Duas
Semanas Depois, no Departamento de Polícia de Colúmbia.

A carcereira abre a porta e Kelly entra na sala, ela está vestindo um conjunto laranja de poliéster, veste típica dos presos, o cabelo está amarrado atrás da nuca, olhar triste e cansados, as olheiras são visíveis. A sala é toda fechada sem decoração, apenas uma janela em uma das paredes, há uma mesa no centro com quatro cadeiras distribuídas duas de cada lado da mesa, sobre ela há alguns papéis em duas pilhas alinhados paralelamente, sentados em um lado da mesa, aguardavam por ela, a advogada Justine Justo e Taylor, seu empresário, que ao verem a chegada de Kelly, se levantam e abrem sorrisos.
Poliéster: tecidos e malhas feitos com fios de fibras de poliéster são usados extensivamente em confecções e têxteis lar, de camisas e calças a casacos, chapéus, lençóis, cortinados e móveis estofados. Fibras fios e cordas de poliéster são usados em reforços para pneus, tecidos para correias transportadoras, cintos de segurança. Fibras de poliéster são usadas como material isolante e enchimento de almofadas, edredons e estofos.
– Oi Kelly, como você está, garota? adiantou-se o empresário.
Kelly não responde, apenas o abraça forte e tristemente, ele retribui com um beijo carinhoso na cabeça, após, volta-se à advogada que a abraça e fala:
– Temos boas notícias Kelly, o juiz aceitou o teu pedido de Habeas Corpus, irás responder o processo em liberdade, o departamento já está providenciando o alvará de soltura.
O habeas corpus (do latim “que tenhas o corpo”) é uma ação constitucional assegurado em documentos de âmbito internacional no artigo 8º da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Por definição, esta é uma medida que tem como objetivo a proteção da liberdade de locomoção ameaçada ou restringida de forma direta ou indireta. Este amparo pode ser requisitado por qualquer pessoa física que sofrer (ou se achar na iminência de sofrer) violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir em decorrência de ilegalidade ou abuso de poder.
– Obrigado doutora, como é bom ouvir isso, não estava mais aguentando ficar aqui, o pessoal aqui foi ótimo comigo e estava sendo bem tratada, mas tudo isso é muito triste…
Justine Justo, advogada, 35 anos, filha do já falecido Justiano Justo, um renomado advogado e defensor público do Estado, tinha recém se formada em Direito pela Universidade de Nova York, quando o Pai de Kelly faleceu, na época foi contratada pela mãe para atuar no processo de espólio e mostrou-se uma grande amiga para a família, depois continuou trabalhado com elas sempre que a precisavam.
ESPÓLIO: Considera-se espólio o conjunto de bens, direitos e obrigações da pessoa falecida.
– Mas vai ficar melhor – falou a advogada. Justine – A outra boa notícia, é que depois que a perícia liberou a área, um dos faxineiros da emissora encontrou uma câmera escondida instalada no camarim, parece que o próprio Elvin que a colocou lá. Porque ao certo, ainda não sabemos, mas no conteúdo da gravação ele falava que ia tirar você do caminho e que ia conseguir o papel para uma tal de Graycie, parece que foi tudo premeditado, Graycie, pelo que consta na gravação, trata-se de Graycie Preston, a investigação descobriu que ele tinha uma sobrinha de terceiro grau com esse nome, que também é atriz e uma das opções para protagonizar o filme do Diretor Dexter, caso ele não te aprovasse.
– Graycie Preston… – balbuciou Kelly pensativa querendo associar o nome à pessoa.
– Graycie Preston é uma jovem atriz em acensão, ainda sem grande notoriedade no mundo cinematográfico, apareceu em algumas séries da Netflix e recentemente fez algumas participações especiais na telona. Esclareceu Taylor.
