-Senhora, senhora! Eu trouxe um presente para você, um perfume com notas de giz de
cera que aguçaraÌ a sua memoÌria infantil toda vez que voceÌ‚ usar!
-Augustin, quanto gentileza ao falar que estou ficando velha!
Gargalhamos e nos abraçamos com a cumplicidade de quem sabe que não existem
muitos pares como os nossos por aiÌ...
Augustin estava como sempre, impecaÌvel. Seus olhos viÌvidos estavam especialmente
brilhosos nesse dia. Talvez fosse os ares do campo e talvez fosse apenas seus
pensamentos, mas o fato eÌ que ele estava contagiante e ateÌ Boris latiu alegre com a
sua presença.
Depois do almoço noÌs treÌ‚s fomos caminhar pelo campo e chegamos ateÌ o grande
carvalho onde os tuÌmulos dos pais da Senhora Velha estavam. Este eÌ o ponto mais alto
da propriedade com uma vista desobstruiÌda para todos os lados.
O vento e o sileÌ‚ncio se revezavam em uma muÌsica melancoÌlica.
Trocamos as flores dos tuÌmulos como a Senhora Velha nos pediu e depois ficamos
contemplando as cores do ceÌu que iam do azul ao laranja passando por rosa e roxo.
- Senhora Senhora, eu andei pensando e acho que a gente devia voltar a Moscou,
você me pegou desprevenido quando começou sua ode à resignação. Depois de
pensar muito eu ainda acredito que ela eÌ nada aleÌm de uma fraqueza da alma e se por
acaso algo bom ou absoluto acontece por conta dela isso eÌ nada aleÌm do que obra do
acaso.
- Mas não seria o acaso a resignação de Deus?
- Com certeza do demoÌ‚nio não eÌ, isso eu posso te garantir. Ele jamais largaria a esmo
o curso de qualquer coisa que existisse. Controle eÌ a sua palavra de ordem.
- E onde estaÌ o demoÌ‚nio quando precisam dele, no caso ou no acaso ?
- Nesse exato momento, ao seu lado.Â