A casa de campo da Senhora Velha é uma das mais bonitas que eu já conheci. A propriedade tem um jardim grandioso, uma piscina com água morna, um lago e uma estufa com tomates, pimentões, temperos e flores raras. A arquitetura foi inspirada em uma antiga mansão da família que ficava em Newport, Rhode Island e acho que é justamente por isso que eu sempre tenho a sensação de estar fora do Brasil quando estou aqui.
Às vezes eu tenho vontade de me mudar para o campo, eu sempre sonhei em ter uma estufa para poder plantar a minha dieta mediterrânea, mas depois de 10 dias no interior eu começo a ficar ansiosa e não vejo a hora de voltar para a capital.
A mesma coisa acontece quando estou no litoral ou qualquer outro lugar que tenha sobrado no mundo onde dê para enxergar mais o horizonte do que os prédios.
Eu sei que a vida na cidade é dura, cinza e cara, mas eu gosto de olhar pela janela do meu apartamento e ver os prédios, as luzes e o movimento contínuo dos fluxos metropolitanos.
Eu gosto de ir para a praça e ver as pessoas que eu não conheço fazendo piquenique, tomando sol, as poucas crianças brincando nos playgrounds, os casais namorando e depois, às 11:45 ir ao restaurante que eu frequento há 30 anos, sentar na mesa da janela e pedir meus ovos beneditinos.
Eu aprendi a gostar da rotina, essa dança repetitiva que nos molda e define, ela é a minha âncora na turbulência que a vida se tornou... Se na cidade os termômetros estiverem marcando três graus ou cinquenta os meus ovos serão sempre os mesmos mas é através da janela de todo o dia que o sabor deles mudam.
Quando a temporada de ópera chega ao Municipal eu saio às 16:30 no sábado e peço uma taça de tinto no Salão Dourado enquanto espero o espetáculo começar. Aos domingos eu me recolho e fico em casa com a minha melomania. Se ela é uma paixão saudável ou um comportamento compulsivo eu não sei dizer, contudo, esse diagnóstico não me importa.
Na última viagem que fiz a Nova York eu comprei na Pippin Vintage da rua 17 uma linda bengala com cabeça de raposa. Eu não vejo a hora de usá-la e acho que nem esperarei a necessidade para isso, me sinto segura andando de bengala nas ruas, ela
faz as vezes de um spray de pimenta para a defesa de uma Senhora Senhora. No meu apartamento, eu treino com a bengala e a força do meu braço, golpes de nadadora.
Do pilates eu não tive como escapar, especialmente depois de entender que também é preciso investir em músculos nessa vida. Então o exercício na cadeira elétrica e a minha dieta mediterrânea deverão me levar aos 100 anos lúcida e operante (mas talvez muda).