E
m uma de suas viagens intergalácticas, XPZ4, importante astronauta que vivia em Artúrio, um planeta da nebulosa Olho de Gato, em um tempo equivalente ao ano 5000 da nossa era, chegou à Terra. Era a época em que vivia Jesus.
XPZ4, acostumado à moderna tecnologia, achou o planeta extremamente primitivo. Não se conheciam os computadores, os átomos, o raio laser, os aviões, os antibióticos, o microscópio, nada. Tudo ainda muito primitivo. As casas não eram providas de eletricidade, não havia carros ou qualquer tipo de transporte coletivo motorizado. Nobres romanos circulavam pelas ruas em suas liteiras luxuosas ao lado de pobres mendigos e mulheres esfarrapadas com suas crianças famintas. A maldade imperava em todos os corações, a prostituição era algo comum e as mortes nos circos, sob dentadas e patas de feras, culminavam a maldade humana em festas de muita pompa. Panis et circensis era a ordem do dia.
A sua missão era a de conquistar a Terra, anexando-a aos domÃnios de Artúrio. XPZ4 era um conquistador intergaláctico e em seu plano de viagem estava prevista uma entrevista com Tibério César, imperador romano na época. Segundo a estratégia elaborada por AST8, governante supremo de Artúrio, nosso astronauta se apresentaria ao imperador como o governante de uma ilha ainda não conhecida pelo Império Romano, localizada em uma das Américas, das quais mostraria ele mapas ao imperador. Pediria seu apoio para a destruição de um poderoso inimigo que ameaçava invadir sua ilha. Diria a César que havia perdido parte de seu exército em combates recentes e não dispunha de uma quantidade suficiente de homens para novos combates. Se não tivesse a ajuda do imperador, sua derrota seria iminente. Em troca, se ganhasse a batalha, colocaria à sua disposição seu exército e armas não conhecidas na época, armas essas que o próprio imperador não conhecia e que eram capazes de abater alvos distantes. Mostraria seu inimigo como um poderoso invasor do império, anexando suas terras e destruindo o poderio de Roma com muita facilidade, devido à sua tecnologia avançada. AST8 pensava em apresentar ao imperador armas equivalentes aos rifles e espingardas, que seriam para o imperador grandes novidades, mas para ele extremamente primitivas. Presentearia César com muito ouro e pedras preciosas trazidas de sua ilha, para aguçar a sua cupidez. Após ganhar a confiança do imperador, entraria em Roma com seu exército intergaláctico, suas armas paralisantes e congelantes e suas naves, e expulsaria todo o clã do imperador, estabelecendo assim um novo governo, baseado na restrição da liberdade individual e obediência cega à s leis, ampliando os domÃnios de Artúrio. A civilização romana se assustaria ao ver naves invasoras com astronautas voadores no lugar de cavalos e guerreiros com armaduras e lanças que avançavam por terra.
 AST8 governava seu planeta de forma quase absolutista e era também o comandante da base espacial. Era um homem de pulso firme e queria submeter todos os planetas à sua autoridade e forma de governar. Ambicioso, não titubeava em pôr em prática qualquer maldade para atingir seus objetivos. Conhecia desde longa data a sede de domÃnio dos imperadores romanos, a fama das águias dominadoras, o gosto pelo luxo e por todo tipo de excesso, e queria usar isso contra os próprios romanos, utilizando-se da astúcia de XPZ4.
Em conversa na base espacial, diz XPZ4:
— AST8, você acha que o imperador é tão bobo e ingênuo assim e que vai cair nessa conversa?
— Não acredito que ele deixe de morder a isca. Afinal, estaremos oferecendo armas que ele não conhece e dando-lhe ainda mais poder. Para nós, as armas são ultrapassadas, mas para ele modernÃssimas. Você fará uma pequena apresentação das armas a ele, abatendo alvos distantes, para que ele se maravilhe. Oh! Que coisa fascinante!, dirá, pois só conhece flechas e lanças. Então você poderá levá-lo a uma caçada e treiná-lo no uso das armas, e a sede de poder e de domÃnio fará o resto.
