Márcio está em casa, já pronto para o jantar, esperando sua irmã se arrumar. Ele é um jovem negro de vinte e um anos, com um metro e setenta e oito de altura, porte atlético, ombros largos e rosto simétrico. Sua simpatia e o sorriso largo no rosto o tornam ainda mais atraente. Ele sente vontade de gritar, mas não adiantaria, pois sua irmã não o ouviria.
Patrícia é uma bela mulher negra de vinte anos, com um metro e setenta, corpo cheio de curvas, quadris e seios medianos, olhos castanhos, cabelos escuros e crespos, sorriso mais brilhante que os raios do sol, acompanhado de uma boca carnuda e traços faciais delicados e simétricos. Ela é deficiente auditiva, mas isso não a impede de viver como qualquer outra jovem de sua idade.
Patrícia sai do quarto em um belo vestido azul-claro, um pouco justo, que delineia seu corpo sem ser vulgar, na altura um pouco acima dos joelhos, usando sapatos de salto marrom e uma pequena bolsa de mão da mesma cor do vestido.
Márcio dá um assovio, diz a Patrícia por meio de língua de sinais que:
— “Está linda!”
Patrícia responde:
— “Obrigada”.
O celular de Márcio toca e ele faz um sinal para Patrícia como se dissesse “só um momento” e atende o telefone:
— Sim, o conheço, sou amigo dele, como é? Tudo bem, já vou me deslocar para aí!
Márcio desliga o celular:
— “Pati, a ligação era do Pronto Socorro, o Beto e o Dinho tiveram um acidente de trânsito e pediram para alguém ir lá, vamos que enquanto eu dirijo no caminho tu avisa no celular por mensagem aos familiares de cada um deles.”
Patricia responde balançando a cabeça sinalizando que sim. Mas por dentro estava angustiada, desde adolescência alimenta sentimentos românticos por Beto, mas ele não correspondia pois sempre a via como uma amiga. Nunca teve coragem de confessar o que sentia por seu amigo. Caso o pior aconteça, não teria mais a chance de se declarar para ele.
Márcio dirige freneticamente seu Uno branco. quase causando um novo acidente. Patricia no caminho envia uma mensagem para Bibi e outra para a Leca, irmã de Dinho.
Márcio dirige freneticamente seu Uno branco, quase causando um novo acidente. No caminho, Patricia envia uma mensagem para Bibi e outra para Leca, irmã de Dinho.
— Infelizmente o nosso menino não resistiu. — Lamenta o padrasto de Dinho com voz triste, enquanto tenta consolar a mãe do rapaz, que chora alto e copiosamente perguntando o motivo de tal acontecimento.
Os dois irmãos também se emocionam e acabam se entregando à tristeza diante desse desastre. Márcio abraça os outros três que estavam inconsoláveis, tentando, em vão, dar conforto nesse momento difícil.
Patricia tenta consolar Leca, que chora, se culpando constantemente:
— Eu tinha que estar cuidando do Dinho. Falhei! Ele está morto! — Soluça a menina de dezenove anos colocando sobre si uma responsabilidade que não é dela.
Pati abraça Leca:
— “Não é culpa sua, ninguém tem culpa.” — Sinalizou Patricia.
A família de Beto chegou logo após essa cena. Seu Roberto, Dona Leonora, Bibi e Isa se assustam com aquele quadro de tristeza:
— E o meu filho? — Pergunta Leonora, mãe de Beto.
— Está em cirurgia. — Responde Márcio preocupado. — Os médicos estão fazendo tudo que podem para salvá-lo.
A família de Beto fica apreensiva, na sala de espera, preocupada, torcendo e orando pela recuperação do rapaz.
O padrasto de Dinho, de repente, é tomado pela razão e pela lógica, começando a comandar os preparativos fúnebres do rapaz que teve a vida ceifada aos vinte e quatro anos. Márcio se prontifica a ajudar no que for possível e os acompanha.
Patricia fica junto à sua amiga Bibi, apesar dos protestos iniciais da namorada de Beto. Mas o momento é grave, e o certo é todos se apoiarem uns aos outros, sem picuinhas.
Já era madrugada quando o médico, vestindo uma roupa específica para o bloco cirúrgico, chega à sala de espera:
— Familiares de Alberto Dorneles Santos. — Chama o Doutor Cássio.
O médico explica que a cirurgia ocorreu bem, Alberto está fora de perigo, mas ficará com sequelas irreversíveis, e a recuperação será difícil.
Patricia avisa Márcio pelo celular, deixando-o ciente da situação.
Passam-se mais duas horas, e os amigos e parentes de Beto são avisados de que ele acordou.
Somente um pôde vê-lo. Comandante Santos se propõe a ser o primeiro a falar com o filho e, infelizmente, dar a notícia sobre Dinho.
Roberto chega ao leito hospitalar onde está seu filho, que o recebe um pouco agitado:
— Pai, o médico disse que tiveram que tirar minhas pernas. — Responde o rapaz chorando.
— Sim foi a única maneira de te salvar.
— E o Dinho?
Comandante Santos faz uma longa e breve pausa, respira fundo e responde:
— Infelizmente ele não teve a mesma sorte meu filho.
Beto se desespera, começa a chorar e gritar, dizendo que a morte de Dinho era culpa sua, que ele, no fim, interrompeu a felicidade do amigo.
Ele tira o lençol que o cobre, vê seu corpo sem as duas pernas, e seu desespero aumenta junto com a sensação de impotência que sente naquele momento:
— Isso é tudo culpa minha. — Exclama Alberto soluçando.
— Não pense nisso meu filho, certamente o Dinho não iria querer ver tu se lamentar assim. Ele o admirava por sua coragem para enfrentar qualquer problema.
— Mas ele está morto, esse problema não posso resolver.
— Mas não é culpa sua.
— É sim pai, se eu não tivesse oferecido a carona para o Dinho certamente ele teria ido para o jantar nos pais da namorada. Quis ajudar e acabei causando a morte dele.
Roberto fica sem resposta para filho, o acaricia na cabeça:
— Descanse, na hora da visita muita gente vai querer te ver.
As lágrimas continuam a escorrer pelo rosto do rapaz, que soluça uma frase inaudível.
Comandante Santos se despede do filho, beijando sua testa. Ele está feliz por Beto estar vivo, mas angustiado pelo que o rapaz terá que enfrentar daqui para a frente.