O dia seguinte, amanheceu com um sol e promissor, Justiano acordou mais animado, preparou um rápido café, não esqueceu do lanche para o cão também, o dia parecia que ia ser quente, o velho estava sentindo que hoje o dia prometia, sem falar que ele próprio estava ansioso para puxar o peixe, e talvez essa ansiedade toda que estivesse fazendo com que achasse que o dia seria bom.
Logo, já estava com os materiais nas mãos partindo para o seu pesqueiro, com o seu cãozinho atrás é claro. O chão ainda estava meio barrado por causa da chuva, as lamas respingavam nas calças enquanto ele caminhava, mas isso não o perturbava nem um pouco, que continuava com os passos firme em direção ao seu objetivo.
- Ah! É hoje que agarro esse peixe, ou não me chamo Justiano, velho!
- Au, au, au!!!!
Chegaram ao local, o sol já refletia lindamente sobre a superfície do lago, para amenizar o efeito da luz o Velho colocou seus óculos escuro, um velho ray-ban que ele já tinha desde tempo de jovem, mas ainda muito bem conservado e servido ao propósito ao qual fora criado.
As horas iam passando, e Justiano estava confiante, pois o dia estava bom para peixe, já tinha fisgado um bom número, mas não eram muito grandes, todos com menos de um quilo, mas ele estava certo de que se aquele peixe estivesse ali ainda, logo, logo estaria na linha e desta vez ele pegaria.
O sol já ia alto, sua cabeça já começava a assar, foi quando se abrigou abaixo da sombra de uma árvore, no mesmo instante que sua linha começou a fazer uns movimentos estranho, o velho, a princípio achou que era por ter se mexido, a linha estava frouxa, mas começou a correr para um lado, parando e logo em seguido corria em direção contrária, Justiano recolher até esticar toda ela e sentiu um peso enorme na ponta, parece que meio sem querer ele havia fisgado algo e pela força do bicho não era pouca coisa: “- Hah!!! Será que você está aí? Seu danado!!!!” vibrava o velho, ao mesmo tempo que deu o tranco na vara puxando-a para trás e engatando o peixe.
Estava reiniciada a batalha, “- É hoje!!!” bradava o velho, o cão que estava ao seu lado, vendo a agitação do homem, começou a latir e correr em volta, como se estivesse na torcida pelo sucesso do seu parceiro, vez em quando parava e olhava para o lago e latia ele realmente parecia faceiro, enquanto o velho, com aquele sorriso nos lábios, lutava para manter o peixe sob controle, impedindo que este fosse para o meio do matagal, a carretilha cantava com o puxar e soltar da linha, como uma criança maneja com maestria sua pipa em dia de pouco vento, o velho controlava a ação do equipamento.
Os minutos iam passando e luta se desenrolava, agora era um jogo de paciência, o vencedor seria aquele que tivesse mais persistência, ambos, certamente eram muito experientes, já haviam transcorrido uns quinze minutos, há essas alturas o cão já havia cansado de latir e de correr e se encontrava abaixado sobre as patas de olhar ainda fixo, ora para o lago, ora para o homem, ele agora se tornara um mero espectador.
A batalha estava chegando nos momentos decisivos o seu desfecho final estava próximo, tudo indicava uma vitória já esperada. Justiano já ria à toa, estava confiante e satisfeito consigo mesmo, pois sua paciência e persistência estava o recompensando, o peixe deveria estar a uns quinze metros de distância, parecia cansado, já estava vindo com certa facilidade, agora já se debatia na superfície exibindo seu belo corporal prateado de quase um metro de comprimento ou mais, Justiano estava encantado, a fricção em suas mãos fazia seu corpo todo tremer, seu olhos brilhavam vendo aquele peixe ali, tão próximo, pouco menos de dez metros, quase em suas mãos, já preparava o gancho para içá-lo, pois a rede era pequena para aquele peixe, quando de repente, como que em um último esforço, o peixe se debate e puxa em direção oposta, pegando o velho de surpresa, que já não esperava uma reação tão forte do peixe, tanto que nem teve tempo de agir, e quando tenta fazer algo já é tarde, a linha se parte e o peixe se vai...o cachorro se levanta de sobressalto aproxima da beira do lago e solta resmungo de lamento “- Unhhhh!” …
Novamente o velho fica sem ação, não sabe se ri ou se chora, sente uma frustração tão grande e, também uma imensa vontade de jogar tudo dentro da água, arruma suas coisas e volta para casa, por hoje perdera a vontade de pescar.
Chega na cabana, ainda perdido em seus pensamentos, como que conseguiu deixar escapar? Como!!! Indignado consigo mesmo ele ajeita umas lenhas aos chutes para preparar uma fogueira, de repente ele pega um pedaço de toco na mão e se ergue erguendo o toco para o alto e brada: “- Eu juro que ainda vou te pegar, nem que seja a última coisa que eu faça nesta vida!!! Seu maldito peixe duma figa!!!” …
A noite se adentra, o velho está fumando seu cachimbo sentado na varanda olhando para o céu, para as estrelas ou simplesmente olhando para o nada, o certo é que seus pensamentos estão no peixão, que por pouco deixou escapar, tem a sensação de já estar segurando-o em suas mãos e ele vai escorregando por entre os dedos como se estivesse segurando um sabonete molhado, que ao se apertar pula das mãos, deixando um vazio nas mãos.
Já é tarde da noite, o pulmão começa a reclamar da toxina, ele começa a tossir e pigarrear, então resolve entrar e tentar dormir, o que talvez hoje seja muito difícil…
E realmente, essa noite foi muito longa, ora ele ficava olhando para o teto, ora ele se virava para um lado, ora revirava para outro, mas com a cabeça sempre no mesmo pensamento, pegava no sono por alguns minutos, mas logo acordava com um sobressalto, com os braços involuntariamente fazendo os movimentos da fisgada, ele ainda ia acabar ficando maluco com aquilo, ou criando hematomas nos braços que batia na parede.