— Porém, se ele conquistar novos povos, não irá associar-se a nós. Pelo contrário, será nosso inimigo.
— E que poderio terá ele sobre nós, XPZ4? Nós não precisamos dele para nada. Somente queremos ganhar sua confiança, para depois abatê-lo. Quero vê-lo abrir as portas de Roma para nós, seus “melhores amigosâ€. O sabor da vitória será mais autêntico, mais forte, mais excitante.
— Isso é traição – disse XPZ4.
— Ora, você está preocupado com isso? – respondeu AST8.
— Você disse que eu solicite o domÃnio de uma determinada região em troca de nosso apoio em suas conquistas. Que região é essa?
— Sim, peça a região da Galileia, onde dizem que vive um tal profeta chamado Jesus e que se diz rei. Quem sabe ele seja nosso aliado na queda de Tibério Cesar. Sabemos que os judeus detestam os romanos e este profeta naturalmente deve detestar também.
— Porém, essa região é governada por Pôncio Pilatos.
— Sim, mas nada que uma boa quantidade de ouro, pedras preciosas, terras conquistadas e algumas bajulações não possam modificar...
— Muito bem. Assim será feito.
Após o acerto de todos os detalhes da viagem, nosso astronauta embarcou rumo à Terra.
XPZ4 visitou a Grécia, o Egito, Roma, todo o mundo antigo enfim. Conheceu os templos famosos dos deuses das respectivas mitologias, observou as festas consagradas aos deuses e as achava estranho, de um primarismo assustador, particularmente as festas de Baco, onde as pessoas faziam questão de perder a razão por algumas canecas de vinho.
Na região da Galileia, procurou Jesus, pois queria fazer-lhe a proposta da derrubada de Tibério César. E Jesus chamou-lhe atenção, fazendo-o estremecer e pôr em risco sua missão. Seu rosto doce e enérgico, seus olhos que transmitiam paz eram algo que jamais tinha visto. Viu-o transformar a água em vinho nas bodas de Caná, ouviu-lhe o Sermão da Montanha, viu-o curar cegos e leprosos. Presenciou de longe o episódio no qual a mulher adúltera foi salva por Ele do apedrejamento. Impressionou-se com sua inteligência no caso da moeda de César e com sua coragem e determinação no caso da derrubada das barracas dos cambistas no Templo. Achou-o ousado ao desafiar o poderio e as determinações do farisaÃsmo, fazendo curas aos sábados. Quis aproximar-se Dele para saber qual era a tecnologia que usava para operar aquelas transformações e curar doenças como a hansenÃase, que em seu planeta não mais existia. Queria pedir seu apoio na destruição do Império Romano, mas agora já tinha dúvidas quanto à conveniência. Aquele Homem não parecia ser belicoso. Era muito manso, paciente, usava de misericórdia e provavelmente não aceitaria destruir Tibério César. A sua tecnologia de cura deveria ser algo extraordinário que ele não conhecia e que parecia ser mais avançada do que aquela existente em seu planeta. Quem sabe seria algum chip implantado sob a pele e que, através de impulsos elétricos, magnéticos, ou de uma força desconhecida, faria com que a visão se abrisse, as chagas se fechassem, a lepra desaparecesse? E, se fosse um chip implantado sob a pele, como Ele o implantava? Apenas com a imposição das mãos? Com a força do pensamento? Ou será que desmaterializava o chip e depois, através da força do pensamento, Ele o materializava de novo sob a pele? Provavelmente deveria ser uma dessas hipóteses, pois jamais o viu cortar a pele da pessoa para implantar alguma coisa e depois suturá-la. Ou quem sabe seria alguma substância retirada do Cosmo, da Natureza ou até de si próprio, pois reconhecia naquele homem a superioridade intelectual e cientÃfica sobre os demais habitantes?
