Chegando em casa, trocou as roupas encharcadas e se atirou na preguiçosa, seu corpo ainda tremia, acendeu seu cachimbo para tentar se acalmar, a imagem do urso bem na sua cara ainda estava bem nítida, o cão já brincava como se nada tivesse acontecido, o dia já estava perdido para o velho, pois ele precisaria do resto do dia para se recuperar.
E durante o dia todo, não conseguiu pensar em outra coisa, e toda hora ficava olhando para trás e em sua volta, procurando a sombra do urso, ou imaginando o urso em qualquer sombra, bastava o cachorro latir para que Justiano já se arrepiasse todo, ele ainda ficaria louco ou talvez só meio neurótico.
A noite também não foi muito diferente, quase não pregou os olhos, ao menor ruído já se erguia, sem falar dos pesadelos que vinham e iam constantemente em sua cabeça.
Pela manhã, acordou cansado, quando viu o cão lembrou de agradecer por ter contido o urso enquanto estava distraído: “- Oh meu velhinho, você me salvou, e eu só agora me percebi disso, se não fosse você, não sei se estaria aqui ainda, oh meu cãozinho valente!!” e afagou o animal enquanto lhe dava o café da manhã.

Depois, ergueu-se e espreguiçando-se olhou para o lago, o sol brilhava sob os pinherais refletindo nas águas, um dia calmo e bonito se anunciava, foi quando notou um movimento diferente no canto do lago, acompanhado de um coro de “zum, zum” produzido por insetos voadores, moscas.
Caminhou para perto da margem do lago, notou que alguma coisa flutuava, parecia um pedaço de tronco se não fosse pelas inúmeras moscas que voavam em volta e pelo cheio indigesto que emanava. “- Não acredito! Não pode ser!”.
Ele não queria acreditar no que acreditava que era aquilo, pegou um ramo e enxotou as moscas, e pode comprovar aquilo que não queria ver, o sol refletiu seu brilho sobre aquele corpo prateado de um metro de cumprimento e bem inchado, já meio putrificado pelos estragos que as moscas fizeram, notou algo que lhe deu a certeza, uma das suas iscas ainda estava presa na boca do bicho, a isca ainda estava presa na linha, com auxílio de um graveto ele alcançou a linha, puxando-a com as mãos, pode sentir que o resto do equipamento estava preso em algum lugar no fundo do lado, o peixe havia nadado durante o dia todo arrastando aquele material de pesca que havia caido na água quando Justiano pulou na água para se salvar do urso.
Justiano a princípio se sentiu uma sensação de vitória, mas frustrante, não era dessa forma que ele imaginou para o final da história, ficou um tempo parado, olhando para corpo do peixe, sem saber por quê, começou a vir lembranças de toda sua vida, em que passou defendendo os poucos afortunados e injustiçados, defendendo as vidas de pessoas, e agora ele estava ali olhando para aquele corpo sem vida, de um ser da natureza, de beleza ímpar, cuja sua ânsia e sua ganância egoísta fora o principal culpado pela sua morte.
Depois de toda essa reflexão, seu sentimento agora era de ter sido DERROTADO…

Fim!
