Foi no ano que deixamos o preÌdio do centro que resolvemos passar o reÌveillon juntas.
Fomos para o Grande Hotel de Campos do Jordão. Nos aÌureos tempos esse hotel era
tambeÌm um cassino, e existe uma vibração peculiar de hoteÌis que jaÌ foram cassinos
em cidades que jaÌ foram sanatoÌrios.
Vibração, esta que eÌ muito familiar para todas noÌs.
Logo depois da meia noite do dia 1 de Janeiro, no bosque chuvoso e com neblina,
apareceu o Senhor Ruivo. Ele estava viajando sozinho e por algum motivo que não se
lembra ateÌ hoje, achou que seria auspicioso passar a virada do ano no bosque.
Mas a verdade eÌ que a Naturaleza , mesmo colonizada, tem as suas artimanhas e
algumas vezes não adianta tentar negociar com ela sozinho. EÌ preciso um agente que
fale ambas as liÌnguas e se solidarize com a causa. O agente, muitas vezes, tambeÌm
tem uma causa e nesse caso ele precisa de um objeto para a troca com a Naturaleza.
Para uma relação como essa começar basta somente um capricho do agente. Ele,
como grande negociador que eÌ, pode se dar ao luxo de ter caprichos...Mas nesse
caso, não sei se por capricho ou destino, noÌs nos aproximamos do Senhor Ruivo
inaugurando naquele ano mais um lugar na nossa mesa.
A sorte de ter amigos diversos eÌ a diversidade em si. Os lugares, as histoÌrias e a
quiÌmica que acontece quando nos reunimos. Mas hoje nossos encontros são
esporaÌdicos e designados apenas para ocasiões especiais.
Augustin eÌ o uÌnico que não tem viÌnculo direto com o Brasil , poreÌm quando nos daÌ a
honra de sua presença ele vem sempre acompanhado de seu seÌquito invisiÌvel. Eles
não ocupam os lugares da mesa mas fazem sombras em nossos pratos.
NoÌs jaÌ nos acostumamos com as sombras, podemos ateÌ falar que de certa forma elas
nos protegem não soÌ do sol como tambeÌm da absoluta escuridão.Â