E falava consigo mesmo:
— Será que Ele conhece a tecnologia das células-tronco? Pode ser que Ele consiga, através da força do pensamento, retirar o DNA da célula sadia e implantá-lo no local lesado, para fazer com que o órgão ou o membro se regenere. É provável que esta tecnologia Ele tenha usado no caso do homem da mão mirrada. Ou será seu poder tão assombroso a ponto de Ele ordenar mentalmente à célula que se regenere e esta obedecê-lo? Pode ser isso, porque ele deu ordens ao vento e ao mar e tudo se acalmou. Meu Deus, se for isso, de onde vem esse poder?
Em seu planeta havia os mestres de determinadas seitas que tinham o poder de gerar em si próprios os elementos necessários para a cura das doenças. Através do poder da mente, eles conseguiam manipular o ectoplasma, velho conhecido da ciência de seu planeta, e gerar em si as drogas e, com várias aplicações nas quais eram usados rituais especiais (e cobrada uma enorme quantia em dinheiro), e fazendo-se a imposição das mãos, eles algumas vezes conseguiam curar doenças. As pessoas cuja moral era elevada e que faziam este mesmo trabalho gratuitamente plasmavam, a partir da força magnética e da vontade dirigida ao bem, os medicamentos na água e até em vidros de remédio passÃveis de serem deglutidos, como as atuais cápsulas e comprimidos das indústrias farmacêuticas terrenas. Essas pessoas faziam parte de uma seita especial, levavam uma vida sem vÃcios, viviam isoladas do mundo, não comiam carnes, não bebiam álcool, levavam uma vida de oração e eram tidas como mÃsticas. Os genitores ficavam apreensivos e desgostosos quando seus filhos resolviam trilhar este caminho, abrindo mão dos gozos materiais e assumindo uma existência que eles consideravam como “morte em vidaâ€, pelo apego à vida material existente no planeta.
Conforme a doença, essas cápsulas adquiriam uma cor especÃfica. Quando chegavam ao estômago, liberavam a substância energética própria para a cura da doença, substância esta amplamente impregnada pelos mÃsticos acima citados, através da força do pensamento. Esta substância, depois de absorvida pelas células intestinais, entrava na corrente sanguÃnea, atingindo o órgão doente, e reequilibrava-o. Os antibióticos em Artúrio, planeta de XPZ4, eram feitos a partir de plantas medicinais trazidas de todas as partes do Universo e impregnados pela força magnética, que potencializava a ação das substâncias medicamentosas das plantas e ao mesmo tempo minimizava a possibilidade de reação alérgica. Assim, para ser farmacêutico era necessário fazer-se um curso sobre magnetismo pessoal, além do curso normal universitário e especialização em fitoterapia intergaláctica. Porém, o que ainda não tinham descoberto é que a moral elevada de quem impregnava os remédios e as cápsulas fazia uma grande diferença em seu poder curador, pois os fluidos eram mais puros e leves, além de mais potentes. DaÃ, pensava XPZ4 sobre Jesus: “Quem sabe Jesus não seria um desses mestres vindos de outro planeta? Se Ele transforma a água em vinho, poderia manipular seu ectoplasma e fazer cápsulas e comprimidos como em Artúrio, curar as doenças e ganhar muito dinheiro. Poderia ser Ele um médico, um mago, um bruxo, sabe láâ€. Suas atitudes serenas e tranquilas, seus olhos lúcidos diziam de sua superioridade espiritual, de sua saúde mental e corporal e dos conhecimentos que só Ele retinha.
E nosso astronauta continuava pensando:
“Quem seria Jesus? Quem sabe seria um viajor intergaláctico como ele, a serviço do Comando Universal Intergaláctico?â€
Sabia ele que recentemente havia sido escolhido um novo dirigente do CGU, Comando Geral Universal, na Convenção Quadrienal Intergaláctica, ocorrida na nebulosa Cabeça de Cavalo, e que ele ainda não conhecia.
