Chegada a
hora de entrar na arena, a cela onde estavam nossos amigos foi poupada. AST8,
RMT12 e PWY1 nunca agradeceram tanto a Deus. Já os cristãos, incluindo XPZ4,
entristeceram, pois queriam mostrar ao Mestre Divino seu amor e sua dedicação.
Todavia, conseguiam ouvir de sua cela os gritos do povo embriagado pelo vinho e
pelo espetáculo. Aos ouvidos de nossos amigos não cristãos, os gritos de
“cristãos à s feras†soavam sombriamente. Conseguiam ouvir o delÃrio do povo e
não aceitavam morrer sendo chamados de uma coisa que não eram e que nunca
tinham aceitado. Ondas de arrepios, de calafrios e de medo aceleravam seus
corações. O desespero tomava conta e seus músculos começavam a tremer de pavor.
Os rugidos dos leões e dos tigres prenunciavam uma morte sinistra, sob dentadas
e patadas de feras, sem a menor condição de defender-se.
Passaram-se
alguns meses e as prisões continuaram. Paulo de Tarso foi executado e nossos
amigos continuaram presos. A reconstrução da cidade continuava a todo vapor e
sentia-se a necessidade de oferecer novo espetáculo ao povo, sedento de alegria
e de prazeres. E foi marcado outro espetáculo sangrento.
— Desta
vez não escaparemos – dizia PWY1.
Em
Artúrio, os esforços para a recuperação das comunicações prosseguia e os
progressos já se faziam sentir. A comissão de governadores havia conseguido
empréstimo para a reconstrução do planeta junto ao Banco Universal
Intergaláctico. Novas centrais de comunicação, mais modernas, haviam sido
construÃdas, e os testes iriam começar. A CGU, preocupada com os astronautas e
com as pessoas que tinham ido à Terra, havia decidido tentar a comunicação com
eles.
Na Terra,
o dia da festa havia chegado. No anfiteatro, músicas e bailados eram executados
sob os olhos do imperador, que sorria orgulhoso.
Passadas
algumas horas, começaram os gritos de “cristãos à s ferasâ€, e o coração de
nossos amigos não cristãos acelerou-se. PWY1 havia em seu poder um pequeno
radiocomunicador, que resolveu acionar de dentro da cela, para ver se conseguia
comunicação, pois o aparelho não tinha grande poder de alcance, como o da nave.
Exultou de alegria quando ouviu:
— Chamando
de Artúrio a nave intergaláctica Artus 3, respondam, câmbio.
E ele
respondeu:
— Aqui é a
nave intergaláctica Artus 3 falando da Terra. Que prazer em ouvi-los, câmbio.
— Nave
intergaláctica Artus 3, estamos mandando a nave Centaurus 1 para resgatá-los.
Onde vocês estão pousados? Câmbio.
— Estamos
pousados em Roma, na Europa, câmbio.
— Nave
intergaláctica Artus3, chegaremos em.........
A
comunicação foi interrompida. PWY1 desesperou-se.
— Artúrio,
aqui é a nave intergaláctica Artus3, estamos na escuta.
— Nave
intergaláctica Artus 3, chegaremos à Terra em.........
— Saiam
todos em fila para a arena – disse um soldado, rispidamente.
— Não,
não! – gritou PWY1. – Não posso perder a comunicação com meu planeta. Preciso
voltar para casa.
O soldado
bateu violentamente em seu rosto.
— Essa
doutrina deixou você louco.
— Não sou
cristão, não sou cristão. Não moro aqui. Moro em outro planeta. Não tenho nada
com essa gente e nunca ouvi falar nesse tal de Jesus. Soltem-me, por favor!
— Se não
és cristão, o que fazias numa reunião de cristãos? – perguntou o soldado.
—
Acompanhava pessoas doentes que acreditam nesse mago da Galileia.
—
Acompanhava pessoas doentes. E você quer que eu acredite nisso?
—
Acredite, senhor, não tenho nada com essa gente. Não moro aqui. Meu planeta se
chama Artúrio e se localiza na nebulosa Olho de Gato.
Novas
bastonadas e seu rosto começa a sangrar.
— Não me
trate como um imbecil, rapaz.
— É
verdade, senhor, nós juramos por Júpiter – disse RMT12.
Mais
bastonadas, agora em RMT12.
— Não ponha
o nome de Júpiter nessa conversa. Nossos deuses não compactuam com o mal.
E
novamente não foram para a arena. Precisavam ser investigados. Nero teria que
tomar conhecimento do que trazia aquela gente estranha e que poderia
representar uma ameaça ao seu governo. O que seria aquele objeto que falava?
Passaram-se
outra vez mais semanas e novo espetáculo foi marcado. A comunicação com Artúrio
não mais aconteceu, e nossos amigos ficaram preocupados. XPZ4, CLN6 e os outros
companheiros cristãos estavam tranquilos.
Chegado o
dia da festa, novamente foram colocados em fila para ir à arena. Quando um dos
soldados os ia empurrar para dentro da arena, AST8 sacou de uma arma
paralisante e fez vários disparos no soldado, que ficou imóvel no mesmo
instante. Os outros soldados correram. A descarga da arma foi muito forte, e o
soldado não resistiu e morreu na hora. Houve muita confusão. Chamado o
centurião, este quis que lhe fosse apresentada a arma, mas, valendo-se do
artifÃcio da invisibilidade, presente também na arma, AST8 a escondeu dos
soldados. E um deles disse ao seu chefe:
— Senhor,
este homem sacou de um objeto, não sei lhe dar um nome, pois não o temos aqui,
e o apontou para Quirinus, que caiu morto.
—
Apresente-me este objeto.
— Que
objeto, senhor? Este soldado está louco, não tenho nada em minha posse. Pode
verificar – disse AST8.
O
centurião, revistando AST8, realmente não encontrou nada.
— Plinius,
a festa nem começou e você já está embriagado?
— Senhor,
eu vi o objeto que ele usou contra Quirinus. Juro-vos por Júpiter.
— Plinius,
salvar sua pele deste jeito, jurando pelo maior dos nossos deuses, é uma
blasfêmia.
— Severus,
aplique cem bastonadas em Plinius, para que nunca mais jure mentiras em nome de
Júpiter.
As
bastonadas foram aplicadas e, quando se foram, AST8 riu até não poder mais.
— Como é
bom enganar este povo ignorante. Gostei da brincadeira e acho que vou fazer
mais. Tinha tempo que não ria tanto.
— Não sei
qual é a graça, AST8. O soldado apanhou por culpa sua.
XPZ4 ficou
com pena do soldado, mas não podia fazer nada, já que explicações sobre a arma
paralisante não seriam aceitas. A morte do companheiro tinha dado um certo
temor nos outros soldados, e passou-se a acreditar cada vez mais que os
cristãos praticavam sortilégios. Com isso, nossos amigos foram deixados para as
festas do dia seguinte.