O cavaleiro prometeu que voltaria.
Deixou sua espada e seu coração como garantia de sua palavra.
Ele precisava partir, buscar um sentido para sua existência,
Sentido que não encontrara em suas batalhas contra homens e monstros.
Guerreou tanto e com tal selvageria, que já não mais conseguia se diferenciar do mal que combatia.
Quando a donzela surgiu em seu caminho, um fio de luz penetrou na penumbra cinza de seu mundo,
E ele desejou o amor e a paz que ela trouxe consigo.
Mas o cavaleiro não os podia ter, não com tanto sangue em suas mãos, tantas sombras em seu coração e tanta desonra em sua alma e então partiu.
Ela aguardou pacientemente.
Em seus sonhos o via em naufrágios, atravessando desertos, congelando em picos distantes, lutando para não lutar, emaranhando-se na selva das almas humanas, tentando entendê-las e assim entender a sua própria.
Por três vezes as sombras diminuíram e aumentaram, três foram as colheitas abundantes sob o Sol alegre do Verão, três vezes as folhas caíram e as flores explodiram nos campos e florestas, e ela ali ficou, guardiã resoluta e esperançosa.
Até que um dia, em um final de inverno cinzento quando ela, sentada sobre seu manto nas pedras frias do pátio, segurava a guarda da espada, tentando sentir no metal frio algum resquício de seu amado ouviu o ressoar de passos.
Um mensageiro talvez, trazendo a notícia da morte do cavaleiro?
Mas o bater apressado de seu coração dizia-lhe que estava errada.
Uma sombra assomou a porta.
Era ele!
O cavaleiro avançou dois passos e a donzela pode ver em seus olhos que aquele não era o mesmo homem que partira.
Sorriu.
Agora ele era digno dela, por ser digno de si mesmo.
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