 “Quem sabe era o governante da região, um rei, um imperador de terras desconhecidas, ou quem sabe um cientista e tentava ensinar técnicas de cura ao povo?â€
— O que poderia ensinar um cientista a um povo tão inculto, tão atrasado? – perguntava a si mesmo. – Ou será que é um aliado de César?
Vendo as curas de Jesus e tentando fazer suposições sobre a técnica que usava, uma coisa o deixava realmente indignado: as curas à distância, como no caso do servidor do centurião e o caso de Flávia Lentúlia, a filha do senador Lentulus. Em ambos os casos, havia ele ouvido Jesus dizer para a pessoa voltar à sua casa, porque seu parente já estava curado. E o que dizer de Lázaro? O que teria feito Jesus para que Lázaro voltasse a viver?
“Como opera Ele estas curas?â€, pensava. “Será que conhecia alguma coisa a mais que ele não conhecia? Algo a mais sobre fissão nuclear, magnetismo pessoal, força forte, força fraca ou outra força ainda não descoberta pela ciência de seu planeta ou algum raio de luz especial? Será que Ele já conhece a tecnologia de retirada de energias das cores do arco-Ãris, secretÃssima em meu planeta, e que curam doenças? Será que mesmo à distância conseguia Ele modificar o metabolismo da pessoa, as reações orgânicas, a ponto de curá-la?â€
Achava que provavelmente teria Jesus alguma coisa em si que ele não conseguia perceber, apesar de toda a sua tecnologia e conhecimentos.
— Mas, se for assim, por que perde tempo com este povo atrasado? – perguntava a si mesmo. – Será que Jesus é o grande adversário de UJPA de Andrômeda, precursor da medicina espacial? UJPA desenvolveu pesquisas sobre magnetismo, força do pensamento, ectoplasma, e conseguiu muitas curas dois milênios atrás, e até hoje muitas pesquisas se baseiam em suas descobertas. Foi ele quem descobriu a cura da AIDS e como desenvolver anticorpos contra o vÃrus com a força do pensamento e da vontade. Sua técnica funcionou em vários planetas.
E uma palavra, repetida várias vezes pelo Mestre, o deixava perplexo: fé.
— A fé pode curar? – perguntava-se.
Inúmeras vezes ouviu: “a tua fé te curouâ€. E realmente havia ele visto o caso da mulher que apenas tocando as vestes de Jesus foi curada. O Mestre, porém, percebendo-lhe os pensamentos e as perguntas Ãntimas, em um dia de pregação, à s margens do lago de Genesaré, manda-lhe uma mensagem telepática:
— Meu filho, minha tecnologia chama-se amor. Ame, e farás muito mais.
Um dia, enquanto Jesus orava no horto e seus discÃpulos dormiam, XPZ4 aproximou-se de Jesus e lhe perguntou:
— Por que perdes tempo com esta gente ignorante? Vamos ao meu planeta e lá terás a teu dispor a mais moderna tecnologia com laboratórios modernamente equipados, onde poderás desenvolver tuas pesquisas sobre o assunto que quiseres. Sei que és um cientista perdido neste planeta, talvez com tua nave danificada. Dize-me onde está tua nave e verei se posso consertá-la. Tenho em minha nave muitos equipamentos e peças de reposição. Este povo precisa de muitos anos de estudos e descobertas cientÃficas para melhorar pelo menos um pouco. Em meu planeta poderás aprofundar as mágicas que fazes e aprender outras novas.
E Jesus lhe respondeu:
— Meu amigo, venho da parte de meu Pai e sou responsável por conduzi-los ao infinito amor de Deus, ensinando a eles as leis que regem o Universo e que são leis de amor, justiça e caridade. Como astronauta, não ignoras a transformação pela qual passou Capela, e este povo veio para cá sob a minha responsabilidade. Sou o Pastor e eles são minhas amadas ovelhas. Minha nave está estacionada em meu coração. Chama-se misericórdia, e seu combustÃvel, que jamais se extingue, se chama amor.
