A DONZELA E O CAVALEIRO

O cavaleiro prometeu que voltaria.

Deixou sua espada e seu coração como garantia de sua palavra.

Ele precisava partir, buscar um sentido para sua existência,

Sentido que não encontrara em suas batalhas contra homens e monstros.

Guerreou tanto e com tal selvageria, que já não mais conseguia se diferenciar do mal que combatia.

Quando a donzela surgiu em seu caminho, um fio de luz penetrou na penumbra cinza de seu mundo,

E ele desejou o amor e a paz que ela trouxe consigo.

Mas o cavaleiro não os podia ter, não com tanto sangue em suas mãos, tantas sombras em seu coração e tanta desonra em sua alma e então partiu.

Ela aguardou pacientemente.

Em seus sonhos o via em naufrágios, atravessando desertos, congelando em picos distantes, lutando para não lutar, emaranhando-se na selva das almas humanas, tentando entendê-las e assim entender a sua própria.

Por três vezes as sombras diminuíram e aumentaram, três foram as colheitas abundantes sob o Sol alegre do Verão, três vezes as folhas caíram e as flores explodiram nos campos e florestas, e ela ali ficou, guardiã resoluta e esperançosa.

Até que um dia, em um final de inverno cinzento quando ela, sentada sobre seu manto nas pedras frias do pátio, segurava a guarda da espada, tentando sentir no metal frio algum resquício de seu amado ouviu o ressoar de passos.

Um mensageiro talvez, trazendo a notícia da morte do cavaleiro?

Mas o bater apressado de seu coração dizia-lhe que estava errada.

Uma sombra assomou a porta.

Era ele!

O cavaleiro avançou dois passos e a donzela pode ver em seus olhos que aquele não era o mesmo homem que partira.

Sorriu.

Agora ele era digno dela, por ser digno de si mesmo.

Comentários
Avatar de Alex Marques
Alex Marques
3 weeks ago
Sempre muito bem escrito, boa história.
Avatar de Fabiana Carvalho de Souza Nichelli
Fabiana Carvalho de Souza Nichelli
4 weeks ago
Que lindo, Marcos. Confesso que estava imaginando o pior no final.