Em uma transcomunicação instrumental, a qual fazia com uma tela onde se projetava a figura de quem se comunicava, XPZ4 pediu a Estêvão a gentileza de comunicar-se e perguntou-lhe o motivo pelo qual se havia deixado apedrejar até a morte, e Estêvão lhe responde:
— Meu amigo, quando se conhece Jesus e se toma conhecimento do Seu amor e da Sua misericórdia, transformamo-nos interiormente e passamos a ver em cada criatura um irmão nosso. Jesus é o nosso modelo e guia e, seguindo seus ensinamentos e vivenciando-os, entraremos no seu reino. Quando Jesus nos penetra interiormente, renascemos, mas para isso é necessária a luta contra nossas imperfeições. Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida, é a Vida que nos dá vida. Sem Jesus não somos ninguém, sem Sua misericórdia e Seu amparo não crescemos, sem Seu sopro divino que nos dá vida continuamos chafurdados no lamaçal no qual sempre vivemos há tantas encarnações. A Terra precisa de amor e foi por isso que Jesus veio trazer-nos Seu Evangelho. Teu planeta também precisa de amor, pois tem o desenvolvimento tecnológico, mas lhe faltam o amor, o perdão e a misericórdia. Acompanhe Paulo em suas viagens e passarás a entender melhor por que tantos de nós que seguimos Jesus nos deixamos apedrejar, ser atacados por feras nas arenas de Roma, crucificar-nos, como acontecerá com Pedro. Permita que Jesus entre em teu coração através das palavras de Paulo e te transforme, e te garanto, meu amigo: serás um outro homem, mais feliz e renovado, pois, entre muitas coisas, aprenderás que deves conquistar-te a ti mesmo, sabendo respeitar a liberdade e o livre-arbítrio dos povos, e que nada do que conquistaste anteriormente, com tuas viagens intergalácticas, te servirá de passaporte para entrares no reino dos céus.
Apesar de intimamente não acreditar nas palavras de Estêvão, nosso astronauta continuou a acompanhar Paulo em suas pregações pelas diversas cidades, a prestar mais atenção no que ouvia, e foi se afeiçoando ao ilustre divulgador do Evangelho. E várias vezes mandou de sua nave feixes de uma luz curadora para amenizar as dores de Paulo e ajudar na cicatrização de seus ferimentos quando era chicoteado. Aos poucos foi conhecendo e compreendendo os ensinos de Jesus. Via as exemplificações de fé, perseverança e caridade de Paulo, e a sua compreensão foi se dilatando. A interpretação do Evangelho pela palavra inesquecível do Apóstolo dos Gentios abria-lhe novos horizontes. Aquele novo conceito de amor, contido no Evangelho de Jesus, começou a dar-lhe uma visão nova da vida. O ato de perdoar já estava deixando de ser em seu conceito um ato de covardia e falta de caráter, e passava a ver na humildade o verdadeiro valor de uma alma enobrecida. A indulgência e a fraternidade ganhavam força em sua nova forma de pensar. Paulo abria novos caminhos em seu coração. Via as curas realizadas e percebia o quanto é grande o poder do amor, o quanto é grande o poder de um espírito purificado, despido de seus erros e redimido perante si próprio e perante a Divindade. O poderio de suas armas paralisantes e congelantes nada significava ante o poder do amor. Seu coração tornou-se sensível e amoroso. Já conseguia entender que todos somos irmãos e temos um Pai comum: Deus. Já conseguia sentir piedade e ver na caridade uma forma de amor a Deus e ao próximo. Aquele astronauta conquistador, preocupado tão somente em dominar, subjugar e escravizar sem dó nem piedade, cedia lugar a um homem amoroso, pacífico e fraterno. Não mais desejava voltar a Artúrio, nem comandar novas invasões. Quando tinha que voltar ao seu planeta, era para ele um ato desagradável, que cumpria somente porque necessitava relatar suas viagens ao seu superior. E inventava sempre um jeito de voltar à Terra, dizendo que o domínio do planeta estava correndo de uma forma inesperada, sendo necessária a cautela.
Dessa forma, sentiu vontade de retornar à Casa do Caminho, como havia recomendado Estêvão, para conhecer melhor os trabalhos dos Apóstolos e conversar com Pedro. Queria conhecer melhor aquele Jesus que havia transformado homens rudes em verdadeiras fontes de amor e fraternidade. E assim fez. Acompanhou as atividades de um dia inteiro, os trabalhos humildes de atendimento aos necessitados, os trabalhos junto aos acamados, desde os curativos nas feridas, o banho, a alimentação, a administração dos medicamentos, até a limpeza da casa, e à noite participou da reunião de estudos do Evangelho, ouvindo a palavra inflamada de Pedro a falar do Divino Mestre, lembrando diversas passagens de Sua vida, da qual participou intensamente. Ouviu Pedro narrar o episódio onde o Mestre andou sobre as águas e em que ele, Pedro, por falta de fé, acabou não conseguindo fazer o mesmo. E voltou diversas vezes à Casa do Caminho, participando das reuniões e se envolvendo cada vez mais com aquele Mestre que agora começava a amar profundamente, não mais com a visão do conquistador que se passava por humilde para subjugar o povo, mas com a visão do verdadeiro Amor que se fez Homem. Como Paulo, ele também havia tido a sua “porta de Damasco”, que o fazia mudar conceitos. Conheceu também as reuniões das catacumbas em Roma. Já não mais interessavam as conquistas materiais, mas as conquistas do Espírito. Ele deixara de servir a Mamom para servir a Deus. Seu pensamento agora era o de doar seus bens materiais, como havia feito Zaqueu após a conversa com o Mestre, e divulgar Seu Evangelho, bem como de fundar uma casa para necessitados em seu planeta, que abrigasse velhos e crianças, como fazia a Casa do Caminho.