— Mas Jesus, eles são muito ignorantes, vão matar-te, fazer-te sofrer, humilhar-te. Já percebi que os fariseus te odeiam, que não terás oportunidade de ensinar tua doutrina em Roma e convencer o imperador, porque eles vão destruir-te antes disso.
E respondeu-lhe o Senhor:
— E eu terei toda a paciência necessária para fazê-los progredir moral e cientificamente e ter o coração repleto de perdão sempre. Terei o sacrifÃcio supremo da cruz, mas meu amor por eles me faz passar pelo sacrifÃcio para a glória de meu Pai que está nos céus. Meu Pai fez-me o governador do planeta, deu-me a responsabilidade de construir o reino dos céus neste planeta e levar este povo ao maior crescimento espiritual possÃvel. Não posso e não quero abandoná-los, porque os amo profundamente. São meus irmãos, filhos de meu Pai.
— Jesus, tu podes fazer isso de longe, sem sacrifÃcios nem humilhações.
— Eles precisam do exemplo, meu amigo. E é necessário que as coisas aconteçam como está escrito.
— Se és o governador do planeta, eu tenho uma proposta a fazer-te. Trago a missão de derrubar o imperador Tibério César e instalar aqui o governo de Artúrio, meu planeta. Sei que os judeus odeiam os romanos e como judeu deves odiar também. Assim, te proponho unirmos forças para derrubarmos o imperador e instalar aqui nossos exércitos e nossas forças. Poderás continuar sendo o governante, pois não creio que AST8 se oporá a isso.
— Conheço AST8 e a forma pela qual governa Artúrio, e lamento profundamente. Os povos conquistados são submetidos a um governo arbitrário. AST8 não usa o amor, mas a violência. Meu reino não é de violência. É de amor. Não é prisão, mas de liberdade e respeito ao próximo. Meu exército é constituÃdo por todos os que sofrem, pelos mendigos, leprosos, viúvas, crianças abandonadas, velhos carentes, estropiados, cegos e por todos os necessitados de paz, amor e conforto. Minha missão não é destituir César e nem é de destruição, mas é de elevar a condição moral dos habitantes do planeta. Portanto, XPZ4, sua proposta está em total desacordo com a missão que me foi dada por meu Pai.
— Como podes instalar teu reino sem armas?
— A arma mais poderosa eu a tenho, e se chama amor.
— Jesus, como fazes as curas que já te vi fazer? Implantas algum chip sob a pele? Como fazes isso? Onde posso adquirir um chip desses que tu usas?
— XPZ4, não uso nenhum chip ou qualquer outro aparelho ou instrumento que desconheças. Com a permissão de Deus e pelo merecimento da pessoa posso curá-la, mas dependerá sempre de sua melhoria espiritual conservar sua cura. Muitos dos que curei terão de volta sua doença, porque não se melhoram espiritualmente, não se esforçam para dominar vÃcios e más tendências.
— Não consigo entender-te, Jesus. Explica-me melhor, por favor.
— Compreenderás melhor lendo os livros que Ulisses tem em seu planeta. Muitos povos esperarão que eu volte, religiões anunciarão meu breve retorno, outros nem me aceitarão, como acontece agora, mas, através do Consolador que enviarei, quem o aceitar e praticar seus ensinamentos, terá um crescimento espiritual enorme.
— E quando acontecerá isso, Jesus?
Logo após, Judas chega com os soldados e Jesus é preso, e nosso astronauta fica indignado com a traição de Judas.
“Então é Judas o traidor do qual Ele falava naquela ceia que presencieiâ€, pensava.
XPZ4 quis impedir que o levassem preso, pensou em sequestrá-lo e levá-lo ao seu planeta, conversar com Ele, conhecê-lo melhor, mas a superioridade moral de Jesus não lhe permitia fazê-lo. Sentia-se como que plantado ao solo, sem forças para tomar qualquer atitude.