– Acho que ele queria flagrar alguma imagem ou fala tua para te denegrir e te prejudicar de alguma forma, usar isso de alguma forma, sei lá. Mas o bom, é que a tal câmera gravou todo o resto, desde a discussão até o trágico final, confirmando a versão do seu depoimento, com isso você passa a responder por homicídio culposo e vamos fazer de tudo para inocentá-la.
Nisso a porta se abre, uma policial entra e entrega uns papéis e também um saco plástico transparente, ainda lacrado, com os pertences de ré, troca umas palavras com a advogada.
Tay aproveita a oportunidade e entrega uma bolsa de viagem a tiracolo contendo uma muda de roupa para Kelly se trocar, nela continha uma calça jeans preta com rasgos na altura dos joelhos, uma blusa branca, com estampa do símbolo da banda Avenged Sevenfold (caveira com asas), uma jaqueta curta de couro preta com fechos prateados e mais uma botinha preta, ela agradece e se dirigi ao vestiário que ficava aos fundos da sala. Tay comenta:
– Sua mãe queria muito estar aqui, mas devido ao feriado de Ação de Graças, os voos estavam todos lotados e os ônibus também estão com as passagens escassas, fora o tempo que leva a viagem por rodovia, você sabe né, quase um dia inteiro de viagem, podia ser que ela não chegasse a tempo, mas ela conseguiu uma passagem para o final de semana para Baltimore.
– Mais tarde dou uma ligada pra ela, e obrigada por cuidar do Jiovany pra mim! O que seria de mim sem você?
– Sou seu empresário, esqueceu? A má notícia, é que depois dessa confusão toda, você perdeu aquele papel, o diretor não quer saber de pessoas envolvidas em escândalos antes das filmagens.
– É, nos fins das contas, Elvin atingiu seu objetivo… – lamentou Kelly ainda dentro do vestiário.
– Só que não, o diretor também não quis trabalhar com a Graycie, pois ainda não se sabe ao certo se ela estava envolvida ou até onde ela tinha conhecimento do caso.
– Entendo… não esperava outra coisa…
Kelly termina a troca de roupa, sai do vestiário, rasga o saco de plástico que estava sobre a mesa, o mesmo que a policial havida entregado momentos antes, retirou seu celular de dentro, ergueu-o diante dos olhos e observou seu reflexo na tela, fez um rabo de cavalo com os cabelos e os prendeu com um elástico, usou mais uma vez o celular como espelho e depois o ligou.
– Nossa!! Devo estar horrível!! – comentou.
– Bom, só preciso que você assine querida.
Falou Justine, mostrando os documentos que acabara de ler e lhe passando a caneta e os papéis para assinar.
Kelly percorreu os olhos rapidamente pelos papéis sem se deter na leitura, ela confiava que Justine já havia feito isso e até porque não entenderia nada que ali estivesse escrito, apenas procurou o local para opor sua assinatura, e logo percebeu uma linha pontilhada marcada com um “x” à caneta, apoiou os papéis na mesa e assinou, repetindo o mesmo procedimento para as demais folhas, após a última rubrica, devolveu os documentos à advogada.
– É isso então, vamos embora?
Convidou a advogada, vendo que o empresário já terminara de recolher os demais pertences de Kelly e colocado na bolsa. O grupo saiu da sala e seguiu por um corredor que desembocava no saguão principal da repartição.
– E agora? O que você pretende fazer? – Indagou o empresário.
– Acho que vou marcar mais umas sessões de terapia com a Dra. Sara Thompson, e depois, quem sabe, ir para Toronto, passar uns dias com minha mãe e descansar um pouco, acho que vou precisar dar um tempo antes de recomeçar. Posso sair do país né doutora?
– Podemos dar um jeito nisso, acho que consigo um salvo conduto pra você, querida! – afirmou Justine.
Com essa palavra, o grupo chega ao alcance do sensor de presença que aciona a porta automática do departamento, que se abre, deixando o brilho da luz do dia penetrar no recinto, como uma cortina que se abre para o início de um novo espetáculo.
Fim!
