Passava da meia-noite e ainda era possível ouvir os ruídos do convescote. Augustin bateu à minha porta e começou a desfiar uma ode à bile. Disse que, se não fosse pela raiva, talvez já nem estivesse mais vivo. Falou também que a bile é aquele detalhe que, se você olha demais, acaba intoxicado por ela.
Perguntei o que tinha feito sua bile ferver, e ele respondeu que era o medo de que a mediocridade, disfarçada de excentricidade, conseguisse angariar fundos para a cafonice. E que essa , por sua vez, demorasse a ir embora.
Começamos então a elaborar planos para acabar de vez com a festa, pensamos em soltar no ar um cheiro de enxofre, mas pelo teor dos convidados eles poderiam gostar. Violência nunca fez parte de qualquer plano que já colocamos em prática , então ações nesse sentido estavam descartadas.
Depois de meia hora ainda não tínhamos chegado a qualquer conclusão e começamos a ficar cansados com a ideia de sabotagem, percebemos que o que estávamos sabotando na verdade era a nossa própria energia. Ela estava sendo usada para um certo tipo de vingança que talvez nem valesse a pena.
- Em casos com esse é melhor você brigar com o espelho, disse Velha ao entrar no quarto. Caímos na risada e por mais meia hora não conseguimos parar de rir, nosso riso foi ficando tão alto e tão contagiante que muitos dos convidados ficaram indignados e para a nossa surpresa começaram a partir.
Quando deu 3 da manhã só restava na sala Listrada e Valentina, o seu violino e a música mais dissonante que já ouvi.
Embalamos um sono meio agitado que lembrava uma travessia, uma travessia da runa Eihwaz, onde você é advertido de que através da inconveniência e do desconforto é promovido o crescimento: coloque a sua casa em ordem, incline-se ao trabalho, seja claro e aguarde a vontade do céu.