Acompanhou o julgamento e as acusações feitas a Jesus e compreendia que não tinham qualquer fundamento. Quis interferir junto a Pôncio Pilatos, ameaçar Anás, Caifás e todos os fariseus e sacerdotes, mas nada fez. Teve vontade de dar uma lição em Judas Iscariotes, assustando-o com suas luzes ultraquentes e coloridas, paralisá-lo com apenas um disparo de sua arma paralisante e forçá-lo a desfazer sua traição. Em plena praça, quando Pôncio Pilatos perguntou ao povo quem eles queriam que soltasse, se Barrabás ou Jesus, ele foi um dos poucos que gritou que soltassem Jesus. Acompanhou, porém, sua trajetória, até o dia da crucificação e, no momento em que Jesus começou a carregar a cruz, pensou ele em desapertar o botão alfa, que tornava sua nave invisÃvel, para assustar o povo. Sua nave estava estacionada a poucos metros da porta principal de Jerusalém e seria um susto imenso. Emitiria raios, sons, luzes coloridas. Acenderia holofotes potentÃssimos, usados nos dias de viagens mais arriscadas. Ameaçaria o povo com uma grande guerra através dos potentes alto-falantes. Voaria sem asas no meio do povo com seu uniforme espacial. Decolaria com sua nave e sobrevoaria o local amedrontando a todos, lançando raios que possuÃam barulho semelhante ao trovão, tudo isso para que parassem com a execução de um libelo tão injusto. Pensou em colocar sua nave à disposição do Mestre, para que Ele pudesse fugir ao suplÃcio, mas o magnetismo daquele homem o petrificava, impondo-lhe um respeito até então desconhecido para ele, que estava acostumado a passar por cima de todos. Alguma coisa tinha aquele Homem que o detinha em seus impulsos e o detinha sem armas e sem violência. XPZ4 não sabia, mas era a autoridade moral de Jesus que o detinha.
“Por que me importo com Ele?â€, pensava. “Não tenho nada com isso. É problema de terráqueosâ€.
Todavia, não conseguia compreender porque ficava ali, em Jerusalém, acompanhando a crucificação no monte com o coração apertado e com vontade de interferir. Pensava em ir embora, mas ao mesmo tempo pensava em mandar raios de sua nave para anestesiar as dores das chagas de Jesus, mas nada fazia. E, quando Jesus disse: “Pai, por que me abandonastes?â€, XPZ4 consultou seu dicionário, pois achou estranhas aquelas palavras que pareciam demonstrar falta de confiança em Deus, atitude tão pregada por Ele, e que no momento supremo não seriam apropriadas ao grande testemunho. E percebeu que, na lÃngua pobre que era o aramaico, as palavras tinham vários significados e, depois de analisá-las profundamente, compreendeu que na verdade suas palavras significavam: “Pai, glorifica-me com a glória que eu tinha antes que o mundo existisseâ€.
Então, disse a si mesmo: “Se Ele tinha glória antes que a Terra existisse, significa que veio mesmo de outro planeta onde tinha glória, poder, onde era um rei, mas onde fica este planeta? E se Ele pregava amor e confiança em Deus, coragem, compreensão, perdão, etc., não poderia duvidar da proteção de Deus na hora da morte, dizendo que o Pai o abandonou. Daà concluo que minha tradução de suas palavras está corretaâ€.
Nosso astronauta não compreendia que a glória à qual Jesus se referia era a glória celeste da qual Ele se ausentou para encarnar na Terra e trazer-nos Seu Evangelho.
Após a crucificação, voltou ao seu planeta e contou tudo o que havia visto ao seu superior, e mostrou a transfiguração que havia filmado. A luminosidade de Jesus era algo que jamais tinha visto. AST8 ficou paralisado. Aquele Homem era realmente especial. Como conseguia fazer aquilo? Ficou surpreso com a narrativa das curas das doenças e dos obsediados, e preocupado com nosso astronauta, temendo alguma influência recebida naquele planeta primitivo e que poderia fazê-lo perder um dos seus mais valorosos soldados-astronautas.