Preparou o seu material e no momento que lançou a linha em direção a cachoeira, viu uma imagem que o paralisou de susto: Sob uma pedra, perto de onde a água caia um enorme urso preto estava buscando alimento, por sorte ele estava na margem oposta do lago, pensou Justiano, recuperando do susto, mas ainda meio tenso, ele ficou sentado e quieto, apenas observando o urso.
O animal parecia ignorar a presença do homem, estava mais interessado em pegar seu almoço, imóvel, com o olhar fixo na água, acompanhava sua presa e num aceno rápido coloca a pata na água jogando para fora um grande peixe, este cai no gramado e começa a saltitar em direção ao lago, mas num pulo a fera está em cima dele com suas duas patas, abocanhando-o, caminha para o interior da floresta para apreciar seu suculento almoço. Pelo tamanho do peixe, Justiano avalia que devia ter uns três quilos pelo menos, mas não consegue identificar a espécie de peixe, talvez fosse um salmão ou uma truta ou qualquer outra espécie.

Agora, já sem a companhia do urso, e mais sossegado, Justiano começa a sua pescaria, na esperança de fisgar um igual ao do seu concorrente. Nas primeiras horas não consegue nada, nem um sinal de vida, ele troca as iscas, tenta vários tipos e nada. “- Será que aquele urso desgraçado pegou o único peixe daqui?”, xingava ele.
Já um tanto desanimado, sentado sob uma pedra, largou sua vara para preparar seu fumo, foi quando um forte puxão na linha interrompeu a sua atividade, e no momento em que foi segurar a vara um novo puxão, desta vez mais forte, a ponto de levar a vara para dentro do lago, impotente, o homem ficou vendo seu material deslizar sob a superfície fazendo “esses” e só parar quando enroscou nos galhos das árvores caídas, desesperado procurou algo para resgatar seu material, voltou com um pedaço de bambu e conseguiu tirar a sua vara da água, o peixe já tinha ido embora, o velho senhor se sentiu provocado, e estava decidido a pegar o atrevido de qualquer maneira, ficou ali tentando até o anoitecer, mas o peixe não retornou, como ele não estava preparado para a noite, não teve outro remédio senão retornar para casa, mas saiu dizendo: “- Amanhã eu volto, e vou te pegar seu danado!!”.
E dia após dia ele retornava ao local e ficava horas tentando e esperando, chegava cedo da manhã e ficava até altas horas da noite, passava frio e fome na obsessão de pegar o peixe, até pegava peixes de bom tamanho, mas ele sabia que não era aquele peixe que escapara...ele sabia...ou achava que sabia.
Até que um dia ele pegou, quando estava meio desconcentrado, um puxão quase lhe tira a vara das mãos, no susto ele segura firme e sente que do outro lado está algo com uma força descomunal, ele é obrigado a soltar mais linha, e peixe puxa com toda sua força, tenta de qualquer maneira se enredar no meio dos galhos das árvores caídas no lago, mas com muita habilidade o pescador consegue evitar e controla os movimento do peixe, mantendo-o firme na linha, recolhe alguns metros de linha, mas é obrigado a soltar outros, e os dois ficam nesta disputa que já dura quase quinze minutos, Justiano ali firme, e sorrindo por dentro, satisfeito com o seu feito, ainda não tinha visto o peixe, mas julgava ter uns 20 kg talvez mais de 1 metro de comprimento, a luta estava boa, aos poucos o bicho vinha se aproximando, de vez em quando se debatia por baixo da superfície, o velho lhe dava mais linha, quando ele já imaginava-se erguendo o peixe, sente que este começa a puxar para um mesmo lado, seguindo numa mesma direção, ele vê a linha correr horizontalmente a sua frente, parece que o peixe sabe aonde está indo, de repente para e a linha trava, Justiano não consegue mais sentir movimento algum, tão menos puxar a linha, o peixe parece que consegue se enroscar em alguma coisa no fundo lago: “- Desgraçado!!! Se prendeu no mato!!!” - xinga o velho, ele fica ali parado tentando entender o que aconteceu, do outro lado da linha parece não ter vida, nenhum sinal do peixe, ainda esperançoso o velho aguarda mais algum tempo, mas depois de meia hora ele se convence que não há outro jeito senão cortar a linha, então enrosca ela no braço e puxa, logo a linha se afrouxa acabando de vez com as últimas esperanças do velho.
Justiano ficou ali, parado, com cara de tacho, pronúncia alguns palavrões, os quais não posso descrever aqui...ele mal pode acreditar que conseguiu perder um peixe daqueles, será que foi
falta de experiência, pensa ele enquanto termina de enrolar o que restou da linha. Agora mais do que nunca ele está decidido a pegar o peixe de qualquer maneira.
Senta-se debaixo da sombra de uma árvore e arruma sua próxima isca, mas também aproveita para se recuperar da decepção, pois sabe que tão logo o peixe não morderá novamente, “O peixe deve estar mais exausto do que eu, afinal quase foi fisgado, seu coração deve estar na boca, saltando para fora.” imagina o velho, sorrindo consigo mesmo.
Ele fica ali por mais algumas horas, já era tarde, pega alguns peixes para preparar à noite e retorna para a cabana, apesar de frustrado ele também estava faceiro, pois teve um dia e tanto, teve uma bela batalha, é verdade que saiu derrotado, mas para ele era apenas o início, como diz o velho ditado popular: “Perdeu a batalha, mas não a guerra!”.
