Elvin Escu Lachus encerra o penúltimo bloco do programa, e chama os comerciais.
– Após o intervalo, voltaremos com o último bloco do programa, não troquem de canal, vá rapinho ao banheiro que é rapidinho o nosso intervalo, e na volta, vamos encerrar a entrevista com a Doly, digo, Kelly Meggy, desculpe Kelly, é impossível não trocar os nomes, já estamos tão acostumados – Risos – Já voltamos!
A luz diminui e cortina vermelha se fecha em frente ao palco e ao lado esquerdo, uma luz se acende, iluminando um corredor que leva para os bastidores, Kelly se ergue e se dirigi pelo corredor, caminha uma distância de 10 metros, até chegar a uma sala do camarim, nela há cadeiras em frente as penteadeiras, há também, vários espelhos, araras e provadores.
No percurso, Kelly fica se perguntando porque a insistência do apresentador em chamá-la por Doly, parecia algo proposital, a atitude dele a estava irritando, mas até ali ela tinha conseguido se conter, não queria demonstrar que estava incomodada, mas não via a hora do programa terminar, ainda bem que era o último bloco, no fundo ela realmente estava muito aborrecida e nervosa, uma vontade imensa de matar o desgraçado começou a invadir seus pensamentos. Ela respira fundo, ainda em movimento, começa a exercitar a respiração tentando manter a calma, pensa em tomar mais um calmante, mas desiste da ideia pois até o fim do programa não fara o efeito desejado, e também lembrou que o medicamento ficou na sua bolsa e esta ficou guardada no primeiro camarim onde trocou de roupas horas antes. Sua garganta está seca, acha que havia algo de estranho na caneca oferecida no palco, ela precisa urgentemente de um copo d’água.
Ao fechar da cortina, Elvin observa Kelly deixar o palco sem falar nada, ele permanece sentado e pensativo por alguns instantes, mas logo se levanta e segue o mesmo percurso de Kelly. Ele tentou durante todo programa desestabilizá-la emocionalmente, mas a convidada não demonstrou em nenhum momento qualquer desvio de comportamento que a pudesse prejudicar sua imagem perante a opinião pública, para ajudar sua sobrinha Elvin precisava que Kelly perdesse o controle, pelo menos este era o plano dele, pois acreditava que se algo de extraordinário ocorresse o diretor a dispensaria do seu próximo filme, abrindo assim, a oportunidade para Graycie, o próximo e último bloco do programa seria a última chance dele.
Alguns maquiadores e auxiliares já estão a postos para retocar a maquiagem, mas Kelly, perdida em seus pensamentos, os ignora e segue até o fundo da sala onde está montado um barzinho à sua disposição, nele busca um copo d'água e não percebe que Elvin, que a seguira, faz um gesto manual, fazendo com que todos deixem o recinto silenciosamente.
Os funcionários nem estranharam a atitude do apresentador, pois, era comum ele ficar a sós com seus convidados no camarim, para combinar algum assunto ou planejar alguma surpresa para o público, então rapidamente todos se movem, pois sabem que o programa é ao vivo e no intervalo o relógio corre. Após o último funcionário sair, Elvin fecha a porta às suas costas e avança três passos em direção à Kelly que está repousando o copo de cristal sobre a mesa do bar.
– Doly, Doly, Doly…
A voz dele está com uma entonação diferente, um misto de decepção com ameaça, Kelly, pega de surpresa, se vira rapidamente.
– Senhor Elvin? Por que insisti em me chamar assim?
– Você precisa aceitar, o mundo precisa da Doly, quem é Kelly na vida real? – Ninguém! E o que vai ser de nossas crianças sem você como Doly de referência? Você é a autentica Doly, não pode deixar de ser a Doly!
– Pare com isso! Por que está fazendo isso?? O corpo de Kelly começa a tremer, a palma das mãos a coçar, uma angústia começa a tomar conta dela, ela sente as maças dos rosto esquentarem ao mesmo tempo que o rosto começa a enrubescer.
– Porque a DOLY não vai conseguir o papel principal no próximo filme do Sr. Dexter. Ele não quer a DOLY participando do filme dele, e você não consegue sair de DOLY, assim como a DOLY não sairá de você. Desista deste papel DOLY.
Enquanto fala, ele caminha em direção à Kelly, com olhar fixo nela, Kelly se move para o lado buscando fugir daquela situação, quando a lateral do corpo se esbarra com uma penteadeira, suas mão tateiam a superfície procurando apoio, mas encontra um microfone sem fio esquecido pelo contrarregra, instintivamente ela segura o objeto pela cápsula com força e raiva. Elvin continua a caminhar na direção dela falando impropérios querendo-a desestabilizar emocionalmente, Kelly vai recuando escorando-se pela penteadeira e então grita.
– PÁRA!!!!
Numa atitude instintiva de defesa, ela bate com raiva o microfone na mesa, quebrando o compartimento de pilha, o que deixa o tubo pontiagudo, as pilhas voam em direção ao espelho da penteadeira quebrando-o, mesmo com o estouro dos estilhaços dos vidros, a situação não se altera, ele continua a avançar na direção dela ignorando tudo que há pela frente, Kelly se vira em direção à porta e o movimento a faz derrubar um secador de cabelo que ainda está conectado à tomada, quando faz menção de sair correndo, Elvin a impede segurando-a pelo braço, mas seus pés se enroscam no fio do secador que acabou ficou entre suas pernas, o enrosco faz com que ele perca o equilíbrio daquele enorme corpanzil e caia violentamente sobre o corpo de Kelly, que ao se virar cai de costa para o piso, e sua mão direita ainda segurando firme o microfone.
O microfone está com a parte danificada voltada para cima, e tudo acontece tão rápido e inesperadamente.
Na queda, o apresentador não consegue se desviar do aparelho e a parte pontiaguda acaba por perfurar a sua garganta, no exato ponto de junção entre as clavículas e o esterno, instantaneamente ele gagueja e se engasga, o sangue surge em jorros, Kelly senti o calor do líquido vermelho e pastoso em sua mão, aterrorizada ela grita, faz um esforço enorme se desvencilha do peso do corpo sobre si, levanta e limpa o sangue das mãos em suas vestes, manchando mais o vestido, algumas gotas generosas de sangue que mancham sua face começam a escorrer pelas maças do rosto.
Subitamente, a porta se abre e algumas pessoas entram e aterrorizadas, tentam entender a cena diante dos seus olhos, e vários chamamentos são pronunciados aos gritos simultaneamente:
– CHAMEM UM MÉDICO!!!
– UMA AMBULÂNCIA!!!
– ALGUÉM CHAMA A POLÍCIA!!!
– AJUDEM AQUI!!!
– RÁPIDO!!! ELE TÁ MORRENDO!!!
Kelly, ainda incrédula, com o olhar fixo para o corpo ensanguentado do apresentador que ainda se contorce, vai recuando lentamente até suas costas encontrarem a parede, se escora e deixa seu corpo deslizar para baixo, agora sentada, com as pernas juntas e os joelhos dobrados, debruça-se sobre eles e o pranto se torna incontrolável, o que parecia uma cena de filme de terror, agora era real.
