Na manhã seguinte acordou meio sonolento, pois bebê ainda acordou várias vezes durante a madrugada, o sol ainda não mostrava sua cara, os pássaros nem cantavam, apenas alguns sapos coaxavam na beira do lago, Justiano preparou um café e acendeu seu velho cachimbo, quando ouviu seu filho mais novo se levantar e falar: “- Isso ainda vai acabar te matando, velho!!!”.
Tomaram café rapidamente, depois pegaram seus materiais e partiram para o lago, agora os primeiros raios de sol já apareciam por detrás dos pinheirais, Justiano seguia na frente com passos firmes, os outros dois pareciam desacostumados com o mato, Maximiliano carregava um facão em sua mão cortando alguns galhos laterais que lhe batia no rosto, Victório, o mais jovem vinha atrás brincando com o cão, entraram dentro do mato meio serrado, havia uma trilha que cortava o bosque, mas lá dentro ainda estava escuro, então Victório tirou sua lanterna do bolso e logo foi provocado pelo mais velho “- Pra quê isso? Tá com medo é?”.
Neste momento, Justiano que se distraíra com a conversa dos dois, sentiu seu pé pisar sobre algo movediço e roliço e logo em seguida alguma coisa agarrar em sua bota, como uma mordida, o instinto faz com que ele dê vários saltos gritando desesperado, o coração acelera o batimento, o corpo esquenta e o sangue lhe sobe à cabeça, por instinto, ele sabe que fora mordido por uma cobra, quando se volta para trás procurando a peçonhenta, vê a imagem de Maximiliano descendo o facão habilmente sobre o réptil, repartindo-a em duas, ajudado pela iluminação da lanterna do outro rapaz.
O velho cai sentado e tenta retirar a bota de seu pé e logo é socorrido por Victório, que lhe retira a bota e verificam o estrago, a pulsação do velho está à mil por hora o coração parece que vai saltar para fora e a respiração ofegante e com dificuldade, mas tudo isso é apenas efeito do susto, pois na perna não há um arranhão sequer, a cobra apenas mordeu o couro da bota, não pegando o couro do homem.

Mesmo assim Justiano parece em estado de choque, os filhos resolvem cancelar a pescaria e carregam o velho de volta para cabana.
Vendo o homem sendo trazido carregado, as moças logo então em desespero, mas tão logo tomam conhecimento fatos se acalmam e preparam um tranquilizante para o pai, com o barulho, o bebê também acorda e começa a chorar, sua mãe vai logo em seu socorro.
Depois de algum tempo já mais sossegados os ânimos, Justine, a filha caçula, questiona com seus irmãos sobre a segurança de deixar com que pai continue vivendo ali, “- Hoje foi só de raspão, mas e da próxima vez?” indaga ela; Maximiliano opina que a decisão é do pai, que ele deve escolher, que ele sabe dos riscos que corre vivendo ali, mas que é o que ele quer, e que não podem interferir nas vontades dele; depois de alguns minutos de discussão a moça, mesmo contrariada, consente com a decisão: “- Não tem jeito mesmo, né!”.
O resto dia eles tiraram para botar os papos em dia, Justiano aproveita para curtir seu netinho, carrega o garoto para todos os lados, leva para ver o cão, para ver as aves e, também para o lago e logo sua mãe fica apreensiva: “- Cuidado com as cobras!!!!”.
Antes do fim da tarde, se arrumam para a viagem de volta, pois na segunda-feira todos retornam às suas atividades, colocam as bagagens no carro e se despendem do velho, este fica com o bebê nos braços até o último momento, ele sente uma vontade imensa de não querer mais se separar, mas vence a tentação e o entrega para a mãe, a porta do carro se fecha.
Maximiliano fala algumas palavras as quais Justiano não escuta, seu olhar ainda está no menino, dá um aceno, mas o menino só reclama procurando os seios da mãe, o motor do carro ronca mais forte e se põe em movimento, ainda acenando, o velho vê a pick-up se distanciando e ficando cada vez menor até sumir na descida de uma lomba deixando apenas a poeira da estrada…
