O dia amanheceu rosa e fomos ateÌ a varanda tomar nosso cafeÌ da manhã, Augustin se
esmerou no preparo dos ovos turcos: ovos caipira, iogurte, sal, paÌprica defumada,
manteiga e pimenta do reino e para quem gosta, alho. Eu não suporto e uso alho poroÌ
quando quero sentir essa parecida pungência.
Mesmo querendo emendar um aperitivo depois do almoço, um passeio e depois outro
aperitivo ateÌ o happy hour, estou firme no meu propoÌsito de escrever pelas manhãs.
Boris e Augustin jaÌ entenderam a minha missão e me ajudam a manteÌ‚-la.
Enquanto escrevo, Augustin faz o seus contatos e confere se algo acontecido no
mundo nas uÌltimas 24 horas mereça a sua atenção. Cada vez menos, eu diria e ele
tambeÌm. Segundo Augustin, vivemos em um tempo com muita pungeÌ‚ncia de
movimento e quase nenhuma mateÌria de fato.
Hoje, todos podem ser tudo, mas o que são de verdade eÌ quase nada, afinal não existe
grandiosidade real em um mundo que estaÌ se acabando. Somente a ilusão. Poucos
entendem o verdadeiro o contexto da atualidade, a maioria prefere se esbaldar em
telas sendo ora exibicionistas e ora voyeurs em uma dialeÌtica que suga a alma.
Eu preciso tomar cuidado para não embarcar nos conceitos filosoÌficos de Augustin e
me tornar 100% niilista. Talvez esse seja o maior desafio do nosso relacionamento, por
menos que isso Boris, em uma festa, resolveu se transformar em cachorro. Na sua vida
pregressa, de humano, não havia estiÌmulo que o fizesse "balançar o rabo" , mas hoje,
basta ver um rosto amistoso, um fileÌ mal passado ou um passarinho colorido para
fazê-lo.
Por mais misantropa que eu seja, a troca ou venda de produtos eÌ o lado humano que
eu mais gosto. Não existe lugar no mundo que me deixe mais feliz do que uma retail
zone... AliaÌs, esse termo eu ouvi de um guia turiÌstico que estava explicando a rua 25
de Março para alguns americanos: The most important retail zone in São Paulo, ele
disse !Â