Na manhã seguinte acordou com o corpo um pouco dolorido, talvez de tanto bater com os braços na parede enquanto dormia, esticou os braços para cima se espreguiçando, quando sentiu os músculos retraírem e uma forte dor na coluna, é a idade estava começando a fazer seus estragos. Enquanto preparava o seu café, percebeu que estavam acabando seus mantimentos, decidiu ir até a cidade naquela manhã.
A vila mais próxima ficava a pouco mais de uma hora dali, em estradas de chão batido e com muito pedregulhos, e que em dias de chuva não era nem bom sair dali, apesar de ter um jipe moderninho, com tração nas quatro rodas, para um senhor na idade dele, ficar atolado no meio de uma estrada deserta e sozinho, não era uma ideia muito animadora. Mas hoje, o dia estava quente, talvez à noite viesse uma garoa, quem sabe à tarde, ainda ele pudesse pescar, o que na verdade ele já estava ansioso ou até com raiva do peixe que intencionava pegá-lo de qualquer jeito, e de preferência logo, antes que ele ficasse louco.
Na vila, ele aproveitou e passou no posto de postagem onde mantém uma caixa de correspondência, às vezes seus filhos lhe mandam alguma carta ou jornais, e hoje havia uma carta de seus filhos, dizendo que lhe fariam uma visita “surpresa” neste fim de semana, hoje já era sexta-feira, então eles já estavam para chegar, pensou ele, teria que comprar algumas coisas para recebe-los, será que seu netinho também viria? Como será que ele estaria? Já teria crescido bastante, afinal já se passaram mais de um mês desde o seu nascimento. Foi à loja de brinquedo e comprou alguns brinquedos; “- E fraldas?? Será que é bom comprar fraldas também?”
Pensou e comprou!!
Chegou em casa já se passavam do meio-dia, preparou algo para comer, o dia estava muito quente, a cerveja ainda estava quente devido a viagem, e mal ele havia colocado no refrigerador, mesmo assim não resistiu e tomou uma que desceu “arranhando” a garganta (O ministério da saúde adverte: Beba com moderação, e se beber não dirija e se você tiver menos de 18 anos não beba), e depois foi tirar uma sesta.
Acordou já quase as 15 h, foi para a beira do lago se refrescar um pouco, depois foi dar uma ajeitada na casa, tirar um pouco de pó, pois ele havia ficado um bom tempo entretido em função do peixe que esquecera da casa, mas queria deixar o lugar limpo para receber seu netinho. Eita vovô coruja.
À noite, mal conseguiu dormir de ansiedade, ficava rolando de um lado para outro da cama, amanheceu ainda com sono, meio zonzo quase cambaleando, não conseguia achar seu saquinho de passar café, revirou toda cozinha e nada, desistiu de tomar café acabou optando por um chocolate com leite, após isso ficou na dúvida, se ia pescar ou se esperava em casa, acabou ficando, e por volta das 9:30 hs o velhinho (cão) começou a rosnar e latir em direção do portão, logo escutou o som da buzina.

O velho correu para receber as visitas, no portão se encontrava um Toyota Hilux cinza e parecia lotado de gente, Justiano logo reconheceu os ocupantes da parte dianteira, abriu a porteira e tão logo o carro estacionou, saltou para fora do veículo, seus dois filhos mais sua filha e por último sua nora com seu netinho nos braços, cumprimentou a todos com longos abraços e indagando sobre a viagem, apesar da vontade de pegar seu netinho no colo, resistiu e esperou estar confortavelmente sentado para pegá-lo, mesmo assim, ainda meio desajeitado e inseguro. Depois trouxe os presentes para ele e foi logo dizendo: “- comprei fraldas para ele também!!!” no que ouviu “- Há tá!!! Tinha que ser o vovô mesmo, comprou fraldas também??!!” todo deram muita risada disso. O cachorro Velhinho, foi logo se simpatizando com as visitas, já brincava faceiro com o filho mais novo e com a filha de Justiano pela varanda da cabana. À tarde Justiano foi pescar com seus filhos, foram buscar alguma coisa para o jantar, os peixes dali eram muito deliciosos, Justiano gostava de recomendar. Voltaram com uma meia dúzia de peixes, cada um beirando o peso de 1 quilo.

Prepararam uma fogueira para assá-los e também espetaram alguns pedaços de carne de boi, ou talvez fosse de vaca, enquanto as mulheres preparavam alguma coisa para acompanhar, os três ficaram em volta do fogo bebendo e falando cada um das suas aventuras, Justiano, contou sobre como o cachorrinho veio a morar com ele, e a princípio não queria contar sobre o peixe, mas à medida que a bebida ia fazendo efeito, acabou soltando tudo, os filhos não levaram muito a sério, pois acharam muito difícil ter um peixe de 20 kg por aquela zona, pensaram que era mais uma história de pescador, mesmo assim combinaram de na manhã seguinte saírem cedo para conferir o local. Já há essas alturas os assados já estavam prontos, juntaram–se as mulheres e apreciaram a janta. Ficaram conversando até altas horas da noite, o pequeno Justinho já dormia profundamente, cansado da viagem, era a primeira vez que saia para um lugar tão longe e diferente. Para dormir não havia quarto para todos, pois a cabana tinha apenas um quarto, uma sala e cozinha (e um banheiro é lógico).
Justiano deixou o quarto para o casal, e junto com os outros foi dormir na sala, ele no sofá e os outros em colchonetes, a noite estava agradável, e devido a bebida e ao cansaço todos adormeceram logo.
Na madrugada, Justiano acordou com um barulho estranho, acostumado com todos os sons daquele lugar, de repente ouviu algo que era estranho ao ambiente, mas que há muito tempo já havia escutado antes: um choro de bebê… “- Buah, buah, buaaaaaaaaaah!!!!”.
Levantou-se e foi verificar, o pai já acostumado com os choros, respondeu meio dormindo: “- O bebê havia acordado e estranhado o local, ou então estava com fome, ou ainda com dor de barriga ou talvez…”
O garoto ainda reclamou por mais meia hora até pegar no sono novamente, enquanto isso, veio a memória do velho, recordações das noites que ficava sem dormir por causa das choradeiras dos seus filhos, parecia que estava voltando no tempo, e novamente se lembrou de sua esposa Direitina, da paciência e do carinho com que ela cuidava das crianças e viu na sua nora uma imagem semelhante.
