje esse livro que li na minha adolescência e simplesmente amei! Blecaute (1986), segundo livro de Marcelo Rubens Paiva, foi o primeiro livro do autor que eu li (só depois fui ler Feliz Ano Velho e não, eu não li Ainda Estou Aqui).

Se trata de uma São Paulo distópica.

No livro, três amigos (Rindu, Mario e Martina) estavam explorando umas cavernas quando houve uma enchente que os impediu de sair. Quando finalmente conseguem, encontram uma São Paulo bem diferente - todos os habitantes haviam se tornado estátuas, como bonecos de cera.

É a partir desse plot que o Marcelo explora temas como: sobrevivência, fim da humanidade, relações humanas ante ao desconhecido. Tudo isso numa escrita bem envolvente.

Super indico!

#desafio 365 dias

Dia 34 - Fale sobre um de seus livros de poesia preferidos.

É raro, para mim, encontrar um livro de poemas que eu leio do início ao fim sem pular poemas, sem alterar a ordem, sem ser relapsa com alguma intenção do autor. Mas em “A Via Estreita”, de Alexei Bueno, seria um pecado fazer isso.

O livro é um itinerário poético e filosófico, dividido em dez Odes, e eu diria que ele é bem distinto do que costumo ver na literatura brasileira. Digo também que o poeta nos guia por uma ontologia do caminho humano.

O livro foi publicado em 1995 e ganhou prêmio de melhor livro de poesias da Biblioteca Nacional.

Um trechinho da Ode II:

“Não, não esperes em um outro corpo a resolução minúscula do mundo...
Perto, o cego se lamenta
Fustigando o chão com a bengala e chocalhando a caneca contra o céu,
Mas se ele amasse a treva como nós a amamos, nós que não a temos,
Nós que buscamos em outro, em um outro, que é sempre treva para nós,
A inapreensível luz da vida,
Então como ele dançaria em plena rua, como um pião vertiginoso,
Golpeando com a vara todos os rostos que jamais terá o desgosto de ver.

... Mas ele sabe que a treva é treva.”

#desafio 365 dias

Dia 33 - Desapego

Eu penso na festa que não fomos, quando você dançaria desastrosamente, porque dançar é a última coisa que sabes fazer. Mas, convenhamos, eu estaria muito bêbada para dançar bem. Porque eu até danço bem, até que a vodca me leva a fazer movimentos estranhos com a cabeça e eu perco o eixo facilmente.

O que isso importaria, afinal, se acabaríamos mesmo em risadas escandalosas dentro de um táxi? Você fingindo que o sono nem estava chegando e eu louca para sair logo daquele carro, pois o movimento estava me dando enjoo? Desculpa… eu até me repito em alto som, porque sei que eu vomitaria no elevador do teu prédio.

Por mais que eu queira pensar em um sexo louco, com a gente se pegando, se querendo, se embolando, penso mesmo que apagaríamos. Eu ainda com gosto azedo na boca e você sequer tirou a camisa que estava vomitada na manga. Nada dos teus pelos. Nem do teu cheiro. Nem de nada.

Paro por aí porque depois lembro que tudo isso é mentira de uma mulher que nunca soube o que era verdade.