rosana858 @rosana858
O Cântico Entre Mundos
O chamado ecoa; o coração sente.
Ela segue, sobe os degraus de pedra, observa — e não vê.
No alto da torre, o cenário panorâmico sepulta o horizonte,
que se veste de nuvens como uma mortalha.
Toca o passado.
O antigo sino de ferro fundido permanece calado.
Passa os dedos pelos desenhos forjados em ferro e devoção.
Juntos, no mesmo templo —
ele no subterrâneo; ela no alto da torre —,
ambos escutam o mesmo cântico ressoando entre seus mundos.
A alma dela se eleva — sente a vibração da presença que mora no calabouço.
A sombra dança na escuridão; ele recita versos em silêncio.
Cada nota é uma centelha que aquece,
como um corte profundo — um refrão que dissolve o “eu”,
até restar apenas o pulsar do mistério que a instiga.
A melodia atravessa os dois; mesmo separados, consagra.
Ela o aceita, acolhe, transcende;
na diferença, tece significado.
Ele se deixa permear, esquece a prisão,
oferece-se à força que o desnuda.
E, por um instante — breve e eterno —,
um jorro de luz atravessa a rocha.
O abismo e o alto se encontram.
Os dois reconhecem o mesmo ritmo, a mesma origem.
O mundo sopra entre eles — invisível e, ainda assim, palpável.
Um tempo se dobra, se reflete, se transforma.
Do cume da fortaleza, ela entende que a canção não lhes pertence.
Do fundo da galeria, ele sente que o canto não precisa de resposta — apenas de presença.
E assim, o sentimento continua, ignora as muralhas,
aquecendo o que já foi tocado pelo amor —
e que dispensa palavras por, desde o início, simplesmente ser.
@rschumaher